TEMPO COMUM. DÉCIMA PRIMEIRA SEMANA. SÁBADO
– Amar a vontade de Deus. Serenidade diante das contradições.
I. TUDO O QUE HÁ NO UNIVERSO existe porque Deus o sustenta no seu ser. É Ele que cobre o céu de nuvens, que faz cair a chuva na terra; é Ele que faz crescer a relva nas montanhas e germinar plantas úteis para o homem, que dá alimento aos rebanhos e aos filhotes dos corvos que clamam1. A criação inteira é obra de Deus, que além disso cuida amorosamente de todas as criaturas, começando por mantê-las constantemente na existência. “Este «manter» é, em certo sentido, um contínuo criar (conservatio est continua creatio)”2, e estende-se muito particularmente ao homem, objeto da predileção divina.
Jesus Cristo dá-nos a conhecer constantemente que Deus é nosso Pai, que quer o que há de melhor para os seus filhos. Tudo aquilo que de bom poderíamos imaginar para nós mesmos e para aqueles a quem mais queremos é ultrapassado de longe pelos planos divinos. O Senhor sabe muito bem de que coisas necessitamos e o seu olhar abrange esta vida e a eternidade, ao passo que a nossa visão é curta e muito deficiente.
É lógico, pois, que a nossa felicidade consista essencialmente em conhecer, amar e realizar a vontade de Deus. No Evangelho da Missa, Jesus Cristo faz-nos uma recomendação para que os nossos dias se encham de paz: Não vos inquieteis pela vossa vida pensando no que ireis comer, nem pelo vosso corpo pensando no que ireis vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestido? Olhai as aves do céu: não semeiam, nem ceifam, nem recolhem em celeiros, e o vosso Pai celestial as alimenta3.
É um convite para que vivamos com alegre esperança a tarefa diária, para que encaremos as sombras desta vida como filhos de Deus, sem preocupações inúteis, sem a sobrecarga da rebeldia ou da tristeza, porque sabemos que Deus permite esses transes para nos purificar, para nos converter em corredentores.
Os padecimentos, a contradição, a doença, devem servir-nos para crescer nas virtudes e para amar mais a Deus. “Não ouviste dos lábios do Mestre a parábola da videira e das varas? – Consola-te. Ele te exige porque és vara que dá fruto... E te poda «ut fructum plus afferas» – para que dês mais fruto. – É claro!: dói esse cortar, esse arrancar. Mas, depois, que louçania nos frutos, que maturidade nas obras!”4 Não nos desconcertemos nunca com os planos divinos. O Senhor sabe muito bem aquilo que faz ou permite.
Examinemos hoje se acolhemos com paz a contradição, a dor e o fracasso; ou se, pelo contrário, nos queixamos e abrimos a porta à tristeza ou à revolta, ainda que seja por pouco tempo. Vejamos na presença de Deus se as dificuldades físicas ou morais nos aproximam de verdade do nosso Pai-Deus. Não vos inquieteis pela vossa vida..., diz-nos hoje de novo o Senhor neste tempo de oração.
– Abandono em Deus e responsabilidade.
II. COM MUITA FREQÜÊNCIA, não sabemos o que é bom para nós; “e o que torna a confusão ainda pior é que pensamos que o sabemos. Nós temos os nossos próprios planos para a nossa felicidade, e muito amiúde olhamos para Deus simplesmente como alguém que nos ajudará a realizá-los. O verdadeiro estado de coisas é completamente ao contrário. Deus tem os seus planos para a nossa felicidade, e está à espera de que o ajudemos a realizá-los. E deve ficar bem claro que nós não podemos melhorar os planos de Deus”5.
Ter uma certeza prática destas verdades, vivê-las no acontecer diário, leva a um abandono sereno, mesmo perante a dureza daquilo que não compreendemos e que nos causa dor e preocupação. Nada se desmorona se estamos amparados no sentido da nossa filiação divina: Pois, se a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada ao fogo, Deus assim a veste, quanto mais não fará Ele convosco...?6
Às vezes – diz São Tomás –, acontece conosco o mesmo que ao leigo em medicina que vê o médico receitar água a um doente e vinho a outro, conforme lhe dita a sua ciência; não sabendo de medicina, o observador leigo julga que o médico receita esses remédios ao acaso. “Assim acontece com relação a Deus. Ele, com conhecimento de causa e segundo a sua providência, dispõe as coisas da maneira que os homens necessitam: aflige uns que talvez sejam bons, e deixa viver em prosperidade outros que são maus”7. Não podemos esquecer que Deus nos quer felizes aqui, mas nos quer ainda mais felizes com Ele para sempre no Céu.
A santidade consiste no cumprimento amoroso da vontade de Deus, ao ritmo dos deveres e dos incidentes de cada dia, e num abandono absolutamente confiante em seus braços. Mas este abandono deve ser ativo e responsável, e há de levar-nos a lançar mão de todos os meios ao nosso alcance para enfrentarmos cada situação que se nos depare. Assim, iremos ao médico sem demoras quando estivermos doentes, faremos tudo o que pudermos para conseguir esse emprego de que tanto necessitamos e pelo qual rezamos a Deus, trabalharemos com esforço para progredir na nossa empresa, estudaremos as horas necessárias e com profundidade para passar nessa matéria difícil...
O abandono em Deus deve estar, pois, intimamente unido a uma atitude operativa, que rejeita prontamente esses argumentos de inerme resignação (“má sorte”, ambiente adverso, etc.) que parecem virtuosos, mas que muitas vezes escondem mediocridade, preguiça, imprudência... Exige uma disposição de ânimo valorosa, empreendedora, que “cresce perante os obstáculos”8, em vez de encolher-se num conformismo antivital. E essa atitude não é presunção, esquecimento de Deus, mas, pelo contrário, a conseqüência lógica de quem se abandonou por completo nas mãos amorosas da Providência e por isso sabe que tem as costas guardadas e que Deus lhe promete a vitória.
– Omnia in bonum. Para aqueles que amam a Deus, tudo acontece para o seu bem.
III. O SENTIDO DA FILIAÇÃO DIVINA ajuda-nos a descobrir que todos os acontecimentos da nossa vida são dirigidos ou permitidos pela amabilíssima Vontade de Deus para nosso bem. Deus, que é nosso Pai, concede-nos o que mais nos convém e espera que saibamos ver o seu amor paternal tanto nos acontecimentos favoráveis como nos adversos9.
São Paulo diz que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus10. Quem ama a Deus com um amor operativo sabe que, aconteça o que acontecer, tudo será para seu bem, desde que não deixe de amar. E, precisamente porque ama, emprega os meios para que o resultado seja bom, para que o trabalho bem acabado e feito com retidão de intenção dê frutos de santidade e de apostolado. E, tendo empregado os meios ao seu alcance, abandona-se em Deus e descansa na sua providência amorosa.
“Repara bem – escreve São Bernardo – que o Apóstolo não diz que as coisas servem para o capricho pessoal, mas que cooperam para o bem. Não para o capricho, mas para a utilidade; não para o prazer, mas para a salvação; não para o nosso desejo, mas para o nosso proveito. Neste sentido, as coisas sempre cooperam para o bem, até a própria morte, até o pecado [...]. Por acaso não cooperam para o bem os pecados daquele que com eles se torna mais humilde, mais fervoroso, mais solícito, mais precavido, mais prudente?”11 E depois de empregarmos os meios ao nosso alcance, ou em face de acontecimentos em que nada podemos fazer, diremos na intimidade do nosso coração: Omnia in bonum, tudo é para bem.
Com esta convicção, fruto da filiação divina, viveremos cheios de otimismo e de esperança, e superaremos muitas dificuldades:
“Parece que o mundo desaba sobre a tua cabeça. À tua volta, não se vislumbra uma saída. Impossível, desta vez, superar as dificuldades.
“Mas tornaste a esquecer que Deus é teu Pai? Onipotente, infinitamente sábio, misericordioso. Ele não te pode enviar nada de mau. Isso que te preocupa, é bom para ti, ainda que agora os teus olhos de carne estejam cegos.
“Omnia in bonum! Tudo é para bem! Senhor, que outra vez e sempre se cumpra a tua sapientíssima Vontade!”12
Omnia in bonum! Tudo é para bem! Tudo pode ser convertido em algo agradável a Deus e benéfico para a alma. Esta expressão de São Paulo pode servir-nos como jaculatória, como uma brevíssima oração que nos dará paz nos momentos difíceis.
A Santíssima Virgem, nossa Mãe, ensinar-nos-á a viver cheios de confiança nas mãos de Deus, se recorrermos a Ela freqüentemente cada dia. No Coração Dulcíssimo de Maria – cuja festa celebramos neste mês de junho – encontraremos sempre paz, consolo e alegria.
(1) Sl 147, 8-9; (2) João Paulo II, Audiência geral, 29-I-1986; (3) Mt 6, 25-26; (4) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 701; (5) E. Boylan, Amor supremo, pág. 46; (6) Mt 6, 30; (7) São Tomás, Sobre o Credo, 1; (8) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 12; (9) cfr. Sagrada Bíblia, Carta aos Romanos, EUNSA, nota a Rom 8, 28; (10) Rom 8, 28; (11) São Bernardo, Sobre a falácia e a brevidade da vida, 6; (12) Josemaría Escrivá, Via Sacra, IXª est., n. 4.
Fonte: livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal.
23 de Junho 2018
A SANTA MISSA

11ª Semana do Tempo Comum – Sábado
Cor: verde
1ª Leitura: 2Cr 24,17-25
“Mataram Zacarias no pátio do templo do Senhor”. (Cf.Mt 23,35)
Leitura do Segundo Livro das Crônicas
17 Depois da morte de Joiada, os chefes de Judá vieram prostrar-se diante do rei Joás, que, atraído por suas lisonjas, se deixou levar por eles. 18 Os chefes de Judá abandonaram o templo do Senhor, o Deus de seus pais, e prestaram culto a troncos sagrados e a imagens esculpidas, atraindo a ira divina sobre Judá e Jerusalém por causa desse crime. 19 O Senhor mandou-lhes profetas para que se convertessem a ele. Porém, por mais que estes protestassem, não lhe queriam dar ouvidos. 20 Então o espírito de Deus apoderou-se de Zacarias, filho do sacerdote Joiada, e ele apresentou-se ao povo e disse: ‘Assim fala Deus: Por que transgredis os preceitos do Senhor? Isto não vos será de nenhum proveito. Porque abandonastes o Senhor, ele também vos abandonará’. 21 Eles, porém, conspiraram contra Zacarias e mataram-no à pedrada por ordem do rei, no pátio do templo do Senhor.22 O rei Joás não se lembrou do bem que Joiada, pai do profeta, lhe tinha feito, e matou o seu filho. Zacarias, ao morrer, disse: ‘Que o Senhor veja e faça justiça!’ 23 Ao cabo de um ano, o exército da Síria marchou contra Joás, invadiu Judá e Jerusalém, massacrou os chefes do povo, e enviou toda a presa de guerra ao rei de Damasco. 24 Na verdade, o exército da Síria veio com poucos homens, mas o Senhor entregou nas mãos deles um exército enorme, porque Judá tinha abandonado o Senhor, o Deus de seus pais. Assim, os sírios fizeram justiça contra Joás. 25 Quando eles se retiraram, deixando-o gravemente enfermo, seus homens conspiraram contra ele, para vingar o filho do sacerdote Joiada, e mataram-no em seu leito. Ele morreu e foi sepultado na cidade de Davi, mas não no sepulcro dos reis.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 88,4-5. 29-30. 31-32. 33-34 (R. 29a)
R. Guardarei eternamente para ele a minha graça!
4Eu firmei uma Aliança com meu servo, meu eleito, *
e eu fiz um juramento a Davi, meu servidor:
5Para sempre, no teu trono, firmarei tua linhagem, *
de geração em geração garantirei o teu reinado!’ R.
29 Guardarei eternamente para ele a minha graça *
e com ele firmarei minha Aliança indissolúvel.
30 Pelos séculos sem fim conservarei sua descendência, *
e o seu trono, tanto tempo quanto os céus, há de durar’. R.
31 ‘Se seus filhos, porventura, abandonarem minha lei *
e deixarem de andar pelos caminhos da Aliança;
32 se, pecando, violarem minhas justas prescrições *
e se não obedecerem aos meus santos mandamentos: R.
33 eu, então, castigarei os seus crimes com a vara, *
com açoites e flagelos punirei as suas culpas.
34 Mas não hei de retirar-lhes minha graça e meu favor *
e nem hei de renegar o juramento que lhes fiz. R.
Evangelho: Mt 6,24-34
“Não vos preocupeis com o dia de amanhã”.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 24 Ninguém pode servir a dois senhores: pois, ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro. 25 Por isso eu vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida, com o que havereis de comer ou beber; nem com o vosso corpo, com o que havereis de vestir. Afinal, a vida não vale mais do que o alimento, e o corpo, mais do que a roupa? 26 Olhai os pássaros dos céus: eles não semeiam, não colhem, nem ajuntam em armazéns. No entanto, vosso Pai que está nos céus os alimenta. Vós não valeis mais do que os pássaros? 27 Quem de vós pode prolongar a duração da própria vida, só pelo fato de se preocupar com isso? 28 E por que ficais preocupados com a roupa? Olhai como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. 29 Porém, eu vos digo: nem o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. 30 Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã é queimada no forno, não fará ele muito mais por vós, gente de pouca fé? 31 Portanto, não vos preocupeis, dizendo: O que vamos comer? O que vamos beber? Como vamos nos vestir? 32 Os pagãos é que procuram essas coisas. Vosso Pai, que está nos céus, sabe que precisais de tudo isso. 33 Pelo contrário, buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo. 34 Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações! Para cada dia, bastam seus próprios problemas.’
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
TEMPO COMUM. DÉCIMA PRIMEIRA SEMANA. SEXTA-FEIRA
95. ONDE ESTÁ O TEU CORAÇÃO
– A família, “o primeiro ambiente apto para semear a semente do Evangelho”.
I. O SENHOR ACONSELHA-NOS a não amontoar tesouros na terra, porque duram pouco e são inseguros e frágeis: a traça e a ferrugem os corroem, ou os ladrões arrombam e os roubam1. Por muito que consigamos amealhar durante uma vida, não vale a pena. Nenhuma coisa da terra merece que ponhamos nela o coração de modo absoluto.
O coração está feito para Deus e, em Deus, para todas as coisas nobres da terra. É muito útil perguntarmo-nos de vez em quando: onde tenho o meu coração? Em que penso de forma habitual? Qual é o centro das minhas preocupações mais íntimas?... Será que é Deus, presente no Sacrário, talvez a pouca distância do lugar onde moro ou do escritório em que trabalho, ou, pelo contrário, são os negócios, o estudo, o trabalho, ou os egoísmos insatisfeitos, a ânsia de ter mais?
Se muitos homens e mulheres respondessem com sinceridade a essas perguntas, talvez tivessem que dar uma resposta muito dura: penso em mim, só em mim, e nas coisas e pessoas na medida em que se relacionam com os meus próprios interesses. Mas nós queremos pôr o coração em Deus, na missão que recebemos dEle, e nas pessoas e coisas por Deus. Jesus, com uma sabedoria infinita, diz-nos: Entesourai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os corroem, e onde os ladrões não arrombam e os roubam. Pois onde estiver o teu tesouro, ali estará o teu coração.
O nosso coração deve estar posto no Senhor, porque Ele é o tesouro de modo absoluto e real. E não o é a saúde, nem o prestígio, nem o bem-estar... Unicamente Cristo. E por Ele, de maneira ordenada, os demais afazeres nobres de um cristão que vive vocacionalmente no mundo. O Senhor quer, de modo particular, que ponhamos o coração nos membros da nossa família humana ou sobrenatural, pois são aqueles que devemos levar a Deus em primeiro lugar, são a primeira realidade que devemos santificar.
A preocupação pelos outros ajuda o homem a sair do seu egoísmo, a crescer em generosidade, a encontrar a alegria verdadeira. Quem se sabe chamado por Deus para segui-lo de perto já não se considera a si próprio como o centro do universo, porque encontrou muitos a quem servir e neles vê Cristo necessitado2.
O exemplo dos pais ou dos irmãos no lar é em muitos casos decisivo para os demais membros, que assim aprendem a ver o mundo a partir de um ambiente cristão. A família é por vontade divina de tal importância que nela “tem o seu princípio a ação evangelizadora da Igreja”3. Ela “é o primeiro ambiente apto para semear a semente do Evangelho e o lugar em que pais e filhos, como células vivas, vão assimilando o ideal cristão do serviço a Deus e aos irmãos”4.
É um lugar esplêndido de apostolado. Examinemos hoje se a nossa família é assim, se somos levedura que vai transformando pouco a pouco os que vivem conosco; se pedimos freqüentemente ao Senhor a vocação dos filhos ou dos irmãos – ou mesmo dos pais – para uma entrega plena a Deus: a maior graça que o Senhor lhes pode dar, o verdadeiro tesouro que muitos podem encontrar.
– Atenção delicada às pessoas que Deus deixou ao nosso cuidado.
II. A FAMÍLIA é a peça mais importante da sociedade, aquela em que Deus tem o seu apoio mais firme. E é talvez a mais atacada das frentes: são os sistemas de impostos e políticas educativas que ignoram o valor da família, são o materialismo e o hedonismo que procuram fomentar uma concepção familiar antinatalista, é o falso sentido da liberdade e da independência, são os programas sociais que não favorecem que as mães possam dedicar o tempo necessário aos filhos...
Em muitos lugares, princípios tão elementares como o direito dos pais à educação dos filhos foram esquecidos por muitos cidadãos que, diante do poder do Estado, acabam por acostumar-se ao seu intervencionismo excessivo, renunciando ao dever de exercerem um direito que é irrenunciável. Devido em parte a essas inibições, impõem-se às vezes tipos de ensino orientados por uma visão materialista do homem: linhas pedagógicas e didáticas, textos, esquemas, programas e material escolar que minam intencionalmente a natureza espiritual da alma humana.
Os pais devem ser conscientes de que nenhum poder terreno pode eximi-los de uma responsabilidade que lhes foi conferida por Deus com relação aos filhos. E, além dos pais, todos recebemos, de formas diversas, a missão de cuidar dos outros: o sacerdote, das almas que atende; o professor, dos seus alunos; e tantas outras pessoas que têm uma tarefa de formação espiritual. Ninguém responderá por nós diante de Deus quando nos perguntar: Onde estão os que te confiei? Oxalá possamos responder: Não perdi nenhum dos que me deste5, porque soubemos empregar, Senhor, com a tua graça, os meios ordinários e extraordinários para que ninguém se extraviasse.
Todos devemos poder dizer a respeito dos que nos foram confiados: Cor meum vigilat – o meu coração está vigilante; é a inscrição que se lê diante de uma das muitas imagens de Nossa Senhora em Roma. O Senhor nos quer vigilantes com todos, mas antes de mais nada com os nossos, com aqueles que nos confiou. Pede-nos um amor atento, um amor capaz de perceber que determinado membro da família descuida os seus deveres para com Deus, e então ajudamo-lo com carinho; ou que está triste e isolado dos demais, e temos mais atenções com ele... Pede-nos um coração vigilante que saiba reagir se percebe que se introduzem na família modos de proceder que desdizem de um lar cristão, se se vêem programas de televisão sem os selecionar ou com excessiva freqüência, se há um clima de indolência e desleixo, se há frieza ou indiferença deste ou daquele para com os outros...
E procura-se corrigir essas falhas sem irritações, dando exemplo, com oração, com mais detalhes de carinho. E se alguém fica doente, todos ajudam, porque aprendemos que os enfermos são prediletos de Deus e nesse momento a pessoa que sofre é o tesouro da casa; e ajudam-no a oferecer a sua doença, a rezar alguma oração, e procuram que sofra o menos possível, porque o carinho tira a dor ou a alivia; pelo menos, faz dela uma dor diferente.
– Dedicar-lhes o tempo necessário, que está acima de outros interesses. A oração em família.
III. PENSEMOS HOJE NA NOSSA ORAÇÃO se a família e as pessoas que temos ao nosso cuidado ocupam no nosso coração o lugar querido por Deus. Juntamente com a própria vocação, esse, sim, é um tesouro que dura até à vida eterna. Talvez percebamos algum dia que outros tesouros que nos pareciam importantes se converteram pela falta de retidão de intenção em traça e ferrugem, ou que eram tesouros falsos ou de pouco valor.
Numa época como a nossa, a melhor maneira de defender a família é, além do carinho humano verdadeiro, a preocupação de fazer com que Deus esteja presente de uma forma grata no lar: pela bênção dos alimentos, rezando com os filhos mais pequenos as orações da noite, lendo com os mais velhos algum versículo do Evangelho, rezando alguma oração breve pelos defuntos, assim como pelas intenções da família e do Papa. E o terço, a oração que os Sumos Pontífices tanto recomendaram que se rezasse em família e que tantas graças traz consigo. Pode-se rezá-lo num momento que combine com o horário familiar, durante uma viagem de carro..., e nem sempre tem que ser iniciativa da mãe ou da avó: o pai ou os filhos mais velhos podem prestar uma colaboração inestimável nesta grata tarefa. Muitas famílias conservaram também o saudável costume de irem juntos à Missa aos domingos.
Não é necessário que sejam numerosas as práticas de piedade em família, mas seria pouco natural que não houvesse alguma num lar em que todos ou quase todos crêem em Deus. Não teria sentido que todos individualmente se considerassem bons fiéis e isso não se refletisse na vida familiar. Costuma-se dizer que os pais que sabem rezar com os filhos encontram mais facilmente o caminho que os leva aos seus corações. E estes jamais esquecem pela vida fora a ajuda que receberam dos pais para rezar, para recorrer a Nossa Senhora em todas as situações. Quantos devem ter achado a porta do Céu graças às orações que um dia aprenderam dos lábios de sua mãe, da avó ou da irmã mais velha!
E unidos assim, com um carinho grande e com uma fé forte, todos resistem melhor e com mais eficácia aos ataques de fora. E se alguma vez chega a dor ou a doença, é melhor suportada por todos juntos, e é ocasião de uma maior união e de uma fé mais profunda. A Virgem Maria, nossa Mãe, ensinar-nos-á que o nosso tesouro está na chamada do Senhor, com tudo o que isso implica, e na própria casa, no próprio lar, nas pessoas que Deus quis vincular à nossa vida para sempre.
Dentro do Coração de Jesus encontraremos infinitos tesouros de amor6. Procuremos que o nosso coração se assemelhe ao dEle.
(1) cfr. Mt 6, 19-21; (2) cfr. F. Koenig, Carta pastoral sobre a família, 23-III-1977; (3) João Paulo II, Discurso em Guadalajara, 30-I-1979; (4) idem, Discurso aos bispos da Venezuela, 15-XI-1979; (5) Jo 18, 9; (6) cfr. Missal Romano, Oração coleta da Solenidade do Sagrado Coração de Jesus.
Fonte: livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal.
22 de Junho 2018
A SANTA MISSA

11ª Semana do Tempo Comum – Sexta-feira
Cor: verde
1ª Leitura: 2Rs 11,1-4.9-18.20
Ungiram Joás e aclamaram: ‘Viva o rei!’
Leitura do Segundo Livro dos Reis
Naqueles dias: 1 Quando Atalia, mãe de Ocozias, soube que o filho estava morto, pôs-se a exterminar toda a família real. 2 Mas Josaba, filha do rei Jorão e irmã de Ocozias, raptou o filho dele, Joás, do meio dos filhos do rei, que iriam ser massacrados, e colocou-o, com sua ama, no quarto de dormir. Assim, escondeu-o de Atalia e ele não foi morto. 3 E ele ficou seis anos com ela, escondido no templo do Senhor, enquanto Atalia reinava no país. 4 No sétimo ano, Joiada mandou chamar os centuriões dos quereteus e da escolta, e introduziu-os consigo no templo do Senhor. Fez com eles um contrato, mandou que prestassem juramento no templo do Senhor e mostrou-lhes o filho do rei. 9 Os centuriões fizeram tudo o que o sacerdote Joiada lhes tinha ordenado. Cada um reuniu seus homens, tanto os que entravam de serviço no sábado, como os que saíam. Vieram para junto do sacerdote Joiada, 10 e este entregou aos centuriões as lanças e os escudos de Davi, que estavam no templo do Senhor. 11 Em seguida, os homens da escolta, de armas na mão, tomaram posição a partir do lado direito do templo até ao esquerdo, entre o altar e o templo, em torno do rei. 12 Então Joiada apresentou o filho do rei, cingiu-o com o diadema e entregou-lhe o documento da Aliança. E proclamaram-no rei, deram-lhe a unção e, batendo palmas, aclamaram: ‘Viva o rei!’ 13 Ouvindo os gritos do povo, Atália veio em direção da multidão no templo do Senhor. 14 Quando viu o rei de pé sobre o estrado, segundo o costume, os chefes e os trombeteiros do rei junto dele, e todo o povo do país exultando de alegria e tocando as trombetas, Atália rasgou suas vestes e bradou: ‘Traição! Traição!’ 15 Então o sacerdote Joiada ordenou aos centuriões que comandavam a tropa: ‘Levai-a para fora do recinto do templo e, se alguém a seguir, seja morto à espada’. Pois o sacerdote havia dito: ‘Não seja morta dentro do templo do Senhor’. 16 Agarraram-na e levaram-na aos empurrões pelo caminho da porta dos Cavalos até ao palácio, e ali foi morta. 17 Em seguida, Joiada fez uma aliança entre o Senhor, o rei e o povo, pela qual este se comprometia a ser o povo do Senhor. Fez também uma aliança entre o rei e o povo. 18 Todo o povo do país dirigiu-se depois ao Templo de Baal e demoliu-o. Destruíram totalmente os altares e as imagens e mataram Matã, sacerdote de Baal, diante dos altares. E o sacerdote Joiada pôs guardas na casa do Senhor. 20 Todo o povo do país o festejou e a cidade manteve-se calma.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 131,11. 12. 13-14. 17-18 (R. 13)
R. O Senhor preferiu Jerusalém por sua morada.
11 O Senhor fez a Davi um juramento, *
uma promessa que jamais renegará:
‘Um herdeiro que é fruto do teu ventre *
colocarei sobre o trono em teu lugar! R.
12 Se teus filhos conservarem minha Aliança *
e os preceitos que lhes dei a conhecer,
os filhos deles igualmente hão de sentar-se *
eternamente sobre o trono que te dei!’ R.
13 Pois o Senhor quis para si Jerusalém *
e a desejou para que fosse sua morada:
14 ‘Eis o lugar do meu repouso para sempre, *
eu fico aqui: este é o lugar que preferi!’ R.
17 ‘De Davi farei brotar um forte Herdeiro, *
acenderei ao meu Ungido uma lâmpada.
18 Cobrirei de confusão seus inimigos, *
mas sobre ele brilhará minha coroa!’ R.
Evangelho: Mt 6,19-23
“Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 19 Não junteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e os ladrões assaltam e roubam. 20 Ao contrário, juntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça e a ferrugem destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. 21 Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração. 22 O olho é a lâmpada do corpo. Se o teu olho é sadio, todo o teu corpo ficará iluminado. 23 Se o teu olho está doente, todo o teu corpo ficará na escuridão. Ora, se a luz que existe em ti é escuridão, como será grande a escuridão.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
21 de Junho 2018
A SANTA MISSA

11ª Semana do Tempo Comum – Quinta-feira
Memória: São Luís Gonzaga, religioso
Cor: branca
1ª Leitura: Eclo 48,1-15 (Gr. 1-14)
“Elias foi envolvido no turbilhão, e Eliseu ficou repleto do seu espírito”.
Leitura do Livro do Eclesiástico
1 O profeta Elias surgiu como um fogo, e sua palavra queimava como uma tocha.2 Fez vir a fome sobre eles e, no seu zelo, reduziu-os a pouca gente.3 Pela palavra do Senhor fechou o céu e de lá fez cair fogo por três vezes.4 Ó Elias, como te tornaste glorioso por teus prodígios! Quem poderia gloriar-se de ser semelhante a ti?5 Tu, que levantaste um homem da morte e dos abismos, pela palavra do Senhor;6 tu, que precipitaste reis na ruína e fizeste cair do leito homens ilustres; 7 tu, que ouvistes censuras no Sinai e decretos de vingança no Horeb.8 Tu ungiste reis, para tirar vingança, e profetas, para te sucederem; 9 tu foste arrebatado num turbilhão de fogo, um carro de cavalos também de fogo, 10 tu, nas ameaças para os tempos futuros, foste designado para acalmar a ira do Senhor antes do furor, para reconduzir o coração do pai ao filho, e restabelecer as tribos de Jacó.11 Felizes os que te viram, e os que adormeceram na tua amizade!12 Nós também, com certeza, viveremos; mas, após a morte, não será tal o nosso nome.13 Apenas Elias foi envolvido no turbilhão, Eliseu ficou repleto do seu espírito. Durante a vida não temeu príncipe algum, e ninguém o superou em poder.14 Nada havia acima de suas forças, e, até já morto, seu corpo profetizou.15 Durante a vida realizou prodígios e, mesmo na morte, suas obras foram maravilhosas.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 96,1-2. 3-4. 5-6. 7 (R. 12a)
R. Ó justos, alegrai-vos no Senhor!
1 Deus é Rei! Exulte a terra de alegria, *
e as ilhas numerosas rejubilem!
2 Treva e nuvem o rodeiam no seu trono, *
que se apoia na justiça e no direito. R.
3 Vai um fogo caminhando à sua frente *
e devora ao redor seus inimigos.
4 Seus relâmpagos clareiam toda a terra; *
toda a terra ao contemplá-los estremece. R.
5 As montanhas se derretem como cera *
ante a face do Senhor de toda a terra;
6 e assim proclama o céu sua justiça, *
todos os povos podem ver a sua glória. R.
7 ‘Os que adoram as estátuas se envergonhem *
e os que põem a sua glória nos seus ídolos; *
aos pés de Deus vêm se prostrar todos os deuses!’ R.
Evangelho: Mt 6,7-15
“Vós deveis rezar assim”.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7 Quando orardes, não useis muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por força das muitas palavras. 8 Não sejais como eles, pois vosso Pai sabe do que precisais, muito antes que vós o peçais. 9 Vós deveis rezar assim: Pai Nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome; 10 venha o teu Reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como nos céus. 11 O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. 12 Perdoa as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido. 13 E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14 De fato, se vós perdoardes aos homens as faltas que eles cometeram, vosso Pai que está nos céus também vos perdoará. 15 Mas, se vós não perdoardes aos homens, vosso Pai também não perdoará as faltas que vós cometestes.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
20 de Junho 2018
A SANTA MISSA

11ª Semana do Tempo Comum – Quarta-feira
Cor: verde
1ª Leitura: 2Rs 2,1.6-14
“Num carro de fogo, Elias subiu ao céu”.
Leitura do Segundo Livro dos Reis
1 Quando o Senhor quis arrebatar Elias ao céu, num redemoinho, Elias e Eliseu partiram de Guilgal. 6 Tendo chegado a Jericó, Elias disse a Eliseu: ‘Permanece aqui, porque o Senhor me mandou até ao Jordão’. E ele respondeu: ‘Pela vida do Senhor e pela tua eu não te deixarei’. E partiram os dois juntos. 7 Então, cinqüenta dos filhos dos profetas os seguiram, e ficaram parados, à parte, a certa distância, enquanto eles dois chegaram à beira do Jordão. 8 Elias tomou então o seu manto, enrolou-o e bateu com ele nas águas, que se dividiram para os dois lados, de modo que ambos passaram a pé enxuto. 9 Depois que passaram, Elias disse a Eliseu: ‘Pede o que queres que eu te faça antes de ser arrebatado da tua presença’. Eliseu disse: ‘Que me seja dada uma dupla porção do teu espírito’. 10 Elias respondeu: ‘Tu pedes uma coisa muito difícil. Se me vires quando me arrebatarem da tua presença, isso te será concedido; caso contrário, isso não te será dado’. 11 E aconteceu que, enquanto andavam e conversavam, um carro de fogo e cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu num redemoinho. 12 Eliseu o via e gritava: ‘Meu pai, meu pai, carro de Israel e seu condutor!’ Depois, não o viu mais. E, tomando as vestes dele, rasgou-as em duas. 13 Em seguida, apanhou o manto que Elias tinha deixado cair e, voltando sobre seus passos, estacou à margem do Jordão. 14 Tomou então o manto de Elias e bateu com ele nas águas dizendo: ‘Onde está agora o Deus de Elias?’ E bateu nas águas, que se dividiram, para os dois lados, e Eliseu atravessou o rio.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 30,20. 21. 24 (R. 25)
R. Fortalecei os corações, vós que ao Senhor vos confiais!
20 Como é grande, ó Senhor, vossa bondade, *
que reservastes para aqueles que vos temem!
Para aqueles que em vós se refugiam, *
mostrando, assim, o vosso amor perante os homens. R.
21 Na proteção de vossa face os defendeis *
bem longe das intrigas dos mortais.
No interior de vossa tenda os escondeis, *
protegendo-os contra as línguas maldizentes. R.
24 Amai o Senhor Deus, seus santos todos, *
ele guarda com carinho seus fiéis, *
mas pune os orgulhosos com rigor. R.
Evangelho: Mt 6,1-6.16-18
“E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa”.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 1 ‘Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. 2 Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. 3 Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, 4 de modo que, a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa. 5 Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. 6 Ao contrário, quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa. 16 Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo: Eles já receberam a sua recompensa. 17 Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, 18 para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Santa Margarida Ebner
20 de Junho
Santa Margarida Ebner 
Margarida pertencia à família Ebner, muito rica e respeitada, da aristocracia alemã. Ela entrou no Mosteiro de Maria Santíssima em Medingen, da diocese de Augusta, e tinha apenas quinze anos de idade quando vestiu o hábito dominicano. Depois, de 1314 até 1326, sofreu diversas e graves enfermidades, as quais quase a levaram ao fim da vida. Mais tarde, por causa da guerra, a comunidade monástica dispersou-se e Margarida voltou para a casa paterna, na qual continuou a viver totalmente reclusa, dedicada à oração e à penitência.
Quando tudo retornou ao normal, ela voltou para a clausura daquele mesmo mosteiro. Em 1332, conheceu o sacerdote Henrique Susso, hoje também santo, que logo se tornou o seu diretor espiritual. As duras provações físicas por que passou lhe proporcionaram adquirir os dons das revelações, das visões e das profecias. Tanto assim que ela escreveu em seu diário que no dia 1o de novembro de 1347 foi recebida em matrimonio espiritual por Jesus.
Margarida Ebner foi, sem dúvida, a figura central do movimento espiritual alemão dos “amigos de Deus”. A sua espiritualidade segue o ano litúrgico e concentra-se na pessoa de Jesus Cristo.
O seu diário espiritual, escrito de 1312 até 1348, que chegou até os nossos dias, revela a vida humilde, devotada, caritativa e confiante em Deus de uma religiosa provada por muitas penas e doenças.
Ela que viveu e morreu no amor de Deus, fiel na certeza de encontrar-se em plena comunhão com seu Filho Jesus, como sempre dizia: “Eu não posso separar-me de ti em coisa alguma”. A beleza dessa alma inocente foi toda interior. A santa humanidade de Jesus foi o divino objeto da sua constante e amorosa contemplação e nela reviveu os vários mistérios no exercício da virtude, no holocausto ininterrupto dela mesma, no sofrimento interno e externo, todo aceito e ofertado com Jesus, para Jesus e em Jesus.
Margarida Ebner morreu no dia 20 de junho de 1351, no Mosteiro de Medingen, onde foi sepultada. Sem dúvida, entre os grandes místicos dominicanos do século XIV, brilha a suave figura desta religiosa de clausura que conquistou o apelido de “Imitadora Fiel da Humanidade de Jesus”. Em 1979, o papa João Paulo II ratificou o seu culto com sua beatificação, cuja festa “ad imemorabili” o mundo católico reverencia no dia do seu trânsito.
19 de Junho 2018
A SANTA MISSA

11ª Semana do Tempo Comum – Terça-feira
Cor: verde
1ª Leitura: 1Rs 21,17-29
“Provocaste a minha ira e fizeste Israel pecar.”
Leitura do Primeiro Livro dos Reis
Após a morte de Nabot, a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tesbita, nestes termos: ‘Levanta-te e desce ao encontro de Acab, rei de Israel, que reina em Samaria.Ele está na vinha de Nabot, aonde desceu para dela tomar posse. Isto lhe dirás: ‘Assim fala o Senhor: Tu mataste e ainda por cima roubas! E acrescentarás: ‘Assim fala o Senhor: No mesmo lugar em que os cães lamberam o sangue de Nabot, lamberão também o teu ‘. Acab disse a Elias: ‘Afinal encontraste-me, ó meu inimigo?’ Elias respondeu: ‘Sim, eu te encontrei. Porque te vendeste para fazer o que desagrada ao Senhor, farei cair sobre ti a desgraça: varrerei a tua descendência, exterminando todos os homens da casa de Acab, escravos ou livres em Israel. Farei com a tua família como fiz com as famílias de Jeroboão, filho de Nabat, e de Baasa, filho de Aías, porque provocaste a minha ira e fizeste Israel pecar. Também a respeito de Jezabel o Senhor pronunciou uma sentença: ‘Os cães devorarão Jezabel no campo de Jezrael. Os da família de Acab que morrerem na cidade, serão devorados pelos cães, e os que morrerem no campo, serão comidos pelas aves do céu’ ‘. Não houve ninguém que se tenha vendido como Acab, para fazer o que desagrada ao Senhor, porque a isto o incitava sua mulher Jezabel. Portou-se de modo abominável, seguindo os ídolos dos amorreus que o Senhor tinha expulsado diante dos filhos de Israel. Quando Acab ouviu estas palavras, rasgou as vestes, pôs um cilício sobre a pele e jejuou. Dormia envolto num pano de penitência e andava abatido. Então a palavra do Senhor foi dirigida a Elias, o tesbita, nestes termos: ‘Viste como Acab se humilhou diante de mim? Já que ele assim procedeu, não o castigarei durante a sua vida, mas nos dias de seu filho enviarei a desgraça sobre a sua família’.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 50,3-4. 5-6a. 11.16 (R. C f. 3a)
R. Misericórdia, ó Senhor, porque pecamos!
3 Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! *
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
4 Lavai-me todo inteiro do pecado, *
e apagai completamente a minha culpa! R.
5 Eu reconheço toda a minha iniquidade, *
o meu pecado está sempre à minha frente.
6a Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei, *
e pratiquei o que é mau aos vossos olhos! R.
11 Desviai o vosso olhar dos meus pecados *
e apagai todas as minhas transgressões!
16 Da morte como pena, libertai-me, *
e minha língua exaltará vossa justiça! R.
Evangelho: Mt 5,43-48
“Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.”
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’ Eu, porém, vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus, porque ele faz nascer o sol sobre maus e bons, e faz cair a chuva sobre justos e injustos. Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos não fazem a mesma coisa? E se saudais somente os vossos irmãos, o que fazeis de extraordinário? Os pagãos não fazem a mesma coisa? Portanto, sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito.’
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
18 de Junho 2018
A SANTA MISSA

11ª Semana do Tempo Comum – Segunda-feira
Cor: verde
1ª Leitura: 1Rs 21,1-16
“Nabot foi apedrejado e morto”.
Leitura do Primeiro Livro dos Reis
Nabot de Jezrael possuía uma vinha em Jezrael, ao lado do palácio de Acab, rei de Samaria. Acab falou a Nabot: ‘Cede-me a tua vinha, para que eu a transforme numa horta, pois está perto da minha casa. Em troca eu te darei uma vinha melhor, ou, se preferires, pagarei em dinheiro o seu valor’. Mas Nabot respondeu a Acab: ‘O Senhor me livre de te ceder a herança de meus pais’. Acab voltou para casa aborrecido e irritado por causa desta resposta que lhe deu Nabot de Jezrael: ‘Não te cederei a herança de meus pais’. Deitou-se na cama, com o rosto voltado para a parede, e não quis comer nada. Sua mulher Jezabel aproximou-se dele e disse-lhe: ‘Por que estás triste e não queres comer?’ Ele respondeu: ‘Porque eu conversei com Nabot de Jezrael e lhe fiz a proposta de me ceder a sua vinha pelo seu preço em dinheiro, ou, se preferisse, eu lhe daria em troca outra vinha. Mas ele respondeu que não me cede a vinha’.Então sua mulher Jezabel disse-lhe: ‘Bela figura de rei de Israel estás fazendo! Levanta-te, toma alimento e fica de bom humor, pois eu te darei a vinha de Nabot de Jezrael’. Ela escrefeu então cartas em nome de Acab, selou-as com o selo real, e enviou-as aos anciãos e nobres da cidade de Nabot. Nas cartas estava escrito o seguinte: ‘Proclamai um jejum e fazei Nabot sentar-se entre os primeiros do povo, e subornai dois homens perversos contra ele, que dêem este testemunho: ‘Tu amaldiçoaste a Deus e ao rei!` Levai-o depois para fora e apedrejai-o até que morra’. Os homens da cidade, anciãos e nobres concidadãos de Nabot, fizeram conforme a ordem recebida de Jezabel, como estava escrito nas cartas que lhes tinha enviado. Proclamaram um jejum e fizeram Nabot sentar-se entre os primeiros do povo. Chegaram os dois homens perversos, sentaram-se diante dele e testemunharam contra Nabot diante de toda a assembléia, dizendo: ‘Nabot amaldiçoou a Deus e ao rei’. Em virtude disto, levaram-no para fora da cidade e mataram-no a pedradas. Depois mandaram a notícia a Jezabel: ‘Nabot foi apedrejado e morto’. Ao saber que Nabot tinha sido apedrejado e estava morto, Jezabel disse a Acab: ‘Levanta-te e toma posse da vinha que Nabot de Jezrael não te quis ceder por seu preço em dinheiro; pois Nabot já não vive; está morto’. Quando Acab soube que Nabot estava morto, levantou-se para descer até a vinha de Nabot de Jezrael e dela tomar posse.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 5, 2-3. 5-6. 7 (R. 2b)
R. Atendei o meu gemido, ó Senhor!
2 Escutai, ó Senhor Deus, minhas palavras, *
atendei o meu gemido!
3 Ficai atento ao clamor da minha prece, *
ó meu Rei e meu Senhor! R.
5 Não sois um Deus a quem agrade a iniquidade, *
não pode o mau morar convosco;
6 nem os ímpios poderão permanecer *
perante os vossos olhos. R.
7 Detestais o que pratica a iniquidade *
e destruís o mentiroso.
Ó Senhor, abominais o sanguinário, *
o perverso e enganador. R.
Evangelho: Mt 5,38-42
“Eu vos digo: não enfrenteis quem é malvado!”
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele! Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
TEMPO COMUM. DÉCIMO PRIMEIRO DOMINGO. CICLO B
– O Senhor serve-se do que é pequeno para atuar no mundo e nas almas.
I. EIS O QUE DIZ O SENHOR: Eu mesmo arrancarei um ramo do grande cedro [...] e o plantarei no cimo da montanha. Eu o plantarei na mais alta montanha de Israel para que estenda os seus rebentos e dê fruto e se torne um cedro magnífico, onde se aninharão aves de toda a espécie. Com estas belas imagens, o profeta Ezequiel1 recorda-nos, na primeira Leitura da Missa, como Deus se serve do que é pequeno para agir no mundo e nas almas. É também o ensinamento que Jesus nos propõe no Evangelho: O Reino de Deus é semelhante a um grão de mostarda que, quando semeado na terra, é a menor de todas as sementes; mas depois brota e torna-se maior do que todas as hortaliças e deita ramos tão grandes, que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra2.
O Senhor escolheu um punhado de homens para instaurar o seu reinado no mundo. A maioria deles eram humildes pescadores de pouca cultura, cheios de defeitos e sem meios materiais: escolheu a fraqueza do mundo para confundir os fortes3. À luz de considerações meramente humanas, é incompreensível que esses homens tivessem chegado a difundir a doutrina de Cristo por toda a terra em tempo tão curto e tendo que enfrentar tantos obstáculos e contradições. Com a parábola do grão de mostarda – comenta São João Crisóstomo –, o Senhor moveu-os à fé e fez-lhes ver que a pregação do Evangelho se propagaria apesar de todas as dificuldades4.
Nós também somos esse grão de mostarda em relação à tarefa que o Senhor nos confia no meio do mundo. Não devemos esquecer a desproporção entre os meios ao nosso alcance – os nossos poucos talentos – e a vastidão do apostolado que devemos realizar; mas também não podemos esquecer que sempre teremos a ajuda do Senhor. Surgirão dificuldades, e então seremos mais conscientes da nossa insignificância e não teremos outro remédio senão confiar mais no Mestre e no caráter sobrenatural da obra que nos encomenda.
“Nas horas de luta e contradição, quando talvez «os bons» encham de obstáculos o teu caminho, levanta o teu coração de apóstolo; ouve Jesus que fala do grão de mostarda e do fermento. – E diz-lhe: «Edissere nobis parabolam» – explica-me a parábola.
“E sentirás a alegria de contemplar a vitória futura: aves do céu à sombra do teu apostolado, agora incipiente; e toda a massa fermentada”5.
Se não perdermos de vista a nossa pouca valia e a ajuda da graça, permaneceremos sempre firmes e fiéis, e saberemos corresponder às expectativas do Senhor em relação a cada um de nós. Com Ele, podemos tudo.
– As dificuldades que encontramos no apostolado não devem desanimar-nos.
II. OS APÓSTOLOS E OS PRIMEIROS cristãos encontraram uma sociedade minada nos seus próprios alicerces, sobre os quais era praticamente impossível construir qualquer ideal. São Paulo descreve assim a sociedade romana e o mundo pagão em geral, que em muitos aspectos perdera a própria luz natural da razão e ficara como que cego para a dignidade do homem: Por isso Deus os abandonou aos desejos do seu coração, à impureza [...]. Por isso os entregou a paixões infames [...]. E, como não quiseram reconhecer a Deus, Ele os entregou aos seus sentimentos depravados, de sorte que cometeram torpezas indignas do homem e se encheram de toda a injustiça, malícia, fornicação, avareza, perversidade; dados à inveja, ao homicídio, às contendas, às fraudes, à malignidade; murmuradores, caluniadores, inimigos de Deus, ultrajadores, orgulhosos, arrogantes, inventores de vícios, rebeldes aos pais, sem bom-senso, sem coração, desleais, sem piedade6. E os cristãos transformaram essa sociedade atuando no seu próprio âmago; ali caiu a semente e, embora fosse insignificante, a partir dali propagou-se pelo mundo inteiro, porque trazia em si uma força divina, porque era de Cristo.
Os primeiros cristãos que chegaram a Roma não eram diferentes de nós, e com a ajuda da graça exerceram um apostolado eficaz, trabalhando nas mesmas profissões que os demais concidadãos, debatendo-se com os mesmos problemas, acatando as mesmas leis, a não ser que fossem diretamente contra as leis de Deus. A cristandade primitiva, em Jerusalém, em Antioquia ou em Roma, era verdadeiramente como um grão de mostarda perdido na imensidade do campo.
Os obstáculos do ambiente não nos devem desanimar, ainda que vejamos na nossa sociedade sinais semelhantes – ou idênticos – aos do tempo de São Paulo. Deus conta conosco para transformar o ambiente em que se desenrola a nossa vida diária. Não deixemos de fazer o que estiver ao nosso alcance, ainda que nos pareça pouco – tão pouco como uns insignificantes grãos de mostarda –, porque o próprio Senhor fará crescer o nosso empenho; e a oração e os sacrifícios que tenhamos feito darão os seus frutos.
Talvez esse “pouco” que está realmente ao nosso alcance possa ser aconselhar à vizinha ou ao colega da Faculdade um bom livro que lemos; ser amáveis com o cliente, com o subordinado; comentar um bom artigo do jornal; rezar pelo amigo doente, pedir-lhe que reze por nós, falar-lhe da Confissão... e, sempre, uma vida exemplar e sorridente.
Toda a vida pode e deve ser apostolado discreto e simples, mas audaz. E esses pequenos gestos, semeados com naturalidade e perseverança, serão como a pequena semente que a graça de Deus transformará em árvore frondosa, como a chispa que dá lugar a um incêndio divino por toda a face da terra.
– O Senhor é a nossa fortaleza. Esforço por afastar os respeitos humanos.
III. O ANÚNCIO DO EVANGELHO, feito a maioria das vezes entre os companheiros de ofício ou entre os vizinhos, significou nos primeiros tempos uma mudança radical de vida e a salvação eterna para famílias inteiras. Para outros, porém, foi escândalo e, para muitos, loucura7.
São Paulo declara aos cristãos de Roma que não se envergonha do Evangelho, porque é uma força de Deus para a salvação de todo aquele que crê8. E São João Crisóstomo comenta: “Se hoje alguém se aproxima de ti e te diz: «Mas adoras um crucificado?», longe de baixares a cabeça e ficares ruborizado, tira dessa zombaria ocasião de glória, e que o brilho dos teus olhos e o aspecto do teu rosto mostrem que não tens vergonha. Se tornam a perguntar-te ao ouvido: «Como!, adoras um crucificado?», responde: «Sim, eu o adoro» [...]. Eu adoro e glorio-me de um Deus crucificado que, com a sua Cruz, reduziu ao silêncio os demônios e eliminou toda a superstição: para mim, a sua Cruz é o indizível troféu da sua benevolência e do seu amor!”9 É uma bela resposta, que tem plena aplicação nos nossos dias.
Devemos aprender dos primeiros cristãos a não ter falsos respeitos humanos, a não temer o “que podem dizer”, mantendo viva a preocupação de dar a conhecer Cristo em qualquer situação, com a consciência clara de que se trata do tesouro que achamos10, da pérola preciosa11 que encontramos depois de muito procurar. A luta contra o respeito humano não deve cessar em momento algum, pois não será infreqüente chocarmos com um clima adverso quando não escondemos a nossa condição de cristãos que seguem Jesus de perto e querem ser conseqüentes com a doutrina que professam. Muitos que se dizem cristãos, mas se mostram pouco valentes à hora de afirmarem com desassombro a sua fé, parecem dar mais valor à opinião dos outros que à de Cristo, ou deixam-se levar pela comodidade fácil de seguir a corrente, de não se singularizarem, etc. Semelhante atitude revela fraqueza de caráter, falta de convicções profundas, pouco amor a Deus.
É lógico que por vezes nos custe comportar-nos como aquilo que somos, como cristãos que querem viver a fé que professam em todos os momentos e situações da sua vida. E essas ocasiões serão excelentes para mostrarmos o nosso amor a Deus deixando de lado os respeitos humanos, a opinião do ambiente, etc., pois Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de coragem, de amor e de temperança. Jamais te envergonhes do testemunho do nosso Senhor12, exortava São Paulo a Timóteo, a quem ele próprio tinha aproximado da fé.
Foi esta a atitude daqueles que nos precederam na tarefa de recristianizar o mundo. E mesmo antes. Temos o exemplo de Judas Macabeu em momentos muito difíceis, quando o santuário ficou desolado como o deserto e muitos em Israel se acomodaram a esse culto, sacrificando aos ídolos e profanando o sábado13. Judas, à frente dos seus irmãos – seguindo o exemplo de seu pai, Matatias –, revolta-se contra aquela iniqüidade e sabe combater alegremente os combates de Israel14 pela honra de Deus. Judas Macabeu proclamou-nos a razão da sua vitória: Para o Deus dos céus, não há diferença entre salvar uma multidão ou um punhado de homens, porque a vitória na guerra não depende do número dos que combatem, mas da força de uns poucos15. Sempre foi assim nas coisas de Deus, desde os primórdios da Igreja até os nossos dias. Deus vale-se do pouco para as suas obras. Nunca nos faltará também a sua ajuda. Ele fará com que o pouco se torne uma força grande precisamente nesse lugar em que estamos.
E também nós encontraremos na Cruz o poder e a valentia de que necessitamos. Olhamos para Santa Maria: “Não a arreda o clamor da multidão, nem deixa de acompanhar o Redentor enquanto todos os do cortejo, no anonimato, se fazem covardemente valentes para maltratar Cristo. – Invoca-a com força: «Virgo fidelis!» Virgem fiel! –, e pede-lhe que nós, que nos dizemos amigos de Deus, o sejamos deveras e a todas as horas”16.
(1) Ez 17, 22-24; (2) Mc 4, 31-32; (3) 1 Cor 1, 27; (4) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 46; (5) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 695; (6) Rom 1, 24-31; (7) cfr. 1 Cor 1, 23; (8) cfr. Rom 1, 16; (9) São João Crisóstomo, Homilias sobre a Epístola aos Romanos, 2; (10) cfr. Mt 13, 44; (11) cfr. Mt 13, 45-46; (12) 2 Tim 1, 7-8; (13) 1 Mac 1, 41; (14) 1 Mac 3, 2; (15) 1 Mc 3, 18-19; (16) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 51.