O Dom do Temor de Deus
TEMPO PASCAL. SÉTIMA SEMANA. QUINTA-FEIRA
– O temor servil e o santo temor de Deus. Conseqüências deste dom na alma.
– O santo temor de Deus e o empenho em rejeitar todo o pecado.
– Relações entre este dom e a virtude da humildade e da temperança. Delicadeza de alma e sentido do pecado.
I. SANTA TERESA diz que, em face de tantas tentações e provas que temos de padecer, o Senhor nos concede dois remédios: amor e temor. “O amor nos fará apressar o passo; o temor nos fará olhar bem onde pomos os pés para não cair” 1.
Mas nem todo o temor é bom. Existe em primeiro lugar o temor mundano 2, próprio dos que temem sobretudo o mal físico ou as desvantagens sociais que possam afetá-los nesta vida. É o temor dos que fogem das incomodidades, mostrando-se dispostos a abandonar Cristo e a sua Igreja mal prevêem que a fidelidade à vida cristã lhes pode causar dissabores. É desse temor que nascem os “respeitos humanos”, bem como inúmeras capitulações e a própria infidelidade.
É diferente o chamado temor servil, que afasta do pecado por medo às penas do inferno ou por qualquer outro motivo interesseiro de ordem espiritual. É um temor bom, porque, para muitos que estão afastados de Deus, pode ser o primeiro passo para a sua conversão e o começo do amor 3. Não deve ser este o motivo principal das atitudes do cristão, mas em muitos casos será uma grande defesa contra a tentação e contra os atrativos de que o mal se reveste.
O santo temor de Deus, dom do Espírito Santo, é o mesmo que, com os demais dons, pousou na Alma santíssima de Cristo, o mesmo que ornou a Virgem Maria; o mesmo que tiveram as almas santas, o mesmo que permanece para sempre no Céu e que leva os bem-aventurados a prestar um louvor contínuo à Santíssima Trindade, juntamente com os anjos. São Tomás ensina que este dom é conseqüência do dom da sabedoria e sua manifestação externa 4.
Este temor filial, próprio de filhos que se sentem amparados por seu Pai, a quem não desejam ofender, tem dois efeitos principais. O mais importante – pois é o único que se deu em Cristo e na Santíssima Virgem – é um profundo sentido do sagrado, um imenso respeito pela majestade de Deus e uma complacência sem limites na sua bondade de Pai. Em virtude deste dom, as almas santas reconhecem o seu nada diante de Deus. Repetem com freqüência, confessando a sua nulidade, aquilo que tão amiúde repetia São Josemaría Escrivá: “Não valho nada, não tenho nada, não posso nada, não sei nada, não sou nada, nada!” 5, ao mesmo tempo que reconhecia a grandeza incomensurável de sentir-se e de ser filho de Deus.
Durante a vida terrena, este dom produz ainda outro efeito: um grande horror ao pecado e, se se tem a desgraça de cometê-lo, uma vivíssima contrição. À luz da fé, esclarecida pelos resplendores dos demais dons, a alma compreende um pouco da transcendência de Deus, da distância infinita e do abismo que o pecado cava entre ela e Deus.
O dom do temor ilumina-nos para podermos entender que “o que está na raiz dos males morais que dividem e desagregam a sociedade é o pecado” 6. E leva-nos também a detestar o próprio pecado venial deliberado, a reagir com energia contra os primeiros sintomas da tibieza, do desleixo ou do aburguesamento. Pode haver ocasiões na nossa vida em que talvez nos vejamos na necessidade de repetir energicamente, como uma oração urgente: “Não quero tibieza!: «Confige timore tuo carnes meas!» – dai-me, meu Deus, um temor filial que me faça reagir!” 7
II. AQUELE QUE TEME não é perfeito na caridade 8 – escreveu o Apóstolo São João –, pois o verdadeiro cristão deixa-se conduzir pelo amor e sabe que foi feito para amar.
Amor e temor. É com esta bagagem que temos de empreender o caminho. “Quando o amor chega a eliminar totalmente o temor, o próprio temor se transforma em amor” 9. É o temor do filho que ama a seu Pai com todo o seu ser e que não quer separar-se dEle por nada deste mundo. Então a alma compreende melhor a distância infinita que a separa de Deus, e ao mesmo tempo a sua condição de filho. Nunca como até esse momento tratou a Deus com mais confiança, mas também nunca o tratou com maior respeito e veneração.
Quando se perde o santo temor de Deus, dilui-se ou perde-se o sentido do pecado, perde-se o sentido do poder e da majestade de Deus, da honra que lhe é devida.
A nossa aproximação em relação ao mundo sobrenatural não pode realizar-se tentando eliminar a transcendência de Deus, mas unicamente através da divinização que a graça produz em nós mediante a humildade e o amor, e que se exprime na luta por desterrar todo o pecado da nossa vida.
“O primeiro requisito para desterrar esse mal [...] é procurar comportar-se com a disposição clara, habitual e atual, de aversão ao pecado. Energicamente, com sinceridade, devemos sentir – no coração e na cabeça – horror ao pecado grave. E, numa atitude profundamente arraigada, temos que abominar o pecado venial deliberado, essas claudicações que, embora não nos privem da graça divina, debilitam os canais por onde ela nos chega” 10.
Hoje em dia, muitas pessoas parecem ter perdido o santo temor de Deus. Esquecem quem é Deus e quem somos nós, esquecem a Justiça divina e desse modo se animam a continuar nos seus desvarios 11. A meditação dos fins últimos do homem, dos Novíssimos, dessa realidade que nos aguarda – o encontro definitivo com Deus –, prepara-nos para que o Espírito Santo nos conceda com maior amplidão esse dom que está tão próximo do amor.
III. O SENHOR DIZ-NOS de muitas maneiras que nada devemos temer exceto o pecado, que nos tira a amizade com Deus. Em face de qualquer dificuldade, em face do ambiente, de um futuro incerto..., não devemos temer, mas ser fortes e valentes, como convém aos filhos de Deus. Um cristão não pode viver aterrorizado, mas nem por isso deve deixar de trazer no coração um santo temor de Deus, desse Deus a quem, por outro lado, ama com loucura.
Ao longo do Evangelho, “Cristo repete várias vezes: Não tenhais medo... Não temais. E ao mesmo tempo, com esses chamamentos à fortaleza, faz ressoar a exortação: Temei, temei antes Aquele que pode enviar o corpo e a alma para o inferno (Mt 10, 28). Somos chamados a essa fortaleza e, ao mesmo tempo, ao temor de Deus, que deve ser temor de amor, temor filial. E somente quando este temor penetrar nos nossos corações é que poderemos ser realmente fortes, com a fortaleza dos Apóstolos, dos Mártires, dos Confessores” 12.
O dom do temor é a base da humildade, pois dá à alma a consciência da sua fragilidade e da necessidade de manter a vontade em fiel e amorosa submissão à infinita majestade de Deus; leva-nos a permanecer sempre no nosso lugar, sem querer usurpar o lugar de Deus, sem pretender honras que são para a glória de Deus. Uma das manifestações da soberba é o desconhecimento do temor de Deus.
Juntamente com a humildade, o dom do temor de Deus tem uma singular afinidade com a virtude da temperança, que inclina a usar com moderação das coisas humanas, subordinando-as ao seu fim sobrenatural. A raiz mais freqüente do pecado é precisamente a busca desordenada dos prazeres sensíveis ou das coisas materiais, e é nesse ponto que atua o dom, purificando o coração e conservando-o inteiramente para Deus.
O dom do temor é por excelência o da luta contra o pecado, pois confere uma especial sensibilidade para detectar tudo aquilo que possa contristar o Espírito Santo 13. Todos os demais dons ajudam-no nessa missão especial: as luzes dos dons do entendimento e da sabedoria descobrem-lhe a grandeza de Deus e a verdadeira significação do pecado; as diretrizes práticas do dom de conselho mantêm-no na admiração de Deus; o dom da fortaleza sustenta-o na luta sem desfalecimentos contra o mal 14.
Este dom, que foi infundido com os demais no batismo, aumenta na medida em que somos fiéis às graças que o Espírito Santo nos concede; e de modo específico, quando consideramos a grandeza e majestade de Deus, quando fazemos com profundidade o exame de consciência, descobrindo e dando a devida importância às nossas faltas e pecados. O santo temor de Deus leva-nos com facilidade à contrição, ao arrependimento por amor filial: “Amor e temor de Deus. São dois castelos fortes, a partir dos quais se dá combate ao mundo e aos demônios” 15.
O santo temor de Deus leva-nos com suavidade a desconfiar prudentemente de nós mesmos, a fugir com prontidão das ocasiões de pecado; e inclina-nos a ser mais delicados com Deus e com tudo o que a Ele se refere. Peçamos ao Espírito Santo que, mediante este dom, nos ajude a reconhecer sinceramente as nossas faltas e a sentir verdadeira dor delas. Que nos faça reagir como o salmista: Muitas lágrimas correram dos meus olhos por não ter observado a tua lei 16. Peçamos-lhe que, com delicadeza de alma, tenhamos sempre à flor da pele o sentido do pecado.
(1) Santa Teresa, Caminho de perfeição, 40, 1; (2) cfr. M. M. Philipon, Los dones del Espíritu Santo, pág. 325; (3) Eclo 25, 16; (4) São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 45, a. 1, ad. 3; (5) Andrés Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, pág. 449; (6) João Paulo II, Carta de apresentação do “Instrumentum laboris” para o VI Sínodo de Bispos, 25-I-1983; (7) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 326; (8) 1 Jo 4, 18; (9) São Gregório de Nissa, Homilia 15; (10) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 243; (11) cfr. Josemaría Escrivá, Caminho, n. 747; (12) João Paulo II, Discurso aos novos cardeais, 30-VI-1979; (13) Ef 4, 10; (14) cfr. M. M. Philipon, op. cit., pág. 332; (15) Santa Teresa, op. cit., 40, 2; (16) Sl 118, 136.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Santo Agostinho de Cantuária
27 de Maio
Santo Agostinho de Cantuária
Santo Agostinho de Cantuária foi um monge da Ordem de São Bento, o primeiro Arcebispo de Cantuária na Inglaterra, um dos padres da igreja latina e um dos maiores evangelizadores europeus junto com São Patrício, na Irlanda, e São Bonifácio, na Alemanha.
A data de seu nascimento é desconhecida, mas se sabe que faleceu em 26 de maio de 604. O início de sua vida apostólica e missionária foi em 597, quando saiu de Roma por ordem do Papa São Gregório Magno para evangelizar a Grã-Bretanha acompanhado de 39 monges.
A Grã-Bretanha havia sido evangelizada desde a época apostólica, entretanto, esta pátria recaiu no paganismo após a invasão nos séculos V e VI.
Apesar dessa situação, o rei Etelberto de Kent (sudestes da Inglaterra medieval) – que posteriormente se converteria ao catolicismo e chegaria a ser santo – permitiu a chegada e a evangelização dos missionários beneditinos, apesar de ser pagão. Sem dúvidas, o fato de sua esposa ser uma princesa cristã influenciou.
Antes que os missionários chegassem ao povoado de Thanet, em Kent, onde foram imediatamente recebidos por Etelberto, o Papa São Gregório Magno já havia nomeado Agostinho abade e o designado como Bispo.
Depois do encontro, o rei lhes concedeu permissão para pregar em todo o povoado e lhes entregou a igreja de São Martinho para que pudessem celebrar a Missa e outras liturgias. A partir desse momento, as conversões começaram a se multiplicar e logo o rei e sua corte foram batizados em Pentecostes do ano 597.
A evidente sinceridade dos missionários, sua simplicidade de intenção, sua força diante de todas as provações e, sobretudo, o caráter desinteressado do próprio Agostinho acompanhado de sua doutrina causaram uma profunda impressão na mente do rei.
Agostinho enviou dois de seus melhores monges a Roma para contar ao Sumo Pontífice o acontecido. Em resposta, o Papa o nomeou Arcebispo de Cantuária e, ao mesmo tempo, o admoestou paternalmente para que não se orgulhasse pelos êxitos alcançados nem pela honra do alto cargo que lhe conferia.
Seguindo as indicações do Papa para a divisão em territórios eclesiásticos, Agostinho erigiu outras sedes episcopais, a de Londres e a de Rochester, consagrando bispos Melito e Justo.
Depois de ter trabalhado por vários anos com todas as suas forças para converter ao cristianismo o maior número possível de ingleses, Santo Agostinho de Cantuária morreu em 26 de maio de 604.
Fonte: https://www.acidigital.com
O Dom da Fortaleza
TEMPO PASCAL. SÉTIMA SEMANA. QUARTA-FEIRA
– O Espírito Santo proporciona à alma a fortaleza necessária para vencer os obstáculos e praticar as virtudes.
– O Senhor espera de nós heroísmo nas coisas pequenas, no cumprimento diário dos nossos deveres.
– Fortaleza na vida ordinária. Meios para facilitar a ação desse dom.
I. A HISTÓRIA DO POVO de Israel manifesta a contínua proteção de Deus. A missão dos que deveriam guiá-lo e protegê-lo até chegar à Terra Prometida superava de longe as suas forças e possibilidades. Quando Moisés expõe ao Senhor que se sente incapaz de apresentar-se ao Faraó a fim de libertar os israelitas do Egito, o Senhor diz-lhe: Eu estarei contigo 1. Este mesmo auxílio divino é prometido aos Profetas e a todos aqueles a quem o Senhor confia missões especiais. Nos seus cânticos de ação de graças, esses homens reconhecem sempre que unicamente pela fortaleza que receberam do Alto é que puderam levar a cabo a sua tarefa. Os Salmos não cessam de exaltar a força protetora de Deus: O Senhor é a rocha de Israel, a sua fortaleza e segurança.
O Senhor promete aos Apóstolos – colunas da Igreja – que serão revestidos pelo Espírito Santo da força do alto 2. O Paráclito assistirá a Igreja e cada um dos seus membros até o fim dos séculos.
A virtude sobrenatural da fortaleza, a ajuda específica do Senhor, é imprescindível ao cristão para que possa vencer os obstáculos que se apresentam diariamente na sua luta interior por amar cada dia mais a Deus e cumprir os seus deveres. E esta virtude é aperfeiçoada pelo dom da fortaleza, que torna mais fáceis os atos correspondentes.
À medida que vamos purificando as nossas almas e sendo dóceis à ação da graça, cada um de nós pode dizer, como São Paulo: Tudo posso nAquele que me dá forças 3. Sob a ação do Espírito Santo, o cristão sente-se capaz de realizar as ações mais arriscadas e de suportar as provas mais duras por amor a Deus. Movido pelo dom da fortaleza, não confia nos seus esforços, pois ninguém melhor do que ele, se é humilde, tem consciência da sua fragilidade e da sua incapacidade para levar avante a tarefa da sua santificação e a missão que o Senhor lhe confia nesta vida; mas ouve o Senhor dizer-lhe, particularmente nos momentos mais difíceis: Eu estarei contigo. E atreve-se a proclamar: Se Deus é por nós, quem será contra nós? [...] Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, a angústia, a perseguição, a fome, a nudez, o perigo, a espada? [...] Mas em todas estas coisas somos mais que vencedores pela virtude dAquele que nos amou. Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as virtudes, nem as coisas presentes, nem as futuras, nem os poderes, nem as alturas, nem os abismos, nem qualquer outra criatura nos poderá separar do amor de Deus que está em Cristo Jesus Nosso Senhor 4. É um grito de fortaleza e de otimismo que se apóia em Deus.
Se deixarmos que o Paráclito tome posse da nossa vida, a nossa segurança não terá limites. Compreenderemos então com outra profundidade que o Senhor escolhe o que é fraco, o que aos olhos do mundo é vil e desprezível [...], para que ninguém se vanglorie na sua presença 5, e que pede aos seus filhos a boa vontade de fazerem tudo o que estiver ao seu alcance, para que Ele realize maravilhas de graça e misericórdia.
II. A TRADIÇÃO ASSOCIA o dom da fortaleza à fome e sede de justiça 6. “O vivo desejo de servir a Deus apesar de todas as dificuldades é justamente essa fome que o Senhor suscita em nós. Ele a faz nascer e a escuta, conforme foi dito a Daniel: Eu venho para instruir-te, porque tu és um varão de desejos (Dan 9, 23)” 7. Este dom produz na alma dócil ao Espírito Santo uma ânsia sempre crescente de santidade, que não esmorece perante os obstáculos e dificuldades. São Tomás diz que devemos desejar a santidade com tal ímpeto que “nunca nos sintamos satisfeitos nesta vida, como nunca se sente satisfeito o avaro” 8.
O exemplo dos santos incita-nos a crescer mais e mais na fidelidade a Deus no meio das nossas obrigações, amando o Senhor tanto mais quanto maiores forem as dificuldades que experimentemos, sem deixar que se avolume o desânimo ante a ausência de progresso nas metas de melhora pessoal.
Como escreveu Santa Teresa, “importa muito, e tudo, uma grande e mui determinada determinação de não parar até chegar à fonte, venha o que vier, suceda o que suceder, custe o que custar, murmure quem murmurar; quer se chegue ao fim, quer se morra no caminho ou não se tenha coragem para os trabalhos que nele se encontrem; ainda que o mundo se afunde” 9.
A virtude da fortaleza, aperfeiçoada pelo dom do Espírito Santo, não suprime a fraqueza própria da natureza humana, o temor ao perigo, o medo à dor, à fadiga, mas permite superá-los graças ao amor. Precisamente porque ama, o cristão é capaz de enfrentar os maiores riscos, ainda que a sua sensibilidade manifeste repugnância em ir para a frente, não só no começo, mas também ao longo de todo o tempo da prova ou enquanto não tiver alcançado aquilo que ama.
Esta virtude leva ao extremo de sacrificar voluntariamente a vida em testemunho da fé, se o Senhor assim o vier a pedir. O martírio é o ato supremo da fortaleza, e Deus não deixou de pedi-lo a muitos fiéis ao longo da história da Igreja. Os mártires foram – e são – a coroa da Igreja, bem como uma prova mais da sua origem divina e da sua santidade. Cada cristão deve estar disposto a dar a vida por Cristo, se as circunstâncias o exigirem. O Espírito Santo dar-lhe-á então as forças e a coragem necessárias para enfrentar essa prova suprema.
No entanto, o que o Senhor espera de nós é o heroísmo nas pequenas coisas, no cumprimento diário dos nossos deveres. Todos os dias temos necessidade do dom da fortaleza, porque todos os dias temos necessidade de praticar esta virtude para vencer os caprichos pessoais, o egoísmo e a comodidade. Por outro lado, devemos ser firmes num ambiente que muitas vezes se mostrará contrário à doutrina de Jesus Cristo, a fim de vencermos os respeitos humanos e darmos um testemunho simples mas eloqüente do Senhor, como fizeram os Apóstolos.
III. DEVEMOS PEDIR FREQÜENTEMENTE o dom da fortaleza: para vencer a relutância em cumprir os deveres que custam, para enfrentar os obstáculos normais em qualquer existência, para aceitar com paz e serenidade a doença, para perseverar nas tarefas diárias, para dar continuidade à ação apostólica, para encarar os contratempos com espírito de fé e bom humor.
Devemos pedir este dom para ter essa fortaleza interior que nos ajuda a esquecer-nos de nós mesmos e a estar mais atentos àqueles com quem convivemos, para mortificar o desejo de chamar a atenção, para servir os outros sem que o notem, para vencer a impaciência, para não ficar remoendo os problemas e dificuldades pessoais, para não explodir em queixas perante as contrariedades ou a indisposição física, para mortificar a imaginação afastando os pensamentos inúteis...
Necessitamos de fortaleza para falar de Deus sem medo, para nos comportarmos sempre de modo cristão, ainda que entremos em choque com um ambiente paganizado, para fazer uma correção fraterna quando for preciso... Precisamos de fortaleza para cumprir em toda a linha os nossos deveres: prestando uma ajuda incondicional aos que dependem de nós, exigindo-lhes ao mesmo tempo, com amável firmeza, o cumprimento das suas responsabilidades... O dom da fortaleza converte-se assim no grande meio contra a tibieza, que conduz ao desleixo e ao aburguesamento.
Quando se sabe estar bem perto do Senhor, o dom da fortaleza encontra nas dificuldades umas condições excepcionais para crescer e firmar-se. “As árvores que crescem em lugares sombreados e livres de ventos, enquanto externamente se desenvolvem com aspecto próspero, tornam-se fracas e moles, e facilmente qualquer coisa as fere; mas as árvores que vivem no cume dos montes mais altos, agitadas pelos muitos ventos e constantemente expostas à intempérie e a todas as inclemências, atingidas por fortíssimas tempestades e cobertas por freqüentes neves, tornam-se mais robustas que o ferro”10.
O Espírito Santo é um Mestre doce e sábio, mas também exigente, porque só dá os seus dons àqueles que estão dispostos a corresponder às suas graças passando pela Cruz.
(1) Gen 3, 12; (2) Lc 24, 49; (3) Fil 4, 13; (4) Rom 8, 31-39; (5) cfr. 1 Cor 1, 27-29; (6) Mt 5, 6; (7) R. Garrigou-Lagrange, Las tres edades de la vida interior, pág. 594; (8) São Tomás, Comentário sobre São Mateus, 5, 2; (9) Santa Teresa, Caminho de perfeição, 21, 2; (10) São João Crisóstomo, Homilia sobre a glória da tribulação.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Dom de Piedade
TEMPO PASCAL. SÉTIMA SEMANA. TERÇA-FEIRA
– Este dom tem como efeito próprio o sentido da filiação divina. Move-nos a tratar a Deus com a ternura e o afeto de um bom filho para com seu pai.
– Confiança filial na oração. O dom de piedade e a caridade.
– O espírito de piedade para com a Virgem Santíssima, os santos, as almas do purgatório e os nossos pais. O respeito pelas realidades criadas.
I. O SENTIDO DA FILIAÇÃO divina, efeito do dom de piedade, move-nos a tratar a Deus com a ternura e o carinho de um bom filho para com seu pai, e a considerar e tratar os outros homens como irmãos que pertencem à mesma família.
O Antigo Testamento manifesta este dom de forma muito variada, especialmente nas preces que o Povo eleito dirige constantemente a Deus: louvores e súplicas, sentimentos de adoração perante a infinita grandeza divina, confidências íntimas em que expôe com toda a simplicidade ao Pai celestial as suas alegrias e angústias, a sua esperança... De modo especial, os Salmos são um compêndio de todos os sentimentos que embargam a alma no seu trato confiante com o Senhor.
Ao chegar a plenitude dos tempos, Jesus Cristo ensinou-nos qual havia de ser o tom adequado para nos dirigirmos a Deus. Quando orardes, haveis de dizer: Pai... 1 Em todas as circunstâncias da vida, devemos dirigir-nos a Deus com esta confiança filial: Pai, Abba... É uma palavra – abba – que o Espírito Santo quis deixar-nos em arameu em diversos lugares do Novo Testamento, e que era a forma carinhosa com que as crianças hebréias se dirigiam a seu pai. Este sentimento define a nossa atitude e matiza a nossa oração. Deus “não é um ser longínquo, que contemple com indiferença a sorte dos homens, seus anseios, suas lutas, suas angústias. É um Pai que ama os seus filhos até o extremo de lhes enviar o Verbo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, para que, pela sua encarnação, morra por eles e os redima; o mesmo Pai amoroso que agora nos atrai suavemente a Si, mediante a ação do Espírito Santo que habita em nossos corações” 2.
Deus quer que o tratemos com total confiança, como filhos pequenos e necessitados. Toda a nossa piedade alimenta-se desta realidade: somos filhos de Deus. E o Espírito Santo, mediante o dom de piedade, ensina-nos e facilita-nos esse trato confiante de um filho com seu Pai.
Considerai com que amor o Pai nos amou, querendo que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato3. “É como se depois das palavras que sejamos chamados filhos de Deus, São João tivesse feito uma longa pausa, enquanto o seu espírito penetrava profundamente na imensidade do amor que o Pai nos teve, não se limitando a chamar-nos simplesmente filhos de Deus, mas tornando-nos seus filhos no sentido mais autêntico. Isto é o que faz São João exclamar: E nós o somos de fato” 4. O Apóstolo convida-nos a considerar o imenso bem da filiação divina que recebemos com a graça do Batismo, e anima-nos a secundar a ação do Espírito Santo que nos impele a tratar o nosso Pai-Deus com inefável confiança e ternura.
II. ESTA CONFIANÇA FILIAL manifesta-se sobretudo na oração que o próprio Espírito Santo suscita em nossos corações. O Espírito Santo ajuda a nossa fraqueza, porque, não sabendo o que devemos pedir nem como convém orar, o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inefáveis 5. Graças a essas moções, podemos dirigir-nos a Deus no tom adequado, numa oração rica e de matizes tão variados como a vida. Umas vezes, falaremos ao nosso Pai-Deus numa queixa familiar: Por que escondes o teu rosto? 6; outras, exporemos os nossos desejos de maior santidade: Procuro-Te com ardor. A minha alma está sedenta de Ti, e a minha carne anela por Ti como terra árida e sequiosa, sem água7; ou a nossa união com Ele: Fora de Ti, nada mais me atrai na terra 8; ou a esperança incomovível na sua misericórdia: Tu és o meu Deus e Salvador, em Ti espero sempre 9.
Este afeto filial do dom de piedade manifesta-se também nas súplicas que dirigimos ao Senhor, pedindo-lhe as coisas de que precisamos como filhos necessitados, até que no-las conceda. É uma atitude de confiança no poder da oração, que nos faz sentir seguros, firmes, audazes, que afasta a angústia e a inquietação daqueles que somente se apoiam nas suas forças.
O cristão que se deixa conduzir pelo espírito de piedade sabe que seu Pai-Deus quer o melhor para cada um dos seus filhos e que nos preparou todas as coisas para o nosso maior bem. Por isso sabe também que a felicidade consiste em ir conhecendo o que Deus quer de nós em cada momento e em realizá-lo sem dilações nem atrasos. Desta confiança na paternidade divina nasce a serenidade, mesmo no meio das coisas que parecem um mal irremediável, pois contribuem para o bem dos que amam a Deus 10. O Senhor nos mostrará um dia por que foi conveniente aquela humilhação, aquele revés econômico, aquela doença...
Este dom do Espírito Santo permite ainda que se cumpram os deveres de justiça e os ditames da caridade com presteza e facilidade. Ajuda-nos a ver os demais homens como filhos de Deus, criaturas que têm um valor infinito porque Deus os ama com um amor sem limites e os redimiu com o Sangue do seu Filho derramado na Cruz. Anima-nos a tratar com imenso respeito os que estão ao nosso redor, a compadecer-nos das suas necessidades e a procurar remediá-las; a julgá-los sempre com benignidade, dispostos também a perdoar-lhes facilmente as ofensas que nos façam, pois o perdão generoso e incondicional é um bom distintivo dos filhos de Deus. Mais do que isso, o Espírito Santo faz-nos ver nos outros o próprio Cristo: Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequenos, foi a mim mesmo que o fizestes 11.
III. O DOM DE PIEDADE move-nos ao amor filial à nossa Mãe do Céu, a quem procuramos tratar com o mais terno afeto; à devoção aos anjos e santos, especialmente aos que exercem um especial patrocínio sobre nós 12; à oração pelas almas do purgatório, como almas queridas e necessitadas dos nossos sufrágios; ao amor ao Papa, como Pai comum de todos os cristãos...
A virtude da piedade, que é aperfeiçoada por este dom, move-nos também a prestar honra e reverência a todos os que estão constituídos legitimamente em autoridade, às pessoas mais velhas (como Deus premiará a nossa solicitude para com os idosos!), e em primeiro lugar aos pais. A paternidade humana é uma participação e um reflexo da de Deus, da qual, como diz o Apóstolo, procede toda a paternidade no céu e na terra 13. “Eles nos deram a vida, e deles se serviu o Altíssimo para nos comunicar a alma e o entendimento. Eles nos instruíram na religião, no relacionamento humano e na vida civil, e nos ensinaram a manter uma conduta íntegra e santa” 14.
O dom de piedade estende-se aos atos da virtude da religião e ultrapassa-os 15. Mediante este dom, o Espírito Santo dá vigor e impulso a todas as virtudes que de um modo ou de outro se relacionam com a justiça. A sua ação abarca todas as nossas relações com Deus, com os anjos, com os homens e mesmo com as coisas criadas, “consideradas como bens familiares da Casa de Deus” 16: o dom de piedade anima-nos a tratá-las com respeito pela sua relação com o Criador.
Movido pelo Espírito Santo, o cristão lê com amor e veneração a Sagrada Escritura, que é como uma carta que seu Pai lhe envia do Céu: “Nos livros sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro dos seus filhos para conversar com eles” 17. E trata com carinho as coisas santas, sobretudo as que se prendem com o culto divino.
Entre os frutos que o dom de piedade produz nas almas dóceis às graças do Paráclito, contam-se, enfim, a serenidade em todas as circunstâncias; o abandono cheio de confiança na Providência, porque, se Deus cuida de todas as coisas criadas, muito maior ternura manifestará para com os seus filhos 18; a alegria, que é uma característica própria dos filhos de Deus: “Que ninguém leia tristeza nem dor na tua cara, quando difundes pelo ambiente do mundo o aroma do teu sacrifício: os filhos de Deus têm que ser sempre semeadores de paz e de alegria”19.
Se considerarmos muitas vezes ao dia que somos filhos de Deus, o Espírito Santo irá fomentando em nós, cada vez mais, este trato filial e confiante com o nosso Pai do Céu.
(1) Lc 11, 2; (2) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 84; (3) 1 Jo 3, 1; (4) B. Perquin, Abba, padre, Rialp, Madrid, 1986, pág. 9; (5) Rom 8, 26; (6) cfr. Sl 43, 25; (7) Sl 52, 2; (8) Sl 72, 25; (9) Sl 34, 5; (10) cfr. Rom 8, 28; (11) Mt 25, 40; (12) cfr. São Tomás, Suma Teológica, 2-2, q. 121; (13) Ef 3, 15; (14) Catecismo Romano, III, 5, 9; (15) cfr. M. M. Philipon, Los dones del Espíritu Santo, pág. 300; (16) ib.; (17) Conc. Vat. II, Const. Dei Verbum, 21; (18) cfr. Mt 6, 28; (19) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 59.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Filipe Néri
26 de Maio
São Filipe Néri
Filho de pai nobres e piedosos, Filipe Neri nasceu em 1515, na cidade italiana de Florença. De boa índole, modos afáveis e inclinação à oração, o menino mereceu já aos 5 anos o apelido de “o bom Filipe”.
Um incêndio, no entanto, destruiu grande parte da fortuna dos seus pais. Filipe passou a morar com um primo, riquíssimo negociante, em São Germano. O primo prometeu estabelecê-lo como herdeiro de todos os seus bens se quisesse tomar-lhe a gerência dos negócios. O bom Filipe, porém, sentia pouca inclinação a ser negociante; o que ele queria era ser santo e, apesar das insistências do primo, resolveu dedicar-se ao serviço de Deus. Estudou Filosofia e Teologia em Roma e adotou um modo de vida austeríssimo, que manteve até o fim: alimentava-se de pão, água e legumes, reservava poucas horas ao sono e dedicava longo tempo à adoração.
Desejoso de se devotar à vida contemplativa, vendeu a biblioteca, deu os bens aos pobres e aprofundou o espírito na meditação da Sagrada Paixão e Morte de Jesus. Passava todo o tempo disponível nas igrejas e catacumbas. A graça de Deus lhe tocou tanto o coração que, prostrado, chegou a exclamar: “Basta, Senhor, basta! Suspendei a torrente de vossas consolações, porque não tenho forças para receber tantas delícias. Ó meu Deus tão amável, por que não me destes um coração capaz de amar-Vos condignamente?”
Foi nas catacumbas de São Sebastião, em 1545, que recebeu o Espírito Santo em forma de bola de fogo. Sentiu na ocasião tanto ardor do amor de Deus que as fortíssimas palpitações do coração lhe deslocaram a segunda e a quarta costelas.
Com tamanho amor divino, imenso era também o seu amor pelo próximo. Filipe tinha o dom de atrair todos a si com a sua afabilidade, cortesia e modéstia. Era amigo de todos e, uma vez conquistada a sua confiança, os preparava para os sacramentos e os encaminhava para o bem. Passava noites em hospitais cuidando de doentes. O mais belo monumento da sua caridade é a Irmandade da Santíssima Trindade, cujo fim principal era receber os romeiros e cuidar dos enfermos.
No início de cada mês, Filipe convidava o povo a adorar o Santíssimo Sacramento, ocasiões em que, embora leigo, fazia admiráveis alocuções aos fiéis. A piedosa ideia ecoou entre o povo, que dava abundantes esmolas à nova instituição. Cardeais, bispos, reis, ministros, generais e princesas viam grande honra em pertencer a esta irmandade.
Seguindo o conselho do seu confessor, Filipe recebeu o santo Sacramento da Ordem quando tinha 36 anos. Sua vontade era trabalhar nas Índias e morrer mártir por Cristo. A Vontade de Deus para ele, porém, era que a sua terra de missão fosse a própria Roma. Ele então se tornou apóstolo da capital da cristandade. Chamou homens igualmente distintos pelo saber e pela piedade a fazerem parte da sua obra principal, a fundação da Congregação da Oração. Passava grande parte do dia no confessionário. Às suas conferências espirituais acorriam cardeais, bispos, sacerdotes e leigos, que se confiavam à direção de São Filipe e o veneravam como a um pai.
Assim como conquistava confiança ilimitada, também ilimitada era a inveja e o ódio que atraía de Satanás e dos seus sequazes. Os confrades tiveram que provar muitas vezes o escárnio, a calúnia e perseguição. O ódio dos inimigos chegou a ponto de levarem uma falsa acusação às autoridades eclesiásticas, acarretando para Filipe a suspensão das ordens sacerdotais. Privado da celebração da Santa Missa, da pregação e da administração do Santíssimo Sacramento, o santo não perdeu a paz e só dizia: “Como Deus é bom, que assim me humilha!” A suspensão acabou sendo retirada. O inimigo principal do santo, caindo em si, fez reparação pública e se tornou seu discípulo.
No final da vida já não conseguia rezar a Santa Missa em público, tamanha a comoção que lhe sobrevinha na celebração dos santos mistérios. Estando no púlpito, as lágrimas lhe embargavam a voz quando falava do Amor de Deus e da Paixão de Cristo. Quando celebrava a Missa, chegando à Santa Comunhão, ficava arrebatado em êxtase pelo espaço de duas a três horas enquanto o seu corpo se elevava à altura de dois palmos. Não é de admirar que o Papa o consultasse em importantes decisões e quisesse beijar as suas mãos.
É à sua prudência e clarividência que a França deve a felicidade de ter permanecido católica no ardor das guerras civis, quando Henrique IV, calvinista, abjurou a heresia cismática e abraçou a fé da Igreja. Quando o rei teve uma recaída no calvinismo e depois voltou mais uma vez para a Igreja, o Papa Clemente VIII, apoiado por cardeais, lhe negou a absolvição. Mas Filipe, prevendo a apostasia da França caso o Papa persistisse nesta resolução, fez jejuns e orações extraordinárias e pediu a Barônio, confessor do Papa, que o acompanhasse nestes exercícios para alcançar a luz do Espírito Santo. Henrique IV acabou absolvido pelo Papa e recebido solenemente no seio da Igreja.
Alquebrado pela idade e pelo trabalho, Filipe caiu doente. Os médicos que saíam do seu quarto desanimados ouviram-no, porém, exclamar: “Ó minha Senhora, ó dulcíssima e bendita Virgem!” Voltando ao quarto, encontraram o santo elevado sobre o leito, exclamando em êxtase: “Não sou digno, não sou digno de vós, ó dulcíssima Senhora, que venhais visitar-me!” Os médicos lhe perguntaram o que sentia. Voltando a si, Felipe lhes respondeu com outra pergunta: “Não vistes a Santíssima Virgem, que me livrou das dores?” Ele se levantou, completamente curado, e viveu mais um ano.
Tendo predito a hora da morte, Filipe fechou os olhos para este mundo no dia 2 de maio de 1595. Filipe Néri foi beatificado pelo Papa Paulo V em 1614 e canonizado por Gregório XV em 1622.
Fonte: https://pt.aleteia.org
O Dom de Conselho
TEMPO PASCAL. SÉTIMA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA
– O dom de conselho e a virtude da prudência.
– O dom de conselho é uma grande ajuda para manter uma consciência reta.
– Os conselhos da direção espiritual. Meios que facilitam a atividade deste dom.
I. SÃO MUITAS AS OCASIÕES de nos desviarmos do caminho que conduz a Deus, como também são muitos os caminhos errados que se nos apresentam com freqüência. Mas o Senhor assegurou-nos: Eu te farei saber e te mostrarei o caminho que deves seguir; serei teu conselheiro e os meus olhos estarão fixos em ti 1.
O Espírito Santo é o nosso melhor Conselheiro, o Mestre mais sábio, o melhor Guia. Quando vos entregarem – prometia o Senhor aos Apóstolos, referindo-se às situações extremas que os aguardavam –, não vos preocupeis nem com a maneira com que haveis de falar nem com o que haveis de dizer, porque naquele momento vos será dado o que devereis dizer. Porque não sereis vós que falareis, mas será o Espírito do vosso Pai que falará em vós 2. Teriam uma especial assistência do Paráclito, como a tiveram os fiéis cristãos ao longo dos séculos em circunstâncias semelhantes. Comove-nos verificar a serenidade e a sabedoria com que tantos mártires cristãos, às vezes homens e mulheres de pouca cultura, ou mesmo crianças, confessaram a sua fé.
Mediante o dom de conselho, o Espírito Santo aperfeiçoa os atos da virtude da prudência, que diz respeito aos meios que se devem empregar para resolver cada situação.
Na nossa vida, é muito freqüente termos que tomar decisões, umas mais importantes, outras menos. Em todas elas, de alguma maneira, está comprometida a nossa santidade. Pois bem, às almas dóceis à ação do Espírito Santo, Deus concede o dom de conselho para que possam decidir com retidão e rapidez. É como que um instinto divino para que possam acertar com o caminho que mais convém à glória de Deus. Da mesma maneira que a virtude da prudência abarca todo o campo da nossa atuação, o Espírito Santo, pelo dom de conselho, é Luz e Princípio permanente das nossas ações: inspira a escolha dos meios para realizarmos a vontade de Deus em todas as nossas tarefas, e conduz-nos pelos caminhos da caridade, da paz, da alegria, do sacrifício, do cumprimento do dever. Inspira-nos o caminho que devemos seguir em cada circunstância.
O primeiro campo em que este dom exerce a sua ação é o da vida interior de cada um. Na alma em graça, o Paráclito atua de uma maneira silenciosa, suave e ao mesmo tempo forte. “Este sapientíssimo Mestre é tão hábil em ensinar que vê-lo agir é o que há de mais admirável. Tudo é doçura, tudo é carinho, tudo bondade, tudo prudência, tudo discernimento” 3. Desses “ensinamentos” e dessa luz na alma procedem os impulsos que se traduzem em apelos para sermos melhores, para correspondermos mais e melhor; daí surgem as resoluções firmes, como que instintivas, que mudam uma vida ou são a origem de uma melhora eficaz nas relações com Deus, no trabalho, na atuação concreta de cada dia.
Para nos deixarmos aconselhar e dirigir pelo Paráclito, devemos desejar ser inteiramente de Deus, sem pôr conscientemente limites à ação da graça; devemos procurar a Deus por ser Quem é, infinitamente digno de ser amado, sem esperar outras compensações, tanto nos momentos em que tudo é fácil como nas situações de aridez. “Temos que procurar, servir e amar a Deus de maneira desinteressada, não para sermos virtuosos, nem para adquirir a santidade, nem por causa da graça, ou do Céu, ou da alegria de possuí-lo, mas somente para amá-lo. E quando Ele nos oferece dons e graças, devemos dizer-lhe que não, que não queremos outra coisa além do amor para amá-lo; e se nos chega a dizer: pede-me tudo o que queiras... nada, nada lhe devemos pedir; só amor e mais amor, para amá-lo e mais amá-lo” 4. E com o amor a Deus vem tudo o que pode saciar o coração do homem.
II. O DOM DE CONSELHO exige que nos tenhamos esforçado previamente por agir com prudência: que tenhamos colhido os dados necessários, previsto as possíveis conseqüências das nossas ações, recordado as experiências de casos análogos, pedido o conselho oportuno quando o caso o tenha requerido... É a prudência natural, que depois vem a ser esclarecida pela graça. É sobre ela que atua este dom, tornando mais rápida e segura a escolha dos meios, mais adequada a resposta, mais claro o caminho que devemos seguir. E isso, mesmo nos casos em que não é possível adiar a decisão, porque as circunstâncias exigem uma resposta firme e imediata, como a que o Senhor deu aos fariseus que lhe perguntavam com má-fé se era lícito ou não pagar o tributo a César 5.
O dom de conselho é de grande ajuda para manter uma consciência reta, sem deformações, porque, quando somos dóceis a essas luzes e conselhos com que o Espírito Santo ilumina a nossa consciência, a alma não se evade nem se justifica diante das faltas e dos pecados, mas reage com a contrição, com uma maior dor por ter ofendido a Deus.
Este dom ilumina a alma fiel a Deus para que não aplique erradamente as normas morais nem se deixe levar pelos respeitos humanos, pelos critérios do ambiente ou da moda, mas pelo querer de Deus. Diretamente ou por meio de outros, o Paráclito dá luzes para discernir o rumo certo e mostra os caminhos a seguir, talvez diferentes daqueles que o “espírito do mundo” sugere. Quem deixa de aplicar as normas morais à sua conduta concreta, sejam elas mais importantes ou menos importantes, é porque antepõe os seus caprichos ao cumprimento da vontade de Deus.
Ser dócil às luzes e moções interiores que o Espírito Santo inspira não exclui de modo algum “a necessidade de consultar os outros e de ouvir humildemente as diretrizes da Igreja. Pelo contrário, os santos sempre se mostraram pressurosos em submeter-se aos seus superiores, convencidos de que a obediência é o caminho real, o mais rápido e seguro, para a santidade mais alta. O próprio Espírito Santo inspira esta filial submissão aos legítimos representantes da Igreja de Cristo: Quem vos ouve, a mim me ouve; e quem vos rejeita, a mim me rejeita (Lc 10, 16)” 6.
III. ENSINA SÃO TOMÁS que “todo o bom conselho sobre a salvação dos homens vem do Espírito Santo” 7. Os conselhos da direção espiritual – através dos quais o Espírito Santo nos fala tantas vezes e de modo tão claro – devem, pois, ser recebidos com a alegria de quem descobre uma vez mais o caminho, com agradecimento a Deus e a quem faz as suas vezes, e com o propósito eficaz de os pôr em prática. Há ocasiões em que estes conselhos ganham na alma dos que os recebem uma ressonância particular, promovida diretamente pelo Espírito Santo.
O dom de conselho é necessário para a vida diária, tanto para os nossos assuntos pessoais como para podermos aconselhar os nossos amigos na sua vida espiritual e humana. É um dom que corresponde à bem-aventurança dos misericordiosos 8, “pois é necessário sermos misericordiosos para sabermos dar prudentemente um conselho salutar aos que dele carecem; um conselho proveitoso que, longe de desanimá-los, os estimule com força e suavidade ao mesmo tempo” 9.
Hoje pedimos ao Espírito Santo que nos conceda docilidade às suas inspirações, pois o maior obstáculo para que o dom de conselho arraigue na nossa alma é o apego ao juízo próprio, o não saber ceder, a falta de humildade e a precipitação no agir. Facilitaremos a ação desse dom se nos acostumarmos a considerar na oração as decisões importantes da nossa vida: “Não tomes uma decisão sem te deteres a considerar o assunto diante de Deus” 10; se procurarmos desapegar-nos do critério próprio: “Não desaproveites a ocasião de abater o teu próprio juízo”, aconselha Mons. Escrivá 11; se formos completamente sinceros à hora de fazer uma consulta moral em algum assunto que nos afete muito diretamente: por exemplo, em matéria de ética profissional ou em relação ao número de filhos, para avaliar se Deus não nos pede mais generosidade para formarmos uma família numerosa...
Se formos humildes, se reconhecermos as nossas limitações, sentiremos a necessidade, em determinadas circunstâncias, de recorrer a um conselheiro. E então não recorreremos a qualquer um, “mas a quem for idôneo e estiver animado dos nossos mesmos desejos sinceros de amar a Deus e de o seguir fielmente. Não basta pedir um parecer; temos que dirigir-nos a quem no-lo possa dar desinteressada e retamente [...]. Na nossa vida encontramos colegas ponderados, que são objetivos, que não se deixam apaixonar, inclinando a balança para o lado que mais lhes convém. Dessas pessoas, quase instintivamente, nós nos fiamos, porque procedem sempre bem, com retidão, sem presunção e sem espalhafato” 12.
Aquele que me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida 13. Se procurarmos seguir o Senhor todos os dias da nossa vida, não nos faltará a luz do Espírito Santo em qualquer circunstância. Se tivermos retidão de intenção, Ele não permitirá que caiamos no erro. A nossa Mãe do Bom Conselho conseguir-nos-á as graças de que precisamos, se recorrermos a Ela com a humildade de quem sabe que, por si só, tropeçará e entrará freqüentemente por caminhos errados.
(1) Sl 32, 8; (2) Mt 10, 19-20; (3) Francisca Javiera del Valle, Decenario al Espíritu Santo, pág. 96; (4) idem, op. cit.; (5) Mt 22, 21-22; (6) M. M. Philipon, Los dones del Espíritu Santo, Palabra, Madrid, 1983, págs. 273-274; (7) São Tomás, Sobre o Pai-Nosso, in Escritos de catequese; (8) idem, Suma Teológica, 2-2, q. 52, a. 4; (9) R. Garrigou-Lagrange, Las tres edades de la vida interior, pág. 637; (10) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 266; (11) ib., n. 177; (12) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, ns. 86 e 88; (13) Jo 8, 12.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Santa Maria Madalena de Pazzi
25 de Maio
Santa Maria Madalena de Pazzi
Santa Maria Madalena de Pazzi, filha de pais ilustres, modelo perfeito de vida e santidade, nasceu em Florença no ano de 1566. No batismo foi chamada Catarina, nome que no dia para a entrada no convento foi mudado para Maria Madalena. É uma das eleitas do Senhor, que desde a mais tenra infância dera indícios indubitáveis de futura santidade.
Menina ainda, achava maior prazer nas visitas à Igreja ou na leitura da vida dos Santos. Apenas tinha sete anos de idade e já começava a fazer obras de mortificação. Abstinha-se de frutas, tomava só duas refeições por dia, fugia dos divertimentos, para ter mais tempo para ler os santos livros, principalmente os que tratavam da sagrada Paixão e Morte de Jesus Cristo. Assim se explica o grande amor a Jesus Cristo, que tantas coisas maravilhosas lhe operou na vida. Não tendo ainda a idade exigida, não lhe era permitido receber a sagrada Comunhão.
O desejo, entretanto, de receber a Jesus na sagrada Hóstia era-lhe tão grande, que os olhos se enchiam de lágrimas, quando via outras pessoas aproximarem-se da santa mesa. Com dez anos fez a primeira comunhão foi indescritível alegria que recebeu, pela primeira vez, o Pão dos Anjos. Ela mesma afirmou muitas vezes que o dia da Primeira Comunhão tinha sido o mais belo de sua vida. Logo depois da Primeira Comunhão, se consagrou a Deus, pelo voto de castidade perpétua.
Quando contava doze anos, nos seus exercícios de mortificações, chegou a usar um hábito grosseiro, e dormir no chão, a por uma coroa de espinhos na cabeça e a castigar por muitos modos o seu delicado corpo, manifestando assim o ardente desejo de tornar-se cada vez mais semelhante ao Divino Esposo. Quando diversos jovens se dirigiram aos pais de Maria, para obter-lhe a mão, ela pode declarar-lhes: "Já escolhi um Esposo mais nobre, mais rico, ao qual serei fiel até a morte". Vencidas muitas dificuldades, Maria conseguiu entrada no convento das Carmelitas em Florença.
Após a vestição, se prostrou aos pés da mestra do noviciado e pediu-lhe que não a poupasse em coisa alguma, e a ajudasse a adquirir a verdadeira humildade. Tendo recebido o nome de Maria Madalena, tomou a resolução de seguir a grande Penitente no amor a Jesus Cristo e na prática de heroicas virtudes.
No dia da Santíssima Trindade fez a profissão religiosa com tanto amor, que durante duas horas ficou arrebatada em êxtase. Estes arrebatamentos repetiram-se extraordinariamente, e Deus se dignou de dar à sua serva instruções salutares e o conhecimento de coisas futuras. O fogo do divino amor às vezes ardia com tanta veemência que, para aliviá-la, era preciso que lavasse as mãos e o peito com água fria. Em outras ocasiões, tomava o crucifixo nas mãos e exclamava em voz alta: "Ó amor! Ó amor! Não deixarei nunca de vos amar!" Na festa da Invenção da Santa Cruz percorreu os corredores do convento, gritando com toda a força: "Ó amor! Quão pouco se Vos conhece! Ah! Vinde, vinde ó almas e amai a vosso Deus!" Desejava ter voz de uma força tal, que fosse ouvida até os confins do mundo. Só uma coisa queria pregar aos homens: "Amai a Deus!".
Maior sofrimento não lhe podia ser causado, do que dando a notícia de Deus ter sido ofendido. Todos os dias oferecia a Deus orações e penitências, pela conversão dos infiéis e pecadores, e às Irmãs, pedia, que fizessem o mesmo.
Na ânsia de salvar almas, oferecia-se a Deus para sofrer todas as enfermidades, a morte e ainda os sofrimentos do inferno, se isto fosse realizável, sem precisar odiar e amaldiçoar a Deus. Em certa ocasião disse: "Se Deus, como a São Tomás de Aquino, me perguntasse qual prêmio desejo como recompensa, eu responderia: 'Nada, a não ser a salvação das almas".
Os dias de Carnaval eram para Maria Madalena dias de penitência, de oração e de lágrimas, para aplacar a ira de Deus provocada pelos pecadores. Para o corpo era de uma dureza implacável; não só o castigava, impondo-lhe o cilício, obrigando-o a vigílias, mas principalmente o sujeitava a um jejum rigorosíssimo; durante vinte e dois anos teve por único alimento pão e água.
Não menos provada foi sua alma; Deus houve por bem mandar-lhe grandes provações. Durante cinco anos sofreu ininterruptamente os mais rudes ataques de pensamento contra a fé, sem que por isso se tivesse deixado levar pelo desânimo. Muitas vezes se abraçava coma imagem do crucifixo, implorando a assistência da graça Divina.
Nos últimos três anos de vida, sofreu diversas enfermidades. Deus permitiu que nas dores ficasse privada ainda de consolações espirituais. Impossibilitada de andar era forçada a guardar o leito. Via-se então um fato extraordinário: quando era dado o sinal para a Missa ou Comunhão, ela se levantava, ia ao coro e assistia a Missa toda. De volta para a cela, caía de novo na prostração e imobilidade. Quando lhe aconselharam abster-se da Comunhão, declarou ser-lhe impossível, sem o conforte deste Sacramento, suportar as dores. No meio dos sofrimentos, o seu único desejo era: "Sofrer, não morrer". Ao confessor, que lhe falou da probabilidade de um fim próximo dos sofrimentos, ela respondeu: "Não, meu padre, não desejo ter este consolo, desejo poder sofrer até o fim de minha vida".
Quando os médicos lhe comunicaram a proximidade da morte, Maria Madalena recebeu os sacramentos da Extrema Unção e do Viático com uma fé, que comoveu a todos que estavam presentes. como se fosse grande pecadora, pediu a todas as Irmãs perdão de suas faltas. O dia 25 de maio de 1607 libertou-lhe a alma do cárcere do corpo. Deus glorificou-a logo, por um grande milagre. O corpo macerado pelas contínuas penitências, doenças, jejuns e disciplinas, rejuvenesceu, exalava um perfume delicioso, que enchia toda a casa.
Cinquenta e seis anos depois, em 1663, quando se lhe abriu o túmulo, foi-lhe encontrado o corpo sem o menor sinal de decomposição, percebendo-se ainda o celeste perfume. Beatificada em 1626 pelo Papa Urbano VIII, foi inserta no catálogo dos Santos em 1669, pelo Papa Clemente IX.
Fonte: http://www.santosebeatoscatolicos.com
24 de Maio 2020
A SANTA MISSA

Domingo da Ascensão do Senhor – Ano A
Cor: Branca
1ª Leitura: At 1, 1-11
“Jesus foi levado aos céus, à vista deles”
Leitura dos Atos dos Apóstolos
1 No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que Jesus fez e ensinou, desde o começo, 2 até ao dia em que foi levado para o céu, depois de ter dado instruções pelo Espírito Santo, aos apóstolos que tinha escolhido. 3 Foi a eles que Jesus se mostrou vivo depois da sua paixão, com numerosas provas. Durante quarenta dias, apareceu-lhes falando do Reino de Deus. 4 Durante uma refeição, deu-lhes esta ordem: ‘Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual vós me ouvistes falar: 5 ‘João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito Santo, dentro de poucos dias`.’ 6 Então os que estavam reunidos perguntaram a Jesus: ‘Senhor, é agora que vais restaurar o Reino em Israel?’ 7 Jesus respondeu: ‘Não vos cabe saber os tempos e os momentos que o Pai determinou com a sua própria autoridade. 8 Mas recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra.’ 9 Depois de dizer isto, Jesus foi levado ao céu, à vista deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não mais podiam vê-lo. 10 Os apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, 11 que lhes disseram: ‘Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu.’
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 46 (47), 2-3.6-7.8-9(R. 6)
R. Por entre aclamações Deus se elevou,
o Senhor subiu ao toque da trombeta.
Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia
2 Povos todos do universo, batei palmas,*
gritai a Deus aclamações de alegria!
3 Porque sublime é o Senhor, o Deus Altíssimo,*
o soberano que domina toda a terra. R.
6 Por entre aclamações Deus se elevou,*
o Senhor subiu ao toque da trombeta.
7 Salmodiai ao nosso Deus ao som da harpa,*
salmodiai ao som da harpa ao nosso Rei! R.
8 Porque Deus é o grande Rei de toda a terra,*
ao som da harpa acompanhai os seus louvores!
9 Deus reina sobre todas as nações,*
está sentado no seu trono glorioso. R.
2ª Leitura: Ef 1, 17-23
“E o fez sentar-se à sua direita nos céus”
Leitura da Carta de São Paulo apóstolo aos Efésios
Irmãos: 17 O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer. 18 Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, 19 e que imenso poder ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente. 20 Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, 21 bem acima de toda a autoridade, poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa mencionar não somente neste mundo, mas ainda no mundo futuro. 22 Sim, ele pôs tudo sob os seus pés e fez dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, 23 que é o seu corpo, a plenitude daquele que possui a plenitude universal.
– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.
Evangelho: Mt 28, 16-20
“Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra”
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Conclusão do santo Evangelho segundo São Mateus.
Naquele tempo: 16 Os onze discípulos foram para a Galiléia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. 17 Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. 18 Então Jesus aproximou-se e falou: ‘Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. 19 Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20 e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo’.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Jesus espera-nos no céu
TEMPO PASCAL. ASCENSÃO DO SENHOR
– A exaltação de Cristo glorioso culmina neste mistério.
– A Ascensão fortalece e estimula o nosso desejo de alcançar o Céu. Fomentar esta esperança.
– A Ascensão e a missão apostólica do cristão.
I. SEGUNDO O EVANGELHO de São Lucas, o último gesto de Jesus Cristo na terra foi uma bênção 1. Os Onze tinham partido da Galiléia e ido ao monte que Jesus lhes indicara, o monte das Oliveiras, perto de Jerusalém. Os discípulos, ao verem novamente Aquele que havia ressuscitado, adoraram-no 2, prostraram-se diante dEle como seu Mestre e seu Deus. Agora estão muito mais profundamente conscientes daquilo que já muito tempo antes tinham no coração e haviam confessado: que o seu Mestre era o Messias 3.
O Mestre fala-lhes com a majestade própria de Deus: Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra 4. Jesus confirma a fé dos que o adoram e ensina-lhes que o poder que irão receber deriva do próprio poder divino. A faculdade de perdoar os pecados, a de renascer para uma vida nova mediante o Batismo... são o próprio poder de Cristo que se prolonga na Igreja. Esta é a missão da Igreja: continuar para sempre a obra de Cristo, ensinar aos homens as verdades sobre Deus e as exigências que essas verdades trazem consigo, ajudá-los com a graça dos sacramentos... Jesus diz-lhes: O Espírito Santo descerá sobre vós e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo.
Dizendo isto, elevou-se da terra à vista deles, e uma nuvem o ocultou 5. Assim nos descreve São Lucas a Ascensão na primeira leitura da Missa de hoje.
Foi-se elevando pouco a pouco. Os Apóstolos permaneceram um longo tempo olhando para Jesus que ascendia ao céu com toda a majestade, enquanto lhes dava a última bênção, até que uma nuvem o ocultou. Era a nuvem que acompanhava a manifestação de Deus 6: “Era um sinal de que Jesus tinha entrado já nos céus” 7.
A vida de Jesus na terra não termina com a sua morte na Cruz, mas com a Ascensão aos céus. É o último mistério da vida do Senhor aqui na terra. É um mistério redentor, que constitui, com a Paixão, a Morte e a Ressurreição, o mistério pascal. Convinha que os que tinham visto Cristo morrer na Cruz, entre os insultos, desprezos e escárnios, fossem testemunhas da sua exaltação suprema. Cumprem-se agora diante dos seus olhos as palavras que um dia o Senhor lhes tinha dito: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus 8.
Contemplamos a Ascensão do Senhor aos céus no segundo mistério glorioso do Santo Rosário. “Jesus foi para o Pai. – Dois anjos de brancas vestes se aproximam de nós e nos dizem: Homens da Galiléia, que fazeis olhando para o céu? (At 1, 11)
“Pedro e os restantes voltam para Jerusalém – cum gaudio magno – com grande alegria (Lc 24, 52). – É justo que a Santa Humanidade de Cristo receba a homenagem, a aclamação e a adoração de todas as hierarquias dos Anjos e de todas as legiões dos bem-aventurados da Glória” 9.
II. “HOJE NÃO SÓ FOMOS constituídos possuidores do paraíso – ensina São Leão Magno nesta solenidade –, mas com Cristo ascendemos, mística mas realmente, ao mais alto dos céus, e conseguimos por Cristo uma graça mais inefável que a que havíamos perdido” 10.
A Ascensão fortalece e estimula a nossa esperança de alcançarmos o Céu e incita-nos constantemente a levantar o coração a fim de procurarmos as coisas que são do alto, como nos sugere o Prefácio da Missa. Agora a nossa esperança é muito grande, pois o próprio Cristo foi preparar-nos uma morada 11.
O Senhor está já no Céu com o seu Corpo glorificado, com os sinais do seu Sacrifício redentor 12, com as marcas da Paixão que Tomé pôde contemplar e que clamam pela salvação de todos nós. A Humanidade Santíssima do Senhor tem já no Céu o seu lugar natural, mas Ele, que deu a sua vida por cada um, espera-nos ali. “Cristo espera-nos. Vivemos já como cidadãos do céu (Fil 3, 20), sendo plenamente cidadãos da terra, no meio das dificuldades, das injustiças, das incompreensões, mas também no meio da alegria e da serenidade que nos dá sabermo-nos filhos amados de Deus [...]. E se, apesar de tudo, a subida de Jesus aos céus nos deixar na alma um travo de tristeza, recorramos à sua Mãe, como fizeram os Apóstolos: Tornaram então a Jerusalém... e oravam unanimemente... com Maria, a Mãe de Jesus (At 1, 12-14)” 13.
A esperança do Céu encherá de alegria o nosso peregrinar diário. Imitaremos os Apóstolos que “tiraram tanto proveito da Ascensão do Senhor que tudo quanto antes lhes causava medo, depois se converteu em gozo. A partir daquele momento, elevaram toda a contemplação das suas almas à divindade que está à direita do Pai; a perda da visão do corpo do Senhor não foi obstáculo para que a inteligência, iluminada pela fé, acreditasse que Cristo, mesmo descendo até nós, não se tinha afastado do Pai e, com a sua Ascensão, não se separou dos seus discípulos” 14.
III. ENQUANTO OLHAVAM atentamente para o céu à medida que Ele se afastava, eis que lhes apareceram dois homens vestidos de branco que lhes disseram: Homens da Galiléia, por que ficais aí a olhar para o céu? Este Jesus que acaba de vos deixar para subir ao céu voltará do mesmo modo que o vistes subir 15.
“Tal como os Apóstolos, ficamos meio admirados, meio tristes ao ver que Ele nos deixa. Na realidade, não é fácil acostumarmo-nos à ausência física de Jesus. Comove-me recordar que Jesus, num gesto magnífico de amor, foi-se embora e ficou; foi para o Céu e entrega-se a nós como alimento na Hóstia Santa. Sentimos, no entanto, a falta da sua palavra humana, da sua forma de atuar, de olhar, de sorrir, de fazer o bem. Gostaríamos de voltar a vê-lo de perto, quando se senta à beira do poço, cansado da dura caminhada (cfr. Jo 4, 6), quando chora por Lázaro (cfr. Jo 11, 35), quando se recolhe em prolongada oração (cfr. Lc 6, 12), quando se compadece da multidão (cfr. Mt 15, 32; Mc 8, 2).
“Sempre me pareceu lógico – e me cumulou de alegria – que a Santíssima Humanidade de Jesus Cristo subisse à glória do Pai. Mas penso também que esta tristeza, própria do dia da Ascensão, é uma manifestação do amor que sentimos por Jesus, Senhor Nosso. Sendo perfeito Deus, Ele se fez homem, perfeito homem, carne da nossa carne e sangue do nosso sangue. E separa-se de nós, indo para o céu. Como não havíamos de notar a sua falta?” 16
Os Anjos dizem aos Apóstolos que é hora de começar a imensa tarefa que os espera, e que não devem perder um só instante. Com a Ascensão termina a missão terrena de Cristo e começa a dos seus discípulos, a nossa. E hoje, na nossa oração, é bom que ouçamos de novo as palavras com que o Senhor intercede diante de Deus Pai por nós: Não peço que os tires do mundo, do nosso ambiente, do nosso trabalho, da família..., mas que os preserves do mal 17. Porque o Senhor quer que cada um no seu lugar continue a tarefa de santificar o mundo, para melhorá-lo e colocá-lo aos seus pés: as almas, as instituições, as famílias, a vida pública... Porque só assim o mundo será um lugar em que se valoriza e se respeita a dignidade humana, em que se pode conviver em paz, com essa paz verdadeira que está tão ligada à união com Deus.
“Recorda-nos a festa de hoje que o zelo pelas almas é um mandamento amoroso do Senhor: ao subir para a sua glória, Ele nos envia pelo orbe inteiro como suas testemunhas. Grande é a nossa responsabilidade, porque ser testemunha de Cristo implica, antes de mais nada, procurar comportar-se segundo a sua doutrina, lutar para que a nossa conduta recorde Jesus e evoque a sua figura amabilíssima” 18.
Os que convivem ou se relacionam conosco devem aperceber-se da nossa lealdade, sinceridade, alegria, laboriosidade; temos de comportar-nos como pessoas que cumprem com retidão os seus deveres e sabem atuar como filhos de Deus nas pequenas situações de cada dia. As próprias normas correntes da convivência, que para muitos não passam de algo externo, necessário apenas para o relacionamento social – os cumprimentos, a cordialidade, o espírito de serviço... – devem ser fruto da caridade, manifestações de uma atitude interior de interesse pelos outros.
Jesus parte, mas permanece muito perto de cada um. De modo especial encontramo-lo no Sacrário mais próximo, talvez a menos de uma centena de metros do lugar onde vivemos ou trabalhamos. Não deixemos de procurá-lo com freqüência, ainda que na maioria das vezes só possamos fazê-lo com o coração, para dizer-lhe que nos ajude na tarefa apostólica, que conte conosco para estender a sua doutrina por todos os ambientes.
Os Apóstolos voltaram a Jerusalém em companhia de Santa Maria. Juntamente com Ela, esperam a chegada do Espírito Santo. Disponhamo-nos nós, nestes dias, a preparar a próxima festa de Pentecostes muito unidos a Nossa Senhora.
(1) Lc 24, 51; (2) cfr. Mt 28, 17; (3) cfr. Mt 16, 18; (4) Mt 28, 18; (5) At 1, 7 e segs.; (6) cfr. Ex 13, 22; Lc 9, 34 e segs.; (7) São João Crisóstomo, Homilias sobre os Atos, 2; (8) Jo 20, 17; (9) São Josemaría Escrivá, Santo Rosário, 2º mist. glorioso; (10) São Leão Magno, Homilia I sobre a Ascensão; (11) cfr. Jo 14, 2; (12) cfr. Apoc 5, 6; (13) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 126; (14) São Leão Magno, Sermão 74, 3; (15) At 1, 11; (16) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 117; (17) Jo 17, 15; (18) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 122.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Nossa Senhora Auxiliadora
24 de Maio
Nossa Senhora Auxiliadora
Maria Auxiliadora ganhou a invocação de Nossa Senhora Auxiliadora ou Auxílio dos Cristãos é uma invocação instituída pelo Papa Pio V no ano de 1571, após a grande vitória dos cristãos sobre o exército muçulmano no estreito de Lepanto, que era a porta de entrada para a Europa.
Nos anos anteriores os turcos muçulmanos, conhecidos e temidos como o Império Otomano, estavam prestes a invadir a Europa através do Estreito de Lepanto. Ali-Pachá, o grande líder otomano, vinha deixando um rastro de destruição do cristianismo por onde passava: igrejas incendiadas, religiosos assassinados, crianças e mulheres violentadas e cidades inteiras destruídas pelo simples fato de serem cristãs.
A Igreja Católica, por sua vez, passava por um momento difícil com o início do protestantismo e divisões dentro da Europa. Esse ambiente tornava a Europa cristã frágil diante do poder do exército otomano. Depois de um grande esforço, o Papa Pio V conseguiu unir novamente a Europa em vista do ideal de defender a vida e a fé do povo. Os defensores da Europa formaram uma esquadra com 208 navios e cerca de 80 mil soldados, liderados por D. João da Áustria. Mas os otomanos tinham 286 navios e mais de 120 mil soldados. Dentre estes, mais de 12 mil eram cristãos escravizados que remavam os navios.
Todos os soldados católicos, sob as ordens de D. João da Áustria, confessaram-se, jejuaram e rezaram o Rosário durante três dias. Depois disso, começou a maior batalha naval de todos os tempos, no dia 7 de outubro de 1571.
Os otomanos começaram vencendo. Após 10 horas de um combate sangrento, os soldados cristãos começaram a temer a derrota, que traria consequências horríveis para a Civilização Cristã. De repente, porém, ficaram surpresos ao verem os otomanos, apavorados, bateram em retirada. Então, a batalha, que parecia perdida, se transformou em vitória.
Ao final, os otomanos perderam 224 navios, 130 dos quais capturados e mais de 90 afundados ou incendiados. Além disso, quase 9.000 otomanos foram presos e 25.000 pereceram. As perdas católicas foram bem menores: cerca de 8.000 homens e 17 navios.
Mais tarde alguns otomanos presos confessaram que uma brilhante e majestosa Senhora tinha aparecido no céu fazendo ameaças e causando tanto pavor a eles, que começaram a fugir. Tudo está documentado nas atas de cada navio.
Um pouco mais de tempo e os soldados ficaram sabendo que enquanto acontecia a batalha em Lepanto, os cristãos em Roma, liderados pelo Papa Pio V, não cessavam de rezar o Rosário de Nossa Senhora. Em todas as Igrejas fizeram procissões, jejuns e orações na intenção de proteger e abençoar os soldados cristãos. Souberam também que, no começo da vitória cristã em Lepanto, o Papa Pio V teve uma visão através da qual ficou sabendo da vitória dos soldados de Cristo. A vitória foi confirmada duas semanas depois pelo correio da época.
Em agradecimento à maravilhosa intervenção de Maria, o Papa introduziu a invocação Auxílio dos Cristãos na Ladainha de Nossa Senhora. Daí o título de Nossa Senhora Auxiliadora e também Maria Auxiliadora.
A devoção a Nossa Senhora Auxiliadora, porém, se popularizou ainda mais no ano de 1862, com as aparições de Maria Auxiliadora na cidade de Spoleto para uma criança de cinco anos. Nesse ano, Dom Bosco, tocado pela história das aparições, iniciou em Turim a construção de uma grande Basílica, dedicada a Nossa Senhora Auxiliadora. A partir desse momento, Dom Bosco será o maior devoto e divulgador da devoção a Nossa Senhora Auxiliadora.
Para eternizar seu amor e gratidão para com Nossa Senhora, Dom Bosco, juntamente com Santa Maria Domingas Mazzarello, fundou a Congregação das Filhas de Maria Auxiliadora.
Ele dizia: Nossa Senhora deseja que a veneremos com o título de Auxiliadora: vivemos em tempos difíceis e necessitamos que a Santíssima Virgem nos ajude a conservar e defender a fé cristã.
A partir de então, a devoção a Nossa Senhora Auxiliadora cresceu. O Papa Pio IX fundou uma Arquiconfraria em devoção a ela no Santuário de Turim, em 5 de abril de 1870. O Papa enriqueceu esta confraria de muitas indulgências e favores espirituais. No dia 17 de maio de 1903, por decreto do Papa Leão XIII, foi solenemente coroada a imagem de Maria Auxiliadora, que se venera no Santuário de Turim.
Por tudo isso, a devoção a Nossa Senhora Auxiliadora torna-se uma grande bênção para todos aqueles que a procuram, principalmente nos momentos mais difíceis, nas batalhas da vida, nas guerras, na luta contra o mal e nos momentos de angústia. A oração do Rosário acompanhada da invocação a Nossa Senhora Auxiliadora tem feito maravilhas na vida de muitos cristãos ao longo de séculos e continuará fazendo a todos aqueles que a invocarem com fé, esperança e amor.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br