TEMPO COMUM. DÉCIMA SÉTIMA SEMANA. QUARTA‑FEIRA

– A vocação, algo de valor imenso, uma prova muito especial do amor de Deus.

I. O REINO DOS CÉUS é semelhante a um tesouro escondido num campo, o qual, quando um homem o acha, esconde‑o e, cheio de alegria pelo que encontrou, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo. Também é semelhante a um mercador que busca boas pérolas. E, tendo encontrado uma de grande valor, vai, vende tudo o que tem e compra‑a1.

Com estas duas parábolas, Jesus revela no Evangelho da Missa o valor supremo do Reino de Deus e qual deve ser a atitude do homem para alcançá‑lo. O tesouro e a pérola têm sido imagens utilizadas tradicionalmente para exprimir a grandeza da vocação, o caminho pessoal para alcançar Cristo nesta vida e depois, para sempre, no Céu.

O tesouro significa a abundância de dons que se recebem juntamente com a vocação: graças para vencer os obstáculos, para crescer em fidelidade dia a dia, para o apostolado...; a pérolaindica a beleza e a maravilha do chamamento divino: não é somente algo de altíssimo valor, mas também o ideal mais belo e perfeito que o homem pode descobrir.

Há uma novidade nesta segunda parábola em relação à do tesouro: a descoberta da pérola foi precedida por uma busca afanosa, ao passo que o tesouro foi encontrado de improviso2. Ambas as situações podem dar‑se no chamamento divino. Muitos podem ter encontrado a sua vocação quase sem procurá‑la; foi um tesouro que os deslumbrou repentinamente. Outros experimentaram uma inquietação íntima, posta por Deus em seus corações, que os levou a procurar a pérola de maior valor; sentiram uma insatisfação em relação às coisas humanas que os impeliu a continuar a busca: Quid adhuc mihi deest? Que me falta?3 Em ambos os casos – um encontro repentino ou a busca prolongada –, tratou‑se de algo de altíssimo valor: “uma honra imensa, um orgulho grande e santo, uma prova de predileção, um carinho particularíssimo, que Deus manifestou num momento concreto, mas que estava na sua mente desde toda a eternidade”4.

– Deus passa pela vida de cada pessoa em circunstâncias bem determinadas de idade, trabalho, etc. Passa e chama.

II. UMA VEZ DESCOBERTA a pérola ou encontrado o tesouro, é necessário dar mais um passo. A atitude que se deve tomar é idêntica em ambas as parábolas e está descrita nos mesmos termos: vai, vende tudo o que tem e compra‑o. O desprendimento, a generosidade, é condição indispensável para se entrar na posse do achado. “Escrevias: «[...] Esta passagem do Santo Evangelho caiu na minha alma e lançou raízes. Já a tinha lido muitas vezes, sem captar a sua substância, o seu sabor divino».

“Tudo..., tudo tem que ser vendido pelo homem sensato, para conseguir o tesouro, a pérola preciosa da Glória!”5 Não há nada de tanto valor!

Mas nem o homem que encontrou o tesouro nem aquele que descobriu a pérola sentem falta do que antes possuíam e que venderam. A riqueza do que acharam é de tal ordem que compensa de longe o que deram em troca, isto é, tudo o que tinham. A mesma coisa acontece com os que descobrem ou encontram o seu caminho pessoal para Deus: abandonam tudo e encontram tudo. O Senhor sublinha na parábola a alegria com que aqueles homens venderam o que possuíam. É razoável pensar que se tratava de coisas que apreciavam: casa, mobília, peças decorativas... Representavam o esforço de anos de trabalho. Mas vendem tudo, sem calculismos, sem pensar demasiado, com alegria.

Deus passa pela vida de cada pessoa em circunstâncias bem determinadas, numa idade concreta, em situações diferentes. Passa e chama uns na primeira hora6, quando têm ainda poucos anos, e pede‑lhes as suas ambições, as esperanças e projetos de um futuro que, a essa idade, parece cheio de promessas; a outros, chama‑os na maturidade da vida... ou no seu declínio. E a maioria, o Senhor encontra‑os no seu trabalho de homens e mulheres correntes no meio do mundo, e deseja que continuem a ser fiéis comuns para que santifiquem esse mundo em cujo cerne se encontram, sem abandonar nenhuma das suas responsabilidades, mas vivendo através delas uma entrega plena e total a Deus.

Em qualquer idade em que se receba a chamada, o Senhor concede uma juventude interior que tudo renova, um entusiasmo de coisas por estrear e de ímpeto apostólico. Ecce nova facio omnia7, diz o Senhor; Eu posso renovar tudo, acabar com a rotina da tua vida, ensinar‑te a olhar mais longe e mais alto. Não vale a pena? Não está aí a fonte da alegria que não passa, que já não tem altos e baixos?

Qual a melhor idade para entregar‑se a Deus? Aquela em que o Senhor chama. Tanto faz também que se seja solteiro, casado ou viúvo, porque Deus nos quer com tudo o que somos e temos, dentro das nossas circunstâncias particulares. O importante, pois, é ser generoso com Ele no momento e sempre, sem confiar em que haverá outra oportunidade; sem pensar também que já passou o tempo das decisões cheias de audácia e de valentia, que é muito tarde... ou muito cedo. Sempre é tempo para a alegria do encontro divino.

– Generosidade perante a chamada do Senhor.

III. EM COMPARAÇÃO com a pérola de grande preço achada pelo mercador – comenta São Gregório Magno –, nada tem valor, e a alma abandona tudo o que tinha adquirido, desfaz‑se de tudo o que vinha carregando sobre as costas e considera disforme tudo o que lhe parecia belo na terra, porque somente o resplendor daquela pérola preciosa brilha aos olhos da sua alma8.

Quem é chamado – seja qual for a sua situação pessoal – deve entregar ao Senhor tudo o que Ele lhe pede: com freqüência, tudo o que estiver em condições de dar‑lhe. As circunstâncias, no entanto, são diferentes e, portanto, dar tudo nem sempre irá significar materialmente a mesma coisa: uma pessoa casada, por exemplo, não pode nem deve abandonar o que, por vontade de Deus, pertence aos seus: o amor à mulher ou ao marido, a dedicação à família, a educação dos filhos... Para essa pessoa, dar tudo significa viver a vida de um modo novo, cumprindo melhor os seus deveres; significa viver heroicamente as suas obrigações familiares; desviver‑se no esforço por educar cristã e humanamente os filhos; preocupar‑se pelas outras famílias amigas; falar‑lhes de Deus com a conduta e com a palavra; encontrar tempo para colaborar em tarefas de apostolado...: “Na vida real de um homem ou de uma mulher casados, que depois descobrem o significado vocacional do seu matrimônio, a «descoberta» aparece sempre como uma dimensão concreta da sua vocação cristã, que é o que há de mais radical”9.

Mas em qualquer estado ou situação, quando se deseja seguir o Senhor mais de perto, compreende‑se que ninguém pode ficar fechado no seu pequeno mundo. Compreende‑se que é necessário iluminar a vida dos outros, chegar mais longe, entrar mais a fundo no ambiente em que se vive para transformá‑lo, ampliando o círculo de amizades, empenhando‑se numa ação apostólica mais intensa e extensa. Isto diz respeito também aos casados, aos doentes, aos de idade avançada, que, dentro dos limites das suas circunstâncias de vida, devem sentir‑se responsáveis por um mundo que está às escuras.

Seguir assim os passos de Cristo, numa entrega plena, nunca é fácil. Quem se encontra instalado numa posição mais ou menos estável, quem se considera com a vida já realizada, pode ver que essa tranqüilidade conquistada – à qual considera ter pleno direito – corre perigo. E é com isso precisamente que Cristo pede que rompamos: com a rotina, com a mediocridade, com a vulgaridade cômoda.

A vocação sempre exige renúncia e uma mudança profunda na conduta. Implica a entrega a Deus daquilo que se tinha reservado para si, e deixa a descoberto os apegamentos, as fraquezas, os redutos que se supunham intocáveis e que, no entanto, é preciso destruir para adquirir o tesouro sem preço, a pérola incomparável. É o próprio Jesus quem nos procura: Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi10. E se Ele chama, também dá as graças necessárias para segui‑lo, no começo da vida, na maturidade e na velhice.

São José, nosso Pai e Senhor, encontrou o tesouro da sua vida e a pérola preciosa na missão de cuidar de Jesus e de Maria aqui na terra. Peçamos‑lhe hoje que nos ajude sempre a viver com plenitude e alegria o que Deus quer de cada um de nós, e que entendamos em todo o momento que nada vale tanto a pena como o cumprimento fiel dos compromissos da nossa vocação.

(1) Mt 13, 44‑45; (2) cfr. F. M. Moschner, Las parábolas del Reino de los Cielos, Rialp, Madrid, 1957, pág. 11; (3) Mt 19, 20; (4) Josemaría Escrivá, Forja, n. 18; (5) ib., n. 993; (6) cfr. Mt 20, 1 e segs.; (7) Apoc 2, 2‑6; (8) cfr. São Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, 11; (9) P. Rodriguez, Vocación, trabajo, contemplación, EUNSA, Pamplona, 1986, pág. 31; (10) Jo 15, 16.

01 de Agosto 2018

A SANTA MISSA

17ª Semana do Tempo Comum – Quarta-feira 
Memória: Santo Afonso Maria de Ligório, bispo e doutor da Igreja
Cor: branca

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1ª Leitura: Jr 15,10.16-21

 “Por que se tornou eterna minha dor? –
Se te converteres, converterei teu coração,
para te sustentares em minha presença”. 

Leitura do Livro do Profeta Jeremias

10 Ai de mim, minha mãe, que me geraste um homem de controvérsia, um homem em discórdia com toda a gente! Não emprestei com usura nem ninguém me emprestou, e contudo todos me amaldiçoam. 16 Quando encontrei tuas palavras, alimentei-me, elas se tornaram para mim uma delícia e a alegria do coração, o modo como invocar teu nome sobre mim, Senhor Deus dos exércitos. 17 Não costumo frequentar a roda dos folgazões e gabo-me disso; fiquei a sós, sob o influxo de tua presença e cheio de indignação. 18 Por que se tornou eterna minha dor, por que não sara minha chaga maligna? Para mim te tornaste como miragem de um regato, como visão d’águas ilusórias. 19 Ainda assim, isto diz-me o Senhor: “Se te converteres, converterei teu coração, para te sustentares em minha presença; se souberes separar o precioso do vil, falarás por minha boca; os outros voltarão para ti, e tu não voltarás para eles. 20 Em favor deste povo, farei de ti uma muralha de bronze fortificada; combaterão contra ti, mas não prevalecerão, porque eu estou contigo para te salvar e te defender, diz o Senhor. 21 Eu te libertarei das mãos dos perversos e te salvarei dos prepotentes”.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 58,2-3. 4-5a. 10-11. 17. 18 (R. 17d)

R. Sois meu refúgio no dia da aflição.

2Libertai-me do inimigo, ó meu Deus, *
e protegei-me contra os meus perseguidores!
3Libertai-me dos obreiros da maldade, *
defendei-me desses homens sanguinários!    R.

4 Eis que ficam espreitando a minha vida, *
poderosos armam tramas contra mim.
5a Mas eu, Senhor, não cometi pecado ou crime.     R.

10 Minha força, é a vós que me dirijo, +
porque sois o meu refúgio e proteção, *
11 Deus clemente e compassivo, meu amor!
Deus virá com seu amor ao meu encontro, *
e hei de ver meus inimigos humilhados.      R.

17 Eu, então, hei de cantar vosso poder, *
e de manhã celebrarei vossa bondade,
porque fostes para mim o meu abrigo, *
o meu refúgio no dia da aflição.      R.

18 Minha força, cantarei vossos louvores, +
porque sois o meu refúgio e proteção, *
Deus clemente e compassivo, meu amor!     R.

Evangelho: Mt 13,44-46 

 “Vende todos os seus bens e compra aquele campo”. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 44 “O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo. 45 O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas. 46 Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola”.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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TEMPO COMUM. DÉCIMA SÉTIMA SEMANA. TERÇA‑FEIRA

– Amizade com Jesus.

I. NA LONGA TRAVESSIA pelo deserto, o Povo de Deus instalava, fora do lugar onde acampava, a chamada Tenda da reunião ou do encontro. Tratava‑se de um lugar sagrado, santo, um lugar à parte. Quem queria visitar o Senhor saía do acampamento e dirigia‑se à Tenda do encontro. Para lá se dirigia Moisés, a fim de expor ao Senhor as necessidades do seu povo, e Deus falava a Moisés cara a cara, como fala um homem com o seu amigo1.

Em várias ocasiões, a Sagrada Escritura mostra‑nos a Deus como um amigo dos homens. Por sua vez, Abraão é chamado o amigo de Deus2, e o povo apelava com freqüência para essa amizade a fim de invocar o perdão e a proteção divina. Além disso, toda a Revelação tendia a formar um povo amigo de Deus, unido a Ele por uma forte Aliança que era renovada continuamente. “O Deus invisível, levado pelo seu grande amor, falou aos homens como a amigos e com eles se entreteve para os convidar à comunhão consigo e recebê‑los na sua companhia”3.

Este desígnio divino teve o seu pleno cumprimento quando, chegada a plenitude dos tempos, o Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, se fez homem. Como a amizade implica certa igualdade e comunhão de vida4, e a distância entre Deus e o homem é infinita, Deus assumiu a natureza humana e o homem tornou‑se participante da Divindade mediante a graça santificante5.

A essência da amizade entre Deus e os homens fundamenta‑se na natureza da caridade, que é sobrenatural e derrama‑se nos nossos corações6 para que possamos amar a Deus com o mesmo amor com que Ele nos ama. Jesus diz‑nos: Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu amor7. E dirigindo‑se ao Pai: O amor com que tu me amaste esteja neles, e eu neles8. A certeza de que Deus nos ama é a raiz da alegria e da felicidade do cristão: Vós sois meus amigos...9 Que imensa alegria podermos chamar‑nos amigos de Deus!

Ao longo da sua vida terrena, o Senhor esteve sempre aberto a uma amizade sincera com os que se aproximavam dEle; em muitas ocasiões, foi Ele próprio quem tomou a iniciativa de os atrair a si: assim sucedeu com Zaqueu, com a mulher samaritana..., com tantos outros. Era amigo dos seus discípulos, que se mostravam conscientes desse apreço de que o Senhor os rodeava. Quando não entendiam alguma coisa, aproximavam‑se dEle com confiança, como nos mostra o Evangelho da Missa de hoje10: Explica‑nos a parábola, pedem‑lhe com toda a naturalidade. E o Senhor leva‑os a um lugar à parte e desvenda‑lhes de um modo mais íntimo o conteúdo dos seus ensinamentos. Participavam também das alegrias e das preocupações do Mestre, e recebiam dEle alento e ânimo quando precisavam.

Do mesmo modo, o Senhor oferece‑nos agora a sua amizade no Sacrário: é onde nos consola, anima e perdoa. No Sacrário, como naquela Tenda do encontro, fala com todos, cara a cara, como um homem fala com o seu amigo. Com a grande diferença de que nos nossos templos está presente Deus feito Homem: Jesus, o mesmo que nasceu de Santa Maria e que morreu por nós numa cruz.

“Jesus é teu amigo. – O Amigo. – Com coração de carne como o teu. – Com olhos de olhar amabilíssimo, que choraram por Lázaro...

“– E, tanto, como a Lázaro, te ama a ti”11.

– Jesus Cristo, exemplo de amizade verdadeira.

II. JESUS GOSTAVA de conversar com os que o procuravam ou com os que encontrava pelo caminho. Aproveitava essas ocasiões para chegar ao fundo da alma e elevar o coração a um plano mais alto, e muitas vezes – quando os seus interlocutores se mostravam bem dispostos – até à conversão e à entrega plena.

Também quer falar conosco na intimidade da oração. E para isso temos de estar abertos ao diálogo com Ele, à amizade sincera. “Ele mesmo nos converteu de servos em amigos, como disse claramente: Sereis meus amigos se cumprirdes o que vos mandei (Jo 15, 14). Deixou‑nos o modelo que devemos imitar. Portanto, temos de compartilhar o desejo do Amigo, revelar‑lhe confidencialmente o que temos na alma e não ignorar nada do que Ele tem no coração. Abramos‑lhe a nossa alma, e Ele nos abrirá a sua. Com efeito, o Senhor declara: Chamei‑vos amigos porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai (Jo 15, 14). O verdadeiro amigo, portanto, não oculta nada ao amigo; descobre‑lhe todo o seu ânimo, assim como Jesus derramava no coração dos Apóstolos os mistérios do Pai”12.

Este é o segredo da verdadeira oração, quer quando recitamos orações vocais, quer sobretudo quando nos recolhemos numa oração mais pessoal, a oração mental. Muitos se perguntam como preencher o tempo que reservam diariamente para essa oração sem palavras. Ao longo da história da espiritualidade cristã, chegaram a formar‑se escolas que recomendavam este ou aquele método de discorrer com o pensamento na oração. Todos são bons e de todos se pode aprender muito. Mas o que verdadeiramente importa, como princípio e como resultado final, é compreender que a oração é fundamentalmente um processo de amizade com Deus, com Cristo, perfeito Deus e perfeito homem, que portanto nos ouve e nos compreende infinitamente.

O que interessa acima de tudo é, por conseguinte, estar a sós e conversar com Aquele que sabemos que nos ama, como aconselhava Santa Teresa. Para isso podemos e muitas vezes será prudente servir‑nos de um livro que suscite e encaminhe os nossos pensamentos e afetos, ou repassar as verdades de fé contidas no Credo ou tratadas em livros de doutrina; e será imprescindível determo‑nos a considerar a vida do Senhor, meditando sobre os textos evangélicos. Não esqueçamos, porém, que, seja por um meio ou por outro, devemos chegar à relação pessoal com Cristo, ao colóquio com Ele, num clima de absoluta confiança e simplicidade: “Escreveste‑me: «Orar é falar com Deus. Mas de quê?» – De quê? DEle e de ti: alegrias, tristezas, êxitos e malogros, ambições nobres, preocupações diárias..., fraquezas!; e ações de graças e pedidos; e Amor e desagravo.

“Em duas palavras: conhecê‑Lo e conhecer‑te – ganhar intimidade!”13

– Fomentar uma amizade cordial e otimista com as pessoas com quem nos relacionamos. Apostolado de amizade.

III. NÓS, CRISTÃOS, podemos ser homens e mulheres com maior capacidade de amizade, porque o trato habitual com Jesus Cristo nos prepara para saírmos do nosso egoísmo, da preocupação excessiva pelos problemas pessoais, e desse modo estarmos abertos aos que freqüentam o nosso trato, ainda que sejam de outra idade ou de outros gostos, cultura ou posição.

A amizade, no entanto, não nasce de um simples encontro ocasional, nem da mútua necessidade de ajuda. Nem sequer a camaradagem, o trabalho em comum ou a própria convivência conduzem necessariamente à amizade. Não são amigas duas pessoas que se encontram todos os dias no elevador, no transporte público ou num escritório. Nem a mútua simpatia é, por si mesma, amizade.

São Tomás afirma14 que nem todo o amor indica amizade, mas apenas o amor que implica benevolência, quer dizer, que se manifesta em desejar o bem para o outro. Por isso, as possibilidades de amizade crescem quando é maior a ocasião de difundir o bem que se possui: “Só são verdadeiros amigos aqueles que têm alguma coisa a dar e, ao mesmo tempo, a humildade suficiente para receber. Por isso, a amizade é mais própria dos homens virtuosos. O vício compartilhado não produz amizade mas cumplicidade, o que não é o mesmo. Nunca se pode legitimar um mal com uma pretensa amizade”15; o mal, o pecado, jamais une na amizade e no amor.

Nós, cristãos, podemos dar aos nossos amigos compreensão, tempo, ânimo e alento nas dificuldades, otimismo e alegria, mas, sobretudo, podemos e devemos dar‑lhes o maior bem que possuímos: o próprio Cristo, o Amigo por excelência. Por isso a amizade verdadeira conduz ao apostolado, que é o meio de comunicarmos aos outros os imensos bens da fé.

Um amigo fiel é um poderoso protetor; quem o encontra acha um tesouro. Nada vale tanto como um amigo fiel; o seu preço é incalculável16. Por isso, a amizade tem de ser protegida e defendida contra o passar do tempo, que leva ao esquecimento, ao distanciamento; contra a inveja, que freqüentemente é o que mais a corrompe17. Oxalá possamos dizer como aquele homem que terminava assim umas anotações autobiográficas: “Há uma coisa de que posso orgulhar‑me: julgo que nunca perdi um amigo”.

A um amigo pede‑se que seja fiel, que se mantenha firme nas dificuldades, que resista à prova do tempo e das contradições, que saia em defesa do amigo em qualquer situação que se apresente: “Devemos ser fiéis à amizade verdadeira – aconselhava Santo Ambrósio –, porque não há nada mais belo nas relações humanas. Consola muito nesta vida ter um amigo a quem abrir o coração, a quem descobrir a própria intimidade e manifestar as penas da alma; alivia muito ter um amigo fiel que se alegre contigo na prosperidade, compartilhe a tua dor nas adversidades e te sustente nos momentos difíceis”18.

Fomentemos a amizade cordial e sincera, otimista, com as pessoas com quem nos relacionamos todos os dias: com os vizinhos, com os colegas de trabalho ou de estudo, com essas pessoas de quem recebemos ou a quem prestamos diariamente um serviço exigido pelos afazeres profissionais. De modo especial, sejamos muito amigos do nosso Anjo da Guarda. “Todos precisamos de muita companhia: companhia do Céu e da terra. Sejamos devotos dos Santos Anjos! É muito humana a amizade, mas é também muito divina; tal como a nossa vida, que é divina e humana”19. O Anjo da Guarda não se afasta devido aos nossos caprichos e defeitos; conhece as nossas fraquezas e misérias, e talvez por isso nos ame mais20. A amizade com o Anjo da Guarda será modelo para a nossa amizade com os homens.

Mas, acima de qualquer outra amizade, devemos tornar forte e entranhada a amizade “com o Grande Amigo, que nunca atraiçoa”21. Encontramos o Senhor com suma facilidade; Ele está sempre disposto a receber‑nos, a conversar conosco todo o tempo que desejemos. “Ide a qualquer parte do mundo que desejardes, mudai de casa quantas vezes quiserdes, que sempre encontrareis na igreja católica mais próxima o vosso Amigo que está à vossa espera dia após dia”22. No convívio com Ele aprendemos de verdade a ser amigos, a estar sempre prontos e abertos a toda a amizade sincera com os homens, que será o caminho natural pelo qual Cristo, nosso Amigo, poderá chegar até o fundo dessas almas.

(1) Ex 33, 11; Primeira leitura da Missa da terça‑feira da décima sétima semana do TC, ano I; (2) cfr. Is 41, 8; (3) Conc. Vat. II, Const. Dei Verbum, 2; (4) cfr. São Tomás, Suma Teológica, II‑II, q. 23, a. 1; (5) ib.; (6) cfr. Rom 5, 5; (7) Jo 15, 9; (8) Jo 17, 26; (9) Jo 15, 13‑14; (10) Mt 13, 36‑43; (11) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 422; (12) Santo Ambrósio, Sobre o ofício dos ministros, 3, 135; (13) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 91; (14) São Tomás, op. cit.; (15) J. Abad, Fidelidad, Palabra, Madrid, 1987, pág. 110; (16) Ecl 6, 14‑17; (17) cfr. São Basílio, Homilia sobre a inveja; (18) Santo Ambrósio, op. cit., 3, 134; (19) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 315; (20) cfr. A. Vasquez de Prada, Estudio sobre la amistad, Rialp, Madrid, 1956, pág. 259; (21) cfr. Josemaría Escrivá, Caminho, n. 88; (22) R. A. Knox, Sermões Pastorais, Rialp, Madrid, 1963, pág. 473.

Fonte: livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal.

31 de Julho 2018

A SANTA MISSA

17ª Semana do Tempo Comum – Terça-feira 
Memória: Santo Inácio de Loiola, presbítero
Cor: branca

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1ª Leitura: Jr 14,17-22

 “Lembra-te, não quebres a tua aliança conosco”. 

Leitura do Livro do Profeta Jeremias

17 Derramem lágrimas meus olhos, noite e dia, sem parar, porque um grande desastre feriu a cidade, a jovem filha de meu povo, um golpe terrível e violento. 18 Se eu sair ao campo, vejo cadáveres abatidos à espada; se entrar na cidade, deparo com gente consumida de fome; até os profetas e sacerdotes andam à toa pelo país. 19 Acaso terás rejeitado Judá inteiramente, ou te desgostaste deveras de Sião? Por que, então, nos feriste tanto, que não há meio para nos curarmos? Esperávamos a paz, e não veio a felicidade; contávamos com o tempo de cura, e não nos restou senão consternação. 20 Reconhecemos, Senhor, a nossa impiedade, os pecados de nossos pais, porque todos pecamos contra ti. 21 Mas, por teu nome, não nos faças sofrer a vergonha suprema de levarmos a desonra ao trono de tua glória; lembra-te, não quebres a tua aliança conosco. 22 Acaso existem entre os ídolos dos povos os que podem fazer chover? Acaso podem os céus mandar-nos as águas? Não és tu o Senhor, nosso Deus, que estamos esperando? Tu realizas todas essas coisas.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 78, 8. 9. 11.13 (R. 9bc)

R. Por vosso nome e vossa glória, libertai-nos!

8Não lembreis as nossas culpas do passado, +
mas venha logo sobre nós vossa bondade, *
pois estamos humilhados em extremo. R.

9 Ajudai-nos, nosso Deus e Salvador! +
Por vosso nome e vossa glória, libertai-nos! *
Por vosso nome, perdoai nossos pecados!      R.

11 Até vós chegue o gemido dos cativos: +
libertai com vosso braço poderoso *
os que foram condenados a morrer!
13 Quanto a nós, vosso rebanho e vosso povo, +
celebraremos vosso nome para sempre, *
de geração em geração vos louvaremos.       R.

Evangelho: Mt 13,36-43 

 “Como o joio é recolhido e queimado ao fogo,
assim também acontecerá no fim dos tempos”. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo: 36 Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: “Explica-nos a parábola do joio!” 37 Jesus respondeu: “Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. 38 O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. 39 O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifadores são os anjos. 40 Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: 41 o Filho do Homem enviará os seus anjos e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; 42 e depois os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. 43 Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.”

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Santo Inácio de Loiola

31 de Julho

Santo Inácio de Loyola 

Inácio de Loyola nasceu na Espanha, de família nobre, no ano 1491. Valente, ousado, decidido e orgulhoso, cedo optou pela carreira militar, alimentando o propósito de sobressair entre seus companheiros de armas. Quando ocorreu a batalha de Pamplona, durante a qual o castelo de Pamplona foi sitiado pelos franceses, ele já era capitão. Os outros da mesma patente quiseram render-se, mas Inácio se opôs e resistiu bravamente, até que uma bala de canhão o atingiu, fraturando sua perna. Esse ferimento o fez passar por tratamentos muito dolorosos, aos quais ele, muito vaidoso, se submeteu sem soltar um único gemido, para não ficar com qualquer defeito físico.

Durante a longa convalescença entre os livros de guerras e feitos militares que uma cunhada lhe levou para ler, havia também livros sobre a vida de Cristo e de alguns santos. Essas leituras influíram decisivamente na conversão de Inácio cuja vida pode ser dividida em três períodos. De 1491 a 1521, dedicou-se à vida na Corte e à carreira militar.

De 1521 a 1540, sua caminhada foi marcada pela penitência, oração, pobreza e afastamento do mundo. Foi nesse período que ele fez uma peregrinação à Terra Santa e na volta resolveu estudar em Barcelona. E assim, aos 33 anos, o outrora vaidoso capitão do exército imperial, humildemente se senta ao lado de crianças de dez a doze anos de idade para estudar latim.

Completa os estudos em Alcalá, Salamanca e Paris, e no dia 15 de agosto de 1534, pelas suas mãos e graça de Deus, nasce em Montmartre, Paris, a conhecida Ordem dos Jesuítas que foi confirmada em 1540 pelo Papa Paulo II.

De 1540 até o dia de sua morte, Inácio voltou a ser o capitão, não mais porém da Companhia Imperial, mas da Companhia de Jesus. Os jesuítas são soldados de Cristo, o Papa é o general supremo, a única glória que deve ser buscada, é a glória de Deus, e as únicas batalhas que devem ser travadas e vencidas, são aquelas em favor do Reino. Santo Inácio de Loyola morreu em Roma, no dia 31 de julho de 1556.

Hoje Inácio, o militar arrogante e vaidoso que foi vencido pelo amor de Deus, o homem destemido que foi perseguido e caluniado, mas não desesperou e tudo suportou por causa do Evangelho, nos leva a refletir que Deus tem caminhos variados e até mesmo estranhos para chegar ao coração do homem. Que Santo Inácio de Loyola, que conseguiu transformar a dor e a decepção em uma oportunidade para reavaliar sua vida e assumir um novo modo de viver, nos ensine e nos ajude a ver nas dificuldades e nos momentos de crise, oportunidades para repensar nossa vida e fazer o caminho de volta para Deus.


30 de Julho 2018

A SANTA MISSA

17ª Semana do Tempo Comum – Segunda-feira 
Cor: verde

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1ª Leitura: Eclo 44,1.10-15

 “Seus nomes duram através das gerações”. 

Leitura do Livro do Eclesiástico

1 Vamos fazer o elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações. 10 Estes, são homens de misericórdia; seus gestos de bondade não serão esquecidos.  11 Eles permanecem com seus descendentes; seus próprios netos são a sua melhor herança. 12 A descendência deles mantém-se fiel às alianças, 13 e, graças a eles, também os seus filhos. Sua descendência permanece para sempre, e sua glória jamais se apagará. 14 Seus corpos serão sepultados na paz e seu nome dura através das gerações. 15 Os povos proclamarão a sua sabedoria, e a assembleia vai celebrar o seu louvor.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 131(132),11.13-14.17-18 (R. Lc 1,32a)

R. O Senhor vai dar-lhe o trono de seu pai, o rei Davi.

11O Senhor fez a Davi um juramento, *
uma promessa que jamais renegará:
“Um herdeiro que é fruto do teu ventre *
colocarei sobre o trono em teu lugar! R.

13 Pois o Senhor quis para si Jerusalém *
e a desejou para que fosse sua morada:
14 “Eis o lugar do meu repouso para sempre, *
eu fico aqui: este é o lugar que preferi!”      R.

17 “De Davi farei brotar um forte Herdeiro, *
acenderei ao meu Ungido uma lâmpada.
18 Cobrirei de confusão seus inimigos, *
mas sobre ele brilhará minha coroa!”     R.

Evangelho: Mt 13,16-17 

 “Muitos profetas e justos
desejaram ver o que vedes, e não viram”. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 16 “Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. 17 Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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São Pedro Crisólogo

30 de Julho

São Pedro Crisólogo

São Pedro Crisólogo nasceu no ano 380 em Ímola, Itália, num tempo marcado pela proliferação de muitas heresias, mas em compensação pelo surgimento de pastores, teólogos, pregadores e escritores inteligentes e piedosos que ajudaram a tornar mais viva e consciente a fé cristã. São Pedro Crisólogo foi uma dessas figuras. Recebeu o apelido de “crisólogo”, que significa “o homem da palavra de ouro”, exatamente pela clareza, conteúdo e eloquência de suas pregações. É autor de cerca de 200 sermões, todos de natureza doutrinária e que lhe deram mais tarde o título de Doutor da Igreja. Foi um pastor prudente, lúcido e seguro. Em suas pregações de cunho popular, bonitas, sem ambigüidades doutrinais, ele explica, de maneira clara e simples, o Evangelho, o credo, o Pai Nosso, dá exemplos de vida de santos para serem imitados e exalta as virtudes que os verdadeiros cristãos devem praticar. O amor paternal de Deus era um dos assuntos constantes e presentes em suas pregações. São Pedro Crisólogo era um homem que sabia ouvir. Escutava, com a mesma solicitude, humildes e poderosos e nutria um profundo respeito pelo Papa. Viveu em tempos difíceis, com os bárbaros de um lado, ameaçando e invadindo o império romano e, de outro lado, a Igreja de Constantinopla, contestando e disputando o poder com a Igreja de Roma. Quando, às vésperas do Concílio de Calcedônia, Eutíquio, que era superior de um mosteiro em Constantinopla, lhe pediu a opinião sobre a questão monofisista, isto é, sobre se em Cristo existia apenas uma natureza, São Pedro Crisólogo, prontamente, num claro sinal de respeito e adesão ao Papa e comunhão com a Igreja em Roma, aconselhou-o a procurar o Pontífice, porque para ele, questões de fé deveriam ser discutidas com o Bispo de Roma. São Pedro Crisólogo morreu em Ímola, entre os anos 450 e 451.

No passado São Pedro Crisólogo, o homem da palavra de ouro, mesmo em meio às maiores controvérsias e heresias, não teve receio de pregar o Evangelho de Jesus e iluminar com seus sermões e escritos fortes, porém simples e lúcidos, os fatos e situações concretas de seu tempo. Hoje ele nos convida, através de nossa palavra clara e simples, mas igualmente convincente, porque coerente com nosso testemunho de vida, a anunciar o Reino de Deus, que é mais bonito que a pérola mais rara e preciosa, e que vale mais que todo o ouro do mundo.


TEMPO COMUM. DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO. CICLO B

– Jesus sempre se mostra atento às diversas situações humanas e ensina‑nos a santificar as realidades da vida corrente.

I. NUM LUGAR AFASTADO, junto do lago de Genesaré, tinha‑se reunido em torno de Jesus uma multidão proveniente dos povoados vizinhos. E enquanto o Senhor falava, ninguém pensou no cansaço, nem nas horas que tinham passado sem comer, nem na falta de provisões e na impossibilidade de obtê‑las. As palavras de Jesus tinham cativado a todos e ninguém se lembrou da fome nem da hora de regressar. Mas Jesus compreende as nossas necessidades materiais, e por isso compadeceu‑se também dos corpos exaustos daqueles que o tinham seguido. E realiza o esplêndido milagre da multiplicação dos pães e dos peixes1.

E quando todos tinham já matado a fome e estavam entusiasmados pelo milagre que tinham visto com os seus próprios olhos, o Senhor aproveitou a ocasião para dar aos Apóstolos – e a nós – uma lição prática sobre o valor das coisas pequenas, da pobreza cristã, da boa administração dos bens que se possuem. Quando se saciaram, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que não se percam. E eles os recolheram, e encheram doze cestos com os pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram aos que tinham comido. Jesus mostra‑nos a sua magnificência, pois todos comeram quanto quiseram, mas também a necessidade de evitar o esbanjamento inútil e irresponsável dos bens; dá‑nos exemplo não só quando se compadece das multidões e realiza grandes prodígios, como também nestes pequenos detalhes.

A grandeza de alma de Cristo manifesta‑se nos grandes prodígios e nas insignificâncias de todos os dias. “Recolher o que sobrou é um modo pedagógico de mostrar‑nos o valor das pequenas coisas feitas com amor de Deus: a ordem nos detalhes materiais, a limpeza, o perfeito acabamento das tarefas diárias”2. Durante trinta anos da sua vida, Jesus ocupou‑se em assuntos aparentemente intranscendentes: serrar troncos para fabricar móveis simples, colar ou pregar bem as peças, fazer que as gavetas abrissem e fechassem sem esforço, e tantas coisas mais do mesmo gênero... E também nesses trabalhos de pouco relevo externo o Filho de Deus estava redimindo a humanidade.

Durante a sua vida pública, o Evangelho mostra‑nos com freqüência que o Senhor fez o mesmo: permanecia constantemente em diálogo com seu Pai celestial, mas estava atento às coisas materiais e humanas, àquilo que se passava ao seu lado: quando devolve a vida à filha de Jairo, ordena que lhe dêem de comer; diante do assombro geral causado pela ressurreição de Lázaro, é Ele quem diz: Desatai‑o e deixai‑o ir3; sabe perceber o momento em que os seus discípulos precisam de uma pausa para descansar4... Vemo‑lo seguir com os cinco sentidos as situações humanas, interessar‑se vivamente por resolvê‑las, ter sempre presente o lado humano daqueles a quem anunciava os mistérios do Reino de Deus. Não é isso o que nos pede também a nós? Que estejamos verdadeiramente preocupados com as coisas dos outros, que estejamos atentos às coisas da casa, que não vivamos nas nuvens?

– Encontramos no cumprimento do dever o lugar, a matéria e o modo de sermos fiéis ao Senhor. O valor das coisas pequenas.

II. RECOLHEI OS PEDAÇOS que sobraram... Parece um detalhe de pouca monta em comparação com o milagre que o Senhor acaba de realizar, mas Ele não prescinde desse detalhe. Toda a nossa vida está composta praticamente de muitos nadas. E, no entanto, é através desses nadas que se tece uma tupida rede de atos que formam as virtudes humanas e cristãs e que forjam heroicamente a santidade no dia a dia. Toda a nossa jornada está cheia de ocasiões de sermos fiéis, de dizermos ao Senhor que o amamos. Que fazemos com elas? “«Obras é que são amores, não as boas razões». Obras, obras! – Propósito: continuarei a dizer‑Te muitas vezes que Te amo – quantas não Te terei repetido hoje! –; mas, com a tua graça, será sobretudo a minha conduta, serão as bagatelas de cada dia que – com eloqüência muda – hão de clamar diante de Ti, mostrando‑Te o meu amor”5.

A ordem, tanto mental como na execução, tem grande transcendência diante do Senhor, como também a pontualidade, o cuidado na conservação da roupa, dos livros que utilizamos ou dos instrumentos de trabalho, a fuga da rotina que mata o amor à profissão e sobretudo o amor humano; em suma, o querer dar sentido a todos os dias, a todas as horas, quer no trabalho pessoal, quer na convivência humana. Quando permitimos que a rotina e a apatia tomem conta de nós, quando não damos importância àquilo que fazemos porque nos parece que dá na mesma fazer as coisas de um modo ou de outro, a vida torna‑se medíocre e desamorada.

O campo das relações humanas é sem dúvida aquele em que também mais nos devemos esmerar no sentido do detalhe. É possível que se apresentem poucas ocasiões, ou talvez nenhuma, de salvarmos os outros com atos heróicos, expondo a vida. No entanto, todos os dias temos oportunidade de dizer uma palavra amável a esse amigo, a esse irmão que notamos estar mais cansado ou preocupado, de pedir as coisas com amabilidade, de ser agradecidos, de evitar conversas ou comentários que semeiem inquietação, de ceder nas nossas opiniões, de evitar a todo o custo o mau‑humor, que causa tantos estragos. Podemos esforçar‑nos por lançar um tema de conversa quando o silêncio se torna pesado, ou por escutar com interesse a pessoa que nos fala. Às vezes, um pormenor que parece trivial (uma saudação mais efusiva, os cumprimentos que fazemos chegar a um terceiro, uma palavra de incentivo, um favor que não é quase nada) produz nos outros um bem sem proporção com o pouco que nos custou: fá‑los sentir‑se seguros, considerados, apreciados, estimulados a praticar o bem. Notamos então como que um reflexo de Deus na convivência, na vida familiar, tão diferente dessas situações em que se desencadeiam as invejas, brotam atitudes tensas ou frias, ou se dizem palavras que nunca se deveriam ter dito...

O mesmo acontece com todas as virtudes: a fé pode expressar‑se num ato de amor quando passamos perto de um Sacrário no meio do tráfego da cidade (“Jesus, aqui vou eu, amo‑te, abençoa‑me”); a piedade, num olhar a uma imagem da Virgem (quanto se pode dizer num só olhar!); a fortaleza, em cortar uma conversa impura, em dar a cara por Jesus Cristo, pela Igreja..., em procurar render nessa última hora de trabalho de um dia que nos pareceu mais longo por terem surgido mais problemas ou por termos estado com uma terrível dor de cabeça...

Cristo espera‑nos todos os dias com os braços abertos. Neles podemos deixar esforços, sorrisos, constância no trabalho..., muitas coisas pequenas, que Ele sabe apreciar, como certamente apreciou que se tivessem recolhido os doze cestos depois da multiplicação dos pães. São tesouros que o Senhor guarda para a eternidade e que o levarão a dizer‑nos quando chegarmos à sua presença: Vem, servo bom e fiel, porque foste fiel no pouco, eu te darei o muito6.

– Deus pede todos os dias a cada um o que está ao alcance das suas forças. Correspondência naquilo que parece de pouca importância.

III. DEUS PEDE‑NOS em cada momento alguma coisa muito concreta, mas sempre ao alcance das nossas forças. Depois da primeira correspondência, chegam mais graças para uma segunda, precisamente por termos correspondido à primeira. E assim uma graça maior sucede a outra, e vamo‑nos tornando aptos para corresponder a Deus em coisas cada vez mais difíceis.

Pelo contrário, se descumprimos o querer de Deus em coisas que nos parecem sem importância, vamos resvalando por uma pendente que não demorará a precipitar‑nos no pecado e na infelicidade: Quem despreza as pequenas coisas, pouco a pouco cairá nas grandes7. “Foi dura a experiência; não esqueças a lição. – As tuas grandes covardias de agora são – é evidente – paralelas às tuas pequenas covardias diárias. – «Não pudeste» vencer nas coisas grandes, porque «não quiseste» vencer nas coisas pequenas”8.

Por outro lado, as coisas pequenas não costumam levar à vaidade, que esvazia tantas obras. Quem pensará em aplaudir aquele que cedeu o seu lugar no ônibus, ou que deixou ordenados os seus papéis e livros ao terminar o estudo? Quem louvará uma mãe por sorrir, se é o que todos esperam dela, ou o professor que preparou bem a sua aula, ou o aluno que estudou a matéria da prova, ou o médico que tratou o doente com delicadeza?

E essas coisas pequenas, muitas das quais são meramente humanas, tornam‑se divinas pelo oferecimento de obras que fazemos todas as manhãs e que depois procuramos renovar durante o dia. O humano e o divino fundem‑se então numa íntima e forte unidade de vida, que nos permite ganhar pouco a pouco o Céu, ao preço das coisas humanas de cada dia.

Para alcançarmos essa unidade de vida mediante a fidelidade às pequenas coisas, necessitamos de um grande amor ao Senhor, de um desejo profundo de ser inteiramente dEle, de querer procurar o seu rosto em todas as ocasiões da vida normal. Por sua vez, o cuidado das pequenas coisas alimenta continuamente o nosso amor a Deus.

Nossa Senhora ensinar‑nos‑á a dar valor ao que parece carecer de importância, a esmerar‑nos nos detalhes que podem passar despercebidos aos outros, como passou ao mestre‑sala das bodas de Caná que ia faltar vinho: mas não à Virgem nossa Mãe.

(1) Jo 6, 1‑15; (2) Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, EUNSA, Pamplona, 1983, nota a Mc 6, 42; (3) Jo 11, 44; (4) Mc 6, 31; (5) Josemaría Escrivá, Forja, n. 498; (6) Mt 25, 21; (7) Eclo 19, 1; (8) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 828.

Fonte: livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal.

Santa Marta

29 de Julho

Santa Marta 

Marta, nome que em língua aramaica significa “Senhora”, era irmã de Lázaro e Maria, e com eles morava em Betânia, cerca de três quilômetros distante de Jerusalém. Marta é citada três vezes nos Evangelhos. Muito hospitaleiros, era na casa desses três irmãos que Jesus costumava descansar, quando de suas pregações na Judéia, e deles recebia um tratamento todo especial.

A amizade entre Jesus, Lázaro, Maria e Marta era muito grande. Quando Lázaro adoeceu, as irmãs mandaram chamá-lo: “Senhor, aquele a quem amas está doente”. Quando Jesus, três dias depois chegou à casa dos irmãos, Lázaro já havia morrido, e Marta o recebeu com palavras de tristeza e confiança: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão Lázaro não teria morrido”. Jesus lhe respondeu com palavras de consolo e esperança: “Teu irmão ressuscitará. Eu sou a Ressurreição e a Vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”.

Jesus ia muito à casa de Betânia, para descansar e tomar a refeição com os irmãos, e como de costume, Maria sempre se colocava quieta aos pés de Jesus, para ouvi-lo. Numa dessas visitas, enquanto agitada trabalhava e servia à mesa, Marta chama a atenção de Jesus para a atitude de Maria que não a ajudava no serviço, mas ouviu do Mestre essas palavras: “Marta, Marta, tu te afliges e te inquietas por muita coisa, mas só uma é necessária”.

A devoção a Santa Marta vem desde o tempo das Cruzadas. Teve origem na França, lugar no qual, segundo uma lenda, os três irmãos terminaram seus dias. Deles, apenas o nome de Marta consta do calendário litúrgico, talvez, para recompensar as solicitudes e cuidados para com a pessoa do Salvador. Os primeiros a dedicarem uma celebração litúrgica em honra de Santa Marta, foram os franciscanos, no ano 1262.

No mundo de hoje onde as janelas vivem fechadas, as portas mal se abrem, as grades separam os vizinhos, as visitas aos amigos fazem parte do passado, e as pessoas são recebidas e tratadas, não raras vezes, com descaso e franca descortesia, Santa Marta, que hospedou Jesus muitas vezes em sua casa, nos convida a cultivarmos um coração generoso, um semblante amável e sorridente, para servir e acolher aqueles que batem à nossa porta, imploram nossa ajuda e precisam de nossos cuidados. Hoje Santa Marta nos fala da necessidade de abrirmos não somente a porta de nossa casa mas também de nossa vida, e a lutarmos por um mundo de portas abertas, solidário e fraterno, onde todos se amem como irmãos.


29 de Julho 2018

A SANTA MISSA

17º Domingo do Tempo Comum – Ano B
Cor: verde

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1ª Leitura: 2Rs 4, 42-44

 “Comerão e ainda sobrará.” 

Leitura do Segundo Livro dos Reis

Naqueles dias: 42 Veio também um homem de Baal-Salisa, trazendo em seu alforje para Eliseu, o homem de Deus, pães dos primeiros frutos da terra: eram vinte pães de cevada e trigo novo. E Eliseu disse: “Dá ao povo para que coma”. 43 Mas o seu servo respondeu-lhe: “Como vou distribuir tão pouco para cem pessoas?’ Eliseu disse outra vez: ‘Dá ao povo para que coma; pois assim diz o Senhor: ‘Comerão e ainda sobrará’ ”. 44 O homem distribuiu e ainda sobrou, conforme a palavra do Senhor.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 144(145), 10-11.15-16.17-18(R. cf. 16)

R. Saciai os vossos filhos, ó Senhor!

10 Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem,*
e os vossos santos com louvores vos bendigam!
11 Narrem a glória e o esplendor do vosso reino*
e saibam proclamar vosso poder! R.

15 Todos os olhos, ó Senhor, em vós esperam*
e vós lhes dais no tempo certo o alimento;
16 vós abris a vossa mão prodigamente*
e saciais todo ser vivo com fartura. R.

17 É justo o Senhor em seus caminhos,*
é santo em toda obra que ele faz.
18 Ele está perto da pessoa que o invoca,*
de todo aquele que o invoca lealmente.      R.

2ª Leitura: Ef 4, 1-6

 “Há um só corpo, um só Senhor, uma só fé, um só batismo.”

Leitura da Carta de São Paulo apóstolo aos Efésios

Irmãos: Eu, prisioneiro no Senhor, vos exorto a caminhardes de acordo com a vocação que recebestes: Com toda a humildade e mansidão, suportai-vos uns aos outros com paciência, no amor. Aplicai-vos a guardar a unidade do espírito pelo vínculo da paz. Há um só Corpo e um só Espírito, como também é uma só a esperança à qual fostes chamados. Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos.

– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.

Evangelho: Jo 6, 1-15 

 “Distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam.”

 – O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo: Jesus foi para o outro lado do mar da Galileia, também chamado de Tiberíades. Uma grande multidão o seguia, porque via os sinais que ele operava a favor dos doentes. Jesus subiu ao monte e sentou-se aí, com os seus discípulos. Estava próxima a Páscoa, a festa dos judeus. Levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão estava vindo ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: “Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?” Disse isso para pô-lo à prova, pois ele mesmo sabia muito bem o que ia fazer. Filipe respondeu: “Nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um”. Um dos discípulos, André, o irmão de Simão Pedro, disse: “Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?” 10 Jesus disse: “Fazei sentar as pessoas”. Havia muita relva naquele lugar, e lá se sentaram, aproximadamente, cinco mil homens. 11 Jesus tomou os pães, deu graças e distribuiu-os aos que estavam sentados, tanto quanto queriam. E fez o mesmo com os peixes. 12 Quando todos ficaram satisfeitos, Jesus disse aos discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca!” 13 Recolheram os pedaços e encheram doze cestos com as sobras dos cinco pães, deixadas pelos que haviam comido. 14 Vendo o sinal que Jesus tinha realizado, aqueles homens exclamavam: “Este é verdadeiramente o Profeta, aquele que deve vir ao mundo”. 15 Mas, quando notou que estavam querendo levá-lo para proclamá-lo rei, Jesus retirou-se de novo, sozinho, para o monte.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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