Nossa Senhora de Fátima
13 de Maio
Nossa Senhora de Fátima
I. NO DIA 13 DE MAIO de 1917, por volta do meio-dia, Nossa Senhora apareceu pela primeira vez, numa região do centro de Portugal, a três pastorzinhos – Lúcia, Jacinta e Francisco – que tinham levado as suas ovelhas para pastar numa depressão coberta de azinheiras e de oliveiras que os habitantes do lugar conheciam por Cova da Iria1. A Virgem pediu aos meninos que voltassem ali no dia treze de cada mês, durante seis meses consecutivos. A mensagem que Nossa Senhora foi desfiando ao longo desses meses era uma mensagem de penitência pelos pecados que se cometem diariamente; a recitação do terço por essa mesma intenção; e a consagração do mundo ao seu Imaculado Coração.
Em cada aparição, a doce Senhora insistiu na recitação do terço, e ensinou aos videntes uma oração para que a repetissem muitas vezes, oferecendo a Deus as suas obras e, em especial, pequenas mortificações e sacrifícios: Ó Jesus!..., por teu amor, pela conversão dos pecadores e em reparação das ofensas feitas ao Imaculado Coração de Maria.
Em agosto, a Virgem prometeu um sinal público, visível por todos, como prova da veracidade dessas mensagens, e no dia 13 de outubro aconteceu o chamado prodígio do sol. Dezenas de milhares de peregrinos, presentes na Cova da Iria, foram testemunhas desse fato extraordinário, que chegou a ser visto por pessoas que estavam a muitos quilômetros do lugar. Nossa Senhora declarou então aos meninos que era a Virgem do Rosário. Também lhes disse: “É preciso que os homens se emendem, que peçam perdão dos seus pecados e não ofendam mais a Nosso Senhor, que já é muito ofendido”.
O Papa João Paulo II, recordando a sua peregrinação a Fátima, onde esteve “com o terço na mão, o nome de Maria nos lábios e o canto de misericórdia no coração”, para dar graças a Nossa Senhora por ter saído com vida do atentado sofrido no ano anterior, sublinhou que “as aparições de Fátima, comprovadas por sinais extraordinários em 1917, vêm a ser como que um ponto de referência e de irradiação para o nosso século. Maria, nossa Mãe celestial, apareceu para sacudir as consciências, para iluminar o autêntico significado da vida, para estimular à conversão do pecado e ao fervor espiritual, para inflamar as almas de amor a Deus e de caridade com o próximo. Maria veio socorrer-nos, porque muitos, infelizmente, não querem acolher o convite do Filho para regressarem à casa do Pai.
“Do seu Santuário de Fátima, Maria renova ainda hoje o seu apelo materno e premente: a conversão à Verdade e à Graça; a vida sacramental, especialmente a Penitência e a Eucaristia, e a devoção ao seu Coração Imaculado, acompanhada pelo espírito de penitência” 2.
Hoje podemos perguntar-nos como anda a nossa correspondência às freqüentes inspirações do Espírito Santo para que purifiquemos a alma, como desagravamos o Senhor pelos pecados pessoais e pelos de todos os homens, como rezamos o terço – especialmente neste mês de maio –, oferecendo-o por “intenções ambiciosas”, pedindo que muitos amigos e colegas se aproximem novamente de Cristo.
II. “A MENSAGEM DE FÁTIMA é, no seu núcleo fundamental, uma chamada à conversão e à penitência [...]. A Senhora da mensagem parecia ler com uma perspicácia especial os sinais dos tempos, os sinais do nosso tempo” 3. Hoje, na nossa oração, chega-nos essa voz doce, maternal, e ao mesmo tempo enérgica e decidida da Virgem, que é premente, como que dirigida pessoalmente a cada um de nós.
Sabemos bem como ao longo de todo o Evangelho ressoam as palavras: Arrependei-vos e fazei penitência 4. Jesus começará a sua missão pedindo penitência: Fazei penitência, porque o Reino dos Céus está próximo 5. E acrescentará noutra ocasião: “Se não fizerdes penitência, todos perecereis” 6. É por isso que a pregação desta virtude ocupará também um lugar essencial na mensagem que os Apóstolos irão difundir, recém-nascida a Igreja 7. Todo o tempo da Igreja peregrina, no qual nos encontramos, configura-se como spatium verae poenitentiae, um tempo de verdadeira penitência concedido pelo Senhor para que ninguém pereça 8.
A penitência é necessária porque existe o pecado, porque é preciso reparar tantas faltas e fraquezas pessoais e dos nossos irmãos os homens, e porque ninguém, sem um privilégio especial e extraordinário, está confirmado na graça, antes deve ter uma consciência muito viva de que é um pecador. O Cura d’Ars costumava dizer que a penitência nos é tão necessária para a alma como a respiração para o corpo 9.
A primeira manifestação desta virtude é o amor à confissão freqüente, que nos leva a desejá-la e a vivê-la com esmero, com uma contrição verdadeira das nossas faltas atuais e passadas. A virtude da penitência deve também estar presente de alguma maneira nas ações correntes de todos os dias: “no cumprimento exato do horário que marcaste, ainda que o corpo resista ou a mente pretenda evadir-se em sonhos quiméricos. Penitência é levantar-se na hora. E também não deixar para mais tarde, sem um motivo justificado, essa tarefa que te é mais difícil ou trabalhosa.
“A penitência está em saberes compaginar todas as tuas obrigações – com Deus, com os outros e contigo próprio –, sendo exigente contigo de modo que consigas encontrar o tempo de que cada coisa necessita. És penitente quando te submetes amorosamente ao teu plano de oração, apesar de estares esgotado, sem vontade ou frio.
“Penitência é tratar sempre com a máxima caridade os outros, começando pelos da tua própria casa. É atender com a maior delicadeza os que sofrem, os doentes, os que padecem. É responder com paciência aos maçantes e inoportunos. É interromper ou modificar os programas pessoais, quando as circunstâncias – sobretudo os interesses bons e justos dos outros – assim o requerem.
“A penitência consiste em suportar com bom humor as mil pequenas contrariedades da jornada: em não abandonares a tua ocupação, ainda que de momento te tenha passado o gosto com que a começaste; em comer com agradecimento o que nos servem, sem importunar ninguém com caprichos.
“Penitência, para os pais e, em geral, para os que têm uma missão de governo ou educativa, é corrigir quando é preciso fazê-lo, de acordo com a natureza do erro e com as condições de quem necessita dessa ajuda, sem fazer caso de subjetivismos néscios e sentimentais.
“O espírito de penitência leva a não nos apegarmos desordenadamente a esse bosquejo monumental de projetos futuros, em que já previmos quais serão os nossos traços e pinceladas mestras. Que alegria damos a Deus quando sabemos renunciar às nossas garatujas e broxadas de mestrinho, e permitimos que seja Ele a acrescentar os traços e as cores que mais lhe agradem!” 10 Que maravilhosa obra-prima não surge então, com a ajuda da graça, aos olhos de Deus!
III. UMA PARTE DA MENSAGEM de Fátima era o desejo da Virgem de que se consagrasse o mundo ao seu Coração Imaculado. Onde haverá de estar mais seguro o mundo? Onde estaremos mais bem defendidos e amparados? Esta consagração “significa aproximarmo-nos, por intercessão da Mãe, da própria fonte da Vida, que brotou do Gólgota. Esta fonte corre ininterruptamente, e dela jorram a Redenção e a graça. Nela se realiza constantemente a reparação dos pecados do mundo. Este manancial é fonte incessante de vida e de santidade” 11.
Pio XII (cuja ordenação episcopal teve lugar precisamente a 13 de maio de 1917, dia da primeira aparição) consagrou o gênero humano e especialmente os povos da Rússia ao Coração Imaculado de Maria 12. João Paulo II quis renová-la e a ela podemos unir-nos hoje: “Ó Mãe dos homens e dos povos, Vós que conheceis todos os seus sofrimentos e esperanças, Vós que sentis maternalmente todas as lutas entre o bem e o mal, entre a luz e as trevas que invadem o mundo contemporâneo, acolhei este clamor que, como que movidos pelo Espírito Santo, elevamos diretamente ao vosso coração, e abraçai com o amor da Mãe e da Serva este nosso mundo, que colocamos sob a vossa confiança e Vos consagramos, cheios de inquietação pela sorte terrena e eterna dos homens e dos povos.
“De modo particular, colocamos sob a vossa confiança e Vos consagramos os homens e nações que necessitam especialmente desta consagração. Sob a vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as súplicas que Vos dirigimos nas nossas necessidades!
“Não as desprezeis!
“Acolhei a nossa humilde confiança e entrega!” 13
Santa Maria, sempre atenta ao que lhe pedimos, fará com que encontremos refúgio e amparo no seu Coração Puríssimo.
(1) C. Barthas, Fátima, Aster, Lisboa, pág. 426; (2) João Paulo II, Angelus, 26-VII-1987; (3) idem, Homilia em Fátima, 13-V-1982; (4) cfr. Mc 1, 15; (5) Mt 4, 17; (6) Lc 13, 3; (7) cfr. At 2, 38; (8) cfr. 2 Pe 3, 9; (9) Cura d’Ars, Sermão sobre a Penitência; (10) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 138; (11) João Paulo II, Homilia em Fátima, 26-VII-1987; (12) Pio XII, Radio-mensagem Benedicite Deum, 31-X-1942; (13) João Paulo II, Consagração à Virgem de Fátima, 13-V-1982.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Deixo-vos a Minha Paz
TEMPO PASCAL. QUINTA SEMANA. TERÇA-FEIRA
– O Senhor comunica a sua paz aos discípulos.
– A verdadeira paz é fruto do Espírito Santo. Missão de pacificar o mundo, a começar pela nossa própria alma, pela família, pelo lugar do trabalho...
– Semeadores de paz e de alegria.
I. O EVANGELHO DA MISSA refere uma das promessas que Jesus fez aos seus discípulos mais íntimos na Última Ceia, e que se cumpririam após a Ressurreição: Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como a dá o mundo 1. E depois, na mesma Ceia, repetiu-lhes: Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em mim. No mundo haveis de ter aflições, mas confiai: Eu venci o mundo 2.
Agora, depois da Ressurreição, Jesus apresenta-se diante deles e diz-lhes: Pax vobis! A paz esteja convosco 3. Di-lo sem dúvida com o mesmo acento inesquecível das outras ocasiões. E com essa saudação amistosa dissipam-se o temor e a vergonha que vinham pesando sobre os Apóstolos depois de se terem comportado covardemente durante a Paixão. Com essa saudação, com essa expressão acolhedora, restabelecia-se o ambiente de intimidade em que Jesus lhes comunicava a sua própria paz.
Desejar a paz era a forma usual de saudação entre os hebreus. Os Apóstolos mantiveram essa prática, conforme vemos pelas suas cartas 4, e o mesmo fizeram os primeiros cristãos, segundo consta das inscrições que nos deixaram. A Igreja utiliza-a na liturgia em determinadas ocasiões, como, por exemplo, antes da Comunhão: o celebrante deseja a paz aos presentes, como condição para participarem dignamente do Santo Sacrifício 5. Pax Domini, a paz do Senhor.
Ao longo dos séculos, os cristãos souberam preservar e revestir de uma intenção mais profunda essas mesmas fórmulas de saudação, impregnando-as de um sentido sobrenatural que as fazia calar profundamente no povo e servir-lhes de veículo para praticarem o bem, bem como de sinal externo de uma sociedade que tinha o coração cristão.
Nos nossos dias, parece que se vai perdendo esse reflexo de Deus nas nossas saudações costumeiras. Não obstante, pode ser-nos de grande utilidade para a vida espiritual pôr um especial empenho em preservar e vivificar o sentido cristão nessas ocasiões, pois isso contribuirá para experimentarmos uma presença de Deus mais intensa no nosso relacionamento.
Se nos acostumarmos, por exemplo, a cumprimentar o Anjo da Guarda das pessoas com quem nos encontramos, ser-nos-á fácil e simples dar um tom mais elevado à nossa conversa com elas. Não percamos o sentido sobrenatural nas situações habituais do dia-a-dia: “E disse-lhes: A paz esteja convosco. Deveria dar-nos vergonha – diz São Gregório Nazianzeno – prescindir da saudação da paz que o Senhor nos deixou quando ia partir deste mundo” 6. Sejam quais forem as palavras com que cumprimentamos habitualmente as pessoas, sempre podem servir-nos de meio para vivermos melhor a fraternidade com elas, para rezar por elas e dar-lhes paz e alegria, como o Senhor fez com os seus discípulos.
“Pois assim que a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio (Lc 1, 44) [...]. O sobressalto de alegria sentido por Isabel sublinha o dom que pode estar contido numa simples saudação, quando parte de um coração cheio de Deus. Quantas vezes as trevas da solidão, que oprimem uma alma, podem desfazer-se sob o raio luminoso de um sorriso ou de uma palavra amável!” 7
II. A SAUDAÇÃO HABITUAL do povo hebreu cobra nos lábios de Cristo o seu sentido mais profundo, pois a paz era um dos dons messiânicos por excelência 8. Era freqüente que o Senhor se despedisse daqueles a quem tinha feito algum bem com estas palavras: Vai em paz 9. Confia aos discípulos uma missão de paz. Em toda a casa em que entrardes, dizei primeiro: Paz a esta casa 10.
Desejar a paz aos outros, promovê-la ao nosso redor, é um grande bem humano e, quando animado pela caridade, é também um grande bem sobrenatural. Ter paz na alma – condição para poder comunicá-la – é sinal certo de que Deus está perto; é, além disso, um fruto do Espírito Santo 11. São Paulo exortava com freqüência os primeiros cristãos a viverem com paz e alegria: Vivei com alegria [...], vivei em paz, e o Deus do amor e da paz estará convosco 12.
A verdadeira paz é fruto da santidade, do amor a Deus, da luta por não deixar apagar esse amor sob o peso das tendências desordenadas e dos pecados. Quando se ama a Deus, a alma converte-se numa árvore boa que se dá a conhecer pelos seus frutos.
As ações que realiza revelam a presença do Paráclito e, na medida em que causam uma alegria espiritual, chamam-se frutos do Espírito Santo 13. Um desses frutos é precisamente a paz de Deus que ultrapassa todo o conhecimento 14, a mesma que Jesus Cristo desejou aos Apóstolos e aos cristãos de todos os tempos. “Quando Deus te visitar, hás de sentir a verdade daquelas saudações: «Dou-vos a paz..., deixo-vos a paz..., a paz seja convosco...» E isto, no meio da tribulação” 15.
A verdadeira paz é a “tranqüilidade na ordem” 16; ordem nas relações com Deus e ordem nas relações com os outros. Se mantivermos essa ordem, teremos paz e poderemos comunicá-la. A ordem nas relações com Deus pressupõe o desejo firme de desterrar da vida todo o pecado e de ter Cristo como centro da existência. A ordem nas relações com o próximo leva em primeiro lugar a viver esmeradamente as exigências da justiça (nos atos, nas palavras, nos juízos), pois a paz é obra da justiça 17. E, além da justiça, a misericórdia, que incita em tantas ocasiões a ajudar, a consolar, a amparar os que necessitam de apoio. “Onde há amor à justiça, onde há respeito pela dignidade da pessoa humana, onde não se procura o capricho próprio ou a própria utilidade, mas o serviço a Deus e aos homens, ali há paz” 18.
O Senhor confiou-nos a missão de pacificar a terra, a começar pela nossa própria alma, pela família, pelos colegas de trabalho... A paz numa família ou numa comunidade não consiste na mera ausência de brigas e disputas, o que às vezes poderia ser apenas um sinal de indiferença mútua. A paz consiste na harmonia que leva ao entendimento mútuo e a um clima de colaboração; a paz verdadeira leva à preocupação pelos outros, pelos seus projetos, pelos seus interesses, pelas suas penas. No meio de um mundo que parece afastar-se cada vez mais dessa paz, o Senhor pede-nos a nós, cristãos, que deixemos um rasto de serenidade e alegria por onde quer que passemos.
III. CRISTO É A NOSSA PAZ 19. Disse-o Ele há vinte séculos: Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. E repete-o a cada um de nós, para que o apregoemos com a nossa vida por todo o mundo, por esse mundo, talvez pequeno, em que decorre diariamente a nossa existência.
Uma boa parte do nosso apostolado consistirá em levar serenidade e alegria às pessoas que nos rodeiam, com tanta maior urgência quanto maiores forem a inquietação e a tristeza que encontremos à nossa passagem. “Dever de cada cristão é levar a paz e a felicidade pelos diversos ambientes da terra, numa cruzada de fortaleza e de alegria, que sacuda até os corações murchos e apodrecidos, e os levante para Ele” 20.
As pessoas deveriam poder recordar cada cristão como homem ou mulher que – embora tenha passado por sofrimentos e provas como os outros – ofereceu ao mundo uma imagem sorridente e sacrificada, amável e serena, porque viveu como um filho de Deus. Este pode ser o propósito da nossa oração de hoje: “Que ninguém leia tristeza nem dor na tua cara, quando difundes pelo ambiente do mundo o aroma do teu sacrifício: os filhos de Deus têm que ser sempre semeadores de paz e de alegria” 21. Isto só é possível quando somos conscientes da nossa filiação divina.
Sabermo-nos filhos de Deus dar-nos-á uma paz firme, não sujeita aos vaivéns do sentimento ou dos incidentes de cada dia. Manter essa disposição aberta e amistosa perante os outros exigirá de nós que lutemos seriamente contra as possíveis antipatias, que têm a sua origem num relacionamento pouco sobrenatural; contra as asperezas do caráter, que destroem a paz do ambiente e que são indício de falta de espírito de sacrifício; contra o egoísmo e o comodismo, que são sérios obstáculos para a amizade e para a ação apostólica.
Recorramos à Virgem, nossa Mãe, para não perdermos nunca a alegria e a serenidade. “Santa Maria é – assim a invoca a Igreja – a Rainha da paz. Por isso, quando se conturba a alma – ou o ambiente familiar ou profissional, ou a convivência na sociedade ou entre os povos –, não cesses de aclamá-la com esse título: Regina pacis, ora pro nobis! Rainha da paz, rogai por nós! Experimentaste fazê-lo, ao menos, quando perdes a tranqüilidade?... – Ficarás surpreso com a sua eficácia imediata” 22.
(1) Jo 14, 27; (2) Jo 16, 33; (3) Jo 20, 19-21; (4) cfr. 1 Pe 1, 3; Rom 1, 7; (5) cfr. Mt 5, 23; (6) São Gregório Nazianceno, Catena Aurea, VI; (7) João Paulo II, Hom. em Roma, 11-II-1981; (8) cfr. Is 9, 7; Miq 5, 5; (9) cfr. Lc 7, 50; 8, 48; (10) Lc 10, 6; (11) Gal 5, 22; (12) 2 Cor 13, 11; (13) cfr. São Tomás, Suma Teológica, 1-2, q. 70, a. 1; (14) Fil 4, 7; (15) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 258; (16) Santo Agostinho, A cidade de Deus, 19, 13, 1; (17) Is 32, 17; (18) A. del Portillo, Homilia, 30-III-1985; (19) Ef 2, 14; (20) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 92; (21) ib., n. 59; (22) ib., n. 874.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Beata Imelda Lambertini
12 de Maio
Beata Imelda Lambertini
Imelda Lambertini nasceu na cidade de Bolonha, Itália, no ano de 1322, num ambiente de muita fé e piedade. Desde tenra idade, assimilou com especial afeição a primorosa educação recebida. Seu amor a Deus, sua conduta incomum no dia a dia chamava muito a atenção dos pais. Era de fato, uma menina muito especial. Os jogos infantis não lhe agradavam como a oração. Costumava esconder-se nos locais mais ocultos da casa para aplicar-se a ela. Sua mãe, sempre a encontrava ajoelhada e rezando, quando sentia falta da filha em casa.
Ao completar nove anos de idade a menina pede insistentemente para ingressar no Convento das Irmãs Dominicanas, porém, a Madre superiora de todas as formas tentou persuadi-la a esperar, pois que a idade ainda não permitia que fosse admitida entre as irmãs do convento.
Como a insistência de Imelda tornou-se constante, a Madre, que conhecia seus pais, indagou se não estava feliz por ter pais maravilhosos e boas condições de vida em casa, tendo ela prontamente respondido que estava sim, muito feliz, que amava sua família, mas que as irmãs tinham algo a mais que lhe atraía muito: "Nosso Senhor". Era a devoção à Santíssima Eucaristia que verdadeiramente lhe encantava e lhe enchia a alma de amor e devoção. Finalmente, a Madre chamou seus pais e lhes pediu permissão para que Imelda fosse admitida, pelo menos a título de experiência, já que o desejo ardente de ingressar no convento era já notório também para seus pais. Apesar de entristecidos, percebiam que Deus reservara algo de extraordinário para a pequena filha. Por isso, acabaram aceitando a proposta da Reverenda e consagraram-na a Deus.
Consumado seu ingresso, tudo lhe era motivo de encanto, os momentos de oração, o hábito das Irmãs, o silêncio. Era muito amada por elas que tentavam privá-la dos serviços e da rigidez da regra, mas nada adiantava, pois queria acompanhar as irmãs em tudo, participando plenamente e auxiliando nos trabalhos monásticos no convento. A Madre pedia que não a acordassem durante as orações noturnas, mas Imelda levantava-se no meio da noite e percorria os grandes salões do convento, caminhando e rezando silenciosamente as matinas.
A visita ao Tabernáculo fazia sua alma transbordar de alegria. Só a pronúncia de qualquer assunto relacionado à Eucaristia, fazia com que seu rosto se transfigurasse instantaneamente. Ela desejava ardentemente receber a Santa Comunhão. Nessa época, as crianças não podiam receber a Primeira Comunhão com idade inferior a 12 anos. Tal qual sua insistência para ingressar no convento, Imelda pede a graça de receber Jesus, mesmo que não tivesse completado a idade. Pedia isso com fervor tão intenso, que as irmãs comoviam-se pelo desejo que a pequenina nutria em receber o Senhor na Eucaristia. Mas isto ainda não lhe era possível, conforme as normas da Igreja.
Assim, aceitou com resignação os argumentos das Irmãs. Porém, à medida que o tempo passava, crescia mais e mais nela o desejo de receber Jesus Sacramentado. No ano de 1333, tinha ela completado 11 anos de idade quando, depois da Santa Missa, a última freira que saiu da capela observou que a pequena Imelda, como de costume, lá permaneceu sozinha rezando mais um pouco. Só que desta vez, a freira percebeu algo extraordinário: uma Hóstia flutuava acima dela e lhe projetava uma luz branca. Rapidamente esta irmã chamou as outras monjas e todas se prostraram diante deste milagre. A Madre, constatando que se tratava de manifestação real de Deus para que a menina recebesse a Primeira Comunhão, chamou o pároco. Ao chegar com a patena de ouro nas mãos, o padre admirado, dirigiu-se até à Hóstia. Assim que se aproximou da menina ajoelhada, a Hóstia pousou sobre a patena. Assim, foi-lhe administrada a Primeira Comunhão. Em seguida, vagarosamente, Imelda baixou a cabeça em oração.
Imelda permaneceu assim, diante das irmãs por um tempo demasiadamente longo. Isto fez com que a Madre fosse até ela, que a nada respondia. Tentando levantá-la cuidadosamente pelos ombros, a menina caiu em seus braços, trazendo no rosto uma expressão delicada, de inexplicável alegria. Havia partido para o Céu naquele sublime momento. A alegria de receber Nosso Senhor foi demais para o pequeno coração que ardia pela presença real de Cristo na Eucaristia. Certa vez, Imelda já havia dito às Irmãs: "Eu não sei por que as pessoas que recebem Nosso Senhor não morrem de alegria".
A pequena Imelda Lambertini foi beatificada em 1826 pelo Papa Leão XII, e foi proclamada Patrona das Primeiras Comunhões em 1910 pelo Papa São Pio X. Foi neste ano que foi declarado que as crianças menores de 12 anos poderiam receber a Primeira Comunhão.
Até hoje, seu pequeno corpo virginal se encontra intacto, depois de mais de 680 anos, numa redoma de cristal, na Igreja de São Sigismundo, em Bolonha. Em 1826 o Papa Leão XII confirmou e estendeu para toda a Igreja o culto que havia séculos se prestava a ela em Bolonha. E São Pio X a proclamou, em 1908, Padroeira das Crianças que vão fazer a Primeira Comunhão. Sua memória litúrgica é celebrada no dia 12 de maio.
Fonte: http://www.santosebeatoscatolicos.com
Somos templos de Deus
TEMPO PASCAL. QUINTA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA
– A inabitação da Trindade na alma. Procurar a Deus em nós mesmos.
– Necessidade de recolhimento interior para o trato com Deus. Mortificação.
– O trato com o Espírito Santo.
I. O EVANGELHO MOSTRA-NOS com freqüência a confiança que os Apóstolos tinham com Jesus: dirigem-lhe perguntas sobre as coisas que não entendem ou lhes parecem obscuras. O Evangelho da Missa de hoje refere-nos uma dessas perguntas que, sobretudo no fim da vida do Senhor, devem ter sido freqüentes.
O Senhor dissera-lhes: Aquele que aceita os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele1. No tempo de Jesus, era crença comum entre os judeus que, quando o Messias chegasse, havia de manifestar-se a todo o mundo como Rei e Salvador2. Os Apóstolos entenderam as palavras de Jesus como referidas a eles, aos íntimos, aos que o amavam. Judas Tadeu – que compreendeu bem esse alcance do ensinamento – pergunta-lhe: Senhor, por que razão hás de manifestar-te a nós e não ao mundo?
No Antigo Testamento, Deus tinha-se manifestado em diversas ocasiões e de diversos modos, e tinha prometido que habitaria no meio do seu povo3. Mas agora o Senhor refere-se a uma presença muito diferente: é a presença em cada pessoa que o amar, que estiver em graça. Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele, e nele faremos a nossa morada4. É a presença da Trindade na alma que tenha renascido pela graça! Este será um dos ensinamentos fundamentais para a vida cristã, repetido por São Paulo: Porque vós sois templos do Deus vivo5, diz ele aos primeiros cristãos de Corinto.
São João da Cruz, citando esta passagem, comenta: “Que mais queres, ó alma, e que mais procuras fora de ti, se dentro de ti tens as tuas riquezas, os teus deleites, a tua satisfação [...], o teu Amado, Aquele que a tua alma deseja e busca? Rejubila-te e alegra-te no teu recolhimento interior com Ele, pois o tens tão perto”6.
Devemos aprender a relacionar-nos cada vez mais e melhor com Deus, que habita em nós. Por essa presença divina, a nossa alma converte-se num pequeno céu. Quanto bem nos pode fazer esta consideração! No momento em que fomos batizados, as três Pessoas da Santíssima Trindade vieram à nossa alma com o desejo de permanecerem mais unidas à nossa existência do que o mais íntimo dos nossos amigos. Esta presença, totalmente singular, só se perde pelo pecado mortal; mas nós, cristãos, não devemos contentar-nos com não perder a Deus: devemos procurá-lo em nós mesmos, no meio das nossas ocupações, quando andamos pela rua..., para dar-lhe graças, pedir-lhe ajuda e desagravá-lo pelos pecados que se cometem todos os dias.
Às vezes, pensamos que Deus está muito longe, mas a verdade é que está mais perto, mais atento às nossas coisas que o melhor dos nossos amigos. Santo Agostinho, ao considerar esta inefável proximidade de Deus, exclamava: “Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim e eu te procurava fora de mim [...]. Tu estavas comigo, mas eu não estava contigo. Mantinham-me atado, longe de ti, essas coisas que, se não fossem sustentadas por ti, deixariam de ser. Chamaste-me, gritaste-me, rompeste a minha surdez. Brilhaste e resplandeceste diante de mim, e expulsaste dos meus olhos a cegueira”7.
Mas, para falar com Deus, realmente presente na alma em graça, é necessário o recolhimento dos sentidos, que tendem a derramar-se e a apegar-se às coisas; é necessário que nos saibamos “templos de Deus” e que nos comportemos de maneira conseqüente; que rodeemos de amor, de um silêncio sonoro, essa presença íntima da Trindade na nossa alma.
II. A PRESENÇA DAS TRÊS PESSOAS divinas na alma em graça é uma presença viva, aberta ao nosso trato, orientada para o conhecimento e para o amor com que lhe podemos corresponder. “Por que andar correndo pelas alturas do firmamento e pelos abismos da terra em busca dAquele que mora em nós?”8, perguntava-se Santo Agostinho. “Pois bem – ensina São Gregório Magno –, enquanto a nossa mente estiver dissipada em imagens carnais, jamais será capaz de contemplar..., porque a cegam tantos obstáculos quantos os pensamentos que a levam e trazem de cá para lá. Portanto, o primeiro degrau – para que a alma chegue a contemplar a natureza invisível de Deus – é recolher-se em si mesma”9.
Para chegar a este recolhimento, o Senhor pede a alguns que se retirem do mundo, mas, no caso da maioria dos cristãos (estudantes, donas de casa, trabalhadores...), quer que o encontrem no meio das suas tarefas. Pela mortificação habitual durante o dia – a que está tão ligada a alegria interior –, guardamos os sentidos para Deus: mortificamos a imaginação, livrando-a de pensamentos inúteis; a memória, deixando de lado as recordações que não nos aproximam do Senhor; a vontade, cumprindo o dever de cada momento.
O trabalho intenso, se estiver dirigido para Deus, longe de impedir o nosso diálogo com Ele, facilita-o. O mesmo acontece com o resto das nossas atividades: as relações sociais, a vida em família, as viagens, o descanso... Toda a existência humana, se não estiver dominada pela frivolidade, tem sempre uma dimensão profunda, íntima, que se traduz num certo recolhimento cujo sentido pleno se encontra no trato com Deus. Recolher-se é “juntar o que está disperso”, restabelecer a ordem interior perdida, evitar a dissipação dos sentidos e potências, mesmo nas coisas boas ou indiferentes em si mesmas, ter Deus por centro da intenção com que projetamos e fazemos seja o que for.
O contrário do recolhimento interior é, pois, a dissipação, a frivolidade. Os sentidos e potências detêm-se em qualquer charco à beira do caminho, e, em conseqüência, a pessoa vive sem firmeza, dispersa a atenção, adormecida a vontade e desperta a concupiscência10. Sem recolhimento, não é possível o trato com Deus.
À medida que purificamos o nosso coração e o nosso olhar, à medida que, com a ajuda do Senhor, procuramos esse recolhimento que é riqueza e plenitude interior, a nossa alma anseia pelo convívio com Deus, como a corça suspira pela fonte das águas11. “O coração necessita então de distinguir e adorar cada uma das Pessoas divinas. De certa maneira, o que a alma realiza na vida sobrenatural é uma descoberta semelhante às de uma criaturinha que vai abrindo os olhos à existência. E entretém-se amorosamente com o Pai e com o Filho e com o Espírito Santo; e submete-se facilmente à atividade do Paráclito vivificador, que se nos entrega sem o merecermos”12.
III. AINDA QUE A INABITAÇÃO na alma pertença às três Pessoas da Trindade – ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo –, atribui-se de modo singular à Terceira Pessoa, que a liturgia nos convida a tratar com mais intimidade neste tempo em que nos aproximamos da festa de Pentecostes.
O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos disse, diz o Senhor no Evangelho de hoje13. É uma promessa que o Senhor fez em diversas ocasiões14, como que sublinhando a enorme transcendência que ela teria para toda a Igreja, para o mundo, para cada um dos que o seguiriam. Não se trata de um dom passageiro, limitado ao tempo em que se recebem os sacramentos ou a outro momento determinado, mas de um dom estável, permanente: “O Espírito Santo habita nos corações como num templo”15. É o doce hóspede da alma16, e quanto mais o cristão cresce em boas obras, quanto mais se purifica, tanto mais o Espírito Santo se compraz em habitar nele e em dar-lhe novas graças para a sua santificação e para o apostolado que realiza.
O Espírito Santo está na alma do cristão em graça para configurá-lo com Cristo, para que cada vez mais se pareça com Ele, para movê-lo e ajudá-lo a cumprir a vontade de Deus. O Espírito Santo vem como remédio para a nossa fraqueza17 e, fazendo sua a nossa causa, advoga em nosso favor com gemidos inenarráveis18 diante do Pai. Cumpre agora a sua missão de guiar, proteger e vivificar a Igreja, porque – como diz Paulo VI – são dois os elementos que Cristo prometeu e outorgou, embora diversamente, para continuar a sua obra: “o corpo apostólico e o Espírito. O corpo apostólico atua externa e objetivamente; forma, por assim dizer, o corpo material da Igreja, confere-lhe as suas estruturas visíveis e sociais; o Espírito Santo atua internamente, dentro de cada uma das pessoas, como também sobre a comunidade inteira, animando, vivificando, santificando”19.
Peçamos à Virgem que nos ensine a compreender esta ditosíssima realidade, pois então a nossa vida será muito diferente. Por que nos sentimos sós, se o Espírito Santo nos acompanha? Por que vivemos inseguros ou angustiados, nem que seja por um só dia, se o Paráclito está de olhos postos em nós e nas nossas coisas? Por que corremos tresloucadamente atrás da felicidade aparente, se não há maior felicidade que o convívio com este doce Hóspede que habita em nós? Como seria diferente o nosso comportamento em algumas circunstâncias, se fôssemos conscientes de que somos templos de Deus, templos do Espírito Santo!
Ao terminarmos a nossa oração, recorremos à Virgem Nossa Senhora: “Ave Maria, templo e sacrário da Santíssima Trindade, ajudai-nos”.
(1) Jo 14, 21; (2) cfr. Santos Evangelhos, pág. 1357; (3) cfr. Ex 29, 45; Ez 37, 26-27; etc.; (4) Jo 14, 23; (5) cfr. 2 Cor 6, 16; (6) São João da Cruz, Cânticos espiritual, canto 1; (7) Santo Agostinho, Confissões, 10, 27, 38; (8) Santo Agostinho, Tratado sobre a Trindade, 8, 17; (9) São Gregório Magno, Homilia sobre o Profeta Ezequiel, 2, 5; (10) cfr. Josemaría Escrivá, Caminho, n. 375; (11) cfr. Sl 41, 2; (12) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 306; (13) Jo 14, 26; (14) cfr. Jo 14, 15-17; 15, 36; 16, 7-14; Mt 10, 20; (15) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 9; (16) Seqüência da Missa de Pentecostes; (17) Rom 8, 26; (18) ib.; (19) Paulo VI, Discurso de abertura da 3ª Seção do Concílio Vaticano II, 14-IX-1964.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Santo Inácio de Láconi
11 de Maio
Santo Inácio de Láconi
Santo Inácio de Láconi, o segundo numa família de nove irmãos, nasceu em Láconi, na Sardenha, a 17 de Novembro de 1701. Foram seus pais Matias Peis Cadello e Ana Maria Sanna Casu, pobres de bens materiais, mas ricos de fé. Desde pequeno se distinguiu pela sua bondade e piedade; sendo ainda adolescente, praticava contínuas mortificações e rigorosos jejuns.
Tinha 18 anos quando ficou gravemente doente e fez, então, a promessa de se fazer capuchinho se viesse a curar-se. Mais tarde, escapou a outro perigo mortal e nessa altura cumpriu a sua promessa. A 3 de Novembro de 1721 foi a Cagliari e apresentou-se no Convento dos Capuchinhos de Buoncammino.
Recusado inicialmente por causa da sua frágil constituição física foi, finalmente, admitido. Vestiu o hábito religioso dos Capuchinhos no Convento de São Bento a 10 de Novembro de 1721. No final do ano do noviciado, foi transferido para o Convento de Iglesias, onde recebeu o ofício de despenseiro, sendo, ao mesmo tempo, encarregado de esmolar na campanha de Sulcis.
Depois de passar durante 15 anos por diversos conventos, Inácio foi enviado para Cagliari, para o Convento de Buoncammino, recebendo aí o encargo de confeccionar os hábitos para os religiosos e depois, a partir de 1741, o ofício de pedir esmola naquela cidade – um ofício, então, considerado de grande importância e responsabilidade.
Cagliari foi, assim, durante 40 anos, o campo do seu maravilhoso apostolado, desenvolvido com um amor imenso no meio dos pobres e dos pescadores. Era venerado pelo encanto da sua virtude e pelos milagres que ia realizando até ao ponto de ser chamado por todos como “Padre Santo”. Um testemunho daquele tempo, nada suspeito e que mostra a grande veneração de que era geralmente rodeado o humilde capuchinho, é-nos oferecido pelo pastor protestante, José Fues, que vivia naquele tempo em Cagliari.
Numa carta escrita a um seu amigo da Alemanha, assim se exprimia: “Vemos todos os dias a pedir esmola, deambulando pela cidade, um santo vivo que é o irmão leigo capuchinho que, com vários milagres, conquistou a veneração de todos os seus compatriotas”.
Converteu-se numa figura típica, quase insubstituível naquela cidade da Sardenha que, precisamente naquela altura, tinha passado para o domínio da casa de Savoia. Pedia esmola nos bairros pobres, ao longo do porto, nas tavernas e nas lojas. Pedia e dava ao mesmo tempo. Por um lado, dava qualquer ajuda para socorrer os necessitados e, por outro, também um exemplo, uma boa palavra, um conselho, uma recomendação a apontar a virtude.
Conhecido por todos, por todos era respeitado e amado. Ia vendo as gerações sucederem-se em torno do seu próprio hábito, as crianças a converterem-se em homens e os homens a ficarem velhos. Somente ele não mudava. Sempre nos mesmos lugares, sempre atento à sua missão, sempre com a mesma humildade e caridade, a mesma simplicidade e bondade.
Tendo perdido a visão em 1779, passou os últimos anos de vida em intensa oração até ao dia da sua gloriosa morte, que teve lugar em Cagliari, a 11 de Maio de 1781.
Fonte: “Santos franciscanos para cada dia”, edição Porziuncola
10 de Maio 2020
A SANTA MISSA

5º Domingo da Páscoa – Ano A
Cor: Branca
1ª Leitura: At 6,1-7
«Escolheram sete homens repletos do Espírito Santo.»
Leitura dos Atos dos Apóstolos
1 Naqueles dias: o número dos discípulos tinha aumentado, e os fiéis de origem grega começaram a queixar-se dos fiéis de origem hebraica. Os de origem grega diziam que suas viúvas eram deixadas de lado no atendimento diário. 2 Então os Doze Apóstolos reuniram a multidão dos discípulos e disseram: ‘Não está certo que nós deixemos a pregação da Palavra de Deus para servir às mesas. 3 Irmãos, é melhor que escolhais entre vós sete homens de boa fama, repletos do Espírito e de sabedoria, e nós os encarregaremos dessa tarefa. 4 Desse modo nós poderemos dedicar-nos inteiramente à oração e ao serviço da Palavra’. 5 A proposta agradou a toda a multidão. Então escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; e também Felipe, Prócoro, Nicanor, Timon, Pármenas e Nicolau de Antioquia, um pagão que seguia a religião dos judeus. 6 Eles foram apresentados aos apóstolos, que oraram e impuseram as mãos sobre eles. 7 Entretanto, a Palavra do Senhor se espalhava. O número dos discípulos crescia muito em Jerusalém, e grande multidão de sacerdotes judeus aceitava a fé.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 32(33), 1-2.4-5.18-19 (R. 22)
R. Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,
da mesma forma que em vós nós esperamos!
Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia
1 Ó justos, alegrai-vos no Senhor!*
aos retos fica bem glorificá-lo.
2 Dai graças ao Senhor ao som da harpa,*
na lira de dez cordas celebrai-o! R.
4 Pois reta é a palavra do Senhor,*
e tudo o que ele faz merece fé.
5 Deus ama o direito e a justiça,*
transborda em toda a terra a sua graça. R.
18 O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem,*
e que confiam esperando em seu amor,
19 para da morte libertar as suas vidas*
e alimentá-los quando é tempo de penúria. R.
2ª Leitura: 1Ts 1, 5c-10
“Vós vos convertestes, abandonando os falsos deuses,
para servir a Deus esperando o seu Filho”.
Leitura da Primeira Carta de São Paulo apóstolo aos Tessalonicenses
Irmãos:
5c Sabeis de que maneira procedemos entre vós, para o vosso bem.
6 E vós vos tornastes imitadores nossos, e do Senhor, acolhendo a Palavra com a alegria do Espírito Santo, apesar de tantas tribulações.
7 Assim vos tornastes modelo para todos os fiéis da Macedônia e da Acaia.
8 Com efeito, a partir de vós, a Palavra do Senhor não se divulgou apenas na Macedônia e na Acaia, mas a vossa fé em Deus propagou-se por toda parte. Assim, nós já nem precisamos de falar,
9 pois as pessoas mesmas contam como vós nos acolhestes e como vos convertestes, abandonando os falsos deuses, para servir ao Deus vivo e verdadeiro,
10 esperando dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos: Jesus, que nos livra do castigo que está por vir.
– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.
Evangelho: Mt 22, 34-40
“Amarás o Senhor teu Deus, e ao teu próximo como a ti mesmo”.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo:
34 Os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Então eles se reuniram em grupo,
35 e um deles perguntou a Jesus, para experimentá-lo:
36 ‘Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?’
37 Jesus respondeu: ‘`Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento!’
38 Esse é o maior e o primeiro mandamento.
39 O segundo é semelhante a esse: `Amarás ao teu próximo como a ti mesmo’.
40 Toda a Lei e os profetas dependem desses dois mandamentos.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
São João de Ávila
10 de Maio
São João de Ávila
No fim do século XV nascia em Almodóvar del Campo, nas cercanias de Toledo, mais um varão que seria um dos luminares no firmamento da Santa Igreja: São João de Ávila.
Nascido a 6 de janeiro de 1500, e tendo ancestralidade judia, o pequeno João aos 14 anos foi enviado a Salamanca para estudar Direito mas, não sentindo no estudo das leis humanas o estímulo para a sua vida, abandonou os estudos e regressou à cidade natal, ali passando três anos em reflexão e penitência, sendo-lhe proveitosas as muitas horas que passava recolhido em frente ao sacrário onde era mantido o Santíssimo Sacramento.
Discernindo um chamado de Deus, decidiu-se por trilhar a via clerical, o que foi precedido de estudos apropriados feitos em Alcalá de Henares, onde foi aluno de Frei Domingo de Soto, célebre teólogo dominicano.
Sua ordenação presbiteral deu-se em 1526, sendo a primeira missa celebrada por alma de seus pais, que haviam falecido pouco antes, quando ele estudava. Nesse dia vestiu e serviu a refeição a vários mendigos, tendo-se desfeito da fortuna que herdou dos ricos pais (era herdeiro único) destinando-a aos pobres. E passou a viver da caridade dos outros, de quem recebia esmolas para o sustento.
Um ano após ser ordenado dispôs-se a ser missionário na América, e assim ofereceu-se a um bispo que viajaria ao novo continente, rumo ao México. Porém foi dissuadido dessa ideia, aceitando então o encargo de evangelizar a região correspondente ao sul da península ibérica, o que o levou a ser considerado O Apóstolo da Andaluzia, região em que concentrou a maior parte de sua ação.
As atividades evangelizadoras de São João de Ávila revelaram um profundo saber teológico associado a uma alma acentuadamente contemplativa, havendo nele um inegável desprendimento dos bens terrenos. Dotado de especial memória para com as Sagradas Escrituras, dizia-se dele que se, por algum motivo, a Bíblia desaparecesse do mundo, ele a restituiria à humanidade, pois a tinha decorado… Mais importante que a lembrança das palavras era, entretanto, o conhecimento de seu conteúdo, tantas vezes utilizado para fundamentar as palavras faladas e escritas com que desenvolvia seu trabalho evangelizador.
Como exemplo de frutos de seu ardoroso apostolado cita-se a conversão de São Francisco de Bórgia (que futuramente sucederia Santo Inácio de Loyola à frente da Companhia de Jesus) e São João de Deus (que tanto beneficiaria os doentes com suas obras). Vários santos do século XVI com ele trocaram cartas, dentre os quais Santo Inácio de Loyola, São Pedro de Alcântara, São Francisco de Bórgia, Santa Teresa de Jesus.
Infelizmente muitas de suas obras perderam-se com o passar dos anos, principalmente os sermões, não sem antes darem muitos frutos. Vários de seus escritos, porém, foram cuidadosamente conservados. Autor prolífico, escreveu diversas obras ascéticas dirigidas às várias classes de pessoas. Dentre elas citam-se o Epistolário Espiritual Para Todos os Estados, O Conhecimento de Si Mesmo, Tratado Sobre o Sacerdócio, e outras.
Sua ostensiva atuação como pregador incomodou alguns clérigos nos quais o sentimento de inveja brotou, os quais denunciaram São João de Ávila aos inquisidores de Sevilha. Isso fez com que ficasse encarcerado de 1531 a 1533 quando passou por um processo, no qual havia cinco denunciantes que o acusavam e 55 defensores.
Tendo partido para a Eternidade em 1569, São João de Ávila foi beatificado por Leão XIII em 1894 e canonizado por Paulo VI em 10 de maio de 1970. Pio XII, em 1946, proclamou-o patrono do clero secular espanhol. Sua inserção na lista dos Doutores da Igreja foi anunciada por Bento XVI na Jornada Mundial da Juventude em 2011.
Fonte: http://www.arautos.org
Ser Justos
TEMPO PASCAL. QUINTO DOMINGO
— Ser justos com as pessoas das nossas relações, com aqueles que dependem de nós e com a sociedade.
— A promoção da justiça.
— Fundamento e fim da justiça.
I. A PALAVRA DO SENHOR é reta e todas as suas obras são leais. Ele ama a justiça e o direito; a terra está cheia da bondade do Senhor 1.
A justiça é a virtude cardeal que permite uma convivência reta e límpida entre os homens. Sem esta virtude, a convivência torna-se impossível; a sociedade, a família, a empresa deixam de ser humanas e convertem-se em lugares onde o homem atropela o homem. A justiça regula a convivência da sociedade humana enquanto humana, quer dizer, enquanto baseada no respeito aos direitos pessoais; é “princípio da existência e da coexistência dos homens, como também das comunidades humanas, das sociedades e dos povos” 2.
Num dos seus aspectos, esta virtude diz respeito às relações com os vizinhos, com os colegas, com os amigos e, em geral, com todas as pessoas: regula as relações dos homens entre si, dando a cada um o que lhe é devido. Sob outro aspecto, refere-se aos deveres da sociedade para com cada indivíduo, naquilo que este deve receber dela. Por último, regula aquilo que cada indivíduo concreto deve à comunidade a que pertence, ao todo de que faz parte.
Numa sociedade, a justiça procede daqueles que a compõem. São as pessoas que projetam na sociedade a sua justiça ou a sua injustiça, sobretudo quando nela detêm maior responsabilidade. E isto é válido na família, na empresa, na nação ou no conjunto de nações que compõem o mundo. Se verdadeiramente queremos que a justiça impere numa sociedade — quer se trate de uma aldeia ou de uma nação —» tornemos justos os homens que a compõem; que cada um de nós comece por ser justo nesse tríplice plano: c0m aqueles com quem nos relacionamos todos os dias, com aqueles que dependem de nós e, por último, com a sociedade de que fazemos parte, dando-lhe o que devemos. A primeira obrigação moral da justiça é, pois, que sejamos justos em todos os aspectos da nossa vida.
A luta por uma maior justiça na sociedade é fruto assim de uma série de decisões pessoais, que vão modelando a alma da pessoa que pratica essa virtude. Com atos concretos de justiça, o homem passa a reger-se com uma facilidade cada vez maior por “uma vontade constante e inalterável de dar a cada um o que é seu" 3, pois é nisso que consiste a essência desta virtude.
II. “DEUS CHAMA-NOS através das vicissitudes da vida diária, no sofrimento e na alegria das pessoas com quem convivemos, nas aspirações humanas dos nossos companheiros, nos pequenos acontecimentos da vida familiar. Chama-nos também através dos grandes problemas, conflitos e tarefas que definem cada época histórica e que atraem o esforço e os ideais de grande parte da humanidade”4.
A fé leva-nos a estar presentes, a intervir muito diretamente em todos os anseios nobres, quer se apresentem “nos pequenos acontecimentos da vida familiar” ou “nos conflitos e tarefas que definem cada época histórica”, a fim de que nos santifiquemos e santifiquemos essas realidades — tornando-as mais humanas, mais justas —, e as levemos a Deus. “Compreende-se muito bem a impaciência, a angústia e os anseios inquietos daqueles que, com alma naturalmente cristã (cfr. Tertuliano, Apologeticum, 17), não se resignam perante as situações de injustiça pessoal e social que 0 coração humano é capaz de criar. Tantos séculos de conivência entre os homens, e ainda tanto ódio, tanta destruição, tanto fanatismo acumulado em olhos que não querem Ver e em corações que não querem amar” 5.
A fé pede-nos que nos apressemos, porque é grande a necessidade de justiça que existe no mundo. “Os bens da terra, repartidos entre poucos; os bens da cultura, encerrados em cenáculos. E, lá fora, fome de pão e de sabedoria; vidas humanas — que são santas, porque vêm de Deus – tratadas como simples coisas, como números de uma estatística. Compreendo e partilho dessa impaciência, levantando os olhos para Cristo, que continua a convidar-nos a pôr em prática o mandamento novo do amor” 6.
Justo, no sentido pleno da palavra, é aquele que vai semeando à sua passagem amor e alegria, e que não transige com a injustiça onde quer que a encontre, geralmente no âmbito em que a sua vida se desenvolve: na família, na sua empresa, na cidade em que mora…
Se nos examinarmos seriamente, é possível que descubramos na nossa vida injustiças que teremos de remediar: juízos precipitados contra pessoas e instituições, pouco rendimento no trabalho, injustiça no modo de tratar ou de remunerar os outros…
III. A GRANDE FORÇA que move o homem justo é o seu amor a Cristo; quanto mais fiéis formos ao Senhor, mais justos seremos, mais comprometidos estaremos com a verdadeira justiça. Um cristão sabe que o próximo é Cristo presente nos outros, de modo especial nos mais necessitados. “Somente a partir da fé é que se compreende o que realmente está em jogo com a justiça ou a injustiça dos nossos atos: se acolhemos ou rejeitamos Jesus Cristo” 7. É uma verdade que somente os cristãos, mediante a fé, podem ver: Cristo nos espera nos nossos irmãos. Porque tive fome e não me destes de comer, tive sede… Omissões: Todas as vezes que o deixastes de fazer a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer.
“Temos que reconhecer Cristo que nos sai ao encontro nos nossos irmãos, os homens” 9. Bastaria examinarmos o nosso espírito de atenção, de respeito, de amor à justiça, enriquecido pela caridade, para saber qual o grau de fidelidade com que seguimos o Senhor. E, vice-versa, se o nosso relacionamento com Cristo e o amor por Ele forem profundos e verdadeiros, esse relacionamento e esse amor transbordarão de modo irreprimível em direção aos outros.
“São grandes as exigências espirituais e materiais do serviço cristão: estendem-se à vontade, ao sentimento, aos atos. Em face delas, com a ajuda da graça divina, o cristão não se acovarda nem se atordoa entregando-se a um nervoso frenesi de “gestos” surpreendentes. Mas também não fica “tranqüilo”‘ Caritas enim Christi urget nos: insta-nos o amor de Cristo (2 Cor 5, 14)” 10, que nos leva a ultrapassar a mera justiça, depois, evidentemente, de termos satisfeito os seus ditames. “Para que o exercício da caridade esteja acima de qualquer crítica e se apresente como tal – ensina o Concilio Vaticano II -, é necessário […] que se satisfaçam em primeiro lugar as exigências da justiça, para que não se dê como caridade aquilo que já é devido a título de justiça” 11.
A prática da justiça leva-nos a um constante encontro com Cristo. Em última análise, “praticar a justiça com um homem é reconhecer a presença de Deus nele” 12. É por isso também que não pode haver no cristão verdadeira justiça se não estiver impregnada de caridade 13; de outro modo, não faríamos mais do que amesquinhá-la. Cristo, nas nossas relações com o próximo, quer muito mais de nós. Temos que pedir-lhe “que nos conceda um coração bom, capaz de se compadecer das penas das criaturas, capaz de compreender que, para remediar os tormentos que acompanham e não poucas vezes angustiam as almas neste mundo, o verdadeiro bálsamo é o amor, a caridade” 14.
(1) Sl 33, 4-5; Salmo responsorial da Missa do quinto domingo do Tempo Pascal; (2) João Paulo II, Audiência geral, 8-XI-1978; (3) São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 58, a. 1; (4) São Josemaría Escrivá, Ê Cristo que passa, n. 110; (5) ib., n. 111; (6) ib.; (7) P. Rodriguez, Fe y vida de fe, EUNSA, Pamplona, 1974, pág. 215; (8) cfr. Mt 25, 45; (9) São Josemaría Escrivá, op. cit., n. 111; (10) F. Ocáriz, Amor a Dios, amor a los hombres, 3a ed., Palabra, Madrid, 1973, pág. 109; (11) Cone. Vat. II, Decr. Apostolicam actuositatem, 8; (12) P. Rodriguez, op. cit., pág. 217; (13) cfr. São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 4, a. 7; (14) São Josemaría Escrivá, °A cit., n. 167.
Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal
A virtude da Esperança
TEMPO PASCAL. QUARTA SEMANA. SÁBADO
— Esperança humana e virtude sobrenatural da esperança. Certeza dessa virtude. O Senhor dar-nos-á sempre as graças necessárias.
— Pecados contra a esperança: a presunção e o desalento.
— A Virgem, Esperança nossa. Recorrer a Ela nos momentos mais difíceis e sempre.
I. LEMOS NO EVANGELHO DA MISSA estas consoladoras palavras de Jesus: Qualquer coisa que pedirdes em meu nome, eu vo-la farei 1. E a antífona da Comunhão recorda-nos outras palavras não menos consoladoras do Senhor: Pai, quero que, onde eu estou, estejam comigo aqueles que me deste, para que vejam a minha glória 2.
O próprio Senhor é o nosso intercessor no Céu e nos promete conceder-nos tudo o que lhe pecamos em seu nome. Pedir em seu nome significa, em primeiro lugar, ter fé na sua Ressurreição e na sua misericórdia; e significa pedir aquilo que, humana e sobrenaturalmente, convém à nossa salvação, objeto fundamental da virtude cristã da esperança e fim da própria vida do homem.
Existe uma esperança humana: a do lavrador que planta, a do marinheiro que empreende uma travessia, a do comerciante que inicia um negócio… Pretende-se alcançar um bem, um fim humano: uma boa colheita, a chegada a bom porto, uns bons lucros… E existe a esperança cristã, que é essencialmente sobrenatural e, portanto, está muito acima do mero desejo humano de felicidade e da natural confiança em Deus.
Por essa virtude tendemos para a vida eterna, para uma felicidade sobrenatural que não é senão a posse de Deus: ver a Deus como Ele próprio se vê, amá-lo como Ele se ama.
E ao tendermos para Deus, fazemo-lo utilizando os meios que Ele nos prometeu e que nunca nos faltarão, se nós não os rejeitarmos. O motivo fundamental pelo qual esperamos alcançar este bem infinito é que Deus nos estende a sua mão, levado pela sua misericórdia e pelo seu amor infinito, num gesto a que nós correspondemos com o nosso querer, aceitando com amor essa mão que Ele nos estende 3.
Pela virtude da esperança, o cristão não tem a certeza da salvação – a não ser por uma graça especialíssima de Deus -, mas tem a certeza de estar tendendo para o seu fim, de modo análogo ao do homem que, empreendendo uma viagem, não tem a certeza de chegar ao fim do seu trajeto, mas tem a certeza de estar no bom caminho e de chegar ao seu termo se não abandona esse caminho. “A certeza da esperança cristã não é, pois, a certeza da salvação, mas a certeza absoluta de que caminhamos para ela” 4, confiados em que Deus “nunca manda o impossível, mas nos ordena que façamos o possível e peçamos o que não nos é possível” 5.
O Magistério da Igreja ensina que “todos devem ter firme esperança na ajuda de Deus. Porque, se formos fiéis à graça, assim como Deus começou em nós a obra da nossa salvação, também a levará a bom termo, produzindo em nós o querer e o agir (Fil 2, 13)” 6. O Senhor não nos abandonará se nós não o abandonarmos, e dar-nos-á os meios necessários para ir avante em todas as circunstâncias e em todo o tempo e lugar. Escutar-nos-á sempre que recorrermos a Ele com humildade. Dar-nos-á os meios para procurarmos a santidade nas nossas tarefas, no meio do trabalho e nas condições em que decorre a nossa vida. Dar-nos-á mais graça se as dificuldades forem maiores, e mais força se for maior a nossa fraqueza.
II. “A ESPERANÇA CRISTA deve ser ativa, de modo a evitar a presunção; e deve ser firme e invencível, de modo a rejeitar o desalento” 7.
Há presunção quando se confia mais nas forças próprias do que na ajuda de Deus e se esquece a necessidade da graça para toda a obra boa; ou quando se espera da misericórdia divina o que Deus não nos pode dar em vista das nossas más disposições, como seria o perdão sem verdadeiro arrependimento ou a vida eterna sem que fizéssemos o menor esforço por merecê-la.
Não é raro que da presunção se passe rapidamente ao desalento, quando aparecem as provas e as dificuldades, como se esse bem árduo que é o objeto da esperança fosse impossível de alcançar. O desalento conduz primeiro ao pessimismo e depois à tibieza 8, que considera muito difícil a tarefa da santificação pessoal e abandona qualquer esforço.
A causa da desesperança nunca está nas dificuldades, mas na ausência de desejos sinceros de santidade e de chegar ao Céu. Quem ama a Deus e quer amá-lo ainda mais, aproveita as próprias dificuldades para manifestar o seu amor e para crescer nas virtudes.
O tíbio chega ao desalento porque, pelas suas inúmeras negligências consentidas, perde o rumo na sua luta pela santidade. As coisas materiais adquirem então para ele, não talvez na teoria mas sim na prática, um valor de fim absoluto. E “se transformamos os projetos temporais em metas absolutas, cancelando do horizonte a morada eterna e o fim para o qual fomos criados, as mais brilhantes ações transformam-se em traições e mesmo em veículo de aviltamento das criaturas” 9.
Devemos andar pela vida com os objetivos bem determinados, com o olhar posto em Deus, pois é isso o que nos leva a desempenhar com entusiasmo as nossas tarefas temporais, sejam trabalhosas ou não. Então compreendemos que todos os bens terrenos, sem deixarem de ser bens, são relativos e devem estar sempre subordinados à vida eterna e a tudo o que lhe diz respeito. O objeto da esperança cristã transcende de um modo absoluto tudo o que é terreno.
Esta atitude perante a vida, que é a que sustenta a esperança, exige uma luta diária alegre, porque a tendência do homem é fazer desta vida uma cidade permanente, quando na realidade está nela apenas de passagem. A luta interior bem definida na direção espiritual, o exame geral diário, o recomeçar seguidamente, com humildade, sem desânimo, é a melhor garantia da nossa firmeza na esperança. Conforme lemos no Evangelho da Missa de hoje, o Senhor prometeu-nos vir em nossa ajuda desde que recorramos a Ele.
III. EU SOU A MÃE do amor formoso…, em mim está toda a esperança de vida e de virtude 10. São palavras que a Igreja pôs nos lábios de Nossa Senhora há vários séculos.
A esperança foi a virtude peculiar dos Patriarcas e dos Profetas, de todos os israelitas piedosos que viveram e morreram com o olhar posto no Desejado das nações 11 e nos bens que a sua chegada traria ao mundo, contentando-se com olhá-los de longe e saudá-los, considerando-se peregrinos e hóspedes nesta terra. Durante muitas gerações, esta esperança susteve o povo de Israel no meio das inúmeras tribulações e provas por que passou.
A esse clamor de esperança na pronta chegada do Messias, uniu-se a Virgem Maria com muito mais força que os Patriarcas, os Profetas e todos os homens juntos. Era muito maior a sua esperança porque Ela estava confirmada na graça e preservada, portanto, de toda a presunção e de toda a falta de confiança em Deus. Já antes da Anunciação, Santa Maria aprofundava nas Sagradas Escrituras como nunca o fizera inteligência humana alguma, e esta clareza no conhecimento daquilo que tinha sido anunciado pelos Profetas foi crescendo nela até chegar à plena convicção de que se cumpriria o que fora anunciado. A sua esperança foi crescendo como cresce “a certeza que tem o navegante, depois de ter tomado o rumo conveniente, de se estar dirigindo de maneira efetiva para o termo da sua viagem, certeza que aumenta à medida que se aproxima do porto” 13.
Maria exercitou a esperança quando na sua juventude desejava ardentemente a chegada do Messias; depois, quando esperou que o segredo da concepção virginal do Salvador fosse manifestado a José, seu esposo; quando se viu em Belém sem um lugar onde acolher o Messias; na sua fuga precipitada para o Egito… Mais tarde, quando tudo parecia perdido no Calvário, Ela esperou a Ressurreição gloriosa do seu Filho, enquanto o mundo estava sumido na escuridão. Agora, já próxima a Ascensão do Senhor aos céus, prepara-se para animar a Igreja nascente a difundir o Evangelho e a converter o mundo pagão.
Ao longo dos séculos, o Senhor quis multiplicar os sinais da sua assistência misericordiosa e deixou-nos Maria como um farol poderosíssimo, para que soubéssemos orientar-nos quando estivéssemos perdidos e sempre. “Se se levantarem os ventos das provações, se tropeçares com os escolhos da tentação, olha para a estrela, chama por Maria. Se te agitarem as ondas da soberba, da ambição ou da inveja, olha para a estrela, chama por Maria. Se a ira, a avareza ou a impureza arrastarem violentamente a nave da tua alma, olha para Maria. Se, perturbado com a memória dos teus pecados, confuso ante a fealdade da tua consciência, temeroso ante a idéia do juízo, começares a afundar-te no fosso da tristeza ou no abismo do desespero, pensa em Maria.
"Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Não se afaste Maria da tua boca, não se afaste do teu coração; e, para conseguires a sua ajuda intercessora, não te afastes tu dos exemplos da sua virtude. Não te extraviarás se a segues, não desesperarás se a invocas, não te perderás se nela pensas. Se Ela te sustiver entre as suas mãos, não cairás; se te proteger, nada terás a recear; não te fatigarás, se Ela for o teu guia; chegarás felizmente ao porto, se Ela te amparar” 14.
(1) Jo 14, 14; (2) Jo 17, 24; (3) cfr. Garrigou-Lagrange, Las três edades de Ia vida interior, pág. 738; (4) ib., pág. 740; (5) Santo Agostinho, Tratado da natureza e da graça, 43, 5; (6) Cone. de Trento, Decreto sobre a justificação, cap. 13, Dz 806; (7) R. Garrigou-Lagrange, op. cit, pág. 741; (8) cfr. São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 988; (9) cfr. F. Fernán-dez-Carvajal, La tibieza, 5a ed., Palabra, Madrid, 1985, pág. 95; (10) cfr. Eclo 24, 24; (11) Ag 2, 8; (12) Hebr 11, 3; (13) R. Garrigou-Lagrange, La Madre dei Salvador, Rialp, Madrid, 1976, pág. 162; (14) São Bernardo, Hom. 2 sobre “missus est”, 7.
Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal.
09 de Maio 2020
A SANTA MISSA

4ª Semana da Páscoa – Sábado
Cor: Branca
1ª Leitura: At 13,44-52
Vamos dirigir-nos aos pagãos.
Leitura dos Atos dos Apóstolos
44 No sábado seguinte, quase toda a cidade se reuniu para ouvir a palavra de Deus. 45 Ao verem aquela multidão, os judeus ficaram cheios de inveja e, com blasfêmias, opunham-se ao que Paulo dizia. 46 Então, com muita coragem, Paulo e Barnabé declararam: ‘Era preciso anunciar a palavra de Deus primeiro a vós. Mas, como a rejeitais e vos considerais indignos da vida eterna, sabei que nos vamos dirigir aos pagãos. 47 Porque esta é a ordem que o Senhor nos deu: ‘Eu te coloquei como luz para as nações, para que leves a salvação até os confins da terra’.’ 48 Os pagãos ficaram muito contentes, quando ouviram isso, e glorificavam a palavra do Senhor. Todos os que eram destinados à vida eterna, abraçaram a fé. 49 Desse modo, a palavra do Senhor espalhava-se por toda a região. 50 Mas os judeus instigaram as mulheres ricas e religiosas, assim como os homens influentes da cidade, provocaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé e expulsaram-nos do seu território. 51 Então os apóstolos sacudiram contra eles a poeira dos pés, e foram para a cidade de Icônio. 52 Os discípulos, porém, ficaram cheios de alegria e do Espírito Santo.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 97, 1. 2-3ab. 3cd-4 (R. 3cd)
R. Os confins do universo contemplaram
a salvação do nosso Deus.
Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia
1 Cantai ao Senhor Deus um canto novo,*
porque ele fez prodígios!
Sua mão e o seu braço forte e santo*
alcançaram-lhe a vitória. R.
2 O Senhor fez conhecer a salvação,*
e às nações, sua justiça;
3a recordou o seu amor sempre fiel*
3b pela casa de Israel. R.
3c Os confins do universo contemplaram*
3d a salvação do nosso Deus.
4 Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira,*
alegrai-vos e exultai! R.
Evangelho: Jo 14,7-14
Quem me viu, viu o Pai.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 7 Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes.’ 8 Disse Filipe: ‘Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!’ 9 Jesus respondeu: ‘Ha tanto tempo estou convosco, e não me conheces, Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai’? 10 Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. 11 Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditai, ao menos, por causa destas mesmas obras. 12 Em verdade, em verdade vos digo, quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai, 13 e o que pedirdes em meu nome, eu o realizarei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. 14 Se pedirdes algo em meu nome, eu o realizarei.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!