A Cézar o que é de Cézar. Cidadãos exemplares
TEMPO COMUM. NONA SEMANA. TERÇA-FEIRA
– O cristão na vida pública. O cumprimento exemplar dos nossos deveres.
– Unidade de vida.
– A união com Deus, necessária para sermos melhores cristãos.
I. O EVANGELHO DA MISSA 1 conta que uns fariseus se aproximaram de Jesus para surpreendê-lo em alguma palavra e poderem acusá-lo. Por isso perguntam-lhe maliciosamente se é lícito pagar o tributo a César.
Tratava-se do imposto que todos os judeus deviam pagar a Roma, e que lhes recordava a sua dependência de um poder estrangeiro. Não era muito pesado, mas levantava um problema político e moral; os próprios judeus estavam divididos a respeito da sua obrigatoriedade. E querem que Jesus tome partido a favor ou contra essa imposição. Mestre – dizem-lhe –, é-nos lícito pagar o tributo a César?
Se o Senhor dissesse que sim, poderiam acusá-lo de colaborar com o poder romano, que os judeus odiavam por ser o invasor. Se respondesse que não, poderiam acusá-lo de rebelião. Tomar partido a favor ou contra o imposto significava, no fundo, manifestar-se a favor ou contra a legalidade da situação político-social por que passava o povo judeu: colaborar com o poder de ocupação ou fomentar a rebelião latente no seio do povo. Aliás, chegariam mais tarde a acusá-lo com absoluta falsidade diante de Pilatos, a autoridade romana: Encontramos este homem subvertendo o nosso povo; proíbe que se pague o tributo a César 2.
Jesus, conhecendo a malícia da pergunta, diz-lhes: Mostrai-me uma moeda. De quem é esta imagem e a inscrição? Eles responderam: De César. E Jesus deixou-os desconcertados com a profundidade e simplicidade da sua resposta: Pois dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Jesus não foge da questão, mas coloca-a nos seus verdadeiros termos.
Trata-se de que o Estado não se intrometa no plano das coisas divinas, e de que a Igreja não intervenha em questões temporais mutáveis e relativas. Jesus opõe-se, por conseguinte, tanto ao erro difundido entre os fariseus, de um messianismo político, como ao da ingerência do Estado romano – de qualquer Estado – no terreno religioso3. Com a sua resposta, estabelece claramente duas esferas de competência. “Cada uma no seu âmbito próprio – diz o Concílio Vaticano II –, são mutuamente independentes e autônomas. Ambas, no entanto, ainda que por um título distinto, estão a serviço da vocação pessoal e social dos mesmos homens” 4.
A Igreja como tal não tem por missão dar soluções concretas aos assuntos temporais, e desta forma segue o exemplo do Senhor, cujo reino não é deste mundo 5 e que expressamente se negou a intervir como juiz em questões terrenas 6. A missão da Igreja, que continua no tempo a obra redentora de Jesus Cristo, é levar os homens ao seu destino sobrenatural e eterno; a sua justa e devida preocupação pelos problemas da sociedade provém exclusivamente da sua missão espiritual e mantém-se nos limites dessa missão.
Cabe aos cristãos, imersos na entranha da sociedade, dar solução aos problemas temporais, contribuir com os demais cidadãos para formar à sua volta um mundo cada vez mais humano e mais cristão, sendo cidadãos exemplares que exigem os seus direitos e sabem cumprir todos os seus deveres para com a sociedade. Na sua fé, potencializada pela caridade, serão sensíveis aos apelos do bem comum e muitas vezes irão além do mero cumprimento das normas legais. A diferença entre a ordem legal e os critérios morais obriga por vezes a adotar comportamentos mais exigentes que os critérios estritamente jurídicos 7.
Ao assumirem plenamente essa responsabilidade, cada um no âmbito dos seus afazeres e das suas possibilidades, sem se escudarem por trás da autoridade da Igreja e muito menos atuarem em seu nome, os cristãos nunca cairão naquilo que Jesus Cristo evitava cuidadosamente: unir a mensagem evangélica, que é universal, a um sistema, a um César. Evitarão também que todos aqueles que não pertencem ao sistema, ao partido ou ao César, se sintam em compreensíveis dificuldades para aceitar uma mensagem que tem como último fim a vida eterna.
II. DAI A CÉSAR o que é de César... O Senhor distinguiu os deveres relacionados com a sociedade dos deveres que se referem a Deus, mas não quis, de forma alguma, impor aos seus discípulos como que uma dupla existência.
O homem é um só, com um só coração e uma só alma, com virtudes e defeitos que influem em toda a sua atuação, e “tanto na vida pública como na privada, o cristão deve inspirar-se na doutrina e no seguimento de Jesus Cristo”8, que sempre tornarão a sua atuação mais humana e nobre. A Igreja sempre proclamou a justa autonomia das realidades temporais, entendida, evidentemente, no sentido de que “as coisas criadas e também a sociedade gozam de leis e valores próprios [...]. Mas se por «autonomia do temporal» se quer dizer que a realidade criada é independente de Deus e que os homens podem usá-la sem referi-la ao Criador, não escapa a nenhum fiel a falsidade envolvida em tais palavras. A criatura sem o Criador desaparece” 9; e a própria sociedade se torna desumana, tal como se tem podido observar.
O cristão escolhe as suas opções políticas, sociais, profissionais, de acordo com as suas convicções mais íntimas. E o que oferece à sociedade em que vive é uma visão reta do homem e da sociedade, porque só a doutrina cristã oferece a verdade completa sobre o homem, sobre a sua dignidade e o destino eterno para o qual foi criado.
São muitos, no entanto, os que quereriam que os cristãos tivessem uma vida dupla: uma nas suas atuações temporais e públicas, outra na sua vida de fé. Afirmam até, com palavras ou fatos sectários e discriminatórios, a incompatibilidade entre os deveres civis e as obrigações que o seguimento de Cristo traz consigo. Nós, cristãos, devemos proclamar, com palavras e com o testemunho de uma vida coerente, que “não é verdade que haja oposição entre ser bom católico e servir fielmente a sociedade civil. Assim como não há razão para que a Igreja e o Estado entrem em choque, no exercício legítimo da sua autoridade respectiva, voltados para a missão que Deus lhes confiou.
“Mentem – isso mesmo: mentem! – os que afirmam o contrário. São os mesmos que, em aras de uma falsa liberdade, quereriam «amavelmente» que nós, católicos, voltássemos às catacumbas” 10, ao silêncio.
O nosso testemunho no meio do mundo deve traduzir-se numa profunda unidade de vida. “Vivei e infundi nas realidades temporais a seiva da fé de Cristo – exortava João Paulo II –, conscientes de que essa fé não destrói nada do que é autenticamente humano, mas, pelo contrário, reforça-o, purifica-o, eleva-o.
“Demonstrai esse espírito na atenção prestada aos problemas cruciais. No âmbito da família, vivendo e defendendo a indissolubilidade e os demais valores do matrimônio, promovendo o respeito a toda a vida desde o momento da concepção. No mundo da cultura, da educação e do ensino, escolhendo para os vossos filhos uma educação em que esteja presente o pão da fé cristã.
“Sede também fortes e generosos à hora de contribuir para que desapareçam as injustiças e as discriminações sociais e econômicas; à hora de participar numa tarefa positiva de incremento e justa distribuição dos bens. Esforçai-vos para que as leis e costumes não se afastem do sentido transcendente do homem, nem dos aspectos morais da vida” 11.
III. E A DEUS o que é de Deus. O Senhor também insiste nisto, ainda que os fariseus não lho tivessem perguntado. “O César busca a sua imagem: dai-lha. Deus busca a sua: devolvei-lha. Não perca o César a sua moeda por vós; não perca Deus a sua em vós” 12, comenta Santo Agostinho. De Deus são toda a nossa vida, os nossos trabalhos, as nossas preocupações, as nossas alegrias... Tudo o que é nosso é dEle, particularmente esses momentos que lhe dedicamos exclusivamente, como este tempo de oração ou uns minutos diários de uma leitura espiritual.
Se formos bons cristãos, isso representará um acicate para sermos bons cidadãos, pois a nossa fé nos move constantemente a ser bons estudantes, mães de família abnegadas que tiram forças da sua fé para levar avante o seu lar, empresários justos, trabalhadores capazes e pontuais, etc.; o exemplo de Cristo leva-nos a todos a ser laboriosos, cordiais, alegres, otimistas, a exceder-nos nas nossas obrigações, a ser leais com a empresa, na vida conjugal, com o partido ou associação a que pertencemos. O amor a Deus, se for verdadeiro, é garantia de amor aos homens, e manifesta-se por meio de atos.
“Promulgou-se um edito de César Augusto, que manda recensear todos os habitantes de Israel. Maria e José caminham para Belém... – Não pensaste que o Senhor se serviu do acatamento pontual de uma lei para que se cumprisse a sua profecia?
“Ama e respeita as normas de uma convivência honrada e não duvides de que a tua submissão leal ao dever será também veículo para que outros descubram a honradez cristã, fruto do amor divino, e encontrem a Deus” 13.
(1) Mc 12, 13-17; (2) Lc 23, 2; (3) cfr. J. M. Casciaro, Jesucristo y la sociedad política, 3ª ed., Palabra, Madrid, 1973; (4) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 76; (5) Jo 19, 36; (6) cfr. Lc 12, 12 e segs.; (7) cfr. Conferência Episcopal Espanhola, Los cristianos en la vida pública, 22-IV-1986, 85; (8) ib.; (9) Conc. Vat. II, op. cit., 36; (10) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 301; (11) João Paulo II, Homilia na Missa celebrada no Nou Camp, Barcelona, 7-XI-1982; (12) Santo Agostinho, Comentário ao Salmo 57, 11; (13) São Josemaría Escrivá, op. cit., n. 322.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
A Pedra Angular
TEMPO COMUM. NONA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA
– Jesus Cristo é a pedra angular sobre a qual deve ser edificada a vida.
– A fé nos dá luz para conhecermos a realidade das coisas e dos acontecimentos.
– O cristão tem a sua própria escala de valores perante o mundo.
I. NA PARÁBOLA DOS VINHATEIROS homicidas 1, Jesus resume a história da salvação. Compara Israel a uma vinha escolhida, dotada de cerca e torre de vigilância para ficar ao abrigo dos ladrões e dos animais. Deus não deixou de dispensar nenhum cuidado à vinha da sua predileção, ao seu povo, tal como fora profetizado 2. Os vinhateiros da parábola são os que conduzem o povo de Israel; Deus é o dono e a vinha é Israel, como Povo de Deus.
O dono envia sucessivas vezes os seus servos à vinha para arrecadar os frutos, mas os servos só recebem maus tratos; essa foi a missão dos Profetas e a acolhida que lhes reservaram. Finalmente, envia o seu Filho, o Amado, pensando que Ele, sim, será respeitado. Os vinhateiros, porém, lançaram-no fora da vinha e o mataram; é uma referência explícita à crucifixão, que teve lugar fora dos muros de Jerusalém 3. E Jesus conclui a parábola com estas palavras tomadas de um salmo 4: A pedra que os construtores rejeitaram converteu-se em pedra angular.
Estas palavras de Jesus serão recordadas mais tarde por São Pedro diante do Sinédrio, quando já se tiver cumprido a predição contida na parábola: Seja manifesto a todos vós e a todo o povo de Israel que foi em nome de Jesus Cristo Nazareno, que vós crucificastes... Ele é a pedra que, rejeitada por vós, construtores, veio a converter-se em pedra angular 5. Jesus Cristo é a pedra-chave que alicerça e sustenta todo o arco em que se apóiam a Igreja e cada homem; sem ela, o edifício desaba.
A pedra angular afeta toda a construção, toda a vida: negócios, interesses, amores, tempo... Na vida do cristão, nada pode ser construído à margem das exigências da fé. Não somos discípulos de Cristo a determinadas horas (à hora de rezar, por exemplo) ou em determinados dias (no dia do casamento...). A profunda unidade de vida que o cristianismo exige determina que, sem distorcer a natureza das coisas, tudo seja afetado pelo fato de se ser discípulo de Jesus. Seguir o Senhor é uma atitude interior que influi no núcleo mais íntimo da personalidade e que se converte na característica mais importante da existência do cristão: deve influir na sua vida incomparavelmente mais do que o amor humano na pessoa mais apaixonada.
“Imaginemos um arquiteto – comenta Cassiano – que desejasse construir a abóbada de uma ábside. Deve traçar toda a circunferência partindo de um ponto-chave: o centro. Guiando-se por essa norma infalível, deve depois calcular a curvatura exata e o desenho da estrutura [...]. É assim que um só ponto se converte na peça fundamental de uma grande construção” 6. De modo semelhante, o Senhor é o ponto de referência central de todos os nossos pensamentos, palavras e obras.
II. CRISTO DETERMINA ESSENCIALMENTE o pensamento e a vida dos seus discípulos. Por isso, seria uma grande incoerência deixarmos de lado a nossa condição de cristãos à hora de apreciarmos uma obra de arte ou um programa político, de fecharmos um negócio, de planejarmos as férias da família ou escolhermos o colégio para os filhos. Sem desrespeitar as leis próprias de cada matéria e a amplíssima liberdade em tudo o que é opinável, o fiel discípulo de Jesus não restringe o seu juízo a um só aspecto – econômico, artístico, cinematográfico... – e não dá por bom um projeto ou uma obra sem mais nem menos. Se nesses planos, nesses acontecimentos ou nessa obra não se observa a devida subordinação a Deus, a sua qualificação definitiva só pode ser negativa, por mais acertados e felizes que sejam os seus valores parciais.
Ao analisar uma proposta de emprego ou um negócio, um bom cristão não vê apenas se ela lhe traz vantagens econômicas, mas também se é lícita de acordo com as normas da moralidade, se fará bem ou mal aos outros, se trará benefícios à sociedade... Se for moralmente ilícita, ou mesmo pouco exemplar, as outras características – as vantagens econômicas, o prestígio que possa dar – não a convertem num bom negócio. Uma boa operação comercial, se não estiver de acordo com as normas da moral, é um negócio péssimo e irrealizável.
O erro apresenta-se freqüentemente vestido de nobres roupagens de arte, ciência, independência econômica, liberdade... Mas a força da fé deve ser maior: é a luz poderosa que não raras vezes nos faz ver, por trás das aparências de bem, um mal que se manifesta sob o disfarce de um primor literário, de uma beleza irretocável, de uma promoção justa... Cristo deve ser a pedra angular de todo o edifício.
Peçamos a Deus a graça de vivermos coerentemente a nossa vocação cristã. Assim a fé nunca será uma limitação – “não posso fazer”, “não posso ir”, “não posso ler”, “não posso mandar os meus filhos a esse colégio”... –, mas luz que nos dará a conhecer a verdadeira realidade das coisas e dos acontecimentos, e nos levará a não esquecer que o demônio tenta aliar-se à ignorância, à soberba e à concupiscência que todos trazemos dentro de nós. Cristo é a fornalha que põe à prova o ouro que há nas coisas humanas. Tudo o que não resiste à luminosidade e ao calor dos seus ensinamentos é mentira e engano, ainda que se revista de alguma aparência de bondade ou de perfeição.
Com o critério que nos dá esta unidade de vida – sermos e sentirmo-nos em todas as ocasiões fiéis discípulos do Senhor –, poderemos usufruir e saborear tantas coisas boas pensadas e realizadas por homens que se guiaram por um critério humano reto. Sem a luz da fé, ficaríamos em muitas ocasiões com a escória, que nos enganou porque tinha um certo brilho de bondade, de justiça ou de beleza.
Assim se explica, por exemplo, que pessoas simples, pouco instruídas ou até pouco inteligentes, mas de intensa vida cristã, tenham um critério muito reto, que as faz apreciar acertadamente os diversos acontecimentos e situações da vida. Ao passo que outras, talvez mais cultas ou de grande capacidade intelectual, dão às vezes provas de uma lamentável carência de bom-senso e se enganam nos juízos de valor mais elementares.
Portanto, para termos um critério bem formado e seguro, para chegarmos a ter uma vontade reta, devemos ser homens de fé prática, que pensem, apreciem e queiram as coisas tal como Deus as vê e quer. Assim poremos todas as realidades humanas nobres aos pés de Cristo, santificando-as. Perguntemo-nos: penso, sinto e quero em coerência com a fé em todas as situações? Quando tomo decisões, tenho presente acima de tudo o que Deus espera de mim? E concretizemos os nossos propósitos em pontos em que o Senhor nos pede critérios de comportamento mais decididamente cristãos.
III. O CRISTÃO – por ter alicerçado a sua vida na pedra angular que é Cristo – tem a sua própria personalidade, o seu modo de ver o mundo e os acontecimentos, e uma escala de valores bem diferente da do homem pagão, que tem uma concepção puramente terrena das coisas. Uma fé fraca e tíbia, que pouco influa no dia a dia, “pode provocar em alguns essa espécie de complexo de inferioridade que se manifesta numa ânsia desmedida de «humanizar» o cristianismo, de «popularizar» a Igreja, acomodando-a aos juízos de valor vigentes no mundo” 7.
É por isso que o cristão, que está mergulhado nas tarefas seculares, precisa ao mesmo tempo de estar “mergulhado em Deus”, através da oração, dos sacramentos e da santificação dos seus afazeres. Trata-se de sermos discípulos fiéis de Jesus no meio do mundo, na vida normal de todos os dias, com todos os seus afãs e todos os seus acontecimentos.
Poderemos assim viver o conselho que São Paulo dava aos primeiros cristãos de Roma, quando os prevenia contra os riscos de um conformismo acomodatício em face dos costumes pagãos: Não queirais conformar-vos com este século 8.
Este inconformismo pode às vezes levar-nos a ter de navegar contra a corrente e a ter de enfrentar o risco da incompreensão de alguns. Mas o cristão não deve esquecer que é fermento 9, colocado dentro da massa para levedá-la.
O Senhor é a luz que ilumina e descobre a verdade de todas as realidades criadas, é o farol que oferece orientação aos navegantes de todos os mares. “A Igreja [...] crê que a chave, o centro e a finalidade de toda a história humana se encontram no seu Senhor e Mestre” 10. Jesus de Nazaré continua a ser a pedra angular em cada homem.
Pensemos hoje, antes de acabarmos a nossa oração, se a fé que professamos influi cada vez mais na nossa vida: na forma de contemplarmos o mundo e os homens, no modo de nos comportarmos, no desejo eficaz de que todos os homens conheçam de verdade o Senhor, sigam a sua doutrina e a amem.
(1) Mc 12, 1-12; (2) Is 5, 1-7; (3) cfr. Santos Evangelhos, EUNSA, notas a Mc 12, 1-12 e Mt 21, 33-46; (4) Sl 118, 22; (5) At 4, 10-11; (6) Cassiano, Colações, 24; (7) J. Orlandis, O que é ser católico?, EUNSA, Pamplona, 1977, pág. 48; (8) Rom 12, 2; (9) cfr. Mt 13, 33; (10) Conc. Vat. II, Const. Gaudium et spes, 10.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Justino
01 de Junho
São Justino
Justino nasceu na cidade de Flávia Neápolis, na Samaria, Palestina, no ano 103, início do século II, quando o cristianismo ainda se estruturava como religião católica. Tinha origem latina e seu pai se chamava Prisco.
Ele foi educado e se formou nas melhores escolas do seu tempo, cursando filosofia e especializando-se nas teorias de Platão. Tinha alma de eremita e abandonou a civilização para viver na solidão. Diz a tradição que foi nessa fase de isolamento que recebeu a visita de um misterioso ancião, que lhe falou sobre o Evangelho, as profecias e seu cumprimento com a Paixão de Jesus, abalando suas convicções e depois desaparecendo misteriosamente.
Anos mais tarde, acompanhou uma sangrenta perseguição aos cristãos, conversou com outros deles e acabou convertendo-se, mesmo tendo conhecimento das penas e execuções impostas aos seguidores da religião cristã. Foi batizado no ano 130 na cidade de Éfeso, instante em que substituiu a filosofia de Platão pela verdade de Cristo, tornando-se, historicamente, o primeiro dos Padres da Igreja que sucederam os Padres apostólicos dos primeiros tempos.
No ano seguinte estava em Roma, onde passou a travar discussões filosóficas, encaminhando-as para a visão do Evangelho. Muito culto, era assim que evangelizava entre os letrados, pois esse era o mundo onde melhor transitava. Era um missionário filósofo, que, além de falar, escrevia.
Deixou muitos livros importantes, cujos ensinamentos influenciaram e ainda estão presentes na catequese e na doutrina dogmática da Igreja. Embora tenham alcançado nossos tempos apenas três de suas apologias, a mais célebre delas é o Diálogo com Trifão. Seus registros abriram caminhos à polêmica antijudaica na literatura cristã, além de fornecerem-nos importantes informações sobre ritos e administração dos sacramentos na Igreja primitiva.
Bem-sucedido em todas as discussões filosóficas, conseguiu converter muitas pessoas influentes, ganhando com isso muitos inimigos também. Principalmente a ira dos filósofos pagãos Trifão e Crescêncio. Este último, após ter sido humilhado pelos argumentos de Justino, prometeu vingança e o denunciou como cristão ao imperador Marco Aurélio.
Justino foi levado a julgamento e, como não se dobrou às ameaças, acabou flagelado e decapitado com outros companheiros, que como ele testemunharam sua fé em Cristo no ano 164, em Roma, Itália.
Texto: Paulinas Internet
Visitação de Nossa Senhora
31 de Maio
Visitação de Nossa Senhora
Tão logo o Arcanjo Gabriel anunciou a Maria que ela seria a Mãe do Salvador, e Maria vai, apressadamente, diz São Lucas, para fazer uma visita à sua prima Isabel, já idosa, para ajudá-la nos serviços do lar. A Virgem caminha cerca de 200 km, passa pela Samaria e chega a Judeia, vai à cidade de Ain-Karin, no alto das montanhas da Judeia onde morava o sacerdote Zacarias.
Certamente, Maria caminha, por uma semana, meditando o mistério anunciado pelo anjo: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo!”. “Não temas Maria, encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho que colocarás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á filho do Altíssimo e o Senhor Seu Deus lhe dará o trono do seu Pai Davi… e o seu reino não terá fim”. (Lc 1, 30 ss)
Seu coração humilde transbordava de alegria e júbilo, ainda sem entender tudo. Mas, apesar de tudo o que se passava em sua mente e em seu coração, ela pensa na sua idosa parenta Isabel, que precisa dela. Vai, então, às pressas pelas montanhas da Judeia. Ao chegar à casa de Isabel, a saúda: Shalom! João Batista estremece no seio de Isabel, e esta, cheia do Espírito Santo, diz São Lucas, exclama: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio. Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!” (Lc 1,40-45).
Isabel é a primeira pessoa, iluminada pelo Espírito Santo, que percebe que está diante da Mãe de Deus humanado. “A Mãe do meu Senhor!”. Ciente desta verdade, diante de Jesus e de João Batista que se encontram ainda nos seios de suas mães, com sentimentos de humilde gratidão para com a grandeza e bondade de Deus, Maria, cheia do Espírito Santo, expressa com o Magnificat, toda a sua alegria e júbilo: “Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre.” (Lc 46-55)
Vinte séculos de cristianismo repetiram rezando e cantando este hino. Este canto é o suficiente para provar e demonstrar a visita do Anjo e o prodígio operado na Virgem Maria. Se ela não tivesse estado sob a ação do Espírito Santo, jamais aceitaria ser chamada de “bendita entre todas as mulheres”, como lhe disse Isabel. E como se atreveria a dizer que “todas as gerações me chamarão de bem aventurada”. E o mais admirável é que todas as suas palavras se realizaram e todos os séculos passam ante Ela cantando a sua felicidade sem igual, de ser escolhida para ser a Mãe de Deus, por ser a mais humilde de todas as mulheres.
O Verbo encarnado em Maria é causa de graça para Isabel que, pelo Espírito Santo, percebe os grandes mistérios que se operam nela: a sua dignidade de Mãe de Deus, a sua fé na palavra divina e a santificação do Batista, precursor, que exulta de alegria no ventre da mãe.
Maria ficou com Isabel até o nascimento de João Batista, servindo-a humildemente. A primeira coisa que faz a Mãe de Deus, é servir! Amar é servir! Desinteressadamente. É a primeira lição que Maria nos dá. Ela não levou em conta ser a Mãe do Salvador; teria o direito de ser servida; mas, ao contrário, vai logo servir. Reinar com Cristo é servir!
São Francisco de Sales, doutor da Igreja, diz: “Na Encarnação Maria se humilha confessando-se a serva do Senhor… Porém, Maria não fica só na humilhação diante de Deus, pois sabe que a caridade e a humildade não são perfeitas se não passam de Deus ao próximo. Não é possível amar a Deus que não vemos, se não amamos os homens que vemos. Esta parte realiza-se na Visitação.”
A festa da Visitação, de origem franciscana, que os frades menores já a celebravam em 1263, era celebrada a dois de julho, isto é, ao término da visita de Maria.
A festa foi depois estendida a toda a Igreja Latina pelo papa Urbano VI (1378-1389) para propiciar com a intercessão de Maria a paz e a unidade dos cristãos divididos pelo grande cisma do Ocidente no século 14.
O atual calendário litúrgico abandonou a data tradicional de 2 de julho para fixar-lhe a memória no último dia de maio, como coroação do mês que a devoção popular consagra ao culto particular da Virgem.
Fonte: https://cleofas.com.br
Visitação de Nossa Senhora
– Serviço alegre aos outros.
– Procurar Jesus por intermédio de Maria. Fé.
– O Magnificat.
A festa de hoje, instituída por Urbano VI em 1389, situa-se entre a Anunciação do Senhor e o nascimento de João Batista, de acordo com o relato evangélico. Comemora-se a visita de Nossa Senhora à sua prima Santa Isabel, já avançada em idade, para ajudá-la na esperança da sua maternidade, e ao mesmo tempo para partilhar com ela o júbilo das maravilhas realizadas por Deus em ambas. Esta festa da Virgem, com a qual terminamos o mês que lhe é dedicado, manifesta-nos a sua ação medianeira, o seu espírito de serviço e a sua profunda humildade. Ensina-nos a levar a alegria cristã aos lugares aonde vamos. Como Maria, temos de ser causa de alegria para os outros.
I. VINDE E ESCUTAI, todos os que temeis a Deus, e eu vos contarei as maravilhas que o Senhor fez em mim1, lemos na Antífona de entrada da Missa.
Pouco depois da Anunciação, Nossa Senhora foi visitar sua prima Isabel, que vivia na região montanhosa da Judéia, a quatro ou cinco dias de caminho. Naqueles dias – diz São Lucas –, Maria levantou-se e foi com presteza à montanha, a uma cidade de Judá 2. A Virgem, ao conhecer por meio do Anjo o estado de Isabel, apressa-se a ir ajudá-la nas lides da casa. Ninguém a obriga; Deus, através do Anjo, não lhe exigira nada nesse sentido, e Isabel não lhe solicitara ajuda. Maria poderia ter permanecido na sua própria casa, para preparar a chegada do seu Filho, o Messias. Mas põe-se a caminho cum festinatione, com alegre prontidão, para prestar os seus singelos serviços à sua prima 3.
Nós acompanhamo-la por aqueles caminhos nestes momentos de oração e dizemos-lhe com as palavras que lemos na primeira Leitura da Missa: Entoa cânticos de louvor, filha de Sião, alegra-te e exulta de todo o coração, filha de Jerusalém [...]. O Senhor, que é o rei de Israel, está no meio de ti [...]. Ele se regozijará em ti com júbilo eterno 4.
É fácil imaginar a imensa alegria que dominava a nossa Mãe desde o dia da Anunciação, e o grande desejo que teria de comunicá-la. Por outro lado, o anjo dissera-lhe: Eis que Isabel, tua prima, também concebeu um filho..., e, segundo esse testemunho expresso, tratava-se de uma concepção prodigiosa, relacionada de algum modo com o Messias que estava para vir 5.
Nossa Senhora entrou em casa de Zacarias e saudou sua prima. E aconteceu que, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança saltou no seu seio, e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. Toda a casa se transformou pela presença de Jesus e de Maria. A saudação da Virgem “foi eficaz porquanto cumulou Isabel do Espírito Santo. Com as suas palavras, mediante a profecia, Maria fez brotar na sua prima, como de uma fonte, um rio de dons divinos [...]. Com efeito, onde quer que esteja a cheia de graça, tudo fica repleto de alegria” 6. É um prodígio que Jesus realiza por meio de Maria, dAquela que esteve associada desde os começos à Redenção e à alegria que Cristo traz ao mundo.
A festa de hoje apresenta-nos uma faceta da vida interior de Maria: a sua atitude de serviço humilde e de amor desinteressado pelos que se encontram em necessidade 7, uma atitude que se traduz numa maravilhosa sementeira de alegria. Maria convida-nos sempre à entrega pronta, alegre e simples aos outros. Mas isto só será possível se nos mantivermos muito unidos ao Senhor, trazendo-o dentro de nós pelo estado de graça e pelo espírito de oração: “A união com Deus, a vida sobrenatural, comporta sempre a prática atraente das virtudes humanas: Maria leva a alegria ao lar de sua prima, porque «leva» Cristo” 8. Nós «levamos» Cristo conosco, e com Ele a alegria, aos lugares onde vamos..., ao trabalho, aos vizinhos, a um doente...? Somos habitualmente causa de alegria para os outros?
II. À CHEGADA DE NOSSA SENHORA, Isabel, repleta do Espírito Santo, proclama em voz alta: Bendita és tu entre as mulheres, e bendito é o fruto do teu ventre! De onde a mim esta dita, que venha a Mãe do meu Senhor visitar-me? Porque assim que a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança saltou de alegria no meu ventre.
Isabel não se limita a chamá-la bendita, mas relaciona o seu louvor com o fruto do ventre de Maria, que é bendito pelos séculos. Maria e Jesus estarão sempre juntos. Os momentos mais prodigiosos da vida de Jesus transcorrerão – como neste caso – em íntima união com a sua Mãe, Medianeira de todas as graças: “Esta união entre Mãe e Filho na obra da Salvação – diz o Concílio Vaticano II – manifesta-se desde o tempo da conceição virginal de Cristo até a sua morte” 9.
Devemos aprender hoje, uma vez mais, que cada encontro com Maria representa um novo encontro com Jesus. “Se procurarmos Maria, encontraremos Jesus. E aprenderemos a entender um pouco do que há no coração de um Deus que se aniquila [...]” 10, que se torna acessível no meio da simplicidade dos dias correntes de uma cena doméstica como a visita de Maria à sua prima Santa Isabel.
Lembremo-nos, porém, de que esse dom imenso – podermos conhecer e amar a Cristo – teve o seu começo na fé de Santa Maria: Bem-aventurada a que acreditou, diz Isabel a Maria. “A plenitude de graça, anunciada pelo anjo, significa o dom do próprio Deus; a fé de Maria, proclamada por Isabel na Visitação, significa que a Virgem de Nazaré correspondeu a esse dom” 11.
Manter a fé, robustecê-la no meio da vida diária, não é fácil. Tudo parece tão banal ou tão necessário, tão dependente dos nossos esforços ou de leis meramente naturais, que tendemos a perder de vista que é Deus quem produz em nós o querer e o agir 12. Sem mim, nada podeis fazer 13, disse-nos o Senhor: nada. O nosso Deus é um Deus escondido 14, que prefere atuar por meio de causas segundas. Seremos tão insensatos – e tão infelizes – que não descubramos a sua mão amorosa, os seus desígnios eternos, tanto nos eventos mais clamorosos como no suceder “mecânico” das horas de trabalho, da vida familiar? Para um homem de fé, para uma mulher de fé, tudo é Providência.
III. O CLIMA QUE RODEIA e empapa o episódio da Visitação é de alegria; o mistério da Visitação é um mistério jubiloso. João Batista exulta de alegria no seio de Santa Isabel; Isabel, cheia de alegria pelo dom da maternidade, prorrompe em aclamações ao Senhor; e, enfim, Maria eleva aos céus o Magnificat, um hino transbordante de alegria messiânica 15. O Magnificat é “o cântico dos tempos messiânicos, onde confluem a alegria do antigo e do novo Israel” 16. E é a manifestação mais pura do segredo íntimo da Virgem, que lhe fora revelado pelo anjo. Não há nele rebuscamento nem artificialismo: é o espelho da alma de Nossa Senhora, uma alma cheia de grandeza e tão próxima do seu Criador: A minha alma glorifica o Senhor, e o meu espírito rejubila em Deus, meu Salvador.
E com este canto de alegria humilde, a Virgem deixou-nos uma profecia: Eis que desde agora me chamarão bem-aventurada todas as gerações. “Desde remotíssimos tempos a Bem-aventurada Virgem é venerada sob o título de Mãe de Deus, sob cuja proteção os fiéis se refugiam súplices em todos os seus perigos e necessidades. Por isso, sobretudo a partir do Concílio de Éfeso, o culto do povo de Deus a Maria cresceu maravilhosamente em veneração e amor, em invocações e desejos de imitação, de acordo com as suas próprias palavras proféticas: Eis que me chamarão bem-aventurada todas as gerações, porque fez em mim grandes coisas aquele que é Todo-Poderoso” 17.
A nossa Mãe Santa Maria não se distinguiu por nenhum feito prodigioso; o Evangelho não nos dá a conhecer nenhum milagre que tenha realizado enquanto esteve na terra; poucas, muito poucas são as palavras que dEla nos conservou o texto inspirado. A sua vida aos olhos dos outros foi a de uma mulher corrente, que devia levar adiante a sua família. No entanto, a profecia cumpriu-se fielmente. Quem pode contar os louvores, as invocações, as oferendas e os santuários em sua honra, as devoções marianas...? Ao longo de vinte séculos, chamaram-na bem-aventurada pessoas de todo o gênero e condição: intelectuais e gente que não sabia ler, reis, guerreiros, artesãos, pessoas de idade avançada e crianças que começavam a balbuciar... Nós estamos cumprindo agora aquela profecia. Ave Maria, cheia de graça [...], bendita sois vós entre as mulheres..., dizemos-lhe na intimidade do nosso coração.
De modo particular, tivemos ocasião de invocá-la ao longo dos dias deste mês de maio, “mas o mês de maio não pode terminar; deve continuar na nossa vida, porque a veneração, o amor, a devoção à Virgem não podem desaparecer do nosso coração, e, além disso, devem crescer e manifestar-se num testemunho de vida cristã, modelada conforme o exemplo de Maria, o nome da formosa flor que sempre invoco, manhã e tarde, como canta Dante Alighieri (Paraíso 23, 88)” 18.
Pelo trato íntimo com Maria, descobrimos Jesus. “Como seria o olhar alegre de Jesus! O mesmo que brilharia nos olhos de sua Mãe, que não pode conter a alegria – «Magnificat anima mea Dominum!» –, e a sua alma glorifica o Senhor desde que o traz dentro de si e a seu lado. – Ó Mãe! Que a nossa alegria, como a tua, seja a alegria de estar com Ele e de o possuir” 19.
(1) Sl 65, 16; Antífona de entrada da Missa de 31 de maio; (2) Lc 1, 39-59; (3) cfr. M. D. Philippe, Misterio de Maria, pág. 142; (4) Sof 3, 14.17-18; (5) cfr. F. M. Willam, Vida de Maria, pág. 85; (6) Pseudo-Gregório Taumaturgo, Homilia II sobre a Anunciação; (7) João Paulo II, Homilia, 31-V-1979; (8) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 566; (9) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 57-58; (10) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 144; (11) João Paulo II, Enc. Redemptoris Mater, 25-III-1987, 12; (12) Fil 2, 13; (13) Jo 15, 5; (14) Is 45, 15; (15) cfr. id.,Homilia, 31-V-1979; (16) Paulo VI, Exort. Apost. Marialis cultus, 2-II-1974, 18; (17) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 66; (18) João Paulo II, Homilia, 25-V-1979; (19) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 95.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
O Espírito Santo e Maria
TEMPO PASCAL. SÉTIMA SEMANA. SÁBADO
— Esperar a chegada do Paráclito ao lado da Virgem Santíssima
— O Espírito Santo na vida de Maria.
— A Virgem Maria, “coração da Igreja nascente”, colabora ativamente com a ação do Espírito Santo nas almas.
I. ENQUANTO ESPERAVAM A VINDA do Espírito Santo prometido, todos perseveravam unanimemente na oração juntamente com as santas mulheres e Maria, a Mãe de Jesus…1 Todos estão num mesmo lugar, no Cenáculo, animados pelo mesmo amor e por uma só esperança. No centro deles, encontra-se a Mãe de Deus. A Tradição, ao meditar nesta cena, viu refletida nela a maternidade espiritual de Maria sobre toda a Igreja. “A era da Igreja começou com a “vinda”, quer dizer, com a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos reunidos no Cenáculo de Jerusalém, junto com Maria, a Mãe do Senhor”2.
Nossa Senhora vive uma espécie de segundo Advento, uma espera que prepara a comunicação plena do Espírito Santo e dos seus dons à Igreja nascente. Este novo Advento é ao mesmo tempo muito semelhante e muito diferente do primeiro, daquele que preparou o nascimento de Jesus. Muito semelhante porque em ambos estão presentes a oração, o recolhimento, a fé na promessa, o desejo ardente de que esta se realize. Maria, quando trazia Jesus oculto no seu seio, permanecia no silêncio da sua contemplação. Agora, Nossa Senhora vive profundamente unida ao seu Filho glorificado 3.
Mas esta segunda espera é também muito diferente da primeira. No primeiro Advento, a Virgem é a única que vive a promessa realizada no seu seio; agora, aguarda-a em companhia dos Apóstolos e das santas mulheres. É uma espera compartilhada, a da Igreja que está a ponto de manifestar-se publicamente em redor de Nossa Senhora: “Maria, que concebeu Cristo por obra do Espírito Santo, do amor do Deus vivo, preside ao nascimento da Igreja no dia de Pentecostes, quando o próprio Espírito Santo desce sobre os discípulos e vivifica na unidade e na caridade o Corpo místico dos cristãos 4.
O propósito da nossa oração de hoje, véspera da grande solenidade de Pentecostes, é esperarmos a chegada do Paráclito muito unidos à nossa Mãe, “que implora com as suas preces o dom do Espírito, o qual já na Anunciação a havia coberto com a sua sombra” 5, convertendo-a no novo Tabernáculo de Deus.
Nos começos da Redenção, Maria dera-nos o seu Filho; agora, “através das suas eficacíssimas súplicas, conseguiu que o Espírito do divino Redentor, já outorgado na Cruz, se comunicasse com os seus prodigiosos dons à Igreja, recém nascida no dia de Pentecostes” 6.
“Quem nos transmite esse dado é São Lucas, o evangelista que mais longamente narrou a infância de Jesus. É como se quisesse dar-nos a entender que, assim como Maria teve um papel primordial na Encarnação do Verbo, de modo análogo esteve também presente nas origens da Igreja, que é o Corpo de Cristo” 7. Para podermos estar bem preparados para uma maior intimidade com o Paráclito, para sermos mais dóceis às suas inspirações, o caminho é Nossa Senhora. Os Apóstolos assim o entenderam; por isso os vemos ao lado de Maria no Cenáculo.
II. NO DIA DE PENTECOSTES, a Santíssima Virgem recebeu o Espírito Santo com uma plenitude inigualável porque o seu coração era o mais puro, o mais desprendido, o que amava de modo incomparável a Santíssima Trindade. O Paráclito desceu sobre a alma da Virgem e inundou-a de uma maneira nova. Ele é o “doce Hóspede” da alma de Maria. O Senhor havia prometido a todo aquele que amasse a Deus: Viremos a ele e nele faremos a nossa morada 8. Esta promessa realiza-se sobretudo em Nossa Senhora.
Ela, “a obra prima de Deus” 9, fora preparada com imensos cuidados pelo Espírito Santo para ser tabernáculo vivo do Filho de Deus. Por isso o Anjo a cumprimentou no momento da Anunciação: Ave, cheia de graça 10. E aquela que já estava possuída pelo Espírito Santo e cheia de graça, recebeu nesse instante uma nova e singular plenitude: O Espírito Santo virá sobre ti e te cobrirá com a sua sombra 11. “Redimida de um modo eminente e em previsão dos méritos do seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, Maria é enriquecida com a sublime missão e a dignidade de ser a Mãe do Filho de Deus e, por isso, Filha predileta do Pai e Sacrário do Espírito Santo, com o dom de uma graça tão extraordinária que supera de longe todas as criaturas celestes e terrenas” 12.
Depois, ao longo da sua vida, Nossa Senhora foi crescendo no amor a Deus Pai, a Deus Filho (seu Filho Jesus), a Deus Espírito Santo. Correspondeu a todas as inspirações e moções do Paráclito e, de cada vez que era dócil a essas inspirações, recebia novas graças. Em momento algum opôs a menor resistência a Deus, nunca lhe negou nada; o seu crescimento nas virtudes sobrenaturais e humanas (que estavam sob uma especial influência da graça) foi contínuo.
No dia de Pentecostes, o Espírito Santo, que já habitava em Maria desde o mistério da sua Imaculada Conceição, veio fixar nEla a sua morada de uma maneira nova. Todas as promessas que Jesus tinha feito acerca do Paráclito — Ele vos recordará todas estas coisas 13, Ele vos conduzirá à verdade completa 14 — cumprem-se plenamente na alma da Virgem.
Nossa Senhora é a Criatura mais amada por Deus. Pois se a cada um de nós, apesar de tantas ofensas, o Senhor nos recebe como o pai do filho pródigo; se a nós, sendo pecadores, nos ama com amor infinito e nos enche de bens de cada vez que correspondemos às suas graças, “se procede assim com quem o ofendeu, o que não fará para honrar a sua Mãe imaculada, Virgo Fidelis, Virgem Santíssima, sempre fiel? Se o amor de Deus se mostra tão grande, quando a capacidade do coração humano — com freqüência traidor — é tão pequena, como não se manifestará no Coração de Maria, que nunca opôs o menor obstáculo à Vontade divina?” 15
III. TUDO O QUE SE TEM levado a cabo na Igreja desde o seu nascimento até os nossos dias é obra do Espírito Santo: a evangelização do mundo, as conversões, a fortaleza dos mártires, a santidade dos seus membros… “O que a alma é para o corpo do homem — ensina Santo Agostinho —, isso é o Espírito Santo no Corpo de Cristo que é a Igreja. O Espírito Santo realiza na Igreja o que a alma realiza nos membros de um corpo” 16: dá-lhe vida, desenvolve-o, é o seu princípio de unidade… Por Ele vivemos a vida do próprio Cristo Nosso Senhor, em união com Santa Maria, com todos os anjos e santos do Céu, com os que se preparam no purgatório e os que ainda peregrinam na terra.
O Espírito Santo é também o santificador da nossa alma. Todas as inspirações e desejos que nos animam a ser melhores, todas as nossas boas obras, bem como as ajudas necessárias para terminá-las…, tudo é obra do Paráclito.
“Este divino Mestre estabeleceu a sua escola no interior das almas que lho pedem e desejam ardentemente tê-lo por Mestre” 17. “A sua ação na alma é suave, a sua experiência é agradável e aprazível, e o seu jugo é levíssimo. A sua vinda é precedida pelos raios brilhantes da sua luz e da sua ciência. Vem com a verdade do genuíno protetor, pois vem salvar, curar, ensinar, aconselhar, fortalecer, consolar, iluminar, em primeiro lugar a mente daquele que o recebe e depois, pelas obras deste, a mente dos outros” 18.
E assim como aquele que se achava rodeado de trevas, em saindo o sol recebe a sua luz nos olhos corporais e contempla claramente o que antes não via, assim também aquele que é achado digno do dom do Espírito Santo fica com a alma iluminada e, elevando-se acima da razão natural, vê aquilo que antes ignorava.
O Espírito Santo não cessa de atuar na Igreja, fazendo surgir por toda a parte novos desejos de santidade, novos filhos e, ao mesmo tempo, melhores filhos de Deus, que têm em Jesus Cristo o Modelo perfeito, pois Ele é o primogênito de muitos irmãos. E Nossa Senhora, pela sua colaboração ativa com o Espírito Santo nas almas, exerce a sua maternidade sobre todos os seus filhos. Por isso é proclamada Mãe da Igreja, “quer dizer, Mãe de todo o Povo de Deus, tanto dos fiéis como dos Pastores, que a chamam Mãe amorosa. Queremos – proclamava Paulo VI – que de agora em diante seja honrada e invocada por todo o povo cristão com esse título gratíssimo”19.
Santa Maria, Mãe da Igreja, rogai por nós e ajudai-nos a preparar a vinda do Paráclito às nossas almas.
(1) At 1, 14; (2) João Paulo II, Ene. Dominum et vivijicantem, 18-V–1986, 25; (3) cfr. M. D. Philippe, Mistério de Mana, Rialp, Madrid, 1986, págs. 348-349; (4) Paulo VI, Discurso, 25-X-1969; (5) Cone. Vat. II, Const. Lumen gentium, 59, (6) Pio XII, Ene. Mystici Corporis, 29-VI-1943; (7) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 141; (8) Jo 4, 23; (9) cfr. São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 292; (10) Lc 1, 28; (11) Lc 1, 35; (12) Cone. Vat. II, op. cit., 53; (13) cfr. Jo 14, 26; (14) cfr. Jo 16, 13; (15) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 178; (16) Santo Agostinho, Sermão 267; (17) F. Javiera dei Valle, Decenario ai Espiritu Santo, 4o dia; (18) São Cirilo de Jerusalém, Catequese 16 sobre o Espirito Santo, 1; (19) Paulo VI, Discurso ao Concilio, 2-IX-1964.
Fonte: livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal.
Santa Joana D'Ark
30 de Maio
Santa Joana D'Ark
Joana nasceu em 1412, no vilarejo de Domrémy, pertencente ao Ducado de Lorena, na França. Filha de camponeses trabalhadores e honrados, ela viveu ali sua infância, como qualquer outra menina de sua idade. Ocupava-se de trabalhos domésticos e, às vezes, pastoreava rebanhos de ovelhas do pai.
Desde a infância Joana demonstrava uma piedade singular. Sentia-se atraída à contemplação, gostava de subir a lugares elevados para contemplar o panorama. Gostava muito de participar das celebrações na igreja e teve grande interesse em aprender o catecismo e a doutrina católica.
Aos treze anos Joana começou a ouvir uma voz, que lhe orientava no caminho de Deus. Veja como ela mesma narrou esses fatos com muita simplicidade: "Quando eu tinha mais ou menos 13 anos, ouvi a voz de Deus que veio ajudar-me a me governar. Eu ouvi a voz do lado direito, quando ia para a Igreja. Depois que ouvi esta voz três vezes, percebi que era a voz de um anjo. Ela me ensinou a me conduzir bem e a frequentar a igreja". Há um detalhe muito importante nessa fala: segundo ela mesma afirma, a voz veio para ajudá-la a governar a si mesma, ou seja, o anjo de Deus ensina a adolescente Joana a ter autodomínio, um fruto do Espírito Santo. Mais tarde ela descobriu que era São Miguel Arcanjo quem falava com ela e que ela deveria partir em socorro do rei da França.
Há setenta e cinco anos a França sofria demasiadamente vivendo a chamada “Guerra dos cem anos”. Tal guerra se dava contra a Inglaterra. A França, então um dos grandes países católicos, sofria a tentativa de invasão por parte dos ingleses desde 1337. A França, por sua vez, vinha dividida por discórdias internas e queda na moral e na religião. Em 1420 o rei francês perdeu o trono para o rei inglês e a França corria o risco de deixar de existir como país.
Ao completar 17 anos, a voz vinda do céu avisou a Joana que sua hora de agir tinha chegado. Então, ela saiu da casa de seus pais e conseguiu convencer um Capitão francês chamado Roberto de Baudricourt a leva-la até o rei “não empossado” da França, Carlos VII, que estava em Chinon. Joana dizia ser da vontade de Deus que Carlos recebesse a coroa e que ela, Joana, tinha sido chamada para liderar os exércitos da França na expulsão dos ingleses.
Depois de superar grandes dificuldades, Santa Joana chegou à corte real. Era o dia 6 de março de 1429. Para testar a veracidade do que ouvira dizer sobre Joana, o rei disfarçou-se na sala e colocou um falso rei no trono. Quando Santa Joana foi apresentada ao falso rei, não deu a ele nenhuma importância. Imediatamente passou a procurar entre os presentes no recinto até encontrar Carlos, que estava escondendo-se em um canto. Fixando nele o olhar, fez-lhe a devida reverência e disse: "Muito nobre senhor Delfim (rei), aqui estou. Fui enviada por Deus para trazer socorro a vós e vosso reino". Todos os presentes ficaram assombrados e aclamaram calorosamente a jovem e santa Joana.
Depois de ouvir atentamente a Joana, Carlos VII colocou os exércitos franceses à disposição dela. E ela partiu liderando os guerreiros para as batalhas decisivas. A presença de Santa Joana, virgem, cheia de inocência, sabedoria e força, impunha grande respeito e dava novo ânimo aos soldados. Como medida de união, ela proibiu a bebida alcoólica e os jogos entre os soldados. Além disso, convenceu os soldados a se confessarem e comungarem para enfrentar os ingleses com o poder de Deus.
Os conselhos de guerra de Santa Joana nunca falharam, deixando grandes generais cheios de admiração. Sob sua liderança, os exércitos franceses acumularam vitórias importantíssimas. Em meio às batalhas, ela sempre portava um estandarte com a imagem de Cristo e os nomes: Jesus e Maria. Graças a Santa Joana D’Arc o ideal de unificação renasceu na França, bem como a esperança de reconquistar o que tinha sido perdido para os ingleses. Por isso, o povo não se cansava de manifestar gratidão e apoio a Santa Joana.
Graças à liderança de Santa Joana D’Arc, Carlos foi coroado em 17 de julho de 1429. Ela estava lá, a seu lado, portando seu estandarte. Embora alguns territórios estivessem ainda sob o domínio inglês, o reino da França tinha sido restaurado graças a Santa Joana D’Arc.
Carlos VII, sentindo-se firme e poderoso no trono, esqueceu-se da gratidão que devia a Santa Joana D’Arc e abandonou-a. Ela, por sua vez, continuou a luta, por amor a seu país e para ver seu povo livre dos sofrimentos impostos pelos ingleses. Assim, na tentativa de salvar a cidade de Compiègne da mão dos ingleses, ela acabou presa e levada a um falso tribunal de Inquisição, chefiado por um bispo corrupto, que recebera grande soma para condenar a santa. Assim, apesar da defesa feita assombrosa pela própria Joana, inspirada por Deus, sem um defensor do Estado a que tinha direito, ela foi condenada por bruxaria e heresia.
Assim, Santa Joana D’Arc recebeu a pena de ser queimada em praça pública. Aconteceu no dia 30 de maio de 1431, quando ela tinha apenas dezenove anos. Amarrada, no meio das chamas, com os olhos fixos em seu crucifixo, ela entregou sua vida sem esmorecer, cumprindo sua missão e afirmando crer naquela voz do anjo que guiou seus passos e libertou a França através dela.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
Santa Úrsula Ledóchowska
29 de Maio
Santa Úrsula Ledóchowska
Nasceu no dia 17 de abril de 1865, em Losdorf, na Áustria. Foi batizada com o nome de Julia. Seu pai, Antônio, filho de um revolucionário do ano 1930, foi obrigado a emigrar do seu próprio país – a Polônia. A mãe, Josefina, de origem suíça, consciente das conseqüências de seu casamento com um polonês, colaborava com seu marido para educar os filhos em espírito de pertença à nação polonesa. Tinha oito irmãos dos quais dois morreram em fama de santidade: A Beata Maria Teresa, Fundadora da Congregação de São Pedro Claver e Vladimiro, Superior Geral da Companhia de Jesus.
Julia gozava de um afeto especial. Sua mãe chamava-a de “Raio de Sol” e ela aceitou este nome como seu programa de vida... Queria como um raio depender continuamente do seu Sol Divino e com seu amor iluminar a vida dos outros, para conduzi-los à fonte de todo o bem, a Deus.
Nos estudos, se distinguia pela inteligência, aplicação e comportamento em modo tal que seu nome foi escrito no “Livro de Ouro” da escola. Cultivou suas capacidades artísticas de música, pintura e línguas.
O seu irmão Vladimiro declara: “Tinha um coração extremamente sensível e terno para com cada miséria e cada desgraça. Cercava de cuidados e preocupações especialmente os doentes e pobres; ia buscá-los em casa, providenciava remédios, prestava diversos serviços, consolava-os.” Em 1883, a família Ledóchowski retornou à Polônia e se estabeleceu em Lipnica Murowana, próximo à Cracóvia. Os seus numerosos contatos com o povo da localidade permitiram-lhe descobrir quais eram suas dificuldades e sofrimentos, o que lhe deu oportunidade para colocar-se a serviço dos mais necessitados.
Em 1885, seu pai e sua irmã Maria Teresa foram contagiados por uma epidemia de varíola e o conde Antônio não superou esta grave doença. Em seu leito de morte quis ser assistido por sua filha Julia que, em tal ocasião, lhe pediu a permissão de tornar-se religiosa, o que lhe foi concedido de coração. Seu irmão procurou ajudá-la convencendo a mãe em luto que suplicava para que ela ficasse ao seu lado e o pároco local que não queria perder a benéfica influencia que Julia exercitava sob a população da região.
Em 1886, Julia entrou no convento autônomo das Ursulinas em Cracóvia. Em 1889, fez a profissão religiosa assumindo a nome de Úrsula. Em seguida inicia as atividades de educadora e professora no ginásio dirigido pelas mesmas irmãs. Em 1904, foi eleita superiora do convento. Abriu o primeiro pensionato para as moças universitárias. Adaptou as Constituições religiosas às necessidades apostólicas recebendo aprovação da Santa Sé.
Como professora unia o profundo conhecimento da matéria com uma acessível e interessante forma de ensinar. Exercia uma profunda e duradoura influencia sobre as educandas. Não poupava esforços para aprofundar nas alunas a vida espiritual. Com as irmãs, como Superiora, era paciente e compreensiva.
Entre suas alunas, em Cracóvia, entrou em contato com muitas jovens provenientes dos territórios ocupados pela Rússia. Sentia a necessidade de abrir uma obra missionária na Rússia. Em 1907, à pedido da colônia polonesa de Petersburgo e com a bênção do Papa Pio X, Madre Úrsula vestida de leiga porque era proibida a existência de conventos, parte com algumas irmãs para Petersburgo e assume a direção do internato junto ao ginásio polonês Santa Catarina. Além das atividades de educadora e professora, empreende numerosas ações de caráter apostólico e ecumênico. Em 1908 obtém a ereção da casa de Petersburgo como convento autônomo e é nomeada Superiora.
Em São Petersburgo não se desencorajou diante das numerosas dificuldades do deplorável estado financeiro do pensionato, dos educadores e professores mal dispostos para com as religiosas, da falta de conhecimento da língua russa e da necessidade de esconder a própria identidade religiosa, ao menos nos contatos oficiais.
Em 1910 abre, na Finlândia, em Merentähti uma escola com pensionato para as jovens polonesas. Merentähti se torna o centro de ajuda e de atividade religiosa também para a população local na maior parte pobres pescadores. Aprende a difícil língua finlandesa para traduzir o catecismo e os cantos religiosos. Traz de Petersburgo uma enfermeira para cuidar dos doentes. As autoridades russas percebem a atuação da Madre e iniciam uma seqüência de interrogações e perseguições. Em 1914, com o estouro da Primeira Guerra Mundial, é expulsa definitivamente do território russo e da Finlândia.
Madre Úrsula refugia-se na Suécia. Insere-se, com entusiasmo e com novas iniciativas na vida do ambiente local e nas atividades da Igreja católica. Reúne as Senhoras para colocações religiosas e retiros espirituais... Funda o Sodalício Mariano... Publica uma revista mensal com o título “Centelhas de Sol”. Única revista católica, ainda hoje, na Suécia.
No ano de 1917, inicia ainda outras obras importantes: Organiza na Dinamarca (Djursholm, 1915 e Aalborg 1918) a casa para os órfãos dos operários poloneses que vinham aos países escandinavos para trabalhar periodicamente e por causa da guerra ficaram separados do próprio país. Funda também uma escola de economia doméstica para as jovens.
Com o fim da Primeira Guerra Mundial e consciente das conseqüências da mesma, se abre diante de Madre Úrsula um vasto campo apostólico. Em 1920 retorna à Polônia com um grupo de irmãs e de crianças órfãs. A comunidade se estabelece em Pniewy. Madre Úrsula obtém a permissão da Santa Sé para transformar a casa autônoma de Petersburgo em um novo Instituto: a Congregação das Irmãs Ursulinas do Coração de Jesus Agonizante.
Abraça com a própria atividade as necessidades sociais e religiosas: Abre Institutos de educação, escolas com pensionatos para as jovens, creches, organiza a catequese, Congregação Mariana, edição de um periódico religioso, etc.
Madre Úrsula morreu em Roma, no dia 29 de maio de 1939 na casa geral da Congregação. Seu corpo foi sepultado no cemitério de Verano. Em 22 de abril de 1959, foi realizada uma exumação e o corpo intacto foi transferido para a casa geral. Em 1989 foi realizada uma segunda exumação e o corpo foi transladado para a Polônia, em Pniewy, atraindo um grande número de peregrinos.
Na Polônia, devido à cor do hábito, se popularizaram como as "ursulinas cinzas" e na Itália, como as "irmãs polonesas". A ordem foi aprovada em 1930 e se desenvolveu com rapidez.
O papa São João Paulo II, em 1983, a beatificou, numa comovente cerimônia em Poznan, quando visitava a Polônia. Vinte anos depois ele mesmo a canonizou, declarando ser seu devoto. O culto em sua homenagem foi designado para o dia de sua morte.
Fonte: http://www.santosebeatoscatolicos.com
Os Frutos do Espírito Santo
TEMPO PASCAL. SÉTIMA SEMANA. SEXTA-FEIRA
– Os frutos do Espírito Santo na alma, manifestação da glória de Deus. O amor, o gozo e a paz.
– Paciência e longanimidade. A sua importância no apostolado.
– Os frutos que se relacionam mais diretamente com o bem do próximo: bondade, benignidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência e castidade.
I. QUANDO A ALMA é dócil às inspirações do Espírito Santo, converte-se numa árvore boa que se dá a conhecer pelos seus frutos. Esses frutos amadurecem a vida cristã e são manifestação da glória de Deus: Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto 1, dirá o Senhor na Última Ceia.
Estes frutos sobrenaturais são incontáveis. São Paulo, a título de exemplo, menciona doze: caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, longanimidade, mansidão, fé, modéstia, continência e castidade 2.
Em primeiro lugar figura o amor, a caridade, que é a primeira manifestação da nossa união com Cristo. É o mais saboroso dos frutos, aquele que nos faz experimentar que Deus está mais perto, e que visa aliviar o fardo dos outros. A caridade delicada e operativa com os que convivem ou trabalham conosco é a primeira manifestação da ação do Espírito Santo na alma: “Não existe sinal nem marca que distinga o cristão e aquele que ama a Cristo como o cuidado dos nossos irmãos e o zelo pela salvação das almas” 3.
Ao primeiro e principal fruto do Espírito Santo “segue-se necessariamente a alegria, pois aquele que ama alegra-se na união com o amado” 4. É uma alegria que caracteriza o cristão e que permanece por cima da dor e do fracasso. Quanto bem não tem semeado no mundo a alegria dos cristãos! “Alegrar-se nas tribulações, sorrir no sofrimento, cantar com o coração e com o melhor timbre quanto maiores e mais dolorosos forem os espinhos [...] e tudo isto por amor – este é, juntamente com o amor, o fruto que o Vinhateiro divino quer colher dos ramos da Vinha mística, fruto que somente o Espírito Santo pode produzir em nós” 5.
O amor e a alegria deixam na alma a paz de Deus, que ultrapassa todo o conhecimento 6. Existe a falsa paz da desordem, como a que reina numa família em que os pais cedem sempre aos caprichos dos filhos, sob o pretexto de “ter paz”; ou como a da cidade que, com a desculpa de não querer contristar ninguém, deixa que os malvados perpetrem os seus crimes. A paz, fruto do Espírito Santo, é ausência de agitação – é “a tranqüilidade na ordem”, como a define Santo Agostinho 7 –, e é descanso da vontade na posse estável do bem. Esta paz pressupõe uma luta constante contra as tendências desordenadas das paixões.
II. EM FACE DOS OBSTÁCULOS, as almas que se deixam guiar pelo Paráclito produzem ainda como fruto a paciência, que permite enfrentar com equanimidade, sem queixas nem lamentações estéreis, os sofrimentos físicos e morais que a vida traz consigo. A caridade está cheia de paciência; e a paciência é, em muitas ocasiões, o suporte do amor. “A caridade – escrevia São Cipriano – é o laço que une os irmãos, o fundamento da paz, o entrelaçamento que dá firmeza à unidade... Tirai-lhe, porém, a paciência, e ficará devastada: tirai-lhe o jugo do sofrimento e da resignação, e perderá as raízes e o vigor” 8. O cristão deve ver em tudo a mão amorosa de Deus, que se serve dos sofrimentos e das dores para purificar aqueles que mais ama e fazê-los santos. Por isso, não perde a paz diante da doença, dos contratempos, dos defeitos alheios, das calúnias... ou mesmo dos seus fracassos espirituais.
A longanimidade é semelhante à paciência. É uma disposição estável pela qual esperamos de ânimo sereno, sem amargura, e durante o tempo que Deus queira, as dilações queridas ou permitidas por Ele, antes de alcançarmos as metas ascéticas ou apostólicas que nos propomos.
Este fruto do Espírito Santo dá à alma a certeza plena de que – se emprega os meios adequados, se se empenha em lutar, se recomeça sempre – esses propósitos chegarão a efetivar-se, apesar dos obstáculos objetivos que possa encontrar, apesar das fraquezas, erros e pecados que possa cometer.
No apostolado, a pessoa longânime propõe-se metas altas, à medida do querer de Deus, ainda que os resultados concretos pareçam pequenos, e, com santa teimosia e constância, não omite nenhum dos meios humanos e sobrenaturais ao seu alcance. “A fé é um requisito imprescindível no apostolado, que muitas vezes se manifesta na constância em falar de Deus, ainda que os frutos demorem em vir. Se perseverarmos, se insistirmos, bem convencidos de que o Senhor assim o quer, também à tua volta, por toda a parte, se irão notando sinais de uma revolução cristã: uns haverão de entregar-se, outros tomarão a sério a sua vida interior, e outros – os mais fracos – ficarão pelo menos alertados” 9.
O Senhor conta com o nosso esforço diário, sem pausas, para que a tarefa apostólica dê os seus frutos. Se alguma vez esses frutos tardam em aparecer, se o empenho com que procuramos aproximar de Deus um familiar ou um colega parece estéril, devemos animar-nos com o pensamento de que ninguém que trabalhe pelo Senhor, com reta intenção, o faz em vão: Os meus eleitos não trabalharão em vão 10. A longanimidade apresenta-se como o perfeito desenvolvimento da virtude da esperança.
III. DEPOIS DOS FRUTOS que relacionam a alma diretamente com Deus e com a sua própria santidade, São Paulo enumera os que visam em primeiro lugar o bem do próximo: Revesti-vos de entranhas de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão [...], suportando-vos e perdoando-vos mutuamente 11.
A bondade de que o Apóstolo nos fala é uma disposição estável da vontade que nos inclina a querer toda a espécie de bens para os outros, sem excetuar ninguém: amigos e inimigos, parentes e desconhecidos, vizinhos e gente distante. A alma sente-se amada por Deus e isto impede-a de ter ciúmes e invejas, levando-a a ver nos outros filhos de Deus, a quem Ele ama e por quem Jesus morreu.
Não basta querer o bem para os outros na teoria. A caridade verdadeira é amor eficaz que se traduz em atos. A caridade é benfazeja 12, anuncia São Paulo. A benignidade é precisamente essa disposição do coração que nos inclina a fazer o bem aos outros 13.
Este fruto manifesta-se nas diversas obras de misericórdia, corporais e espirituais, que os cristãos realizam no mundo inteiro sem distinção de pessoas. Na nossa vida, manifesta-se nos mil pormenores de serviço que procuramos ter com aqueles com quem nos relacionamos todos os dias. A benignidade incita-nos a levar paz e alegria aos lugares por onde passamos e a ter uma disposição constante de indulgência e de afabilidade.
A mansidão está intimamente ligada à bondade e à benignidade, e é como que o seu acabamento e perfeição. Opõe-se às estéreis manifestações da ira, que no fundo são sinais de fraqueza. A caridade não se irrita 14, antes se expande com suavidade e delicadeza, apoiando-se numa grande firmeza de espírito. Aquele que possui este fruto do Espírito Santo não se impacienta nem alimenta sentimentos de rancor para com as pessoas que o tenham ofendido ou injuriado, ainda que sinta – e às vezes muito vivamente, pela maior finura de sentimentos que adquire pelo trato com Deus – as asperezas dos outros, os desaires, as humilhações. Sabe que Deus se serve de tudo isso para purificar as almas.
À mansidão segue-se a fidelidade. Fiel é a pessoa que cumpre os seus deveres, mesmo os mais pequenos, e em quem os outros podem depositar a sua confiança. Nada é comparável a um amigo fiel, diz a Sagrada Escritura; o seu preço é incalculável 15. Ser fiel é uma forma de viver a justiça e a caridade. A fidelidade é o resumo de todos os frutos que se referem às nossas relações com o próximo.
Os três últimos frutos mencionados por São Paulo dizem respeito à virtude da temperança, a qual, sob o influxo dos dons do Espírito Santo, produz frutos de modéstia, continência e castidade.
Pessoa modesta é aquela que sabe comportar-se de modo equilibrado e justo em cada situação, e que aprecia os seus talentos sem os exagerar nem diminuir, porque sabe que são uma dádiva de Deus para serem postos a serviço dos outros. Este fruto do Espírito Santo reflete-se no porte exterior da pessoa, no seu modo de falar e de vestir, de tratar as pessoas e de comportar-se socialmente. A modéstia é atraente porque reflete simplicidade e ordem interior.
Os dois últimos frutos apontados por São Paulo são a continência e a castidade. Como que por instinto, a alma está extremamente vigilante, a fim de evitar tudo o que possa ameaçar-lhe a pureza interior e exterior, tão grata a Deus. São frutos que embelezam a vida cristã, que a preparam para entender as coisas que se referem a Deus, e que podem obter-se mesmo no meio de grandes tentações, se se foge da ocasião e se luta com decisão, sabendo que a graça do Senhor nunca há de faltar.
Ao terminarmos a nossa oração, aproximamo-nos da Virgem Santíssima, porque Deus se serve dEla para produzir abundantes frutos nas almas por influxo do Paráclito. Eu sou a Mãe do Amor formoso, do temor, da ciência e da santa esperança. Vinde a mim todos os que me desejais, e enchei-vos dos meus frutos. Pois o meu espírito é mais doce que o mel, e a minha posse mais suave que o favo de mel... 16
(1) Jo 15, 8; (2) cfr. Gal 5, 22-23; (3) São João Crisóstomo, Homilias sobre o incompreensível, 6, 3; (4) São Tomás, Suma Teológica, 1-2, q. 70, a. 3; (5) A. Riaud, La acción del Espíritu Santo en las almas, 4ª ed., Palabra, Madrid, pág. 120; (6) Fil 4, 7; (7) Santo Agostinho, A cidade de Deus, 19, 13, 1; (8) São Cipriano, Do bem da paciência, 15; (9) São Josemaría Escrivá, Sulco, n. 207; (10) Is 45, 23; (11) Col 3, 12-13; (12) 1 Cor 13, 4; (13) cfr. A. Riaud, op. cit., pág. 148 e segs.; (14) 1 Cor 13, 5; (15) Eclo 6, 1; (16) Eclo 24, 24-27.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São Germano de París
28 de Maio
São Germano de París
Nascer e prosseguir vivendo não foram tarefas fáceis para Germano. Ele veio ao mundo na cidade de Autun, França, no ano 496. Diz a tradição que sua mãe não o desejava, por isso tentou aborta-lo, mas não conseguiu. Quando o menino atingiu a infância, ela atentou novamente contra a vida dele, tentando envenená-lo, mas também foi em vão.
Acredita-se que ele pertencia a uma família burguesa e rica, pois, depois disso, foi criado por um primo, bem mais velho, ermitão, chamado Escapilão, que o fez prosseguir os estudos em Avalon. Germano, com certeza, viveu como ermitão durante quinze anos, ao lado desse parente, em Lazy, aprendendo a doutrina de Cristo.
Decorrido esse tempo, em 531 ele foi chamado pelo bispo de Autun para trabalhar ao seu lado, sendo ordenado diácono, e três anos depois, sacerdote. Quando o bispo morreu, seu sucessor entregou a direção do mosteiro de São Sinforiano a Germano, que pela decadência ali reinante o supervisionava com certa dificuldade. Acabou deixando o posto por intrigas e pela austeridade que desejava impor às regras da comunidade.
Foi, então, para Paris, onde, pelos seus dons, principalmente o do conselho, ganhou a estima do rei Childeberto, que apreciava a sua sensatez. Em 536, o rei o convidou a ocupar o bispado de Paris, e Germano aceitou, exercendo grande influência na corte merovíngia. Nessa época, o rei Childeberto ficou gravemente enfermo, sendo curado com as orações do bispo Germano. Como agradecimento, mandou construir uma grande igreja e, bem próximo, um grande convento, que mais tarde se tornou o famoso Seminário de Paris, centro avançado de estudo eclesiástico e de vida monástica.
Germano participou, ainda, de alguns importantes acontecimentos da Igreja da França: do Concilio de Tours, em 567, e dos Concílios de Paris, inclusive o de 573, e a consagração do bispo Félix de Bourges em 570.
Entrementes não eram apenas os nobres que o respeitavam, ele era amado pelo povo pobre da diocese. Germano era pródigo em caridade e esmolas, dedicando ao seu rebanho um amor incondicional. Frequentemente, era visto apenas com sua túnica, pois o restante das roupas vestira um pobre; ficava feliz por sentir frio, mas tendo a certeza de que o pobre estava aquecido. Quando nada mais lhe restava, permanecia sentado, triste e inquieto, com fisionomia mais grave e conversação mais severa.
Assim viveu o bispo Germano de Paris, até morrer no dia 28 de maio de 576. Logo os milagres e graças começaram a acontecer e o seu culto foi autorizado pela Igreja, mantendo a data de sua morte para a celebração. Suas relíquias se encontram na majestosa igreja de São Germano de Paris, uma das mais belas construções da cidade.
Texto: Paulinas Internet