Tempo Comum. Oitava Semana. Quarta-feira

— O exemplo de Cristo. Servir é reinar.

O EVANGELHO DA MISSA! narra o pedido que os filhos I de Zebedeu dirigiram ao Senhor para que lhes reservasse os primeiros postos no novo Reino. Quando souberam desse desejo, os outros discípulos indignaram-se contra os dois irmãos. O desgosto que experimentaram não foi provavelmente provocado pela peculiaridade do pedido, mas porque todos se sentiam com igual ou maior direito de ocupar esses postos proeminentes.

Jesus, que conhece a ambição daqueles que serão os alicerces da sua Igreja, diz-lhes que eles não devem comportar--se como os reizinhos que oprimem e subjugam os seus súditos. A autoridade da Igreja não será assim: pelo contrário, quem quiser ser grande entre vós seja o vosso servidor; e quem entre vós quiser ser o primeiro seja escravo de todos. É um novo modo de ser "senhor", uma nova maneira de "ser grande"; e Jesus mostra o fundamento dessa nova nobreza e a sua razão de ser: porque o Filho do Homem não Veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em redenção de muitos.

A vida de Cristo é uma constante ajuda aos homens, e a sua doutrina um contínuo convite ao espírito de serviço. Ele o exemplo que deve ser imitado pelos que exercem a autoridade na sua Igreja; sendo Deus e Juiz, que há de vir julgar o mundo, não se impõe, serve por amor até dar a sua vida por todos2; esta é a sua forma de ser o primeiro.

— Diversos serviços que podemos prestar à Igreja, à sociedade, aos que estão ao nosso lado.

Assim o entenderam os Apóstolos, especialmente depois da vinda do Espírito Santo. São Pedro exortará os presbíteros a apascentar o rebanho de Deus, não como dominadores mas servindo de exemplo3; e o mesmo dirá São Paulo, que, sem estar submetido a ninguém, se fez servo de todos para ganhar a todos4.

O Senhor não se dirige, porém, apenas aos seus Apóstolos, mas aos discípulos de todos os tempos. Ensina-nos que há uma honra singular em auxiliar e assistir os homens, imitando o Mestre. "Uma tal dignidade exprime-se na disposição de servir segundo o exemplo de Cristo, que   não veio para ser servido, mas para servir. Se, portanto, à luz da atitude de Cristo, se pode verdadeiramente reinar somente ser-vindo, ao mesmo tempo este servir exige tal maturidade espiritual que se deve defini-lo precisamente como reinar 5.

Para se poder servir os outros digna e eficazmente, é necessário chegar a um auto-domínio muito grande, que saiba ultrapassar as barreiras interiores do egoísmo, os pruridos de independência e de superioridade em relação ao próximo, as impaciências de quem só tem olhos e tempo para as suas próprias preocupações... E tudo isto, só o consegue o homem espiritualmente amadurecido, forte, enérgico. Daí que, paradoxalmente, servir seja realmente reinar. Só quem é senhor - e não servo -, quem reina dentro de si mesmo, é que pode servir-lhes, conforta-os.

O Senhor prega novamente com o exemplo, e com as obras. Diante dos discípulos, que discutiam por motivos de soberba e de vangloria, Jesus inclina-se e cumpre com gosto 0 ofício de servo [...]. Comove-me esta delicadeza do nosso Cristo. Porque não afirma: se eu me ocupo disto, quanto mais não tereis vós que fazer! Coloca-se no mesmo nível, não coage: fustiga amorosamente a falta de generosidade daqueles homens.

"Como aos primeiros doze, também a nós pode o Senhor insinuar-nos, e nos insinua continuamente: Exemplum dedi vobis (Jo 13, 15), dei-vos exemplo de humildade. Converti--me em servo, para que vós saibais, com o coração manso e humilde, servir a todos os homens"7.

Para servir, devemos antes de mais nada entender o exercício da nossa profissão, não apenas como um meio de ganharmos a vida e desenvolvermos nobremente a nossa personalidade, mas como um serviço à sociedade, um meio de contribuir para o seu desenvolvimento e para o necessário bem-estar.

A essa intenção sustentada, devemos acrescentar um extraordinário escrúpulo em trabalhar conscienciosamente, mediante o estudo profundo de cada assunto, a diligência e o esmero na sua execução e o seu perfeito arremate, tanto no conteúdo como na forma e nos prazos. Seria um logro à sociedade oferecermos gato por lebre ou deixarmos as coisas mal resolvidas e cheias de pontos fracos, pois não serviríamos os outros, antes lhes carregaríamos sobre os ombros a tarefa de rever, consertar ou concluir aquilo que não lhes competia e que lhes vai tirar tempo para as suas próprias responsabilidades. Cometeríamos uma grave injustiça e seríamos um fardo para os demais, não uma ajuda.

Por outro lado, a figura de Cristo, que, no exercício da sua missão de dar a conhecer o Pai, atende com solicitude os que se aproximam dEle e chega a lavar os pés dos discípulos, deve ser um estímulo poderoso para não apenas nos contentarmos com trabalhar honradamente e bem, mas para vermos sempre o lado humano das pessoas a quem estamos ligados por vínculos profissionais. Quantas vezes não tendemos a encarar os que trabalham às nossas ordens como simples peças de uma engrenagem?

A vida familiar é outro lugar excelente para manifestar-mos o espírito de serviço num sem-fim de detalhes que ajudam imperceptivelmente a fomentar um convívio grato e amável, em que Cristo está presente. Não é verdade que, quando se ausenta um membro da família que vive esse espírito sem chamar a atenção, se nota um vazio de alegria, de expansão, de bom humor?

Esses pequenos serviços em que procuramos adivinhar os desejos dos outros e dar-lhes pequenas alegrias são, além do mais, um meio de nós mesmos não cairmos no aburguesamento e de crescermos na vida de união com Deus, que vê o que se passa em segredo. Daí a felicidade de quem procura fazer felizes os outros. O segredo da nossa própria felicidade tem uma única condição: que nunca a procuremos, isto é, que a procuremos para os outros, esquecendo-nos de nós mesmos, com humildade de coração e delicadeza humana.

— Servir com alegria sendo competentes na nossa profissão.

NÃO PODEMOS IMAGINAR o Senhor de cara fechada, queixumento, quando as multidões o buscam ou enquanto lava os pés dos discípulos. Ele serve com alegria, amavelmente, em tom divinamente cordial.

Assim devemos nós fazer ao cumprirmos os nossos de-veres e no nosso relacionamento: Servi o Senhor com alegria 8, diz-nos o Espírito Santo pela boca do Salmista. O Senhor promete a alegria, a felicidade, a quem serve; depois de lavar os pés dos discípulos, afirma: Se aprendestes isto, sereis felizes se o praticardes9.

Talvez seja esta a primeira qualidade de um coração que, tendo-se dado a Deus, procura continuamente ocasiões - às vezes, muito pequenas - de se dar aos outros. Aquilo que entregamos com um sorriso é como se adquirisse um valor novo e se apreciasse em dobro. E sempre que se apresenta a oportunidade ou o dever de prestarmos um serviço em si desagradável e incômodo, devemos pedir com as palavras daquele universitário que assistia os doentes de um hospital e que um dia, ao ter de lavar um vaso sanitário bastante repugnante, dizia baixinho: "Jesus, que eu faça boa cara que o enriquece. E, em qualquer caso, recordemos que Cristo é "bom pagador" e que, quando o imitamos, Ele tem em conta o menor gesto, o menor auxílio que tenhamos prestado. Sentimo-nos bem pagos com o seu olhar.

Examinemos hoje se temos e manifestamos uma clara disposição de serviço no exercício da nossa profissão, se realmente servimos a sociedade através dela - não remota e indiretamente, coisa que pode esconder muitas artimanhas do egoísmo e da vaidade, mas de modo imediato, sem segundas intenções. De maneira particular, este espírito deve pôr-se de manifesto nas situações em que se exerce um cargo de responsabilidade, de autoridade ou de formação.

Vejamos ainda se procuramos evitar habitualmente que os outros nos prestem serviços não estritamente necessários ao desempenho do nosso cargo e que nós mesmos poderíamos realizar. Devemos ter uma atitude muito diferente da daqueles que se valem da sua autoridade, prestígio ou idade para pedir ou, ainda pior, para exigir que os sirvam, que os rodeiem de atenções e facilidades que seriam intoleráveis mesmo do ponto de vista humano.

Recorremos a São José, servo fiel e prudente, que sempre esteve disposto a sustentar a Sagrada Família à custa de inúmeros sacrifícios e que prestou tantas ajudas a Jesus e a Maria. Pedimos-lhe que nos ensine a servir sem pretender recompensa alguma de prestígio ou de vantagens pessoais, como o Santo Patriarca não os teve: nem mesmo chegou a ver os frutos da sua dedicação, já que não se fala mais nele a partir do começo da vida pública de Jesus. A sua recompensa visível foi o sorriso de que o rodearam, até à morte, Jesus e Maria. E, no fim, o abraço de Deus Pai.

(1) Mc 10. 32-42; (2) cfr. Jo 15. 13; (3) 1 Pe 5 1-13; (4) cfr. 1 Cor 9, 19; (5) João Paulo II. Ene. Redemptor hommis, f;1»" 979- 21- (õ) J° 13, 4-5; (7) Josemaría Escrivá. Amigos de Deus, n. 103; (8) 81 yy, t, w Jo 13, 17; (10) cfr. Josemaría Escrivá,  Caminho, n. 626.

Fonte: livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal.

30 de Maio 2018

A SANTA MISSA

8ª Semana do Tempo Comum – Quarta-feira
Cor: verde

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1ª Leitura: 1Pd 1,18-25

 “Sabeis que fostes resgatados pelo precioso sangue de Cristo,
como de um cordeiro sem mancha nem defeito.”

Leitura da Primeira Carta de São Pedro

Caríssimos: 18 Sabeis que fostes resgatados da vida fútil herdada de vossos pais, não por meio de coisas perecíveis, como a prata ou o ouro, 19 mas pelo precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro sem mancha nem defeito. 20 Antes da criação do mundo, ele foi destinado para isso, e neste final dos tempos, ele apareceu, por amor de vós. 21 Por ele é que alcançastes a fé em Deus. Deus o ressuscitou dos mortos e lhe deu a glória, e assim, a vossa fé e esperança estão em Deus. 22 Pela obediência à verdade, purificastes as vossas almas, para praticar um amor fraterno sem fingimento. Amai-vos, pois, uns aos outros, de coração e com ardor. 23 Nascestes de novo, não de uma semente corruptível, mas incorruptível, mediante a palavra de Deus, viva e permanente. 24 Com efeito, ‘toda carne é como erva, e toda a sua glória como a flor da erva; secou-se a erva, cai a sua flor. 25 Mas a palavra do Senhor permanece para sempre.’ Ora, esta palavra é a que vos foi anunciada no Evangelho.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 147,12-13. 14-15. 19-20 (R. 12a)

R. Glorifica o Senhor, Jerusalém!

 Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia.

12 Glorifica o Senhor, Jerusalém!*
O Sião, canta louvores ao teu Deus!
13 Pois reforçou com segurança as tuas portas,*
e os teus filhos em teu seio abençoou.     R.

 

14a paz em teus limites garantiu*
e te dá como alimento a flor do trigo.
15 Ele envia suas ordens para a terra,*
e a palavra que ele diz corre veloz.     R.

 

19 Anuncia a Jacó sua palavra,*
seus preceitos suas leis a Israel.
20 Nenhum povo recebeu tanto carinho,*
a nenhum outro revelou os seus preceitos.    R.

Evangelho: Mc 10,32-45

 “Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem vai ser entregue.”

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo: 32 Os discípulos estavam a caminho subindo para Jerusalém. Jesus ia na frente. Os discípulos estavam espantados, e aqueles que iam atrás estavam com medo. Jesus chamou de novo os Doze à parte e começou a dizer-lhes o que estava para acontecer com ele: 33 ‘Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o Filho do Homem vai ser entregue aos sumos sacerdotes e aos doutores da Lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos pagãos. 34 Vão zombar dele, cuspir nele, vão torturá-lo e matá-lo. E depois de três dias ele ressuscitará.’ 35 Tiago e João, filhos de Zebedeu, foram a Jesus e lhe disseram: ‘Mestre, queremos que faças por nós o que vamos pedir.’ 36 Ele perguntou: ‘O que quereis que eu vos faça?’ 37 Eles responderam: ‘Deixa-nos sentar um à tua direita e outro à tua esquerda, quando estiveres na tua glória!’ 38Jesus então lhes disse: ‘Vós não sabeis o que pedis.Por acaso podeis beber o cálice que eu vou beber? Podeis ser batizados com o batismo com que vou ser batizado?’ 39 Jesus então lhes disse: Eles responderam: ‘Podemos.’ E ele lhes disse: ‘Vós bebereis o cálice que eu devo beber, e sereis batizados com o batismo com que eu devo ser batizado. 40 Mas não depende de mim conceder o lugar à minha direita ou à minha esquerda. É para aqueles a quem foi reservado’. 41 Quando os outros dez discípulos ouviram isso, indignaram-se com Tiago e João. 42 Jesus os chamou e disse: ‘Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. 43 Mas, entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; 44 e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. 45 Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida como resgate para muitos.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!

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29 de maio 2018

A SANTA MISSA

8ª Semana do Tempo Comum – Terça-feira
Cor: verde

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1ª Leitura: 1Pd 1,10-16

“Eles profetizaram a respeito da graça que vos estava destinada.
Por isso, sede sóbrios e tende perfeita esperança.”

Leitura da Primeira Carta de São Pedro

Caríssimos: 10 Esta salvação tem sido objeto das investigações e meditações dos profetas. Eles profetizaram a respeito da graça que vos estava destinada. 11 Procuraram saber a que época e a que circunstâncias se referia o Espírito de Cristo, que estava neles, ao anunciar com antecedência os sofrimentos de Cristo e a glória conseqüente. 12 Foi-lhes revelado que, não para si mesmos, mas para vós, estavam ministrando estas coisas, que agora são anunciadas a vós por aqueles que vos pregam o evangelho em virtude do Espírito Santo, enviado do céu; revelações essas, que até os anjos desejam contemplar! 13 Por isso, aprontai a vossa mente; sede sóbrios e colocai toda a vossa esperança na graça que vos será oferecida na revelação de Jesus Cristo. 14 Como filhos obedientes, não modeleis a vossa vida de acordo com as paixões de antigamente, do tempo da vossa ignorância. 15 Antes, como é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos, também vós, em todo o vosso proceder. 16 Pois está na Escritura: ‘Sede santos, porque eu sou santo’.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 97, 1. 2-3ab. 3c-4 (R. 2a)

R. O Senhor fez conhecer seu poder salvador, perante as nações.

1 Cantai ao Senhor Deus um canto novo,*
porque ele fez prodígios!
Sua mão e o seu braço forte e santo*
alcançaram-lhe a vitória.      R.

2 O Senhor fez conhecer a salvação,*
e às nações, sua justiça;
3a recordou o seu amor sempre fiel*
3b pela casa de Israel.    R.

 3c os confins do universo contemplaram*
3d a salvação do nosso Deus.
4 Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira,*
alegrai-vos e exultai!     R.

Evangelho: Mc 10,28-31

 “Receberá cem vezes mais agora, durante esta vida
com perseguições e, no mundo futuro, a vida eterna.”

 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo: 28 Começou Pedro a dizer a Jesus: ‘Eis que nós deixamos tudo e te seguimos.’ 29 Respondeu Jesus: ‘Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30 receberá cem vezes mais agora, durante esta vida – casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições – e, no mundo futuro, a vida eterna. 31 Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que agora são os últimos serão os primeiros.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!

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Generosidade e desprendimento

Tempo Comum. Oitava Semana. Terça-feira

— Necessidade de um desprendimento efetivo dos bens materiais para seguir a Cristo.

DEPOIS DO ENCONTRO com o jovem rico que considerávamos ontem, Jesus e os seus discípulos empreenderam novamente o caminho para Jerusalém. Havia ficado gravada em todos a triste despedida daquele adolescente que estava muito apegado às suas posses, bem como as palavras fortes de Jesus Cristo dirigidas aos que não são capazes de segui-lo - não o querem - por causa de um amor desordenado aos bens da terra. Agora, já a caminho, provavelmente para quebrar o silêncio provocado pela cena anterior, Pedro diz a Jesus: Eis que nós deixamos tudo e te seguimos1. São Mateus refere claramente o sentido das palavras do Apóstolo: Que recompensa teremos?2 Que vamos lucrar?

Santo Agostinho, comentando esta passagem do Evangelho da Missa de hoje, interpela-nos com estas palavras: "Eu te pergunto, alma cristã. Se te fosse dito o mesmo que àquele rico: Vai e vende tu também todas as coisas e terás um tesouro no céu, e depois vem e segue a Cristo, ir-te-ias embora triste como ele?" 3

Nós, tal como os Apóstolos, deixamos o que o Senhor nos foi pedindo, cada um segundo a sua vocação, e temos o firme desejo de desfazer qualquer laço que nos impeça de correr para Cristo e segui-lo. Podemos renovar hoje o propósito de ter o Senhor como centro da nossa vida, mediante um desprendimento efetivo daquilo que temos e usamos, para Que Possamos dizer com São Paulo: Tenho tudo por lixo, contanto que ganhe o amor de Cristo4. Certamente, "quem reconheceu as riquezas de Cristo Nosso Senhor desprezará todas as coisas por causa delas. Dinheiro, riqueza, poder, tornam-se lixo aos seus olhos. Nada pode haver que se lhes compare"5. Nenhuma coisa tem valor quando comparada com Cristo.

Nenhuma coisa tem valor quando comparada com Cristo.

Eis que nós deixamos tudo... "Que deixaste, Pedro? Uma pobre barca e uma rede. Ele, no entanto, poderia responder-me: Deixei o mundo inteiro, já que não reservei nada para mim"6, tal como nós desejamos fazer. Temos considerado repetidas vezes - porque é um ponto essencial para seguir a Cristo - que o Senhor exige a virtude da pobreza a todos os seus discípulos, de qualquer tempo e em qualquer situação em que se encontrem na vida. Ora bem, isto significa que temos de chegar a uma austeridade real e efetiva na posse e no uso dos bens materiais, plenamente conscientes de que não podemos alcançá-la sem "muita generosidade, inumeráveis sacrifícios e um esforço incansável" 7, como diz Paulo VI.

Devemos, pois, verificar agora se caminhamos passo a passo por essa senda árdua, de modo a podermos dizer não só que amamos a pobreza, mas que estamos aprendendo a vivê-la no dia a dia, em todas as suas dimensões. Mais uma vez hão de aflorar à nossa consciência tantos pormenores que caracterizam uma vida sinceramente desprendida dos bens materiais: se cortamos com os caprichos; se não invocamos pretextos de posição social ou profissional para ser perdulários ou de qualquer modo fazer ostentação de riqueza; se instalamos o nosso lar com bom gosto, sim, com coisas duráveis, sim, mas sobriamente; se sabemos educar os filhos na austeridade, sem que lhes falte o necessário, mas sem habituá-los a todas as comodidades, a todos os aparelhos sofisticados, a todas as formas de lazer que os amolecem e lhes comprometem a personalidade e a formação cristã, pois nesse caso teremos banido das suas vidas a palavra sacrifício... E assim por diante. Não o esqueçamos: "Muitos se sentem infelizes, precisamente por terem demasiado de tudo"8.

— Jesus é infinitamente generoso na sua recompensa para com aqueles que o seguem.

EIS QUE NÓS DEIXAMOS TUDO... Ao correspondermos com uma generosidade renovada às exigências da vocação cristã, quantas vezes não teremos experimentado que o desprendimento efetivo dos bens materiais traz consigo a libertação de um peso considerável! Somos como o soldado que se desfaz da sua mochila ao entrar em combate para ter os movimentos mais livres.

Assim saboreamos um perfeito domínio sobre as coisas; já não somos escravos delas e sentimos a verdade das palavras de São Paulo: Estamos no mundo como quem nada tem, mas possuímos tudo 9. O coração do cristão, livre do egoísmo, abre-se à caridade e com ela possui tudo: Tudo é vosso, mas vós sois de Cristo e Cristo de Deus 10.l-

Pedro recorda a Jesus que, de maneira bem diferente da daquele jovem, eles deixaram tudo por Ele. Não olha para trás, mas parece ter necessidade, em nome de todos, de umas palavras do Mestre que lhes reafirmem que ganharam com a troca, que vale a pena estarem junto dEle, ainda que não tenham nada. O Apóstolo mostra-se muito humano, mas a sua pergunta manifesta ao mesmo tempo a confiança que o une ao Senhor.

Jesus enternece-se diante daqueles homens que, apesar dos seus defeitos, o seguem fielmente: Em verdade vos digo: não há ninguém que, tendo deixado casa, irmãos ou irmãs, mãe ou pai, filhos ou campos por amor de mim e do Evangelho, não receba já nesta vida cem vezes mais em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, no meio de perseguições; e, no século futuro, a vida eterna...

"Vê lá se encontras na terra quem pague com tanta generosidade!"11 Jesus não fica atrás. Nem um copo de água fresca dado em atenção a Cristo ficará sem recompensa 12.

Sejamos sinceros e perguntemo-nos: posso afirmar diante de Deus que deixei tudo?

Se for assim, Jesus não deixará de nos confirmar no caminho a que nos chamou. Quem leva em conta até a mais pequena das ações, como há de esquecer a fidelidade de um dia após outro por puro amor? Quem multiplicou pães e peixes para uma multidão que o seguia por uns dias, que não fará por aqueles que deixaram tudo para segui-lo sempre? "Se prepara uma festa para o filho que o traiu, só por tê-lo

recuperado, o que não nos outorgará a nós, se sempre procuramos ficar a seu lado?" 13

As palavras de Cristo deram segurança àqueles que o acompanhavam naquele dia a caminho de Jerusalém, bem como a todos os que, ao longo dos séculos, tendo deixado tudo para segui-lo, buscam no seu ensinamento a firmeza da fé e da entrega. A promessa de Cristo ultrapassa de longe toda a felicidade que o mundo pode dar. Ele nos quer felizes também aqui na terra: os que o seguem com generosidade obtêm já nesta vida uma alegria e uma paz que superam amplamente as alegrias e os consolos humanos. E a essa alegria e paz soma-se a bem-aventurança eterna. "São duas horas de vida, e o prêmio é grandíssimo; e ainda que não houvesse nenhum, a não ser cumprir o que o Senhor nos aconselhou, é grande paga podermos imitar Sua Majestade em alguma coisa" 14.

– Sempre vale a pena seguir a Cristo. O cento por um aqui na terra e a vida eterna junto de Deus no Céu.

"VÓS ASSEGURAIS, Senhor, aos homens e aos animais a saúde, em proporção com a imensa extensão da vossa misericordiosa bondade, diz o salmista (SI 35, 7). Se Deus concede a todos, bons e maus, homens e animais, um dom tão precioso, meus irmãos, o que não reservará àqueles que lhe são fiéis?” 15

Vale a pena que nos empenhemos em seguir o Senhor, em ser-lhe fiéis a todo o momento, em ser generosos sem medida. Ele nos diz através de São João Crisóstomo: "O ouro que pensas emprestar, dá-me a mim e eu te pagarei com mais juros e com mais garantias. O corpo que pensas alistar no exército de outro, alista-o no meu, porque eu supero a todos no pagamento e na retribuição [...]. O seu amor é grande. Se desejas emprestar-lhe, Ele está disposto a receber. Se queres semear, Ele te vende a semente; se queres construir, Ele te diz: edifica nos meus terrenos. Por que corres atrás das coisas dos homens, que são pobres mendigos e nada podem? Corre atrás de Deus, que, em troca de coisas Pequenas, te dá outras grandes" 16.

Não devemos esquecer que, às recompensas, o Senhor acrescenta as perseguições, porque estas também são um Prêmio para os discípulos de Cristo; a glória do cristão é assemelhar-se ao seu Mestre, tomando parte na sua Cruz para participar com Ele da sua glória 17. Se essas perseguições nos atingem nalguma das suas diversas formas (injustiças, calúnias, manobras baixas na vida profissional, zombadas... Devemos entender que podemos convertê-las num bem, nu. ma parte do prêmio, pois o Senhor permite que participemos da sua Cruz e nos unamos mais a Ele.

Quem é fiel a Cristo tem a promessa do Céu para sempre. Ouvirá a voz do Senhor, a quem procurou servir aqui na terra, que lhe diz: Vem, bem-amado de meu Pai, ao Céu que te preparei desde a criação do mundo 18. Ouvir estas palavras de boas-vindas no limiar da eternidade já compensa' tudo aquilo que tivermos deixado de lado para seguir melhor a Cristo, ou o pouco que tivermos padecido por Ele. Entra-se na eternidade levado por Jesus.

E mesmo que alguma vez, embora sigamos a Cristo por amor, tudo nos pareça custar um pouco mais, far-nos-á muito bem repetir alguma jaculatória que nos ajude a pensar no prêmio: Vale a pena! Vale a pena! Vale a pena! A esperança fortalece-se e o caminhar torna-se seguro.

Não sentiremos falta de nada se tivermos Jesus Cristo. Conta-se da vida de São Tomás de Aquino que um dia o Senhor lhe disse: "Escreveste bem sobre mim, Tomás. Que recompensa desejas?" O Santo respondeu: "Nada senão Vós mesmo, Senhor". Nós também não queremos outra coisa.

Pedimos agora a Santa Maria que nos obtenha disposições firmes de desprendimento e generosidade, para que, tal como Ela, propaguemos à nossa volta um clima alegre de amor à pobreza cristã.

(1) Mc 10, 28-31; (2) Mt 19, 27; (3) Santo Agostinho, Sermão 301 A* 5; (4) Fil 3, 8; (5) Catecismo Romano, IV, 11, n. 15; (6) Santo Agostinho, op. cit., 4; (7) Paulo VI, Ene. Populorum progressio, 26-111-67; (8) Jose-maría Escrivá, Sulco, n. 82; (9) 2 Cor 6, 10; (10) 1 Cor 3, 22-23; (11) cfr. Josemaría Escrivá, Caminho, n. 670; (12) cfr. Mt 10, 42; (13) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 309; (14) Santa Teresa, Caminho de perfeição, 2, 7; (15) Santo Agostinho, Sermão 225; (16) São João Crisóstomo, Homílias sobre São Mateus, 16, 4; (17) Rom 8, 17; (18) cfr. Mt 25,  34.

Fonte: livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal.


O jovem rico

Tempo comum. Oitava semana. Segunda-feira

– Deus nos chama a todos. Necessidade do desprendimento para seguir a Cristo.

O EVANGELHO DA MISSA de hoje 1 diz-nos que Jesus saía de uma cidade a caminho de outro lugar, quando um jovem veio correndo e se deteve diante dEle. Os três Evangelistas que nos relatam o episódio contam-nos que era de boa posição social.

Ajoelhou-se aos pés de Cristo e fez uma pergunta fundamental para todos os homens: Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna? Jesus está de pé, rodeado dos seus discípulos, que contemplam a cena; o jovem, de joelhos. É um diálogo aberto, em que o Senhor começa por dar uma resposta em termos gerais: Guarda os mandamentos. E enumera-os: Não matarás, não adulterarás, não furtarás... O jovem responde: Mestre, tudo isso tenho guardado desde a minha infância... Que me falta ainda? 2

É a pergunta que todos nós fizemos alguma vez, perante o desencanto íntimo das coisas que, sendo boas, não acabavam de satisfazer-nos o coração, e perante a vida que ia passando sem apagar essa sede oculta que não é saciada. E Cristo tem uma resposta pessoal para cada um, a única resposta válida.

Jesus sabia que no coração daquele jovem havia um fundo de generosidade, uma grande capacidade de entrega. Por isso olhou-o comprazido, com amor de predileção, e convidou-o a segui-lo sem nenhuma condição, sem laços que o retivessem. Olhou-o fixamente, como só Cristo sabe olhar, até o mais fundo da alma.

“Ele fita com amor cada um dos homens. O Evangelho confirma-o a cada passo. Pode-se até dizer que nesse «olhar amoroso» de Cristo está contido como que o resumo e a síntese de toda a Boa Nova [...]. O homem necessita desse «olhar amoroso»; é-lhe necessária a consciência de ser amado, de ser amado eternamente e escolhido desde toda a eternidade (cfr. Ef 1, 4)” 3. O Senhor, agora e sempre, vê-nos assim, com um profundo amor de predileção.

O Mestre, com uma voz que devia ter tido um acento muito particular, disse-lhe: Uma coisa te falta ainda. Só uma. Com que ansiedade o jovem não estaria aguardando a resposta do Mestre! Era, sem dúvida, a coisa mais importante que ia ouvir em toda a sua vida. Vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres... E depois vem e segue-me. Era um convite para que se entregasse inteiramente ao Senhor.

Deus chama a todos: sãos e enfermos; pessoas com grandes qualidades ou de capacidade modesta; os que possuem riquezas e os que passam por dificuldades; os jovens, os anciãos e os de idade madura. Cada homem, cada mulher, deve descobrir o caminho peculiar a que Deus o chama. Mas, seja qual for esse caminho, chama todos à santidade, à generosidade, ao desprendimento, à entrega; diz a todos no seu interior: Vem e segue-me.

Aquele jovem vê de repente a sua vocação: a chamada para uma entrega plena. O seu encontro com Jesus descobre-lhe o sentido e a tarefa fundamental da sua vida. Mas descobre-lhe ao mesmo tempo até onde chegava a sua verdadeira disponibilidade. Até aquele momento, julgava cumprir a vontade de Deus porque cumpria os mandamentos da Lei. Quando Cristo lhe desvenda o panorama de uma entrega completa, percebe quanto apego tem às suas coisas e como é pequeno o seu amor à vontade de Deus. Hoje, essa cena continua a repetir-se.

“Dizes, desse teu amigo, que freqüenta os Sacramentos, que é de vida limpa e bom estudante, mas que não «entrosa»; se lhe falas em sacrifício e apostolado, fica triste e vai-se embora. “Não te preocupes. Não é um malogro do teu zelo; é, à letra, a cena que narra o Evangelista: «Se queres ser perfeito, vai e vende tudo o que tens e dá-o aos pobres» (sacrifício)... «e vem depois e segue-me» (apostolado). “O adolescente «abiit tristis» – também se retirou entristecido; não quis corresponder à graça”4.

Foi-se cheio de tristeza, porque a alegria só é possível quando há generosidade e desprendimento, quando há essa disponibilidade absoluta diante do querer de Deus que se manifesta em momentos bem precisos da nossa vida e, depois, na fidelidade ao longo dos dias e dos anos.

Digamos hoje ao Senhor que nos ajude com a sua graça para que, a cada momento, possa contar efetivamente conosco para o que queira: livres de objeções e de laços que nos prendam. “Senhor, não tenho outro fim na vida a não ser buscar-vos, amar-vos e servir-vos... Todos os outros objetivos da minha vida se orientam para isso. Não quero nada que me separe de Vós”, dizemos-lhe neste diálogo.

– A resposta à vocação pessoal.

“A TRISTEZA DESTE JOVEM leva-nos a refletir, comenta São João Paulo II. Podemos ser tentados a pensar que possuir muitas coisas, muitos bens deste mundo, pode fazer-nos felizes. Vemos, no entanto, no caso do jovem do Evangelho, que as riquezas se tornaram um obstáculo para aceitar a chamada de Jesus que o convidava a segui-lo. Não estava disposto a dizer “sim” a Jesus e “não” a si mesmo, a dizer “sim” ao amor e “não” à fuga! O amor verdadeiro é exigente [...]. Porque foi Jesus – o próprio Jesus – quem disse: Vós sereis meus amigos se fizerdes o que eu vos mando (Jo 15, 14). O amor exige esforço e compromisso pessoal para cumprir a vontade de Deus. Significa sacrifício e disciplina, mas significa também alegria e realização humana [...]. Com a ajuda de Cristo e através da oração, podereis corresponder à sua chamada [...]. Abri os vossos corações a este Cristo do Evangelho, ao seu amor, à sua verdade, à sua alegria. Não vos vades embora tristes!” 5

A chamada do Senhor que nos convida a segui-lo de perto exige uma atitude de resposta contínua, porque Ele, nas suas diferentes chamadas, pede uma correspondência dócil e generosa ao longo da vida. Por isso, devemos situar-nos com freqüência diante de Deus – cara a cara, sem anonimato – e perguntar-lhe como o jovem do Evangelho: Que me falta? Que exigências tem hoje a minha vocação de cristão nas minhas circunstâncias? Que caminho o Senhor quer que eu siga?

Sejamos sinceros: quem tem autêntico desejo de saber qual o caminho de Deus para si, esse acaba por conhecê-lo claramente. “O cristão vai descobrindo assim, no meio da sua vida corrente, como a sua vocação se deve ir realizando através de um entrançado cotidiano de chamadas e sugestões divinas [...], de instantes significativos, de «vocações» concretas para que realize, por amor ao seu Senhor, pequenas ou grandes tarefas no mundo dos homens. E é no meio desse diálogo contínuo com o Senhor, feito de constantes fidelidades, que pode por fim escutar essa voz divina que o convida a tomar uma decisão definitiva, radical [...]. A palavra de Deus pode chegar-lhe com o furacão ou com a brisa (1 Re 19, 22)”6. Mas, para segui-la, deve estar desprendido de qualquer liame; só Cristo é que importa. Todo o resto, nEle e por Ele.

– Pobreza e desprendimento na nossa vida diária.

AQUELE JOVEM LEVANTOU-SE, esquivou-se ao olhar de Jesus e ao seu convite para uma profunda vida de amor, e foi-se embora com a tristeza estampada no rosto. “Intuímos que a negativa daquele momento foi definitiva” 7. O Senhor viu com pena como o seu jovem interlocutor se afastava; e o Espírito Santo revela-nos o motivo da sua recusa: tinha muitos bens e estava muito apegado a eles.

Depois do incidente, a comitiva empreendeu a caminhada. Mas antes, ou talvez enquanto davam os primeiros passos, Jesus, olhando à sua volta, disse aos seus discípulos: Que dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Todos ficaram impressionados com as suas palavras. E o Senhor repetiu com mais força: Mais fácil é a um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que a um rico entrar no reino de Deus.

Devemos considerar com atenção o ensinamento de Jesus e aplicá-lo à nossa vida: não se pode conciliar o amor a Deus – esse segui-lo de perto – com o apego aos bens materiais: num mesmo coração, não pode haver lugar para esses dois amores juntos. O homem pode orientar a sua vida propondo-se Deus como fim, e alcançá-lo também, com a ajuda da graça, através das coisas materiais, usando-as apenas como meios que são e na justa medida em que o forem; ou infelizmente pode pôr nas riquezas a esperança da sua plenitude e felicidade: desejo desmedido de bens, de luxo, de comodismo, ambição, cobiça...

Temos hoje uma boa ocasião para nos examinarmos valentemente, na intimidade da nossa oração, sobre a mola que realmente comanda a nossa atuação, isto é, sobre o lugar em que pára o nosso coração: se nos propusemos seriamente viver desprendidos dos bens da terra ou se tudo nos parece pouco e queremos acumular indefinidamente; se temos uma preocupação obsessiva com o futuro, amealhando como se fôssemos viver para sempre na terra ou como se, no caso dos pais, os filhos devessem receber tudo deles e nunca ter que trabalhar; se somos sóbrios nas necessidades pessoais ou familiares, evitando os gastos supérfluos, os extraordinários descontrolados, as necessidades falsas das quais poderíamos prescindir com um pouco de boa vontade; se cuidamos com esmero das coisas da nossa casa e dos bens que usamos; se atuamos com a consciência clara de sermos apenas administradores dos nossos recursos e devermos prestar contas deles ao seu verdadeiro Dono, Deus Nosso Senhor; se aceitamos com alegria as incomodidades e a falta de meios; se somos generosos na esmola aos mais carentes e na manutenção de obras sociais ou de formação cristã, privando-nos de coisas que gostaríamos de ter... Só assim viveremos com a alegria e a liberdade necessárias para sermos discípulos do Senhor no meio do mundo.

Seguir Cristo de perto é o nosso ideal supremo; não queremos retirar-nos da sua presença como aquele jovem, com a alma impregnada de profunda tristeza por não termos sabido desprender-nos de uns bens de pouco valor, em comparação com a imensa riqueza de Jesus.

(1) Mc 10, 17-27; (2) Mt 19, 20; (3) João Paulo II, Carta aos jovens, 31-III-1985, n. 7; (4) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 807; (5) João Paulo II, Homilia no Boston Common, 1-X-1979; (6) P. Rodriguez, Fé e vida de fé, págs. 82-83; (7) R. A. Knox, Deus e eu, Quadrante, São Paulo, pág. 163.


28 de Maio 2018

A SANTA MISSA

8ª Semana do Tempo Comum – Segunda-feira
Cor:
verde

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1ª Leitura: 1Pd 1,3-9

 “Pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
ele nos fez nascer de novo para uma esperança viva.”

Leitura da Primeira Carta de São Pedro

 3 Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Em sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, ele nos fez nascer de novo, para uma esperança viva, 4 para uma herança incorruptível, que não se mancha nem murcha, e que é reservada para vós nos céus. 5 graças à fé, e pelo poder de Deus, vós fostes guardados para a salvação que deve manifestar-se nos últimos tempos. 6 isto é motivo de alegria para vós, embora seja necessário que agora fiqueis por algum tempo aflitos, por causa de várias provações. 7 deste modo, a vossa fé será provada como sendo verdadeira – mais preciosa que o ouro perecível, que é provado no fogo – e alcançará louvor, honra e glória no dia da manifestação de Jesus Cristo. 8 sem ter visto o Senhor, vós o amais. Sem o ver ainda, nele acreditais. Isso será para vós fonte de alegria indizível e gloriosa, 9 pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 110,1-2. 5-6. 9.10c (R. 5b)

R. O Senhor se lembra sempre da Aliança!

 Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia

1 Eu agradeço a Deus de todo o coração *
junto com todos os seus justos reunidos!
2 Que grandiosas são as obras do Senhor, *
Elas merecem todo o amor e admiração!     R.

5 Ele dá o alimento aos que o temem *
e jamais esquecerá sua Aliança.
6 Ao seu povo manifesta seu poder, *
dando a ele a herança das nações.     R.

9 Enviou libertação para o seu povo, +
confirmou sua Aliança para sempre. *
Seu nome é santo e é digno de respeito.
10c Permaneça eternamente o seu louvor.      R.

Evangelho: Mc 10, 17-27

 “Vende tudo o que tens e segue-me!”

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo: 17 Quando Jesus saiu a caminhar, veio alguém correndo, ajoelhou-se diante dele, e perguntou: ‘Bom Mestre, que devo fazer para ganhar a vida eterna?’ 18 Jesus disse: ‘Por que me chamas de bom?’ Só Deus é bom, e mais ninguém. 19 Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe!’ 20 Ele respondeu: ‘Mestre, tudo isso tenho observado desde a minha juventude.’ 21 Jesus olhou para ele com amor, e disse: ‘Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!’ 22 Mas quando ele ouviu isso, ficou abatido e foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico. 23 Jesus então olhou ao redor e disse aos discípulos: ‘Como é difícil para os ricos entrar no Reino de Deus!’ 24 Os discípulos se admiravam com estas palavras, mas ele disse de novo: ‘Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25 É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!’ 26 Eles ficaram muito espantados ao ouvirem isso, e perguntavam uns aos outros: ‘Então, quem pode ser salvo?’ 27 Jesus olhou para eles e disse: ‘Para os homens isso é impossível, mas não para Deus. Para Deus tudo é possível.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!

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27 de Maio 2018

A SANTA MISSA

Solenidade da Santíssima Trindade – Ano B
Cor: branca

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1ª Leitura: Dt 4, 32-34.39-40

 “O Senhor é Deus, no alto dos céus e cá em baixo na terra,
e não há outro.”

Leitura do Livro do Deuteronômio

Moisés falou ao povo, dizendo: 32 “Interroga os tempos antigos que te precederam, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra, e investiga, de um extremo ao outro dos céus, se houve jamais um acontecimento tão grande ou se ouviu algo semelhante. 33 Existe, porventura, algum povo que tenha ouvido a voz de Deus falando-lhe do meio do fogo, como tu ouviste, e tenha permanecido vivo? 34 Ou terá jamais algum Deus vindo escolher para si um povo entre as nações, por meio de provações, de sinais e prodígios, por meio de combates, com mão forte e braço estendido, e por meio de grandes terrores, como tudo o que por ti o Senhor vosso Deus fez no Egito, diante de teus próprios olhos? 39 Reconhece, pois, hoje, e grava-o em teu coração, que o Senhor é o Deus lá em cima no céu e cá embaixo na terra, e que não há outro além dele. 40 Guarda suas leis e seus mandamentos, que hoje te prescrevo, para que sejas feliz, tu e teus filhos depois de ti, e vivas longos dias sobre a terra que o Senhor teu Deus te vai dar para sempre”.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 32(33), 4-5.6.9.18.19.20.22(R. 12b)

R. Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança.

4Reta é a palavra do Senhor,*
e tudo o que ele faz merece fé.
5 Deus ama o direito e a justiça,*
transborda em toda a terra a sua graça.    R.

6 A palavra do Senhor criou os céus,*
e o sopro de seus lábios, as estrelas.
9 Ele falou e toda a terra foi criada,*
ele ordenou e as coisas todas existiram.    R.

18 Mas o Senhor pousa o olhar sobre os que o temem,*
e que confiam esperando em seu amor,
19 para da morte libertar as suas vidas *
e alimentá-los quando é tempo de penúria.   R.

20 No Senhor nós esperamos confiantes,*
porque ele é nosso auxílio e proteção!
22 Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,*
da mesma forma que em vós nós esperamos!    R.

2ª Leitura: Rm 8, 14-17

 “Recebestes o Espírito de adopção filial,
pelo qual exclamamos: ‘Abá, Pai’.”

Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos:

Irmãos: 14 Todos aqueles que se deixam conduzir pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. 15 De fato, vós não recebestes um espírito de escravos, para recairdes no medo, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, no qual todos nós clamamos: Abá, ó Pai!  16 O próprio Espírito se une ao nosso espírito para nos atestar que somos filhos de Deus.  17 E, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo; se realmente sofremos com ele, é para sermos também glorificados com ele.

– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.

Evangelho: Mt 28, 16-20

 “Batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.”

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, 16 os onze discípulos foram para a Galileia, ao monte que Jesus lhes tinha indicado. 17 Quando viram Jesus, prostraram-se diante dele. Ainda assim alguns duvidaram. 18 Então Jesus aproximou-se e falou: “Toda a autoridade me foi dada no céu e sobre a terra. 19 Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, 20 e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo”.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!

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26 de Maio 2018

A SANTA MISSA

7ª Semana do Tempo Comum – Sábado
Memória: São Filipe Néri, presbítero
Cor: branca

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1ª Leitura: Tg 5, 13-20

 “A oração fervorosa do justo tem grande poder.”

Leitura da Carta de São Tiago

Caríssimos: 13 Se alguém dentre vós está sofrendo, recorra à oração. Se alguém está alegre, entoe hinos. 14 Se alguém dentre vós estiver doente, mande chamar os presbíteros da Igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. 15 A oração feita com fé salvará o doente e o Senhor o levantará. E se tiver cometido pecados, receberá o perdão. 16 Confessai, pois, uns aos outros, os vossos pecados e orai uns pelos outros para alcançar a saúde. A oração fervorosa do justo tem grande poder. 17 Assim Elias, que era um homem semelhante a nós, orou com insistência para que não chovesse, e não houve chuva na terra durante três anos e seis meses. 18 Em seguida tornou a orar, e o céu deu a chuva e a terra voltou a produzir o seu fruto. 19 Meus irmãos, se alguém de vós se desviar da verdade e um outro o reconduzir, 20 saiba este que aquele que reconduz um pecador desencaminhado salvará da morte a alma dele e cobrirá uma multidão de pecados.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 140 (141), 1-2.3 e 8(R. cf. 2a)

R. Minha oração suba a vós como incenso!

1 Senhor, eu clamo por vós, socorrei-me; *
quando eu grito, escutai minha voz!
2 Minha oração suba a vós como incenso, *
e minhas mãos, como oferta da tarde!    R.

3 Ponde uma guarda em minha boca, Senhor, *
e vigias às portas dos lábios!
8 A vós, Senhor, se dirigem meus olhos, *
em vós me abrigo: poupai minha vida!     R.

Evangelho: Mc 10, 13-16

 “Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele.”

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo: 13 Traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam. 14 Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: ‘Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas. 15 Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele.’ 16 Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!

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Com a simplicidade das crianças

Tempo Comum. Sétima Semana. Sábado

- Infância espiritual e simplicidade.

EM VÁRIAS OCASIÕES, o Evangelho mostra-nos como as crianças se aproximavam de Jesus, e como Jesus as acolhia, as abençoava e as apontava como exemplo aos seus discípulos. Hoje fala-nos uma vez mais da necessidade de nos fazermos como um daqueles pequeninos para entrarmos no seu Reino: Em verdade vos digo: quem não receber o reino de Deus como uma criança, não entrará nele. E abraçando-as, abençoava-as, impondo-lhes as mãos 1.

Nestas crianças que Jesus abraça e abençoa estão representadas não apenas todas as crianças do mundo, mas também os homens todos, a quem o Senhor indica como devem "receber" o Reino de Deus.

Jesus ilustra assim de modo expressivo a doutrina essencial da filiação divina: Deus é nosso Pai e nós somos seus filhos; o nosso comportamento resume-se em sabermos tornar realidade o relacionamento de um bom filho com um bom pai. É fomentarmos o sentido de dependência para com o Pai do Céu e o abandono confiante na sua providência amorosa, à semelhança de um menino que confia no seu pai; é a humildade de reconhecermos que, por nós, não podemos nada; é a simplicidade e a sinceridade que nos hão de levar a mostrar-nos tal como somos 2.

Tornarmo-nos interiormente crianças, sendo pessoas maduras, pode ser uma tarefa difícil: exige energia e firmeza de vontade, bem como um grande abandono em Deus. "A infância espiritual não é idiotice espiritual nem moleza piegas; é caminho sensato e rijo que, por sua difícil facilidade, a alma tem que empreender e prosseguir levada pela mão de Deus" 3. 

Decidido a viver a infância espiritual, o cristão pratica com maior facilidade a caridade, porque  "a criança não guarda rancor, nem conhece a fraude, nem se atreve a enganar. Tal como a criança pequena, o cristão não se irrita ao ser insultado [...], não se vinga quando maltratado. E mais ainda: o Senhor exige-lhe que reze pelos seus inimigos, que deixe a túnica e o manto a quem lhos arrebate, que apresente a outra face a quem o esbofeteie (cfr. Mt 5, 40)"4. A criança esquece com facilidade as ofensas e não as contabiliza. A criança não tem penas.

A infância espiritual conserva sempre um amor jovem, porque a simplicidade impede de reter e ruminar no coração as experiências negativas. "Rejuveneceste! De fato, percebes que o trato com Deus te devolveu em pouco tempo à época simples e feliz da juventude, até mesmo à segurança e alegria - sem criancices - da infância espiritual... Olhas à tua volta e verificas que acontece outro tanto aos demais: vão passando os anos desde o seu encontro com o Senhor e, com a maturidade, robustecem-se uma juventude e uma alegria indeléveis. Não estão  jovens: são jovens e alegres! - Esta realidade da vida interior atrai, confirma e subjuga as almas. Agradece-o diariamente «ad Deum qui laetifícat iuventutem!» - ao Deus que enche de alegria a tua juventude" 5.

O Senhor realmente alegra a nossa juventude perene, tanto nos começos como nos anos de maturidade ou de idade avançada. Deus é sempre a maior alegria da vida, se vivemos junto dEle como filhos, como filhos pequenos sempre necessitados.

 

- Manifestações de piedade e de naturalidade cristãs

A FILIAÇÃO DIVINA, vivida com espírito de infância espiritual, gera devoções simples, pequenas oferendas a Deus nosso Pai, porque uma alma de criança cheia de amor não pode permanecer inativa 6. Quem é que pode dar o seu verdadeiro sentido às pequenas devoções, senão o cristão que necessitou de toda a fortaleza para se tornar criança?

Cada um de nós deve ter "piedade de meninos e doutrina de teólogos", costumava dizer Mons. Escrivá. A formação doutrinai sólida - "doutrina de teólogos" - ajuda-nos a dar sentido ao olhar que dirigimos a uma imagem de Nossa Senhora e a converter esse olhar num ato de amor; ou anima-nos a não permanecer indiferentes perante um crucifixo ou uma cena da Via Sacra. Trata-se de uma piedade viril e profunda, que se alimenta das verdades de fé transformadas em vida. Deus olha-nos então verdadeiramente comprazido, como um pai olha para o seu filho pequeno, a quem ama e aprecia mais do que aprecia todos os negócios do mundo.

Juntamente com o desejo de melhorar mais e mais a formação doutrinai pessoal - o mais profundamente que possamos -, devemos viver com amor esses detalhes simples de piedade - "piedade de meninos" - que nós mesmos inventamos ou que têm servido a milhares de pessoas diferentes, durante muitas gerações, para amarem a Deus, e que lhe agradaram porque vinham de quem se tinha feito como criança. Desde a origem da Igreja foi costume, por exemplo, enfeitar com flores os altares e as imagens sagradas, beijar o crucifixo ou o terço, molhar os dedos em água benta à entrada da igreja e benzer-se...

Por não os apreciarem como manifestações de amor, há pessoas que desprezam esses costumes simples e piedosos do povo cristão, considerando-os erroneamente como próprios de um "cristianismo infantil". Esqueceram as palavras do Senhor: Quem não recebe o reino de Deus como uma criança, não entrará nele; não querem lembrar-se de que, diante de Deus, sempre somos como filhos pequenos e necessitados, e que na vida humana o amor se expressa freqüentemente em detalhes de pouca monta. Estas manifestações de afeto, vistas de fora, sem amor e sem compreensão, com uma objetividade crítica, podem parecer sem sentido. No entanto, quantas vezes o Senhor não se terá comovido com a oração das crianças e daqueles que, por amor, se fazem como elas!

Os Atos dos Apóstolos narram que os primeiros cristãos ultilizavam luz abundante nas salas em que celebravam a Sagrada Eucaristia 7, e que gostavam de manter acesas lâmpadas de azeite sobre os sepulcros dos mártires. São Jerônimo elogia com estas palavras certo bom sacerdote: "Adornava basílicas e capelas dos mártires com flores variadas, ramos de árvores e pâmpanos de vinhas, de sorte que tudo o que agradava na igreja, pela sua ordem ou pela sua graça, era testemunho do trabalho e do fervor desse presbítero" 8, São manifestações externas de piedade, apropriadas à natureza humana, que precisa das coisas sensíveis para se dirigir a Deus e expressar-lhe adequadamente as suas necessidades e desejos.

Noutras ocasiões, a simplicidade terá manifestações de audácia: quando estamos recolhidos em oração, ou quando andamos pela rua, podemos dizer a Deus coisas que não nos atreveríamos a dizer-lhe - por pudor - diante de outras pessoas, em voz alta, porque pertencem à intimidade do nosso relacionamento com Ele. Mas  é necessário que saibamos e nos atrevamos a dizer-lhe que o amamos e que queremos que nos faça ainda mais loucos de amor...; que estamos dispostos a pregar-nos mais à Cruz se Ele assim o desejar...; que uma vez mais lhe oferecemos a nossa vida... E essa audácia da vida de infância deve levar-nos a propósitos concretos.

 

- Para sermos simples.

A SIMPLICIDADE é uma das principais manifestações da infância espiritual. E o resultado de termos ficado desarmados diante de Deus, como a criança diante de seu pai, de quem depende e em quem confia. Diante de Deus, não tem sentido disfarçarmos os defeitos ou camuflarmos os erros que tenhamos cometido; e devemos também ser simples ao abrirmos a nossa alma na direção espiritual pessoal, manifestando o que temos de bom, de menos bom ou de duvidoso na nossa vida.

Somos simples quando mantemos uma intenção reta que nos leve a procurar sempre e em tudo o que é do agrado de Deus e para maior bem das almas. Quando se procura a Deus, a alma não se emaranha nem se complica inutilmente por dentro; não gosta de ter gestos extraordinários ou insólitos: faz o que deve e procura fazê-lo bem, de olhos postos no Senhor. Fala claramente, não se exprime com meias verdades nem com restrições mentais. Não é   ingênuo, como também não é suspicaz; é prudente, mas não receoso. Ou seja, vive o ensinamento do Mestre: Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas 9. "E por este caminho chegarás, meu amigo, a uma grande intimidade com o Senhor: aprenderás a chamá-lo pelo seu nome - Jesus - e a amar muito o recolhimento. A dissipado, a frivolidade, a superficialidade e a tibieza desaparecerão da tua vida. Serás amigo de Deus; e no teu recolhimento, na tua intimidade, alegrar-te-ás ao considerar aquelas palavras da Escritura: Falava Deus com Moisés cara a cara, como costuma falar um homem com o seu amigo" 10.

Oração que transborda ao longo do dia em atos de amor e de desagravo, em ações de graças, em jaculatórias a Nossa Senhora, a São José, ao Anjo da Guarda...

Nossa Senhora ensina-nos a tratar o Filho de Deus e seu Filho com simplicidade, a deixar de lado as fórmulas rebuscadas. Não nos custa imaginá-la preparando a comida, varrendo a casa, cuidando da roupa... No meio dessas tarefas, dirigir-se-ia a Jesus com confiança, com um delicado respeito e, ao mesmo tempo, com um imenso amor. Expunha-lhe as suas necessidades ou as dos outros (Não têm vinho!, dir-lhe-á nas bodas daqueles amigos ou parentes de Caná), cuidava dEle, prestava-lhe os pequenos serviços próprios das mães, olhava-o, pensava nEle..., e tudo isso era oração perfeita.

Nós temos necessidade de manifestar a Deus o nosso amor. E poderemos fazê-lo em muitos momentos através da Santa Missa, das orações que a Igreja nos propõe na liturgia..., ou de uma visita ao Santíssimo de poucos minutos no meio da correria diária, ou colocando uma flor junto de uma imagem de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe. Peça-mos-lhe hoje que nos dê um coração simples e cheio de amor para sabermos como tratar o seu Filho, aprendendo das crianças, que se dirigem com tanta confiança aos seus pais e as pessoas de quem gostam.

(1) Mc 10, 13-16; (2) cfr. Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, nota a Mc 10, 13-26; (3) Josemaria Escrivá, Caminho, n. 855; (4) São Máximo de Turim, Homília 58; (5) Josemaria Escrivá, Sulco, n. 79; (6) cfr. Santa Teresa de Lisieux, História de uma alma, X, 41; (7) At 20, 7-8; (8) São Jeronimo, Epístola 60, 12; (9) Mt 10, 16; (10) S. Canais,  Reflexões espirituais, Pag. 113


25 de Maio 2018

A SANTA MISSA

7ª Semana do Tempo Comum – Sexta-feira
Cor: verde

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1ª Leitura: Tg 5, 9-12

“Eis que o juiz está às portas.”

Leitura da Carta de São Tiago

 9 Irmãos, não vos queixeis uns dos outros, para que não sejais julgados. Eis que o juiz está às portas. 10 Irmãos, tomai por modelo de sofrimento e firmeza os profetas, que falaram em nome do Senhor. 11 Reparai que consideramos como bem-aventurados os que perseveraram. Ouvistes falar da perseverança de Jó e conheceis o êxito que o Senhor lhe deu – pois o Senhor é rico em misericórdia e compassivo. 12 Sobretudo, meus irmãos, não jureis, nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro forma de juramento. Antes, que o vosso sim seja sim, e o vosso não, não. Então não estareis sujeitos a julgamento.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 102(103), 1-2.3-4.8-9.11-12 (R. 8a)

R. O Senhor é indulgente, é favorável.

1 Bendize, ó minha alma, ao Senhor, *
e todo o meu ser, seu santo nome!
2 Bendize, ó minha alma, ao Senhor, *
não te esqueças de nenhum de seus favores!     R.

3 Pois ele te perdoa toda culpa, *
e cura toda a tua enfermidade;
4 da sepultura ele salva a tua vida *
e te cerca de carinho e compaixão.    R.

8 O Senhor é indulgente, é favorável, *
é paciente, é bondoso e compassivo.
9 Não fica sempre repetindo as suas queixas, *
nem guarda eternamente o seu rancor.    R.

11 Quanto os céus por sobre a terra se elevam, *
tanto é grande o seu amor aos que o temem;
12 quanto dista o nascente do poente, *
tanto afasta para longe nossos crimes.   R.

Evangelho: Mc 10, 1-12

 “O que Deus uniu, o homem não separe!”

 – O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo: 1 Jesus foi para o território da Judeia, do outro lado do rio Jordão. As multidões se reuniram de novo, em torno de Jesus. E ele, como de costume, as ensinava. 2 Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. 3 Jesus perguntou: ‘O que Moisés vos ordenou?’ 4 Os fariseus responderam: ‘Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la’. 5 Jesus então disse: ‘Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. 6 No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8 Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9 Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!’ 10 Em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11 Jesus respondeu: ‘Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. 12 E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério.’

– Palavra da Salvação

– Glória a vós, Senhor!

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