O Jovem Rico

TEMPO COMUM. OITAVA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA

– Deus nos chama a todos. Necessidade do desprendimento para seguir a Cristo.
– A resposta à vocação pessoal.
– Pobreza e desprendimento na nossa vida diária.

I. O EVANGELHO DA MISSA de hoje 1 diz-nos que Jesus saía de uma cidade a caminho de outro lugar, quando um jovem veio correndo e se deteve diante dEle. Os três Evangelistas que nos relatam o episódio contam-nos que era de boa posição social.

Ajoelhou-se aos pés de Cristo e fez uma pergunta fundamental para todos os homens: Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna? Jesus está de pé, rodeado dos seus discípulos, que contemplam a cena; o jovem, de joelhos. É um diálogo aberto, em que o Senhor começa por dar uma resposta em termos gerais: Guarda os mandamentos. E enumera-os: Não matarás, não adulterarás, não furtarás... O jovem responde: Mestre, tudo isso tenho guardado desde a minha infância... Que me falta ainda? 2

É a pergunta que todos nós fizemos alguma vez, perante o desencanto íntimo das coisas que, sendo boas, não acabavam de satisfazer-nos o coração, e perante a vida que ia passando sem apagar essa sede oculta que não é saciada. E Cristo tem uma resposta pessoal para cada um, a única resposta válida.

Jesus sabia que no coração daquele jovem havia um fundo de generosidade, uma grande capacidade de entrega. Por isso olhou-o comprazido, com amor de predileção, e convidou-o a segui-lo sem nenhuma condição, sem laços que o retivessem. Olhou-o fixamente, como só Cristo sabe olhar, até o mais fundo da alma.

“Ele fita com amor cada um dos homens. O Evangelho confirma-o a cada passo. Pode-se até dizer que nesse «olhar amoroso» de Cristo está contido como que o resumo e a síntese de toda a Boa Nova [...]. O homem necessita desse «olhar amoroso»; é-lhe necessária a consciência de ser amado, de ser amado eternamente e escolhido desde toda a eternidade (cfr. Ef 1, 4)” 3. O Senhor, agora e sempre, vê-nos assim, com um profundo amor de predileção.

O Mestre, com uma voz que devia ter tido um acento muito particular, disse-lhe: Uma coisa te falta ainda. Só uma. Com que ansiedade o jovem não estaria aguardando a resposta do Mestre! Era, sem dúvida, a coisa mais importante que ia ouvir em toda a sua vida. Vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres... E depois vem e segue-me. Era um convite para que se entregasse inteiramente ao Senhor.

Deus chama a todos: sãos e enfermos; pessoas com grandes qualidades ou de capacidade modesta; os que possuem riquezas e os que passam por dificuldades; os jovens, os anciãos e os de idade madura. Cada homem, cada mulher, deve descobrir o caminho peculiar a que Deus o chama. Mas, seja qual for esse caminho, chama todos à santidade, à generosidade, ao desprendimento, à entrega; diz a todos no seu interior: Vem e segue-me.

Aquele jovem vê de repente a sua vocação: a chamada para uma entrega plena. O seu encontro com Jesus descobre-lhe o sentido e a tarefa fundamental da sua vida. Mas descobre-lhe ao mesmo tempo até onde chegava a sua verdadeira disponibilidade. Até aquele momento, julgava cumprir a vontade de Deus porque cumpria os mandamentos da Lei. Quando Cristo lhe desvenda o panorama de uma entrega completa, percebe quanto apego tem às suas coisas e como é pequeno o seu amor à vontade de Deus. Hoje, essa cena continua a repetir-se.

“Dizes, desse teu amigo, que freqüenta os Sacramentos, que é de vida limpa e bom estudante, mas que não «entrosa»; se lhe falas em sacrifício e apostolado, fica triste e vai-se embora.

“Não te preocupes. Não é um malogro do teu zelo; é, à letra, a cena que narra o Evangelista: «Se queres ser perfeito, vai e vende tudo o que tens e dá-o aos pobres» (sacrifício)... «e vem depois e segue-me» (apostolado).

“O adolescente «abiit tristis» – também se retirou entristecido; não quis corresponder à graça” 4.

Foi-se cheio de tristeza, porque a alegria só é possível quando há generosidade e desprendimento, quando há essa disponibilidade absoluta diante do querer de Deus que se manifesta em momentos bem precisos da nossa vida e, depois, na fidelidade ao longo dos dias e dos anos.

Digamos hoje ao Senhor que nos ajude com a sua graça para que, a cada momento, possa contar efetivamente conosco para o que queira: livres de objeções e de laços que nos prendam. “Senhor, não tenho outro fim na vida a não ser buscar-vos, amar-vos e servir-vos... Todos os outros objetivos da minha vida se orientam para isso. Não quero nada que me separe de Vós”, dizemos-lhe neste diálogo.

II. “A TRISTEZA DESTE JOVEM leva-nos a refletir, comenta João Paulo II. Podemos ser tentados a pensar que possuir muitas coisas, muitos bens deste mundo, pode fazer-nos felizes. Vemos, no entanto, no caso do jovem do Evangelho, que as riquezas se tornaram um obstáculo para aceitar a chamada de Jesus que o convidava a segui-lo. Não estava disposto a dizer “sim” a Jesus e “não” a si mesmo, a dizer “sim” ao amor e “não” à fuga! O amor verdadeiro é exigente [...]. Porque foi Jesus – o próprio Jesus – quem disse: Vós sereis meus amigos se fizerdes o que eu vos mando (Jo 15, 14). O amor exige esforço e compromisso pessoal para cumprir a vontade de Deus. Significa sacrifício e disciplina, mas significa também alegria e realização humana [...]. Com a ajuda de Cristo e através da oração, podereis corresponder à sua chamada [...]. Abri os vossos corações a este Cristo do Evangelho, ao seu amor, à sua verdade, à sua alegria. Não vos vades embora tristes!” 5

A chamada do Senhor que nos convida a segui-lo de perto exige uma atitude de resposta contínua, porque Ele, nas suas diferentes chamadas, pede uma correspondência dócil e generosa ao longo da vida. Por isso, devemos situar-nos com freqüência diante de Deus – cara a cara, sem anonimato – e perguntar-lhe como o jovem do Evangelho: Que me falta? Que exigências tem hoje a minha vocação de cristão nas minhas circunstâncias? Que caminho o Senhor quer que eu siga?

Sejamos sinceros: quem tem autêntico desejo de saber qual o caminho de Deus para si, esse acaba por conhecê-lo claramente. “O cristão vai descobrindo assim, no meio da sua vida corrente, como a sua vocação se deve ir realizando através de um entrançado cotidiano de chamadas e sugestões divinas [...], de instantes significativos, de «vocações» concretas para que realize, por amor ao seu Senhor, pequenas ou grandes tarefas no mundo dos homens. E é no meio desse diálogo contínuo com o Senhor, feito de constantes fidelidades, que pode por fim escutar essa voz divina que o convida a tomar uma decisão definitiva, radical [...]. A palavra de Deus pode chegar-lhe com o furacão ou com a brisa (1 Re 19, 22)” 6. Mas, para segui-la, deve estar desprendido de qualquer liame; só Cristo é que importa. Todo o resto, nEle e por Ele.

III. AQUELE JOVEM LEVANTOU-SE, esquivou-se ao olhar de Jesus e ao seu convite para uma profunda vida de amor, e foi-se embora com a tristeza estampada no rosto. “Intuímos que a negativa daquele momento foi definitiva” 7. O Senhor viu com pena como o seu jovem interlocutor se afastava; e o Espírito Santo revela-nos o motivo da sua recusa: tinha muitos bens e estava muito apegado a eles.

Depois do incidente, a comitiva empreendeu a caminhada. Mas antes, ou talvez enquanto davam os primeiros passos, Jesus, olhando à sua volta, disse aos seus discípulos: Que dificilmente entrarão no reino de Deus os que têm riquezas! Todos ficaram impressionados com as suas palavras. E o Senhor repetiu com mais força: Mais fácil é a um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que a um rico entrar no reino de Deus.

Devemos considerar com atenção o ensinamento de Jesus e aplicá-lo à nossa vida: não se pode conciliar o amor a Deus – esse segui-lo de perto – com o apego aos bens materiais: num mesmo coração, não pode haver lugar para esses dois amores juntos. O homem pode orientar a sua vida propondo-se Deus como fim, e alcançá-lo também, com a ajuda da graça, através das coisas materiais, usando-as apenas como meios que são e na justa medida em que o forem; ou infelizmente pode pôr nas riquezas a esperança da sua plenitude e felicidade: desejo desmedido de bens, de luxo, de comodismo, ambição, cobiça...

Temos hoje uma boa ocasião para nos examinarmos valentemente, na intimidade da nossa oração, sobre a mola que realmente comanda a nossa atuação, isto é, sobre o lugar em que pára o nosso coração: se nos propusemos seriamente viver desprendidos dos bens da terra ou se tudo nos parece pouco e queremos acumular indefinidamente; se temos uma preocupação obsessiva com o futuro, amealhando como se fôssemos viver para sempre na terra ou como se, no caso dos pais, os filhos devessem receber tudo deles e nunca ter que trabalhar; se somos sóbrios nas necessidades pessoais ou familiares, evitando os gastos supérfluos, os extraordinários descontrolados, as necessidades falsas das quais poderíamos prescindir com um pouco de boa vontade; se cuidamos com esmero das coisas da nossa casa e dos bens que usamos; se atuamos com a consciência clara de sermos apenas administradores dos nossos recursos e devermos prestar contas deles ao seu verdadeiro Dono, Deus Nosso Senhor; se aceitamos com alegria as incomodidades e a falta de meios; se somos generosos na esmola aos mais carentes e na manutenção de obras sociais ou de formação cristã, privando-nos de coisas que gostaríamos de ter... Só assim viveremos com a alegria e a liberdade necessárias para sermos discípulos do Senhor no meio do mundo.

Seguir Cristo de perto é o nosso ideal supremo; não queremos retirar-nos da sua presença como aquele jovem, com a alma impregnada de profunda tristeza por não termos sabido desprender-nos de uns bens de pouco valor, em comparação com a imensa riqueza de Jesus.

(1) Mc 10, 17-27; (2) Mt 19, 20; (3) João Paulo II, Carta aos jovens, 31-III-1985, n. 7; (4) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 807; (5) João Paulo II, Homilia no Boston Common, 1-X-1979; (6) P. Rodriguez, Fé e vida de fé, págs. 82-83; (7) R. A. Knox, Deus e eu, Quadrante, São Paulo, pág. 163.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


O Triunfo sobre a Morte

TEMPO COMUM. OITAVO DOMINGO. ANO C

– A morte, conseqüência do pecado. Só levaremos desta vida o mérito das boas obras e a dívida dos pecados.
– Sentido cristão da morte.
– Frutos da meditação sobre os últimos fins do homem.

I. SÃO PAULO ENSINA-NOS na segunda Leitura da Missa 1 que, quando o corpo ressuscitado e glorioso se revestir de imortalidade, a morte será definitivamente vencida. Poderemos perguntar então: Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Pois o aguilhão da morte é o pecado...

Foi o pecado que introduziu a morte no mundo. Quando Deus criou o homem, outorgou-lhe, além dos dons sobrenaturais, outros dons que aperfeiçoavam a natureza na sua própria ordem. Entre eles, o da imortalidade corporal, que os nossos primeiros pais deveriam transmitir juntamente com a vida à sua descendência. O pecado original trouxe consigo a perda da amizade com Deus e desse dom da imortalidade. A morte, estipêndio do pecado 2, entrou então num mundo que fora concebido para a vida.

E chegou para todos: “Morre tanto o justo como o ímpio, o bom como o mau, o limpo como o sujo, quem oferece sacrifícios e quem não. A mesma sorte para o bom e para o que peca, para quem jura como para quem teme o juramento. Reduzem-se a pó e cinzas tanto os homens como os animais” 3. Tudo o que é material acabará; cada coisa no seu devido tempo. O mundo corpóreo e tudo o que nele existe estão destinados a um fim. Nós também.

Com a morte, o homem perde tudo o que teve em vida. A quem só pensou em si mesmo, no seu bem-estar e comodidade, o Senhor dirá, tal como ao rico da parábola: Insensato!... De quem será aquilo que acumulaste? 4 Cada um levará consigo somente o mérito das suas boas obras e a dívida dos seus pecados. Felizes os mortos que morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, que descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham 5. Com a morte, a vontade fixa-se definitivamente no bem ou no mal: na amizade com Deus ou na recusa da sua misericórdia para todo o sempre.

A meditação do nosso final neste mundo leva-nos a reagir contra a tibieza, contra a possível má vontade nas coisas de Deus, contra o apegamento às coisas da terra, que mais cedo ou mais tarde teremos que deixar; ajuda-nos a compreender que esta vida é um breve tempo para merecer.

O materialismo, que nega a subsistência da alma após a morte, tenta tranqüilizar as consciências com o consolo de que sobreviverão nas obras que tenham deixado, bem como na memória e no afeto dos que ainda vivem no mundo. Esquecem que isso é um logro e um triste sucedâneo para as ânsias de eternidade que Deus pôs no coração humano.

Hoje detemo-nos a considerar que somos barro que perece, mas também que fomos criados para a eternidade, que a alma não morre nunca e que os nossos próprios corpos um dia ressuscitarão gloriosos, para se unirem novamente à alma. E isto cumula-nos de alegria e de paz, animando-nos a viver como filhos de Deus no mundo.

II. COM A RESSURREIÇÃO DE CRISTO, a morte foi vencida: já não escraviza o homem; é este que a tem sob as suas rédeas 6. E alcançamos esta soberania na medida em que estamos unidos Àquele que possui as chaves da morte 7.

Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre 8. “Em Cristo, a morte perdeu o seu poder, o seu aguilhão foi-lhe arrebatado; a morte foi derrotada. Esta verdade da nossa fé pode parecer paradoxal quando à nossa volta ainda vemos homens angustiados pela certeza da morte e confundidos pelo tormento da dor. Certamente a dor e a morte desconcertam o espírito humano e continuam a ser um enigma para aqueles que não crêem em Deus, mas pela fé sabemos que serão vencidas, que a vitória já foi alcançada na morte e ressurreição de Jesus Cristo, nosso Redentor” 9.

Para qualquer criatura, a morte é um transe difícil, mas, depois da Redenção operada por Cristo, esse momento tem um significado completamente diferente. Já não é apenas o duro tributo que todos os homens devem pagar pelo pecado, nem apenas a justa pena pela culpa; é sobretudo o ponto culminante da entrega nas mãos do nosso Redentor, a passagem deste mundo para o Pai 10, a entrada numa nova vida de felicidade eterna. Se formos fiéis a Cristo, poderemos dizer um dia com o Salmista: Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois Tu estás comigo 11.

Esta serenidade e este otimismo com relação ao momento final nascem da firme esperança em Jesus Cristo, que quis assumir a natureza humana integramente, à exceção do pecado 12, para destruir pela sua morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e livrar aqueles que pelo temor da morte estavam sujeitos à escravidão 13. Por isso Santo Agostinho ensina que “a nossa herança é a morte de Cristo” 14: por ela podemos alcançar a Vida.

A incerteza do nosso fim deve incitar-nos a confiar na misericórdia divina e a ser muito fiéis à nossa vocação de cristãos, consumindo a nossa vida a serviço de Deus e da Igreja onde quer que estejamos. Devemos ter sempre presente, sobretudo quando chegar o último momento, que o Senhor é um bom Pai, cheio de ternura para com os seus filhos. É o nosso Pai-Deus quem nos dará as boas-vindas! É Cristo quem nos dirá: Vem, bendito de meu Pai...!

A amizade com Jesus Cristo, o sentido cristão da vida, a certeza de que somos filhos de Deus, permitir-nos-ão encarar e aceitar a morte com serenidade: será o encontro de um filho com seu Pai, a quem procurou servir ao longo desta vida. Ainda que eu atravesse o vale escuro, nada temerei, pois Tu estás comigo.

III. A IGREJA RECOMENDA-NOS que meditemos com freqüência nos novíssimos – nos últimos fins do homem –, pois tiramos muitos frutos dessa consideração. O pensamento da brevidade da vida não nos afasta dos assuntos que o Senhor pôs em nossas mãos: a família, o trabalho, as aspirações nobres... Pelo contrário, ajuda-nos a encarar todas as nossas responsabilidades com entusiasmo, a santificar todas as realidades terrenas, pois é com elas que se ganha o Céu. Não tenhamos, pois, o receio de pensar na morte, pois assim teremos uma visão equilibrada da vida.

O Senhor apresentar-se-á talvez quando menos o pensarmos: virá como o ladrão pela calada da noite 15, e deve achar-nos preparados, vigilantes, desprendidos do que é terreno.

Agarrar-se às coisas daqui de baixo quando teremos que deixá-las tão cedo seria um grave erro. Devemos viver com os pés no chão, mas não podemos esquecer que somos caminhantes que avançam com os olhos postos em Cristo e no seu Reino, que será o definitivo. Cada manhã damos um passo mais em direção a Ele, cada tarde nos encontramos mais perto dEle. Por isso devemos viver como se o Senhor fosse chamar-nos imediatamente.

A incerteza em que Deus quis deixar o fim da nossa vida terrena ajuda-nos a viver cada dia como se fosse o último, sempre dispostos e preparados para “mudar de casa” 16.

Esse dia “não pode estar muito longe” 17; qualquer dia pode ser o último. Hoje morreram milhares de pessoas em circunstâncias diversíssimas; muitas, possivelmente, nunca imaginaram que já não teriam tempo para merecer. Cada um dos nossos dias deve, pois, ser encarado como uma folha em branco em que podemos escrever coisas maravilhosas ou que podemos encher de erros e borrões. E não sabemos quantas páginas faltam para o fim do livro – que um dia o Senhor lerá.

A amizade com Jesus Cristo, o amor à nossa Mãe Santa Maria, o sentido cristão com que nos esforcemos por viver, hão de permitir-nos encarar com serenidade o nosso encontro definitivo com Deus. São José, advogado da boa morte, que teve ao seu lado a doce companhia de Jesus e de Maria na hora da sua passagem deste mundo, ensinar-nos-á a preparar dia a dia esse encontro inefável com o nosso Pai-Deus.

São Paulo despede-se dos primeiros cristãos de Corinto com umas consoladoras palavras que a primeira Leitura nos recorda. Podemos considerá-las como dirigidas particularmente a cada um de nós: Assim, pois, irmãos meus muito amados, mantende-vos firmes, inabaláveis, progredindo sempre na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor.

Para terminarmos a nossa oração, recorremos à Virgem Santíssima: Ó Mãe nossa, alcançai-nos do vosso Filho a graça de termos sempre presente a meta do Céu em todos os nossos afazeres: que trabalhemos sempre com os olhos postos na eternidade. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

(1) 1 Cor 15, 54-58; (2) Rom 6, 23; (3) São Jerônimo, Epístola 39, 3; (4) Lc 12, 20-21; (5) Apoc 14, 13; (6) 1 Cor 3, 2; (7) Apoc 1, 18; (8) Jo 11, 25-26; (9) João Paulo II, Homilia, 16-II-1981; (10) cfr. Jo 13, 1; (11) Sl 22, 4; (12) cfr. Hebr 4, 15; (13) Hebr 2, 14-15; (14) Santo Agostinho, Epístola 2, 94; (15) 1 Tess 5, 2; (16) cfr. Josemaría Escrivá, Caminho, n. 774; (17) São Jerônimo, Epístola 60, 14.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


03 de Março 2019

A SANTA MISSA

8º Domingo do Tempo Comum – Ano C
Cor: Verde

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1ª Leitura: Eclo 27,5-8 (gr. 4-7) 

“Não elogies ninguém antes de ele falar.”

Leitura do Livro do Eclesiástico

Quando agitamos o crivo, só ficam impurezas: assim os defeitos do homem aparecem nas suas palavras. O forno prova os vasos do oleiro, e o homem é posto à prova pelos seus pensamentos. O fruto da árvore manifesta a qualidade do campo: assim as palavras do homem revelam os seus sentimentos. Não elogies ninguém antes de ele falar, porque é assim que se experimentam os homens.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 91(92), 2-3.13-14.15-16(R. cf. 2a)

R. É bom louvar o Senhor.
Ou: É bom louvar-Vos, Senhor, e cantar salmos ao vosso nome.

É bom louvar o Senhor
e cantar salmos ao vosso nome, ó Altíssimo,
proclamar pela manhã a vossa bondade
e durante a noite a vossa fidelidade.  R.

O justo florescerá como a palmeira,
crescerá como o cedro do Líbano:
plantado na casa do Senhor,
florescerá nos átrios do nosso Deus.     R.

Mesmo na velhice dará o seu fruto,
cheio de seiva e de vigor,
para proclamar que o Senhor é justo:
n’Ele, que é o meu refúgio, não há iniquidade.     R.

2ª Leitura: 1Cor 15, 54-58 

“Deu-nos a vitória por Jesus Cristo”

Leitura da Primeira Carta de São Paulo apóstolo aos Coríntios

Irmãos: Quando este nosso corpo corruptível se tornar incorruptível e este nosso corpo mortal se tornar imortal, então se realizará a palavra da Escritura: “A morte foi absorvida na vitória. Ó morte, onde está a tua vitória? Ó morte, onde está o teu aguilhão?”. O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei. Mas dêmos graças a Deus, que nos dá a vitória por Nosso Senhor Jesus Cristo. Assim, caríssimos irmãos, permanecei firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor,
sabendo que o vosso esforço não é inútil no Senhor.

– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.

Evangelho: Lc 6, 39-45  

“A boca fala do que transborda do coração.” 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo, disse Jesus aos discípulos a seguinte parábola: “Poderá um cego guiar outro cego? Não cairão os dois nalguma cova? O discípulo não é superior ao mestre, mas todo o discípulo perfeito deverá ser como o seu mestre. Porque vês o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua? Como podes dizer a teu irmão: ‘Irmão, deixa-me tirar o argueiro que tens na vista’, se tu não vês a trave que está na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e então verás bem para tirar o argueiro da vista do teu irmão. Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. Cada árvore conhece-se pelo seu fruto: não se colhem figos dos espinheiros, nem se apanham uvas das sarças. O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, da sua maldade tira o mal; pois a boca fala do que transborda do coração”.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Com a Simplicidade das crianças

TEMPO COMUM. SÉTIMA SEMANA. SÁBADO

– Infância espiritual e simplicidade.
– Manifestações de piedade e de naturalidade cristãs.
– Para sermos simples.

I. EM VÁRIAS OCASIÕES, o Evangelho mostra-nos como as crianças se aproximavam de Jesus, e como Jesus as acolhia, as abençoava e as apontava como exemplo aos seus discípulos. Hoje fala-nos uma vez mais da necessidade de nos fazermos como um daqueles pequeninos para entrarmos no seu Reino: Em verdade vos digo: quem não receber o reino de Deus como uma criança, não entrará nele. E abraçando-as, abençoava-as, impondo-lhes as mãos 1.

Nestas crianças que Jesus abraça e abençoa estão representadas não apenas todas as crianças do mundo, mas também os homens todos, a quem o Senhor indica como devem “receber” o Reino de Deus.

Jesus ilustra assim de modo expressivo a doutrina essencial da filiação divina: Deus é nosso Pai e nós somos seus filhos; o nosso comportamento resume-se em sabermos tornar realidade o relacionamento de um bom filho com um bom pai. É fomentarmos o sentido de dependência para com o Pai do Céu e o abandono confiante na sua providência amorosa, à semelhança de um menino que confia no seu pai; é a humildade de reconhecermos que, por nós, não podemos nada; é a simplicidade e a sinceridade que nos hão de levar a mostrar-nos tal como somos 2.

Tornarmo-nos interiormente crianças, sendo pessoas maduras, pode ser uma tarefa difícil: exige energia e firmeza de vontade, bem como um grande abandono em Deus. “A infância espiritual não é idiotice espiritual nem moleza piegas; é caminho sensato e rijo que, por sua difícil facilidade, a alma tem que empreender e prosseguir levada pela mão de Deus” 3.

Decidido a viver a infância espiritual, o cristão pratica com maior facilidade a caridade, porque “a criança não guarda rancor, nem conhece a fraude, nem se atreve a enganar. Tal como a criança pequena, o cristão não se irrita ao ser insultado [...], não se vinga quando maltratado. E mais ainda: o Senhor exige-lhe que reze pelos seus inimigos, que deixe a túnica e o manto a quem lhos arrebate, que apresente a outra face a quem o esbofeteie (cfr. Mt 5, 40)” 4. A criança esquece com facilidade as ofensas e não as contabiliza. A criança não tem penas.

A infância espiritual conserva sempre um amor jovem, porque a simplicidade impede de reter e ruminar no coração as experiências negativas. “Rejuveneceste! De fato, percebes que o trato com Deus te devolveu em pouco tempo à época simples e feliz da juventude, até mesmo à segurança e alegria – sem criancices – da infância espiritual... Olhas à tua volta e verificas que acontece outro tanto aos demais: vão passando os anos desde o seu encontro com o Senhor e, com a maturidade, robustecem-se uma juventude e uma alegria indeléveis. Não estão jovens: são jovens e alegres! – Esta realidade da vida interior atrai, confirma e subjuga as almas. Agradece-o diariamente «ad Deum qui laetificat iuventutem!» – ao Deus que enche de alegria a tua juventude” 5.

O Senhor realmente alegra a nossa juventude perene, tanto nos começos como nos anos de maturidade ou de idade avançada. Deus é sempre a maior alegria da vida, se vivemos junto dEle como filhos, como filhos pequenos sempre necessitados.

II. A FILIAÇÃO DIVINA, vivida com espírito de infância espiritual, gera devoções simples, pequenas oferendas a Deus nosso Pai, porque uma alma de criança cheia de amor não pode permanecer inativa 6. Quem é que pode dar o seu verdadeiro sentido às pequenas devoções, senão o cristão que necessitou de toda a fortaleza para se tornar criança?

Cada um de nós deve ter “piedade de meninos e doutrina de teólogos”, costumava dizer Mons. Escrivá. A formação doutrinal sólida – “doutrina de teólogos” – ajuda-nos a dar sentido ao olhar que dirigimos a uma imagem de Nossa Senhora e a converter esse olhar num ato de amor; ou anima-nos a não permanecer indiferentes perante um crucifixo ou uma cena da Via Sacra. Trata-se de uma piedade viril e profunda, que se alimenta das verdades de fé transformadas em vida. Deus olha-nos então verdadeiramente comprazido, como um pai olha para o seu filho pequeno, a quem ama e aprecia mais do que aprecia todos os negócios do mundo.

Juntamente com o desejo de melhorar mais e mais a formação doutrinal pessoal – o mais profundamente que possamos –, devemos viver com amor esses detalhes simples de piedade – “piedade de meninos” – que nós mesmos inventamos ou que têm servido a milhares de pessoas diferentes, durante muitas gerações, para amarem a Deus, e que lhe agradaram porque vinham de quem se tinha feito como criança. Desde a origem da Igreja foi costume, por exemplo, enfeitar com flores os altares e as imagens sagradas, beijar o crucifixo ou o terço, molhar os dedos em água benta à entrada da igreja e benzer-se...

Por não os apreciarem como manifestações de amor, há pessoas que desprezam esses costumes simples e piedosos do povo cristão, considerando-os erroneamente como próprios de um “cristianismo infantil”. Esqueceram as palavras do Senhor: Quem não recebe o reino de Deus como uma criança, não entrará nele; não querem lembrar-se de que, diante de Deus, sempre somos como filhos pequenos e necessitados, e que na vida humana o amor se expressa freqüentemente em detalhes de pouca monta. Estas manifestações de afeto, vistas de fora, sem amor e sem compreensão, com uma objetividade crítica, podem parecer sem sentido. No entanto, quantas vezes o Senhor não se terá comovido com a oração das crianças e daqueles que, por amor, se fazem como elas!

Os Atos dos Apóstolos narram que os primeiros cristãos utilizavam luz abundante nas salas em que celebravam a Sagrada Eucaristia 7, e que gostavam de manter acesas lâmpadas de azeite sobre os sepulcros dos mártires. São Jerônimo elogia com estas palavras certo bom sacerdote: “Adornava as basílicas e capelas dos mártires com flores variadas, ramos de árvores e pâmpanos de vinhas, de sorte que tudo o que agradava na igreja, pela sua ordem ou pela sua graça, era testemunho do trabalho e do fervor desse presbítero” 8. São manifestações externas de piedade, apropriadas à natureza humana, que precisa das coisas sensíveis para se dirigir a Deus e expressar-lhe adequadamente as suas necessidades e desejos.

Noutras ocasiões, a simplicidade terá manifestações de audácia: quando estamos recolhidos em oração, ou quando andamos pela rua, podemos dizer a Deus coisas que não nos atreveríamos a dizer-lhe – por pudor – diante de outras pessoas, em voz alta, porque pertencem à intimidade do nosso relacionamento com Ele. Mas é necessário que saibamos e nos atrevamos a dizer-lhe que o amamos e que queremos que nos faça ainda mais loucos de amor...; que estamos dispostos a pregar-nos mais à Cruz se Ele assim o desejar...; que uma vez mais lhe oferecemos a nossa vida... E essa audácia da vida de infância deve levar-nos a propósitos concretos.

III. A SIMPLICIDADE é uma das principais manifestações da infância espiritual. É o resultado de termos ficado desarmados diante de Deus, como a criança diante de seu pai, de quem depende e em quem confia. Diante de Deus, não tem sentido disfarçarmos os defeitos ou camuflarmos os erros que tenhamos cometido; e devemos também ser simples ao abrirmos a nossa alma na direção espiritual pessoal, manifestando o que temos de bom, de menos bom ou de duvidoso na nossa vida.

Somos simples quando mantemos uma intenção reta que nos leve a procurar sempre e em tudo o que é do agrado de Deus e para maior bem das almas. Quando se procura a Deus, a alma não se emaranha nem se complica inutilmente por dentro; não gosta de ter gestos extraordinários ou insólitos: faz o que deve e procura fazê-lo bem, de olhos postos no Senhor. Fala claramente, não se exprime com meias verdades nem com restrições mentais. Não é ingênuo, como também não é suspicaz; é prudente, mas não receoso. Ou seja, vive o ensinamento do Mestre: Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas 9.

“E por este caminho chegarás, meu amigo, a uma grande intimidade com o Senhor: aprenderás a chamá-lo pelo seu nome – Jesus – e a amar muito o recolhimento. A dissipação, a frivolidade, a superficialidade e a tibieza desaparecerão da tua vida. Serás amigo de Deus; e no teu recolhimento, na tua intimidade, alegrar-te-ás ao considerar aquelas palavras da Escritura: Falava Deus com Moisés cara a cara, como costuma falar um homem com o seu amigo” 10.

Oração que transborda ao longo do dia em atos de amor e de desagravo, em ações de graças, em jaculatórias a Nossa Senhora, a São José, ao Anjo da Guarda...

Nossa Senhora ensina-nos a tratar o Filho de Deus e seu Filho com simplicidade, a deixar de lado as fórmulas rebuscadas. Não nos custa imaginá-la preparando a comida, varrendo a casa, cuidando da roupa... No meio dessas tarefas, dirigir-se-ia a Jesus com confiança, com um delicado respeito e, ao mesmo tempo, com um imenso amor. Expunha-lhe as suas necessidades ou as dos outros (Não têm vinho!, dir-lhe-á nas bodas daqueles amigos ou parentes de Caná), cuidava dEle, prestava-lhe os pequenos serviços próprios das mães, olhava-o, pensava nEle..., e tudo isso era oração perfeita.

Nós temos necessidade de manifestar a Deus o nosso amor. E poderemos fazê-lo em muitos momentos através da Santa Missa, das orações que a Igreja nos propõe na liturgia..., ou de uma visita ao Santíssimo de poucos minutos no meio da correria diária, ou colocando uma flor junto de uma imagem de Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe. Peçamos-lhe hoje que nos dê um coração simples e cheio de amor para sabermos como tratar o seu Filho, aprendendo das crianças, que se dirigem com tanta confiança aos seus pais e às pessoas de quem gostam.

(1) Mc 10, 13-16; (2) cfr. Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, nota a Mc 10, 13-26; (3) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 855; (4) São Máximo de Turim, Homilia 58; (5) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 79; (6) cfr. Santa Teresa de Lisieux, História de uma alma, X, 41; (7) At 20, 7-8; (8) São Jerônimo, Epístola 60, 12; (9) Mt 10, 16; (10) S. Canals, Reflexões espirituais, pág. 113.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


02 de Março 2019

A SANTA MISSA

7ª Semana do Tempo Comum – Sábado 
Cor: Verde

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1ª Leitura: Eclo 17, 1-13 (gr. 1-15) 

“Deus criou o homem, e o formou à sua imagem.” 

Leitura do Livro do Eclesiástico

1 Da terra Deus criou o homem, e o formou à sua imagem. 2 E à terra o faz voltar novamente, embora o tenha revestido de poder, semelhante ao seu. 3 Concedeu-lhe dias contados e tempo determinado, deu-lhe autoridade sobre tudo o que está sobre a terra. 4 Em todo ser vivo infundiu o temor do homem, fazendo-o dominar sobre as feras e os pássaros. 5 Deu aos homens discernimento, língua, olhos, ouvidos, e um coração para pensar; encheu-os de inteligência e de sabedoria. 6 Deu-lhes ainda a ciência do espírito, encheu o seu coração de bom senso e mostrou-lhes o bem e o mal. 7 Infundiu o seu temor em seus corações, mostrando-lhes as grandezas de suas obras. 8 Concedeu-lhes que se gloriassem de suas maravilhas, louvassem o seu Nome santo e proclamassem as grandezas de suas obras. 9 Concedeu-lhes ainda a instrução e entregou-lhes por herança a lei da vida. 10 Firmou com eles uma aliança eterna e mostrou-lhes sua justiça e seus julgamentos. 11 Seus olhos viram as grandezas da sua glória e seus ouvidos ouviram a glória da sua voz. Ele lhes disse: ‘Tomai cuidado com tudo o que é injusto!’ 12 E a cada um deu mandamentos em relação ao seu próximo. 13 Os caminhos dos homens estão sempre diante do Senhor e não podem ficar ocultos a seus olhos.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 102 (103), 13-14.15-16.17ab e 18(R. cf. 17)

R. O amor do Senhor por quem o respeita,
é de sempre e para sempre

13 Como um pai se compadece de seus filhos, *
o Senhor tem compaixão dos que o temem.
14 Porque sabe de que barro somos feitos, *
e se lembra que apenas somos pó.     R.

15 Os dias do homem se parecem com a erva, *
ela floresce como a flor dos verdes campos;
16 mas apenas sopra o vento ela se esvai, *
já nem sabemos onde era o seu lugar.     R.

17 Mas o amor do Senhor Deus por quem o teme *
é de sempre e perdura para sempre;
e também sua justiça se estende *
por gerações até os filhos de seus filhos,
18a aos que guardam fielmente sua Aliança.     R. 

Evangelho: Mc 10, 13-16 

“Quem não receber o Reino de Deus como uma criança,
não entrará nele.” 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo: 13 Traziam crianças para que Jesus as tocasse. Mas os discípulos as repreendiam. 14 Vendo isso, Jesus se aborreceu e disse: ‘Deixai vir a mim as crianças. Não as proibais, porque o Reino de Deus é dos que são como elas. 15 Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele.’ 16 Ele abraçava as crianças e as abençoava, impondo-lhes as mãos.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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01 de Março 2019

A SANTA MISSA

7ª Semana do Tempo Comum – Sexta-feira 
Cor: Verde

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1ª Leitura: Eclo 6, 5-17

“Ao amigo fiel não há nada que se compare.” 

Leitura do Livro do Eclesiástico

5 Uma palavra amena multiplica os amigos e acalma os inimigos; uma língua afável multiplica as saudações. 6 Sejam numerosos os que te saúdam, mas teus conselheiros, um entre mil. 7 Se queres adquirir um amigo, adquire-o na provação; e não te apresses em confiar nele. 8 Porque há amigo de ocasião, que não persevera no dia da aflição. 9 Há amigo que passa para a inimizade, e que revela as desavenças para te envergonhar. 10 Há amigo que é companheiro de mesa e que não persevera no dia da necessidade. 11 Quando fores bem sucedido, ele será como teu igual e, sem cerimônia, dará ordens a teus criados. 12 Mas, se fores humilhado, ele estará contra ti e se esconderá da tua presença. 13 Afasta-te dos teus inimigos e toma cuidado com os amigos. 14 Um amigo fiel é poderosa proteção: quem o encontrou, encontrou um tesouro. 15 Ao amigo fiel não há nada que se compare, é um bem inestimável. 16 Um amigo fiel é um bálsamo de vida; os que temem o Senhor vão encontrá-lo. 17 Quem teme o Senhor, conduz bem a sua amizade: como ele é, tal será o seu amigo.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 118 (119), 12 e 16.18 e 27.34 e 35 (R. 35a)

R. Guiai-me pela estrada do vosso ensinamento!

12 Ó Senhor, vós sois bendito para sempre; *
os vossos mandamentos ensinai-me!  R.

16 Minha alegria é fazer vossa vontade; *
eu não posso esquecer vossa palavra.     R.

18 Abri meus olhos, e então contemplarei *
as maravilhas que encerra a vossa lei!     R.

27 Fazei-me conhecer vossos caminhos, *
e então meditarei vossos prodígios!     R.

34 Dai-me o saber, e cumprirei a vossa lei, *
e de todo o coração a guardarei.      R.

35 Guiai meus passos no caminho que traçastes, *
pois só nele encontrarei felicidade.     R. 

Evangelho: Mc 10, 1-12  

“O que Deus uniu, o homem não separe!

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo: 1 Jesus foi para o território da Judeia, do outro lado do rio Jordão. As multidões se reuniram de novo, em torno de Jesus. E ele, como de costume, as ensinava. 2 Alguns fariseus se aproximaram de Jesus. Para pô-lo à prova, perguntaram se era permitido ao homem divorciar-se de sua mulher. 3 Jesus perguntou: ‘O que Moisés vos ordenou?’ 4 Os fariseus responderam: ‘Moisés permitiu escrever uma certidão de divórcio e despedi-la’. 5 Jesus então disse: ‘Foi por causa da dureza do vosso coração que Moisés vos escreveu este mandamento. 6 No entanto, desde o começo da criação, Deus os fez homem e mulher. 7 Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e os dois serão uma só carne. 8 Assim, já não são dois, mas uma só carne. 9 Portanto, o que Deus uniu, o homem não separe!’ 10 Em casa, os discípulos fizeram, novamente, perguntas sobre o mesmo assunto. 11 Jesus respondeu: ‘Quem se divorciar de sua mulher e casar com outra, cometerá adultério contra a primeira. 12 E se a mulher se divorciar de seu marido e casar com outro, cometerá adultério.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Proteger a Família

TEMPO COMUM. SÉTIMA SEMANA. SEXTA-FEIRA

– Jesus devolve à sua pureza original a dignidade do matrimônio. Unidade e indissolubilidade.
– Apostolado sobre a natureza do matrimônio. Exemplaridade dos cônjuges. Santidade na família.
– O matrimônio cristão.

I. O EVANGELHO DA MISSA de hoje 1 mostra-nos Jesus ocupado em ensinar uma multidão que chegava de todas as cidades vizinhas. E, no meio daquela gente simples que recebe com avidez a Palavra de Deus, apresentam-se uns fariseus mal-intencionados, querendo pôr Cristo em choque com a Lei de Moisés. Perguntam-lhe se é lícito ao marido repudiar a mulher. Jesus disse-lhes: Que vos mandou Moisés? Eles responderam: Moisés permitiu escrever-lhe o libelo de repúdio e despedi-la. Era uma norma admitida por todos, mas discutia-se se era lícito repudiar a mulher por qualquer motivo 2, por uma causa insignificante ou mesmo sem motivo algum.

Jesus Cristo, Messias e Filho de Deus, conhece perfeitamente o sentido dessa lei: Moisés havia permitido o divórcio por causa da dureza de coração do seu povo, e com essa disposição – o libelo de repúdio – protegia a condição da mulher, tão denigrante na época que em muitos casos não ultrapassava a de uma escrava sem nenhum direito. Por esse certificado, a mulher repudiada recuperava a sua liberdade: era, pois, um autêntico avanço social para aqueles tempos de barbárie em tantos costumes 3.

Mas Jesus devolve à sua pureza original a dignidade do matrimônio, conforme Deus o instituíra no princípio da Criação: Deus os fez varão e mulher; por isso deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não o separe.

Este ensinamento do Senhor soou como uma exigência demasiado drástica ao ouvido de todos, a tal ponto que os próprios discípulos – conforme relata São Mateus – lhe disseram: Se tal é a condição do homem com relação à mulher, é preferível não casar-se 4. A conversa deve ter-se prolongado, porque, já em casa, tornaram a interrogar o Senhor sobre a questão. E Jesus declarou para sempre: Aquele que repudia a sua mulher e se casa com outra comete adultério contra aquela; e se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete adultério.

O Senhor sublinha que Deus estabeleceu já no princípio a unidade e a indissolubilidade do matrimônio. Comentando este ensinamento, São João Crisóstomo diz numa fórmula simples e clara que o matrimônio é de um com uma para sempre 5. O Magistério da Igreja, guardião e intérprete da lei natural e divina, ensinou de modo constante que o matrimônio foi instituído por Deus com laço perpétuo e indissolúvel, e “que foi protegido, confirmado e elevado não por meio de leis vindas dos homens, mas do próprio autor da natureza, Deus, e do restaurador dessa mesma natureza, Jesus Cristo Senhor; leis, portanto, que não podem estar sujeitas ao arbítrio dos homens, nem sequer ao arbítrio dos próprios cônjuges” 6. O matrimônio não é um simples contrato privado; não pode ser rompido pela vontade dos contraentes. Não existe nenhuma razão humana, nenhuma situação-limite, por mais iníqua que possa parecer, capaz de justificar o divórcio.

Devemos rezar pela estabilidade das famílias – começando pela nossa – e tentar ser sempre instrumentos de união através de um apostolado de amizade, de exemplo de bom entendimento nos assuntos do nosso lar, que contagie muitas outras famílias.

II. NOS SEUS ESFORÇOS por recordar o valor e a santidade do matrimônio, o cristão não deve deixar-se impressionar pelas dificuldades e mesmo pelas chacotas que possam surgir no seu ambiente, da mesma forma que o Senhor não se importou com o clima existente em Israel, contrário à sua doutrina. Ao defendermos a indissolubilidade da instituição matrimonial, fazemos um imenso bem a todos.

Jesus Cristo, contrariando o ambiente da época a respeito do matrimônio, devolve-lhe toda a sua dignidade original e eleva-o à ordem sobrenatural ao instituí-lo como um sacramento chamado a santificar os cônjuges na vida familiar. E hoje, quando em tantos meios se olha com ceticismo para este sacramento e as suas propriedades essenciais, é um dever urgente dos cristãos defendê-lo com o mesmo vigor e desassombro de Jesus Cristo, e estabelecer as bases para que a família, unida e sólida, seja o fundamento da sociedade.

A família “tem que ser objeto de atenção e de apoio por parte daqueles que intervêm na vida pública. Educadores, escritores, políticos e legisladores devem ter em conta que grande parte dos problemas sociais e mesmo pessoais têm as suas raízes nos fracassos ou carências da vida familiar. Lutar contra a delinqüência juvenil ou contra a prostituição da mulher e favorecer ao mesmo tempo o descrédito ou a deterioração da instituição familiar é uma leviandade e uma contradição.

“O bem da família em todos os seus aspectos tem que ser uma das preocupações fundamentais da atuação dos cristãos na vida pública. Deve-se apoiar o matrimônio e a família a partir dos diversos setores da vida social, facilitando-lhes todas as ajudas de tipo econômico, social, educativo, político e cultural que hoje são necessárias e urgentes para que possam continuar desempenhando as suas funções insubstituíveis na nossa sociedade (cfr. Familiaris consortio, n. 45).

“Cumpre fazer notar, no entanto, que o papel das famílias na vida social e política não pode ser meramente passivo. Elas mesmas devem ser «as primeiras a procurar que as leis não somente não ofendam, mas sustentem e defendam positivamente os direitos e deveres da família» (ib., n. 44), promovendo assim uma verdadeira «política familiar» (ib.)” 7.

A exemplaridade e a alegria dos esposos cristãos devem preceder o apostolado com os filhos e com as outras famílias com quem se relacionam por motivos de amizade, por vínculos sociais, pelos objetivos comuns na educação dos filhos, etc. Essa alegria no meio das dificuldades normais de qualquer família, nasce de uma vida santa, da correspondência à vocação matrimonial. E os filhos realizam um bem muito grato a Deus quando se esforçam por empregar todos os meios ao seu alcance para colaborar com o ambiente próprio de uma família cristã, em que todos vivem as virtudes humanas: cordialidade jovial, sobriedade, amor ao trabalho, respeito mútuo...

III. QUANDO ELEVADO à ordem sobrenatural, todo o amor humano se engrandece e se fortalece porque, pelo sacramento cristão, o amor divino penetra no amor humano, ampliando-o e santificando-o. É Deus quem une o homem e a mulher com um vínculo sagrado no matrimônio; por isso o que Deus uniu, o homem não o separe. Justamente porque Deus une marido e mulher com vínculos divinos, o que eram dois corpos e dois corações torna-se uma só carne, um só corpo e um mesmo coração, à semelhança da união de Cristo com a sua Igreja 8.

O matrimônio não é apenas uma instituição social; não é apenas um estado jurídico, civil e canônico; é também uma nova vida, abnegada, transbordante de amor, santificante para os cônjuges e para todos os que compõem a família.

É bom que no seu diálogo com o Senhor, os pais e os filhos crescidos se detenham a considerar os diferentes aspectos da sua conduta diária: a convivência afetuosa, livre de discussões, de críticas ou de queixas; o cuidado com a boa ordem da casa e com o atendimento material dos filhos, dos irmãos, dos avós...; o aproveitamento do tempo nos fins de semana, evitando o ócio ou os passatempos inúteis; a serenidade diante das contrariedades; o respeito pela liberdade e pelas opiniões dos outros, juntamente com o conselho oportuno; o interesse pelos estudos e pela formação nas virtudes cristãs dos filhos ou dos irmãos mais novos; a solicitude para com os que requerem um cuidado e uma compreensão mais esmerados e mais sacrificados, etc.

Se os pais se amarem, com um amor humano e sobrenatural, serão exemplares e os filhos se espelharão neles para encontrarem resposta a tantas questões que a vida suscita. Num ambiente alegre, o ideal cristão e as nobres ambições humanas florescerão e darão frutos abundantes de paz e de felicidade. E a família se converterá num lugar privilegiado para a “renovação constante da Igreja” 9, para a nova evangelização do mundo a que o Papa João Paulo II nos anima.

Peçamos à Santíssima Virgem, Mãe do Amor Formoso, graça abundante de seu Filho Jesus Cristo para a nossa família e para todas as famílias cristãs da terra.

(1) Mc 10, 1-2; (2) Mt 19, 3; (3) cfr. Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos; (4) Mt 19, 10; (5) cfr. São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 62, 1; (6) Pio XI, Enc. Casti connubii, 31-XII-1930; (7) Conferência Episcopal Espanhola, Intr. Past. Os católicos na vida pública, 22-IV-1986, ns. 160-162; (8) cfr. Ef 5, 22; (9) João Paulo II, Alocução, 21-IX-1978.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


São Romão e São Lupicino

28 de Fevereiro

São Romão e São Lupicino

Os primeiros contatos dos monges orientais com o mundo latino foram propiciados pelos frequentes exílios de santo Atanásio.

Foi no século IV que se desenvolveu a vida monacal no Ocidente. O primeiro mosteiro surgiu na França em 371 por obra de são Martinho de Tours. Depois disso houve florescimento de mosteiros, entre os quais em Ainay, perto de Lião, onde encontramos o monge Romano.

Os severos regulamentos do mosteiro eram muito brandos para ele. Com o consentimento do seu abade pegou a Bíblia e o indispensável para viver e sumiu. Alguns anos depois o seu irmão Lupicino o encontrou e se agregou a ele. Mais tarde muitos os seguiram no eremitério. Fundaram um mosteiro em Condat e outro em Beaume.

Os dois irmãos dividiam em perfeita harmonia o governo das novas comunidades. Tinham temperamentos completamente opostos: Romano é tolerante e compreensivo e seu irmão, austero e intransigente na observância. Assim, depois de uma colheita excepcional, os monges começaram a relaxar as abstinências. Então Lupicino fez jogar no rio as provisões. Doze monges abandonaram o mosteiro. Romano foi atrás deles e implorou-lhes com lágrimas que voltassem.

Também aqui triunfou a sua bondade. Mais tarde, durante uma peregrinação ao túmulo de são Maurício em Genebra, em companhia de um dos seus monges, são Palade, passou a noite numa choupana, onde se abrigavam dois leprosos. Romano não hesitou em abraçá-los. Na manhã seguinte os leprosos perceberam que estavam curados. Eles que até então estavam marginalizados correram à cidade para contar o milagre e se reintegrar na sociedade. Durante essa viagem houve outros prodígios operados pelo santo. Depois voltou à sua solidão onde morreu em 463. Morreu antes do irmão e da irmã. Tinha 73 anos de idade.

Fonte: Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.


O importante é ir para o céu

TEMPO COMUM. SÉTIMA SEMANA. QUINTA-FEIRA

– De todas as coisas da vida, a única que realmente importa é chegar ao Céu.
– O inferno. O demônio não renunciou às almas que ainda peregrinam na terra. O santo temor de Deus.
– Ser instrumentos para a salvação de muitos.

I. DE TODOS OS OBJETIVOS da nossa vida, só um é realmente necessário: chegarmos à meta que Deus nos propôs, que é o Céu. Para alcançá-lo, devemos estar dispostos a sacrificar seja o que for. Tudo deve estar subordinado a essa meta, a única que vale a pena. E se há alguma coisa que, ao invés de ser ajuda, é obstáculo, devemos então retificá-la ou afastá-la.

É o que nos diz o Senhor no Evangelho da Missa 1Se a tua mão te escandaliza, corta-a... E se o teu pé te escandaliza, corta-o... E se o teu olho te escandaliza, arranca-o... É preferível entrarmos manetas, coxos ou caolhos no Reino a sermos jogados inteiros na geena do fogo, onde nem o verme morre nem o fogo se apaga.

Com estas comparações tão vivas, o Senhor ensina-nos que temos obrigação de evitar os perigos de ofendê-lo e o dever grave de afastar as ocasiões próximas de pecado, pois quem ama o perigo, nele cairá 2.

Tudo aquilo que nos põe em risco de pecar deve ser afastado energicamente. Não podemos brincar com a nossa salvação nem com a do próximo.

Para um cristão que pretende agradar a Deus em tudo, normalmente os obstáculos que terá de remover não serão muito importantes, mas talvez pequenos caprichos, faltas de temperança ou de domínio do caráter, breves momentos de preguiça, excessiva preocupação pela saúde ou pelo bem-estar... Faltas mais ou menos habituais, pecados veniais, mas que devem ser tidos muito em conta, porque nos atrasam o passo e nos podem fazer tropeçar e mesmo cair em fraquezas mais importantes.

Se lutarmos generosamente, se tivermos claro o fim da nossa vida, trataremos de retificar com tenacidade esses obstáculos – tantas vezes fruto do temperamento –, para que deixem de sê-lo e se convertam em autênticas ajudas. O Senhor fez isso muitas vezes com os seus Apóstolos: converteu o ímpeto precipitado de Pedro em rocha firme sobre a qual assentaria a Igreja; transformou a impaciência brusca de João e Tiago (conhecidos por “filhos do trovão”) em zelo apostólico de pregadores incansáveis; e a incredulidade de Tomé, num testemunho claro da sua divindade. O que antes era obstáculo converteu-se depois, pela correspondência à graça do Senhor, numa grande ajuda.

II. A VIDA DO CRISTÃO deve ser uma contínua caminhada para o Céu. Tudo nos deve ajudar a firmar os nossos passos nessa trilha: a dor e a alegria, o trabalho e o descanso, o êxito e o fracasso... Assim como nos grandes negócios e nas tarefas importantes se estudam e se acompanham até os menores detalhes, assim devemos nós fazer com o negócio mais importante que temos entre mãos, o negócio da nossa salvação. No fim da nossa passagem pela terra, encontraremos esta única alternativa: ou o Céu (passando pelo purgatório, se tivermos de purificar-nos) ou o inferno, o lugar do fogo inextinguível, de que o Senhor falou explicitamente em muitas ocasiões.

Se o inferno não tivesse uma consistência real, e se não houvesse uma possibilidade igualmente real de os homens acabarem nele, Cristo não nos teria revelado com tanta clareza a sua existência, e não nos teria advertido tantas vezes: Vigiai! O demônio não desistiu de conseguir a perdição de nenhum homem, de nenhuma mulher, enquanto peregrinam neste mundo em direção ao seu fim definitivo; não desistiu de ninguém, seja qual for o lugar que ocupe e a missão que tenha recebido de Deus.

A existência de um castigo eterno, reservado aos que praticam o mal e morrem em pecado mortal, é uma verdade revelada já no Antigo Testamento 3. E no Novo, Cristo falou-nos do castigo preparado para o diabo e os seus anjos 4, do sofrimento dos servos maus que não cumpriram a vontade do seu senhor 5, das virgens néscias que se viram sem o azeite das boas obras quando chegou o Esposo 6, dos que se apresentaram sem o traje nupcial ao banquete de casamento 7, dos que ofenderam gravemente os seus irmãos 8 ou não quiseram ajudá-los nas suas necessidades materiais ou espirituais 9... O mundo é comparado a uma eira em que há trigo e palha, até o momento em que Deus tomará a pá nas suas mãos e limpará a eira, ajuntando o trigo nos seus celeiros e queimando a palha no fogo inextinguível 10.

O inferno não é uma espécie de símbolo para ser utilizado nas exortações morais, próprias de épocas antigas em que a humanidade estava menos evoluída. É uma realidade comunicada por Jesus Cristo, tão tristemente objetiva que o levou a mandar-nos – como lemos no Evangelho da Missa – que deixássemos qualquer coisa, por mais importante que fosse, para não corrermos o perigo de ir parar ali para sempre. É uma verdade de fé constantemente afirmada pelo Magistério. O Concílio Vaticano II, ao tratar da índole escatológica da Igreja, recorda-nos: “Devemos vigiar constantemente [...] para que não sejamos mandados, como os servos maus e preguiçosos (cfr. Mt 25, 26), para o fogo eterno (cfr. Mt 25, 41), para as trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes” 11.

Seria um grave erro não meditarmos de vez em quando neste tema transcendental, ou silenciá-lo na pregação, na catequese ou no apostolado pessoal. João Paulo II adverte que “a Igreja não pode omitir, sem grave mutilação da sua mensagem essencial, uma constante catequese sobre [...] os quatro novíssimos do homem: a morte, o juízo (particular e universal), o inferno e o paraíso. Numa cultura que tende a encerrar o homem nas suas vicissitudes terrestres, mais ou menos bem sucedidas, pede-se aos Pastores da Igreja uma catequese que abra e ilumine com as certezas da fé o além que se seguirá à vida presente: para lá das misteriosas portas da morte, delineia-se uma eternidade de alegria na comunhão com Deus ou de pena no afastamento dEle” 12.

O Senhor quer que nos conduzamos movidos pelo amor, mas, dada a fraqueza humana, conseqüência do pecado original e dos pecados pessoais, quis revelar-nos até onde o pecado nos pode levar, para que tenhamos mais um motivo para nos afastarmos dele: o santo temor de Deus, o temor de nos separarmos para sempre do Bem infinito, do verdadeiro Amor.

Os santos sempre consideraram um grande bem as revelações particulares que Deus lhes fez sobre a existência do inferno e a dureza e eternidade das suas penas: “Foi uma das maiores mercês que Deus me fez – escreve Santa Teresa –, porque me serviu muitíssimo, tanto para perder o medo às tribulações desta vida, como para me esforçar por padecê-las e por dar graças ao Senhor que me livrou, ao que me parece, de males tão perpétuos e terríveis” 13.

Vejamos na nossa oração se existe alguma coisa na nossa vida, por pequena que seja, que nos separe de Deus ou em que não lutemos como deveríamos; vejamos se fugimos com prontidão e energia de toda a ocasião próxima de pecar; se pedimos com freqüência à Virgem Maria que nos dê um profundo horror a todo o pecado, a essa lepra que causa tantos estragos na alma, afastando-nos do seu Filho, nosso único Bem absoluto.

III. A CONSIDERAÇÃO DO NOSSO FIM último deve levar-nos à fidelidade no pouco de cada dia, a ganhar o Céu com os afazeres e os acontecimentos diários, a remover tudo aquilo que seja um obstáculo diário no nosso caminho. Deve levar-nos também ao apostolado, a ajudar aqueles que temos junto de nós para que encontrem a Deus e o sirvam nesta vida e sejam felizes com Ele por toda a eternidade.

Para isso, devemos começar por estar atentos às conseqüências da nossa atuação e das nossas omissões, a fim de não sermos nunca, nem remotamente, escândalo, ocasião de tropeço para os outros. O Evangelho da Missa traz também estas palavras de Jesus: E aquele que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor fora que lhe atassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem ao mar. Noutra ocasião, o Senhor tinha dito: É inevitável que haja escândalos, mas ai daquele que os causa! 14 Não encontramos em todo o Evangelho palavras tão fortes como essas. Poucos pecados são tão graves como o de causar a ruína de uma alma, porque o escândalo tende a destruir a maior obra de Deus, que é a Redenção: mata a alma do próximo tirando-lhe a vida da graça, que é mais preciosa que a vida do corpo. Os pequenos são para Jesus, em primeiro lugar, as crianças, cuja inocência reflete de um modo particular a imagem de Deus; mas são também todas essas pessoas simples que nos rodeiam, com menos formação que nós e, por isso, mais fáceis de escandalizar.

À vista das muitas causas de escândalo que se dão diariamente no mundo, o Senhor pede aos seus discípulos que sejam exemplo vivo que arraste os outros a ser bons cristãos; que pratiquem a correção fraterna oportuna, afetuosa, prudente, uma correção que ajude os outros a remediar os seus erros ou a cortar com uma situação inconveniente para a sua alma; que incentivem muitos a viverem o sacramento da Penitência para reorientarem os seus passos. A realidade da existência do inferno, que a fé nos ensina, é um apelo urgente para que sejamos instrumento de salvação para muitos.

Recorramos à Santíssima Virgem: Iter para tutum! 15, preparai-nos, Senhora, para nós e para todos os homens, um caminho seguro que termine na eterna felicidade do Céu.

(1) Mc 9, 40-49; (2) Ecle 3, 26-27; (3) cfr. Num 16, 30-33; Is 33, 14; Ecle 7, 18-19; Jo 10, 20-21; etc.; (4) cfr. Mt 25, 41; (5) cfr. Mt 24, 51; (6) cfr. Mt 25, 1 e segs.; (7) cfr. Mt 22, 1-14; (8) cfr. Mt 5, 22; (9) cfr. Mt 25, 41 e segs.; (10) Lc 3, 17; (11) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 48; (12) João Paulo II, Exort. Apost. Reconciliatio et paenitentia, 2-XII-1984, 26; (13) Santa Teresa, Vida, 32, 4; (14) Lc 17, 1; (15) Liturgia das Horas, Oração da tarde do comum de Nossa Senhora, Hino Ave, maris stella.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


28 de Fevereiro 2019

A SANTA MISSA

7ª Semana do Tempo Comum – Quinta-feira 
Cor: Verde

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1ª Leitura: Eclo 5, 1-10 (gr. 1-8)

“Não demores em voltar para o Senhor.”

Leitura do Livro do Eclesiástico

1 Não confies nas tuas riquezas e não digas: ‘Basta-me viver!’ 2 Não deixes que tua força te leve a seguir as paixões do coração. 3 Não digas: ‘Quem terá poder sobre mim?’ ou: ‘Quem me fará prestar contas das minhas ações?’, pois o Senhor, com certeza, te castigará. 4 Não digas: ‘Pequei, e que de mal me aconteceu?’, pois o Altíssimo é paciente. 5 Não percas o temor por causa do perdão, cometendo pecado sobre pecado. 6 Não digas: ‘A misericórdia do Senhor é grande, ele me perdoará a multidão dos meus pecados!’, 7 pois dele procedem misericórdia e cólera, e sua ira se abate sobre os pecadores. 8 Não demores em voltar para o Senhor, e não adies de um dia para outro, 9 pois a sua cólera vem de repente e, no dia do castigo, serás aniquilado. 10 Não te apoies em riquezas injustas, pois elas de nada te valerão no dia da desgraça.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 1, 1-2.3.4 e 6(R. Sl 39, 5a)

R. É feliz quem a Deus se confia!

Feliz é todo aquele que não anda *
conforme os conselhos dos perversos;
que não entra no caminho dos malvados, *
nem junto aos zombadores vai sentar-se;
mas encontra seu prazer na lei de Deus *
e a medita, dia e noite, sem cessar.      R.

3 Eis que ele é semelhante a uma árvore *
que à beira da torrente está plantada;
ela sempre dá seus frutos a seu tempo, +
e jamais as suas folhas vão murchar. *
Eis que tudo o que ele faz vai prosperar,     R.

4 mas bem outra é a sorte dos perversos. +
Ao contrário, são iguais à palha seca *
espalhada e dispersada pelo vento.
6 Pois Deus vigia o caminho dos eleitos, *
mas a estrada dos malvados leva à morte.      R. 

Evangelho: Mc 9, 41-50 

 “É melhor entrar na Vida sem uma das mãos,
do que, tendo as duas, ir para o inferno.”

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Marcos

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 41 Quem vos der a beber um copo de água, porque sois de Cristo, não ficará sem receber a sua recompensa. 42 E se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem, melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço. 43 Se tua mão te leva a pecar, corta-a! É melhor entrar na Vida sem uma das mãos, do que, tendo as duas, ir para o inferno, para o fogo que nunca se apaga. 45 Se teu pé te leva a pecar, corta-o! É melhor entrar na Vida sem um dos pés, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno. 47 Se teu olho te leva a pecar, arranca-o! É melhor entrar no Reino de Deus com um olho só, do que, tendo os dois, ser jogado no inferno, 48 ‘onde o verme deles não morre, e o fogo não se apaga’.’ 49 Pois todos hão de ser salgados pelo fogo. 50 Coisa boa é o sal. Mas se o sal se tornar insosso, com que lhe restituireis o tempero? Tende, pois, sal em vos mesmos e vivei em paz uns com os outros.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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