Santa Marta

29 de Julho

Santa Marta

As Escrituras contam que, em seus poucos momentos de descanso ou lazer, Jesus procurava a casa de amigos em Betânia, local muito agradável há apenas três quilômetros de Jerusalém. Lá moravam Marta, Lázaro e Maria, três irmãos provavelmente filhos de Simão, o leproso. Há poucas mas importantíssimas citações de Marta nas Sagradas Escrituras.

É narrado, por exemplo, o primeiro momento em que Jesus pisou em sua casa. Por isso existe a dúvida de que Simão fosse mesmo o pai deles, pois a casa é citada como se fosse de Marta, a mais velha dos irmãos. Mas ali chegando, Jesus conversava com eles e Maria estava aos pés do Senhor, ouvindo sua pregação. Marta, trabalhadora e responsável, reclamou da posição da irmã, que nada fazia, apenas ouvindo o Mestre. Jesus aproveita, então, para ensinar que os valores espirituais são mais importantes do que os materiais, apoiando Maria em sua ocupação de ouvir e aprender.

Fala-se dela também quando da ressurreição de Lázaro. É ela quem mais fala com Jesus nesse acontecimento. Marta disse a Jesus: 'Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido. Mas mesmo agora, eu sei que tudo o que pedires a Deus, Deus dará'.

Trata-se de mais uma passagem importante da Bíblia, pois do evento tira-se um momento em que Jesus chora: 'O pranto de Maria provoca o choro de Jesus'. E o milagre de reviver Lázaro, já morto e sepultado, solicitado com tamanha simplicidade por Marta, que exemplifica a plena fé na onipotência do Senhor.

Os primeiros a dedicarem uma festa litúrgica a santa Marta foram os frades franciscanos, em 1262, e o dia escolhido foi 29 de julho. Ela se difundiu e o povo cristão passou a celebrar santa Marta como a padroeira dos anfitriões, dos hospedeiros, dos cozinheiros, dos nutricionistas e dietistas.

Texto: Paulinas Internet


Santo Inocêncio I

28 de Julho

Santo Inocêncio I

Inocêncio I era italiano, nasceu em Albano, uma província romana do Lazio. Ele foi eleito no ano 401 e governou a Igreja por dezesseis anos, num período dos mais difíceis para o cristianismo.

A sua primeira atividade pastoral foi uma intervenção direta no Oriente, exortando a população de Constantinopla a seguir as orientações do seu bispo, são João Crisóstomo, e assim viver em paz.

Mas um dos maiores traumas de seu pontificado foi a invasão e o saque de Roma, cometidos pelos bárbaros godos, liderados por Alarico. Roma estava cercada por eles desde o ano 408 e só não tinha sido invadida graças às intervenções do papa junto a Alarico. Pressionado pelo invasor, e tentando salvar a vida dos cidadãos romanos, Inocêncio viajou até a diocese de Ravena, onde se escondia o medroso imperador Honório.

O papa tentava, há muito tempo, convencê-lo a negociar e conceder alguns poderes especiais a Alarico, para evitar o pior, que ele saqueasse a cidade e matasse a população. Não conseguiu e o saque teve início.

Foram três dias de roubo, devastação e destruição. Os bárbaros respeitaram apenas as igrejas, por causa dos anos de contato e mediação com o papa Inocêncio I. Mesmo assim, a invasão foi tão terrível que seria comentada e lamentada depois, por santo Agostinho e são Jerônimo.

Apesar de enfrentar inúmeras dificuldades, conseguiu manter a disciplina e tomou decisões litúrgicas que perduram até hoje. Elas se encontram na inúmera correspondência deixada pelo papa Inocêncio I. Aliás, com essas cartas se formou o primeiro núcleo das coleções canônicas, que faz parte do magistério ordinário dos pontífices, alvo de estudos ainda nos nossos dias.

Também foi ele que estabeleceu a uniformidade que as várias Igrejas devem ter com a doutrina apostólica romana. Além disso, estratificou em forma e conteúdo a doutrina dos sacramentos da penitência, da unção dos enfermos, do batismo e do casamento.

Durante o seu pontificado difundia-se a heresia pelagiana, condenada no ano 416 pelos concílios regionais de Melevi e de Cartago, convocados por iniciativa de santo Agostinho e com aprovação do papa Inocêncio I, que formalmente sentenciou Pelágio e seu discípulo Celestio.

O papa Inocêncio I morreu no dia 28 de julho de 417, sendo sepultado no cemitério de Ponciano, na Via Portuense, em Roma.

Fonte:


28 de Julho 2019

A SANTA MISSA

17º Domingo do Tempo Comum – Ano C
Cor: Verde

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1ª Leitura: Gn 18,20-32

“Que o meu Senhor não se irrite, se eu falar”. 

Leitura do Livro do Gênesis

Naqueles dias: 20 O Senhor disse a Abraão: ‘O clamor contra Sodoma e Gomorra cresceu, e agravou-se muito o seu pecado. 21 Vou descer para verificar se as suas obras correspondem ou não ao clamor que chegou até mim’. 22 Partindo dali, os homens dirigiram-se a Sodoma, enquanto Abraão ficou na presença do Senhor. 23 Então, aproximando-se, disse Abraão: ‘Vais realmente exterminar o justo com o ímpio? 24 Se houvesse cinquenta justos na cidade, acaso iríeis exterminá-los? Não pouparias o lugar por causa dos cinquenta justos que ali vivem? 25 Longe de ti agir assim, fazendo morrer o justo com o ímpio, como se o justo fosse igual ao ímpio. Longe de ti! O juiz de toda a terra não faria justiça?’ 26 O Senhor respondeu: ‘Se eu encontrasse em Sodoma cinquenta justos, pouparia por causa deles a cidade inteira’. 27 Abraão prosseguiu dizendo: ‘Estou sendo atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza. 28 Se dos cinquenta justos faltassem cinco, destruirias por causa dos cinco a cidade inteira?’ O Senhor respondeu: ‘Não destruiria, se achasse ali quarenta e cinco justos’. 29 Insistiu ainda Abraão e disse: ‘E se houvesse quarenta?’ Ele respondeu: ‘Por causa dos quarenta, não o faria’. 30 Abraão tornou a insistir: ‘Não se irrite o meu Senhor, se ainda falo. E se houvesse apenas trinta justos?’. Ele respondeu: ‘Também não o faria, se encontrasse trinta’. 31 Tornou Abraão a insistir: ‘Já que me atrevi a falar a meu Senhor, e se houver vinte justos?’ Ele respondeu: ‘Não a iria destruir por causa dos vinte’. 32 Abraão disse: ‘Que o meu Senhor não se irrite, se eu falar só mais uma vez: e se houvesse apenas dez?’ Ele respondeu: ‘Por causa dos dez, não a destruiria’.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 137,1-2a.2bc-3.6-7ab.7c.8 (R. 3a)

R. Naquele dia em que gritei, vós me escutastes, ó Senhor!

Ó Senhor, de coração eu vos dou graças, *
porque ouvistes as palavras dos meus lábios!
Perante os vossos anjos vou cantar-vos *
2a e ante o vosso templo vou prostrar-me.      R.

2b Eu agradeço vosso amor, vossa verdade,*
2c porque fizestes muito mais que prometestes;
3 naquele dia em que gritei, vós me escutastes*
e aumentastes o vigor da minha alma.      R.

6 Altíssimo é o Senhor, mas olha os pobres,*
e de longe reconhece os orgulhosos.
7a Se no meio da desgraça eu caminhar,*
vós me fazeis tornar à vida novamente;
7b quando os meus perseguidores me atacarem*
e com ira investirem contra mim,
estendereis o vosso braço em meu auxílio.      R.

7c E havereis de me salvar com vossa destra.
8 Completai em mim a obra começada;*
ó Senhor, vossa bondade é para sempre!
Eu vos peço: não deixeis inacabada*
esta obra que fizeram vossas mãos!      R.

2ª Leitura: Cl 2,12-14

 “Deus vos trouxe para a vida, junto com
Cristo, e a todos nós perdoou os pecados”. 
 

Leitura da Carta de São Paulo aos Colossenses

Irmãos: 12 Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados por meio da fé no poder de Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos. 13 Ora, vós estáveis mortos por causa dos vossos pecados, e vossos corpos não tinham recebido a circuncisão, até que Deus vos trouxe para a vida, junto com Cristo, e a todos nós perdoou os pecados. 14 Existia contra nós uma conta a ser paga, mas ele a cancelou, apesar das obrigações legais, e a eliminou, pregando-a na cruz.

– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.

Evangelho: Lc 11,1-13 

“Pedi e recebereis”. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

1 Jesus estava rezando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos pediu-lhe: ‘Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos.’ 2 Jesus respondeu: ‘Quando rezardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o teu nome. Venha o teu Reino. 3 Dá-nos a cada dia o pão de que precisamos, 4 e perdoa-nos os nossos pecados, pois nós também perdoamos a todos os nossos devedores; e não nos deixes cair em tentação’.’ 5 E Jesus acrescentou: ‘Se um de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: `Amigo, empresta-me três pães, 6 porque um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’, 7 e se o outro responder lá de dentro: ‘Não me incomoda! Já tranquei a porta, e meus filhos e eu já estamos deitados; não me posso levantar para te dar os pães’; 8 eu vos declaro: mesmo que o outro não se levante para dá-los porque é seu amigo, vai levantar-se ao menos por causa da impertinência dele e lhe dará quanto for necessário. 9 Portanto, eu vos digo: pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. 10 Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, se abrirá. 11 Será que algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? 12 Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13 Ora, se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem! ‘

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Aprender a Pedir

TEMPO COMUM. DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO. ANO C

– O sentido da nossa filiação divina deve sempre estar presente na nossa oração.
– Pedir bens sobrenaturais, e também bens materiais, se nos ajudam a amar a Deus.
– A súplica de Abraão.

I. JESUS RETIRAVA‑SE para orar, com freqüência, pela manhã cedo e a lugares afastados 1. Os seus discípulos foram encontrá‑lo muitas vezes entregue a um diálogo cheio de intimidade e ternura com seu Pai do céu. E um dia, ao terminar a sua oração, disse‑lhe um dos seus discípulos: Senhor, ensina‑nos a orar 2... É o que nós temos de pedir também: Jesus, ensina‑me de que modo relacionar‑me contigo, diz‑me como e que coisas devo pedir‑te... Porque às vezes – mesmo que venhamos cultivando a prática da oração há muitos anos – permanecemos diante de Deus como uma criança que a muito custo arranha meia dúzia de palavras mal aprendidas.

O Senhor ensinou‑lhes então o modo de rezar e a oração por excelência: o Pai‑Nosso. Os seus lábios devem ter pronunciado cada palavra dessa oração universal com um acento incomparável. E fez ver a confiança com que devemos dirigir‑nos a Deus ao mostrar‑lhe a nossa insuficiência radical, porque essa confiança é o fundamento de toda a verdadeira oração: Se algum de vós tiver um amigo, e for ter com ele à meia‑noite e lhe disser: Amigo, empresta‑me três pães, porque um amigo meu acaba de chegar a minha casa de uma viagem, e não tenho nada que oferecer‑lhe... Se ele não se levantar para dar‑lhos por ser seu amigo, certamente pela sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães precisar.

Uma boa parte das nossas relações com Deus define‑se pela oração confiante. Somos filhos de Deus, filhos necessitados, e Ele só deseja dar‑nos o que lhe pedimos, e em abundância: E se algum de vós pedir um peixe a seu pai, porventura dar‑lhe‑á ele uma serpente? Ou se lhe pedir um ovo, dar‑lhe‑á porventura um escorpião?

O próprio Senhor se torna fiador da nossa oração: Todo aquele que pede, recebe; e aquele que busca, encontra; e a quem bate, abrir‑se‑lhe‑á. Não podia ser mais categórico. Só partiremos de mãos vazias se nos sentirmos satisfeitos de nós mesmos, se pensarmos que não precisamos de nada, porque nos contentamos com umas metas bem pequenas ou porque pactuamos com defeitos e fraquezas. Encheu de bens os famintos, e despediu vazios os ricos 3.

Devemos recorrer ao Senhor no Sacrário como pessoas muito necessitadas diante dAquele que tudo pode: como recorriam a Jesus os leprosos, os cegos, os paralíticos... “Rezar – sublinhava São João Paulo II, referindo‑se ao texto do Evangelho que comentamos – significa sentir a própria insuficiência através das diversas necessidades que se apresentam ao homem e que fazem parte da sua vida: a mesma necessidade de pão a que se refere Cristo, pondo como exemplo o homem que desperta o seu amigo à meia‑noite para lho pedir. Essas necessidades são muito numerosas. A necessidade de pão é, em certo sentido, o símbolo de todas as necessidades [...]” 4.

A humildade de nos sentirmos limitados, pobres, carentes de tantos dons, e a confiança em que Deus é o Pai incomparável que está sempre atento aos seus filhos, são as primeiras disposições com que devemos recorrer diariamente à oração. “Se nós aprendermos no sentido pleno da palavra, na sua plena dimensão, a realidade Pai, teremos aprendido tudo [...]. Aprender quem é o Pai quer dizer adquirir a certeza absoluta de que Ele não poderá rejeitar nada. Tudo isto se diz no Evangelho de hoje. Ele não te rejeita nem mesmo quando tudo, material e psicologicamente, parece indicar que o faz. Ele não te rejeita nunca” 5. Nunca deixa de nos atender. O sentido da nossa filiação divina e a consciência da nossa indigência e fraqueza devem estar sempre presentes no nosso trato com Deus.

II. TODO AQUELE que pede, recebe; e aquele que busca, encontra; e a quem bate, abrir‑se‑lhe‑á.

Antes de mais nada, devemos pedir os bens da alma, com desejos firmes de amar cada dia mais o Senhor: desejos autênticos de santidade no meio das circunstâncias em que nos encontramos. Também devemos pedir os bens materiais, na medida em que nos possam servir para alcançar Deus: a saúde, bens econômicos, etc.

“Peçamos os bens materiais discretamente – aconselha‑nos Santo Agostinho –, e tenhamos a certeza – se os recebemos – de que procedem de quem sabe o que nos convém. Pediste e não recebeste? Confia no Pai; se te conviesse, Ele to teria dado. Julga por ti mesmo. Tu és, diante de Deus, pela tua inexperiência das coisas divinas, como o teu filho diante de ti, com a sua inexperiência das coisas humanas. Aí tens o teu filho chorando o dia inteiro para que lhe dês uma faca ou uma espada. Negas‑te a dá‑lo e não fazes caso do seu pranto, para não teres que chorá‑lo morto. Agora ele geme, aborrece‑se e dá murros para que o coloques no teu cavalo; mas não fazes caso dele, pois sabes que, não sabendo montar, será derrubado e perderá a vida. Se lhe recusas esse pouco, é para lhe reservares tudo; negas‑lhe agora os seus insignificantes pedidos perigosos para que possa ir crescendo e possua sem perigo toda a fortuna” 6. Assim faz o Senhor conosco, pois somos como o menino pequeno que muitas vezes não sabe o que pede.

Deus sempre quer o melhor; por isso, a felicidade do homem encontra‑se sempre na plena identificação com o querer divino, ainda que humanamente não o pareça; por esse caminho chegar‑nos‑á a maior das alegrias.

Conta o Papa João Paulo II como o impressionou a alegria de um homem que encontrou num hospital de Varsóvia depois da insurreição daquela cidade durante a Segunda Guerra Mundial. Estava gravemente ferido e, no entanto, era notória a sua extraordinária felicidade. “Esse homem chegou à felicidade – comentava o Pontífice – por outro caminho, já que, a julgar visivelmente pelo seu estado físico do ponto de vista médico, não havia motivo para ser tão feliz, sentir‑se tão bem e considerar‑se escutado por Deus. E, no entanto, tinha sido escutado noutra dimensão da sua humanidade” 7, naquela dimensão em que o querer divino e o querer humano se tornam uma só coisa.

O que devemos pedir e desejar é que se cumpra a vontade de Deus: Faça‑se a tua vontade assim na terra como no céu. E este é sempre o meio de acertar, o melhor caminho que podíamos ter sonhado, pois é o que foi preparado pelo nosso Pai do Céu. “Diz‑Lhe: – Senhor, nada quero fora do que Tu quiseres. Não me dês nem mesmo aquilo que te venho pedindo nestes dias, se me afasta um milímetro da tua Vontade” 8. Para que hei de querê‑lo, se Tu não o queres? Tu sabes mais. Faça‑se a tua vontade...

III. A PRIMEIRA LEITURA 9 da Missa mostra‑nos outro exemplo comovente: a súplica de Abraão, o amigo de Deus, em favor daquelas cidades que tanto tinham ofendido o Senhor e que iam ser destruídas. Perderás tu o justo com o ímpio? Se houver cinqüenta justos na cidade, perecerão todos juntos? E não perdoarás aquele lugar por causa de cinqüenta justos, se aí os houver? Abraão tentará salvar as cidades, “regateando” com Deus, em quem confia e de quem se sente verdadeiramente querido. E invoca diante de Deus o imenso tesouro que são alguns justos, alguns santos.

O Senhor alegra‑se tanto com os justos, com os que o amam e portanto cumprem a sua Vontade, que estará disposto a perdoar milhares de pecadores que cometeram inúmeras ofensas contra Ele, desde que se encontrem cinqüenta, quarenta..., dez justos na cidade. O amor e a adoração desses poucos é tão agradável a Deus que será capaz de esquecer as iniquidades daquelas cidades.

É um ensinamento claro para nós, que queremos seguir o Senhor de perto – com obras! – e contar‑nos entre os seus amigos íntimos, pois às vezes pode insinuar‑se numa alma a tentação de perguntar‑se: de que adianta esforçar‑me por cumprir com fidelidade a vontade de Deus, se são tantos os que o ofendem e os que vivem como se Ele não existisse ou como se não merecesse nenhum interesse? Deus tem outras medidas, muito diferentes das humanas, a respeito da utilidade de uma vida. Um dia, no fim dos tempos, Ele nos fará ver a enorme eficácia, que supera o tempo e a distância, daquela viúva que gastou os seus dias em levar para a frente a família; o valor para toda a Igreja da dor daquele doente que ofereceu diariamente ao Senhor os seus sofrimentos; o “preço” de uma hora de estudo ou de trabalho convertida em oração...

Com uma medida que só a misericórdia divina conhece, teriam bastado dez justos para Deus salvar Sodoma e Gomorra. As obras desses justos, colocadas numa balança, teriam pesado mais que todos os pecados daqueles milhares de infelizes pecadores. Nós, quando procuramos ser fiéis ao Senhor, devemos experimentar a alegria de saber que a nossa entrega, apesar dos muitos defeitos que nos afligem, é a alegria de Deus no mundo. Ele está pronto a escutar a nossa oração. E todos os dias devemos pedir pela sociedade que nos rodeia, pois parece afastar‑se cada vez mais de Deus. “A oração de Abraão – comenta São João Paulo II – é muito atual nos tempos em que vivemos. É necessária uma oração assim, para que todo o homem justo trate de resgatar o mundo da injustiça” 10.

Terminemos a nossa oração fazendo o propósito de aprender a orar, de aprender a pedir como filhos. Temos de recorrer ao Senhor com muita freqüência, pois nos encontramos tão necessitados como aqueles que se juntavam à porta da casa onde Jesus se encontrava11, esperando receber dEle a saúde da alma e do corpo.

A Virgem nossa Mãe ensinar‑nos‑á a ser audazes na oração de petição. Pedimos‑lhe agora que nos ajude a conseguir com o nosso apostolado que em todos os ambientes – em cada cidade, em cada povoado, em cada lugar de trabalho e em todas as profissões – haja dez, vinte, cinqüenta... justos que sejam agradáveis a Deus e nos quais Ele possa apoiar‑se.

(1) Cfr. Mt 14, 23; Mc 1, 35; Lc 5, 16; 9, 18; (2) Lc 11, 1‑13; Evangelho da Missa do décimo sétimo domingo do TC, ciclo C; (3) Lc 1, 53; (4) João Paulo II, Homilia, 27‑VII‑1980; (5) ib.; (6) Santo Agostinho, Sermão 80, 2, 7‑8; (7) João Paulo II, op. cit.; (8) Josemaría Escrivá, Forja, n. 512; (9) Gen 18, 20‑32; (10) João Paulo II, op. cit.; (11) cfr. Mc 1, 33.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


A Nova Aliança

TEMPO COMUM. DÉCIMA SEXTA SEMANA. SÁBADO

– A Aliança do Sinai e a Nova Aliança de Cristo na Cruz.
– A renovação da Aliança: a Santa Missa.
– Amar o Sacrifício do altar.

I. LEMOS NO LIVRO do Êxodo 1 que, quando Moisés desceu do monte Sinai, deu a conhecer ao povo os mandamentos que tinha recebido de Deus. Os israelitas obrigaram‑se a cumpri‑los e Moisés os pôs por escrito. Na manhã seguinte, edificaram um altar na parte mais baixa da montanha e levantaram doze pedras, em memória das doze tribos de Israel. Imolaram umas vítimas com cujo sangue ratificaram a Aliança que Javé fazia com o seu povo. Mediante esse pacto, os israelitas comprometiam‑se a cumprir os preceitos divinos recebidos por Moisés, e Javé, com amor paternal, velaria pelo seu povo, eleito entre todos os povos da terra. O rito realizou‑se por meio do sangue, símbolo da fonte da vida. Aspergiu‑se o altar, que representava a Deus, e depois de Moisés ter lido em voz alta e solenemente o “livro da Aliança”, aspergiu o povo. A aspersão com o sangue expressava essa união especial de Javé com o seu povo 2.

Este acontecimento foi tão importante que seria recordado e renovado em muitas ocasiões 3. O povo viria a romper o pacto inúmeras vezes, mas Deus não se cansaria de perdoar; e não somente perdoaria como anunciaria constantemente pelos Profetas a nova Aliança pela qual manifestaria a sua infinita misericórdia 4.

Pelo Sangue de Cristo, derramado na Cruz, selou‑se o pacto definitivo, que unia intimamente a Deus o seu novo povo, a humanidade inteira, chamada a fazer parte da Igreja. O sacrifício do Calvário foi um sacrifício de valor infinito, que estabeleceu umas relações completamente novas e irrevogáveis dos homens com Deus.

“Desejas descobrir [...] o valor deste sangue?, pergunta São João Crisóstomo. Olha de onde brotou e qual é a sua fonte. Começou a brotar da própria Cruz, e a sua fonte foi o lado aberto do Senhor. Porque, depois que Jesus morreu, diz o Evangelho, um dos soldados aproximou‑se com a lança e trespassou‑lhe o lado, e imediatamente jorrou água e sangue: água como símbolo do Batismo; sangue como figura da Eucaristia. O soldado trespassou‑lhe o lado, abriu uma brecha no muro do templo santo, e eu encontro ali o tesouro escondido e alegro‑me com a riqueza encontrada” 5.

Encontramos essa riqueza diariamente na Santa Missa, em que o céu parece unir‑se à terra perante o assombro dos próprios anjos, e em que nos unimos com Cristo mediante uma intimidade real e verdadeira; o antigo Povo eleito jamais pôde imaginar algo semelhante. “Dulcíssimo Jesus Cristo – dizemos ao Senhor com uma antiga oração para a ação de graças da Missa –, nós te suplicamos que a tua Paixão seja a virtude que me fortaleça, proteja e defenda; as tuas chagas sejam para mim manjar e bebida com as quais me alimente, embriague e deleite; a aspersão do teu sangue purifique‑me de todos os meus delitos; a tua morte seja para mim vida permanente; a tua Cruz seja a minha eterna glória...” 6

II. VIRÃO DIAS, diz o Senhor, em que eu farei uma nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá; não como a aliança que fiz com os seus pais no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito... 7

Na Última Ceia, o Senhor antecipou o que mais tarde levaria a cabo ao morrer. Nessa ação, mostrou aos seus discípulos o que queria fazer e fez na Cruz: entregar o seu Corpo e o seu Sangue por todos. A Última Ceia é a antecipação do sacrifício da Cruz 8. Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; fazei isto em memória de mim todas as vezes que o beberdes 9. São palavras do Senhor que São Paulo nos transmite na primeira Epístola aos Coríntios, escrita vinte e sete anos depois daquela noite memorável, e que a Igreja guardou como um tesouro.

A palavra memória, comemoração, reproduz o sentido da palavra hebraica que se utilizava para designar a essência da Páscoa judaica, como recordação ou memorial da saída do Egito e da Aliança feita por Deus no Sinai10. Com esses ritos, os israelitas não se limitavam a recordar um acontecimento passado, mas tinham consciência de que o atualizavam e reviviam, para dele participarem ao longo de todas as gerações. Quando o Senhor mandou aos Apóstolos: Fazei isto em memória de mim, não lhes disse simplesmente que recordassem aquele momento único da Ceia memorável, mas também que renovassem o seu sacrifício do Calvário, já presente nessa celebração.

Agora, diariamente, em todo o mundo, essa Aliança renova‑se sempre que se celebra a Santa Missa. Em cada altar representa‑se, quer dizer, torna‑se a fazer presente, de modo misterioso mas real, o mesmo sacrifício de Cristo no Calvário: realiza‑se no presente, aqui e agora, a obra da nossa Redenção que Cristo realizou naquele lugar e então, como se desaparecessem os vinte séculos que nos separam do Calvário. Este caráter de Nova Aliança do Sacrifício Eucarístico manifesta‑se especialmente durante a Consagração11, e nesses instantes temos de expressar, de modo mais consciente, a nossa fé e o nosso amor.

Um autor antigo dava ao sacerdote celebrante um conjunto de recomendações que, devidamente adaptadas, podem ajudar‑nos a viver mais intensamente de fé e de amor nesse momento tão grande. Uma vez pronunciadas as palavras que tornam presente Cristo sobre o altar, “deves penetrar com os olhos da fé no que se esconde sob as espécies sacramentais; ao dobrares o joelho, olha com os olhos da fé o exército dos anjos que te rodeia e, com eles, adora Cristo, com uma reverência tão profunda que humilhes o teu coração até ao abismo. Na elevação, contempla Cristo suspenso da Cruz, e pede‑lhe que atraia a Si todas as coisas. Faz atos intensíssimos das outras virtudes, ora uns, ora outros, de fé, esperança, adoração, humildade..., dizendo com a mente: «Jesus, Filho de Deus, tem piedade de mim! Meu Senhor e meu Deus! Eu te amo, meu Deus, e te adoro com todo o meu coração e com todos os meus sentimentos». Também podes renovar a intenção pela qual celebras e oferecer o que já foi consagrado de acordo com os quatro fins da Missa. Mas, de modo especial, quando levantas o cálice, lembra‑te com dor e lágrimas de que o sangue de Cristo foi derramado por ti e de que, com freqüência, tu o desprezaste; adora‑o como compensação pelos desprezos passados”12.

III. QUÃO AMÁVEL é a tua morada, Senhor dos exércitos! A minha alma desfalece e suspira pelos átrios do Senhor 13. Com que amor e reverência temos de aproximar‑nos da Santa Missa! Ali está o manancial de graças sempre novas a que devem acudir todas as gerações que se vão sucedendo no tempo, a fim de encontrarem a fortaleza de que precisam para percorrerem o longo caminho que leva à eternidade 14. Ali encontram não só a graça, mas o próprio Autor de toda a graça 15.

Quando nos preparamos para celebrar ou participar do Santo Sacrifício do altar, temos de fazê‑lo de um modo tão intenso e tão ativo que nos unamos estreitamente a Jesus Cristo, Sumo Sacerdote, conforme nos indica São Paulo: Tende nos vossos corações os mesmos sentimentos de Jesus Cristo 16; temos de oferecer o Santo Sacrifício juntamente com Ele e por Ele, e com Ele oferecer‑nos também nós mesmos 17.

Para chegarmos a essa íntima união com Jesus Cristo na Santa Missa, ser‑nos‑á de grande ajuda esmerar‑nos em participar externamente da Liturgia, mediante uma atitude consciente, piedosa e ativa. Prestaremos delicada atenção aos diálogos e às aclamações, faremos atos de fé e de amor nos breves silêncios previstos, procuraremos estar especialmente vigilantes, com a vigilância do amor, no momento da Consagração e ao recebermos Jesus na nossa alma... Não esqueçamos que “não ama a Cristo quem não ama a Santa Missa, quem não se esforça por vivê‑la com serenidade e sossego, com devoção e carinho. O amor converte os enamorados em pessoas de sensibilidade fina e delicada; leva‑os a descobrir, para que se esmerem em vivê‑los, pormenores às vezes insignificantes, mas que trazem a marca de um coração apaixonado. É assim que devemos assistir à Santa Missa. Por isso sempre desconfiei das pessoas empenhadas em ouvir uma Missa curta e atropelada: pareciam‑me demonstrar com essa atitude, aliás pouco elegante, não terem percebido ainda o que significa o Sacrifício do altar” 18.

A ação de graças depois da Missa completará esses momentos tão importantes do dia, que terão uma influência decisiva no trabalho, na vida familiar, na alegria com que tratamos os outros, na serenidade e confiança com que vivemos todo o nosso dia. A Missa, assim vivida, nunca será um ato isolado, mas alimento das nossas ações; dar‑lhes‑á umas características peculiares, as que definem um filho de Deus que vive como tal no meio do mundo, corredimindo com Cristo.

Procuremos encontrar Nossa Senhora na Santa Missa, pois Ela acompanhou o seu Filho nos sofrimentos do Calvário e ofereceu‑se com Ele ao Pai. Torna a fazê‑lo, ainda que sem dor, em cada Missa, e ao invocarmos a sua ajuda nesses momentos, podemos estar certos de encontrar a melhor forma de participar do Sacrifício de Cristo. Ofereçamos Jesus, e ofereçamo‑nos nós mesmos com Ele, por meio de Santa Maria, que de um modo muito especial se encontra presente no Santo Sacrifício. “Pai Santo! Pelo Coração Imaculado de Maria, eu vos ofereço Jesus, vosso Filho muito amado, e me ofereço eu mesmo por Ele, com Ele e nEle, por todas as intenções e em nome de todas as criaturas” 19.

(1) Ex 24, 3‑8; Primeira leitura da Missa do sábado da décima sexta semana do TC, ano I; (2) cfr. B. Orchard e outros, Verbum Dei, vol. I; (3) cfr. 2 Sam 7, 13‑16, 28, 69; Jos 24, 19‑28; (4) cfr. Jer 31, 31‑34; Ez 16, 60; Is 42, 6; (5) São João Crisóstomo, Catequeses batismais, III, 19; (6) Preces selectae, Adamas Verlag, Colonia, 1987, pág. 20; (7) Jer 31, 31; (8) cfr. M. Schmaus, Teologia Dogmática, vol. VI, pág. 244; (9) 1 Cor 11, 25; (10) cfr. Sagrada Bíblia, Epístola de São Paulo aos Corintios, EUNSA, Pamplona, 1984, nota a 1 Cor 11, 24; (11) cfr. B. Orchard e outros, op. cit.; (12) Card. J. Bona, El sacrificio de la Misa, págs. 144‑146; (13) Sl 83, 2‑3; Salmo responsorial da Missa do sábado da décima sexta semana do TC, ano II; (14) cfr. R. Garrigou‑Langrange, As três idades da vida interior, vol. I, pág. 131; (15) cfr. Paulo VI, Instr. Eucaristicum mysterium, 25‑III‑1967, 4; (16) cfr. Fil 2, 5; (17) cfr. Pio XII, Enc. Mediator Dei, 20‑XI‑1947; (18) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 92; (19) P. M. Sulamitis, Oferenda do Amor Misericordioso, Salamanca, 1931.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


27 de Julho 2019

A SANTA MISSA

16ª Semana do Tempo Comum – Sábado 
Cor: Verde

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1ª Leitura: Ex 24, 3-8

“Este é o sangue da aliança que o Senhor fez convosco.” 

Leitura do Livro do Êxodo

Naqueles dias: 3 Moisés veio e transmitiu ao povo todas as palavras do Senhor e todos os decretos. O povo respondeu em coro: ‘Faremos tudo o que o Senhor nos disse’. 4 Então Moisés escreveu todas as palavras do Senhor. Levantando-se na manhã seguinte, ergueu ao pé da montanha um altar e doze marcos de pedra pelas doze tribos de Israel. 5 Em seguida, mandou alguns jovens israelitas oferecer holocaustos e imolar novilhos como sacrifícios pacíficos ao Senhor. 6 Moisés tomou metade do sangue e o pôs em vasilhas, e derramou a outra metade sobre o altar. 7 Tomou depois o livro da aliança e o leu em voz alta ao povo, que respondeu: ‘Faremos tudo o que o Senhor disse e lhe obedeceremos’. 8 Moisés, então, com o sangue separado, aspergiu o povo, dizendo: ‘Este é o sangue da aliança, que o Senhor fez convosco, segundo todas estas palavras’.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 49(50), 1-2.5-6.14-15(R. 14a)

R. Imola a Deus um sacrifício de louvor.

Falou o Senhor Deus, chamou a terra, *
do sol nascente ao sol poente a convocou.
De Sião, beleza plena, Deus refulge.       R.

5 ‘Reuni à minha frente os meus eleitos, *
que selaram a Aliança em sacrifícios!’
6 Testemunha o próprio céu seu julgamento, *
porque Deus mesmo é juiz e vai julgar.       R.

14 Imola a Deus um sacrifício de louvor *
e cumpre os votos que fizeste ao Altíssimo.
15 Invoca-me no dia da angústia, *
e então te livrarei e hás de louvar-me’.       R.

Evangelho: Mt 13,24-30 

“Deixai crescer um e outro até a colheita!” 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo:24 Jesus contou outra parábola à multidão: ‘O Reino dos Céus é como um homem que semeou boa semente no seu campo. 25 Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo, e foi embora. 26 Quando o trigo cresceu e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. 27 Os empregados foram procurar o dono e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?’ 28 O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os empregados lhe perguntaram: ‘Queres que vamos arrancar o joio?’ 29 O dono respondeu: ‘Não! pode acontecer que, arrancando o joio, arranqueis também o trigo. 30 Deixai crescer um e outro até a colheita! E, no tempo da colheita, direi aos que cortam o trigo: arrancai primeiro o joio e o amarrai em feixes para ser queimado!

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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26 de Julho 2019

A SANTA MISSA

Memória: São Joaquim e Sant’Ana, pais da Virgem Maria
Cor: Branca

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1ª Leitura: Eclo 44, 1.10-15

“Seus nomes duram através das gerações.” 

Leitura do Livro do Eclesiástico

1 Vamos fazer o elogio dos homens famosos, nossos antepassados através das gerações. 10 Estes, são homens de misericórdia; seus gestos de bondade não serão esquecidos. 11 Eles permanecem com seus descendentes; seus próprios netos são a sua melhor herança.12 A descendência deles mantém-se fiel às alianças, 13 e, graças a eles, também os seus filhos. Sua descendência permanece para sempre, e sua glória jamais se apagará. 14 Seus corpos serão sepultados na paz e seu nome dura através das gerações. 15 Os povos proclamarão a sua sabedoria, e a assembléia vai celebrar o seu louvor.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Salmo 131 (132), 11.13-14.17-18 (R. Lc 1, 32)

R. O Senhor vai dar-lhe o trono de seu pai, o rei Davi.

11 O Senhor fez a Davi um juramento, *
uma promessa que jamais renegará:
“Um herdeiro que é fruto do teu ventre *
colocarei sobre o trono em teu lugar!        R.

13 Pois o Senhor quis para si Jerusalém *
e a desejou para que fosse sua morada:
14 “Eis o lugar do meu repouso para sempre, *
eu fico aqui: este é o lugar que preferi!”      R.

17 “De Davi farei brotar um forte Herdeiro, *
acenderei ao meu Ungido uma lâmpada.
18 Cobrirei de confusão seus inimigos, *
mas sobre ele brilhará minha coroa!”       R.

Evangelho: Mt 13, 16-17 

“Muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram.” 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 16 “Felizes sois vós, porque vossos olhos veem e vossos ouvidos ouvem. 17 Em verdade vos digo, muitos profetas e justos desejaram ver o que vedes, e não viram, desejaram ouvir o que ouvis, e não ouviram”.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Cisternas Gretadas. O Pecado

TEMPO COMUM. DÉCIMA SEXTA SEMANA. QUINTA‑FEIRA

– O pecado é o maior erro que o homem pode cometer e o único mal verdadeiro.
– Os efeitos do pecado.
– A luta contra os pecados veniais. Amor à confissão.

I. O POVO JUDEU, depois da sua experiência no deserto, conhecia bem a importância da água. Encontrar água no meio do deserto era como achar um tesouro, e os poços eram mais bem guardados do que as jóias, pois deles dependia a vida. A Sagrada Escritura fala de Deus como a fonte de águas vivas; o justo é como uma árvore plantada à beira da água viva1, que produz fruto mesmo em tempo de seca2.

No colóquio com a mulher samaritana, Jesus manifestou que Ele era a fonte capaz de saciar as almas com água viva3. Na festa dos Tabernáculos ou das Tendas, em que os judeus recordavam a sua passagem pelo deserto, Jesus apresenta‑se como o único que pode saciar a sede das almas. No último dia – escreve São João –, o dia mais solene da festa, estava Jesus em pé, e dizia em voz alta: Se alguém tem sede, venha a mim, e beba. O que crê em mim, como diz a Escritura, do seu seio correrão rios de água viva4. Só Cristo pode acalmar a sede de eternidade que o próprio Deus pôs nos nossos corações, só Ele pode tornar fecunda a nossa vida.

Neste contexto, ressoam‑nos hoje com especial vibração as palavras do profeta Jeremias em que fala do abandono do seu povo e, num sentido mais amplo, dos pecados dos homens, dos nossos pecados: Pasmai, céus; e vós, portas celestes, ficai inconsoláveis... porque o meu povo cometeu dois males: abandonou‑me a mim, que sou fonte de água viva, e cavou para si cisternas, cisternas gretadas que não podem reter as águas5.

Todo o pecado é uma separação de Deus. Abandona‑se por nada a água viva que salta para a vida eterna; é uma tentativa frustrada de acalmar a sede com outras coisas, e é a morte. É o maior equívoco que o homem pode cometer, é o autêntico mal, pois arrebata a graça santificante, a vida de Deus na alma, que é o dom mais precioso que recebemos.

O pecado é sempre “desperdício dos nossos valores mais preciosos. Esta é a verdadeira realidade, mesmo quando parece que precisamente o pecado nos permite obter êxitos. O afastamento do Pai traz consigo uma grande destruição em quem o leva a cabo, em quem viola a vontade divina e dissipa a herança recebida: a dignidade da própria pessoa, a herança da graça”6.

O pecado transforma a alma num verdadeiro terreno pedregoso onde é impossível que a graça cresça e as virtudes se desenvolvam; converte‑a em terra seca, endurecida, cheia de espinhos, como nos mostrava o Evangelho que lemos ontem e que voltaremos a considerar amanhã. O pecado – o abandono da fonte de águas vivas para construir cisternas gretadas – significa a ruína do homem.

II. FORA DE DEUS, o homem só encontrará infelicidade e morte; o pecado é uma vã tentativa de conservar água numa cisterna fendida. “Ajuda‑me a repetir ao ouvido daquele, e do outro..., e de todos: um homem com fé que for pecador, ainda que consiga todas as bem‑aventuranças da terra, é necessariamente infeliz e desgraçado.

“É verdade que o motivo que nos há de levar a odiar o pecado – mesmo o venial – e que deve mover a todos, é sobrenatural: que Deus o detesta com toda a sua infinitude, com ódio sumo, eterno e necessário, como mal oposto ao infinito bem... Mas a primeira consideração que te apontei acima pode conduzir‑nos a esta última”7: a solidão que o pecado deixa na alma deve também levar‑nos a lutar contra ele. Não sem razão se disse que, com muita freqüência, “o caminho do inferno já é um inferno”.

O pecado endurece a alma para as coisas de Deus. No Evangelho da Missa8, Jesus diz, citando o profeta Isaías: Ouvireis com os vossos ouvidos e não entendereis; olhareis com os vossos olhos e não vereis. Porque o coração deste povo tornou‑se insensível, e os seus ouvidos tornaram‑se duros, e fecharam os olhos para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos e entendam com o coração... Basta lançar um olhar ao nosso redor para ver com pena como estas palavras do Senhor são também uma realidade em muitos que perderam o sentido do pecado e estão como que embrutecidos em face das realidades sobrenaturais.

O pecado mortal afasta o homem radicalmente de Deus, porque priva a alma da graça santificante; faz perder todos os méritos adquiridos pelas boas obras já realizadas e impede de receber outros novos; submete de certo modo a pessoa à escravidão do demônio; diminui a inclinação natural para a virtude, de tal maneira que cada vez se torna mais difícil realizar atos bons. Por vezes, afeta também o corpo: causa faltas de paz, mau‑humor, desânimo, pouca vontade para o trabalho; provoca uma desordem nas potências e sentimentos; ocasiona um mal para toda a Igreja e para todos os homens e separa‑os deles, ainda que externamente não se note: assim como todo o justo que se esforça por amar a Deus eleva o mundo e cada homem, todo o pecado “arrasta consigo a Igreja e, de certa maneira, o mundo inteiro. Por outras palavras, não há nenhum pecado, mesmo o mais íntimo e secreto, o mais estritamente individual, que diga respeito exclusivamente àquele que o comete. Todo o pecado repercute com maior ou menor veemência, com maior ou menor dano, em toda a estrutura eclesial e em toda a família humana”9.

Todo o pecado está íntima e misteriosamente relacionado com a Paixão de Cristo. Os nossos pecados estiveram presentes e foram a causa de tanta dor; e agora, no que depende de nós, crucificam novamente o Filho de Deus10. “Como Ele nos ama! Quanto sacrifício, quantas penas não passou para nos salvar, desde o presépio até à Cruz! O que nos dizem os mistérios dolorosos do Rosário, as estações da Via Sacra, a Cruz, os pregos e a lança, as feridas? O Senhor sofreu tudo isso por nós, por cada um de nós, unicamente para nos abrir o acesso ao Pai(Ef 2, 18), para nos obter o perdão dos pecados e o direito de possuirmos a vida eterna. Nós, em recompensa, pecamos e desprezamos todos os seus sacrifícios. E a dor mais aguda da agonia em Getsêmani foi esta: Jesus previu com clarividência divina a ingratidão com que lhe iríamos corresponder”11.

Com a ajuda da misericórdia divina, porque ninguém está confirmado na graça, o cristão que segue de perto o Senhor não cai habitualmente em faltas graves. Mas o conhecimento da nossa debilidade deve levar‑nos a evitar com cuidado as ocasiões de pecar, mesmo as mais remotas; a praticar a mortificação dos sentidos; a não confiar na experiência própria, nos anos de entrega a Deus e de uma formação esmerada... E temos de pedir ao Senhor que saibamos detestar toda a falta deliberada, que nos dê finura de consciência para não perdermos o sentido do pecado, essa tremenda realidade que parece alheia a uma boa parte da sociedade a que pertencemos, porque deu as costas a Deus.

Dizemos a Jesus com palavras de João Paulo II: “Ajuda‑nos, Senhor, a vencer a nossa indiferença e o nosso torpor! Dá‑nos o sentido do pecado. Cria em nós um coração puro e renova na nossa consciência um espírito firme”12.

III. PARA ARMARMOS uma luta decidida contra o pecado, é necessário que reconheçamos sem desculpas os nossos erros diários, chamando‑os pelo seu nome, sem procurar justificações que bloqueariam a contrição e a luta por evitá‑los: omissões nos nossos deveres profissionais, na fraternidade, no trato com Deus; juízos negativos sobre os outros; ambições menos nobres ou desordenadas: de ser o centro das atenções, de mandar, de ter mais do que se precisa; movimentos de inveja e mau‑humor que se vertem sobre os outros; pouca solicitude na vida familiar...

Tudo isso são verdadeiros pecados, embora veniais, porque a vontade resiste a secundar o querer de Deus, antepondo‑lhe o capricho pessoal ou o juízo próprio, ainda que não se chegue a uma ruptura com o Senhor. O empenho por estar cada dia mais perto de Jesus Cristo não se compagina com a fraqueza de admitir coisas que nos separam dEle. Cada falta venial deliberada é um passo atrás no caminho para Deus; é entravar a ação do Espírito Santo na alma.

A água viva que o Senhor nos promete – Se alguém tem sede, venha a mim e beba... – não pode ser armazenada em vasilhames quebrados pelo pecado mortal ou rachados pelos pecados veniais. A Confissão restaura a alma, purifica‑a e enche‑a de graça. Recorramos a este sacramento com contrição verdadeira. Que possamos dizer com o Salmista: Os meus olhos derramaram rios de lágrimas porque não observaram a tua lei13.

Pedimos à nossa Mãe Santa Maria, Refúgio dos pecadores, que nos conceda a graça de detestar todo o pecado venial e um grande amor ao sacramento da Misericórdia divina. Examinemos, ao terminarmos este tempo de oração, com que freqüência recorremos a esse sacramento, com que amor nos aproximamos dele, que empenho pomos em praticar os conselhos recebidos.

(1) Sl 1, 3; (2) Jer 17, 5‑8; (3) Jo 4, 10‑15; (4) Jo 7, 37‑38; (5) Jer 2, 12‑13; Primeira leitura da Missa quinta‑feira da décima sexta semana do TC, ano II; (6) João Paulo II, Homilia, 16‑III‑1980; (7) Josemaría Escrivá, Forja, n. 1024; (8) Mt 13, 10‑17; (9) João Paulo II, Exort. Apost. Reconciliatio et Paenitentia, 2‑XII‑1984, 16; (10) cfr. Hebr 6, 6; (11) B. Baur, En la intimidad con Dios, pág. 68; (12) João Paulo II, Homilia na inauguração do Ano Santo, 25‑III‑1983; (13) Sl 118, 136.


São Joaquim e Sant'Ana

26 de Julho

São Joaquim e Sant'Ana

Ana e seu marido Joaquim já estavam com idade avançada e ainda não tinham filhos. O que, para os judeus de sua época, era quase um desgosto e uma vergonha também. Os motivos são óbvios, pois os judeus esperavam a chegada do messias, como previam as sagradas profecias.

Assim, toda esposa judia esperava que dela nascesse o Salvador e, para tanto, ela tinha de dispor das condições para servir de veículo aos desígnios de Deus, se assim ele o desejasse. Por isso a esterilidade causava sofrimento e vergonha, e é nessa situação constrangedora que vamos encontrar o casal.

Mas Ana e Joaquim não desistiram. Rezaram por muito e muito tempo até que, quando já estavam quase perdendo a esperança, Ana engravidou. Não se sabe muito sobre a vida deles, pois passaram a ser citados a partir do século II, mas pelos escritos apócrifos, que não são citados na Bíblia, porque se entende que não foram inspirados por Deus. E eles apenas revelam o nome dos pais da Virgem Maria, que seria a Mãe do Messias.

No Evangelho, Jesus disse: 'Dos frutos conhecereis a planta'. Assim, não foram precisos outros elementos para descrever-lhes a santidade, senão pelo exemplo de santidade da filha Maria. Afinal, Deus não escolheria filhos sem princípios ou dignidade para fazer deles o instrumento de sua ação.

Maria, ao nascer no dia 8 de setembro de um ano desconhecido, não só tirou dos ombros dos pais o peso de uma vida estéril, mas ainda recompensou-os pela fé, ao ser escolhida para, no futuro, ser a Mãe do Filho de Deus.

A princípio, apenas santa Ana era comemorada e, mesmo assim, em dias diferentes no Ocidente e no Oriente. Em 25 de julho pelos gregos e no dia seguinte pelos latinos. A partir de 1584, também são Joaquim passou a ser cultuado, no dia 20 de março. Só em 1913 a Igreja determinou que os avós de Jesus Cristo deviam ser celebrados juntos, no dia 26 de julho.

Texto: Paulinas Internet


São Tiago (Maior) Apóstolo

– Beber o cálice do Senhor.
– Não desanimar com as nossas fraquezas. Recorrer ao Senhor.
– Recorrer à Virgem nas dificuldades.

São Tiago era natural de Betsaida, filho de Zebedeu e irmão de São João. Foi um dos três discípulos que estiveram presentes na Transfiguração, na agonia do Getsêmani e em outros acontecimentos importantes da vida pública de Jesus. Foi o primeiro Apóstolo que morreu por pregar a mensagem salvadora de Cristo. A sua energia e firmeza fizeram que o Senhor o chamasse filho do trovão. A sua atividade apostólica desenvolveu-se na Judéia e na Samaria e, segundo uma venerável tradição, levou-o até à Espanha. Retornando à Palestina, sofreu o martírio por volta do ano 44, por ordem de Herodes Agripa. Os seus restos mortais foram trasladados para Santiago de Compostela, centro de peregrinação durante a Idade Média e foco de fé para toda a Europa.

I. CAMINHANDO JESUS ao longo do mar da Galiléia, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que consertavam as redes; e chamou-os e deu-lhes o nome de “Boanerges”, que quer dizer “filhos do trovão” 1.

“Tudo começou quando alguns pescadores do lago de Tiberíades foram chamados por Jesus de Nazaré. Acolheram a chamada, seguiram-no e viveram com Ele aproximadamente três anos. Participaram da sua vida cotidiana, foram testemunhas da sua pregação, da sua bondade misericordiosa com os pecadores e com os que sofriam, do seu poder. Escutaram atentos a sua palavra, uma palavra jamais ouvida”. Durante esse tempo, os discípulos tiveram conhecimento “de uma realidade que, desde então, os possuiria para sempre: a experiência da vida com Jesus. Foi uma experiência que rompeu a trama da existência anterior; tiveram que deixar tudo: a família, a profissão, os bens. Foi uma experiência que os introduziu numa nova maneira de existir” 2.

Um dia, o convidado a seguir Jesus foi Tiago, irmão de João e filho de Salomé, uma das mulheres que serviam o Senhor com os seus bens e que estaria presente no Calvário. O Apóstolo conhecia Jesus antes de Ele o ter chamado definitivamente, e gozou da sua predileção juntamente com Pedro e seu irmão: esteve presente no Tabor 3, presenciou o milagre da ressurreição da filha de Jairo e foi um dos três que o Mestre tomou consigo para que o acompanhassem no Horto das Oliveiras 4, no começo da Paixão. Pelo seu zelo impetuoso, Tiago e seu irmão receberam do Senhor a alcunha de Boanerges, filhos do trovão.

O Evangelho da Missa narra-nos um acontecimento singular da vida deste Apóstolo. Jesus acabava de anunciar que se aproximava o momento da sua Paixão e Morte em Jerusalém: Eis que subimos a Jerusalém – disse-lhes –, e o Filho do homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas, que o condenarão à morte e o entregarão aos gentios para ser escarnecido, açoitado e crucificado; mas ao terceiro dia ressuscitará 5. O Mestre sente necessidade de compartilhar com os seus discípulos esses sentimentos que embargam a sua alma. Nessa altura, aproximou-se dele a mãe dos filhos de Zebedeu com os seus filhos, e prostrou-se para pedir-lhe alguma coisa6. Pede-lhe que reserve para os filhos dois lugares de importância no novo reino cuja chegada parecia iminente. Jesus dirige-se aos irmãos e pergunta-lhes se podem partilhar com Ele o seu cálice, o seu mesmo destino. Oferecer a taça própria a outra pessoa era considerado na Antigüidade como uma grande prova de amizade. Eles responderam: Podemos 7. “Era a palavra da disponibilidade, da força; uma atitude que é própria não só de pessoas jovens, mas de todos os cristãos, especialmente de todos os que aceitam ser apóstolos do Evangelho” 8. Jesus aceita a resposta generosa dos dois discípulos e diz-lhes: Efetivamente, haveis de beber o meu cálice, participareis dos meus sofrimentos, completareis em vós a minha Paixão. Alguns anos mais tarde, por volta do ano 44, Tiago morreria decapitado por ordem de Herodes 9, e João seria provado com inúmeros padecimentos e perseguições ao longo da sua vida.

Desde que Cristo nos redimiu na Cruz, todo o sofrimento cristão consistirá em beber o cálice do Senhor, em participar da sua Paixão, Morte e Ressurreição. Por meio das nossas dores, completamos de certo modo a Paixão de Cristo10, que se prolonga no tempo, com os seus frutos salvíficos. A dor humana torna-se redentora, porque se acha associada à que o Senhor padeceu. É o mesmo cálice de que Ele, na sua misericórdia, nos faz participar. Perante as contrariedades, a doença, a dor, Jesus faz-nos a mesma pergunta: Podeis beber o meu cálice? E nós, se estivermos unidos a Ele, saberemos responder-lhe afirmativamente, e acolheremos com paz e alegria aquilo que humanamente não é agradável. Com Cristo, até a dor e o fracasso se convertem em gozo e em paz. “Esta foi a grande revolução cristã: converter a dor em sofrimento fecundo; fazer, de um mal, um bem. Despojamos o diabo dessa arma...; e, com ela, conquistamos a eternidade” 11.

II. NO ESPAÇO DE TEMPO que transcorreu entre o momento em que Tiago manifestou as suas ambições – não inteiramente nobres – e o seu martírio, tem lugar um longo processo interior. O próprio zelo do Apóstolo, dirigido contra aqueles samaritanos que não tinham querido receber Jesus por dar a impressão de ir para Jerusalém12, transformar-se-á mais tarde em ânsia de almas. Pouco a pouco, sem perder a sua própria personalidade, Tiago irá aprendendo que o zelo pelas coisas de Deus não pode ser áspero nem violento, e que a única ambição que vale a pena é a glória de Deus. Conta São Clemente de Alexandria que, quando o Apóstolo era levado ao tribunal onde ir ser julgado, foi tal a sua inteireza que o seu acusador se aproximou dele para lhe pedir perdão. São Tiago refletiu... Depois, abraçou-o dizendo: “A paz esteja contigo”; e os dois receberam a palma do martírio 13.

Ao meditarmos hoje sobre a vida do Apóstolo, serve-nos de grande ajuda considerarmos os seus defeitos, bem como os dos outros Onze que o Senhor tinha escolhido. Não eram poderosos, nem sábios, nem simples. Vemo-los às vezes ambiciosos, discutidores14, com pouca fé 15. Mas, a par dessas deficiências e falhas, tinham uma alma e um coração grandes. São Tiago será o primeiro Apóstolo mártir 16. Tanto pôde a graça divina naquele coração generoso, que o levou a enveredar por caminhos bem diversos dos que ele tinha sonhado e pedido.

O Mestre sempre foi paciente com Tiago e com todos, e contou com o tempo para ensiná-los e formá-los com uma sábia pedagogia divina. “Observemos – escreve São João Crisóstomo – como a maneira de o Senhor os interrogar equivale a uma exortação e a um aliciante. Não diz: “Podeis suportar a morte? Sois capazes de derramar o vosso sangue?” As suas palavras são: Podeis beber o cálice? E, para animá-los a dar o passo, acrescenta: ...que eu irei beber? Deste modo, a consideração de que se tratava do mesmo cálice que o Senhor iria beber havia de estimulá-los a uma resposta mais generosa. E chama à sua Paixão batismo, mostrando assim que os seus sofrimentos haviam de ser causa de uma grande purificação para o mundo inteiro” 17.

O Senhor também nos chamou a cada um de nós. Não nos deixemos invadir pelo desalento se alguma vez as nossas fraquezas e defeitos se tornam patentes. Se recorrermos a Jesus, Ele nos dará ânimos para seguirmos adiante com humildade, mais fielmente. O Senhor tem paciência também conosco, e conta com o tempo.

III. NA SEGUNDA LEITURA da Missa, São Paulo recorda-nos: Trazemos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que se veja que a superioridade da virtude é de Deus, e não nossa18. Somos algo quebradiço e pouco resistente, que no entanto pode conter um tesouro de incomparável valor, porque Deus realiza maravilhas nos homens, apesar das suas debilidades. E precisamente para que se veja que é Ele quem atua e dá a eficácia, escolheu as coisas fracas segundo o mundo para confundir as fortes; e as coisas vis e desprezíveis segundo o mundo, e aquelas que não são, para destruir as que são, a fim de que nenhum homem se vanglorie na sua presença 19. Isto escreve aquele que outrora perseguira a Igreja. Ao trazermos Deus nas nossas almas, podemos viver ao mesmo tempo “no Céu e na terra, endeusados; mas sabendo que somos do mundo e que somos terra, com a fragilidade própria do que é terra: um pote de barro que o Senhor se dignou aproveitar para o seu serviço. E quando se quebrou, recorremos aos grampos, como o filho pródigo: Pequei contra o Céu e contra Ti...” 20, a esses grampos que se punham antigamente nos vasos que se quebravam, para que continuassem a ser úteis.

Deus torna eficazes os que têm a humildade de sentir-se como um vaso de argila, os que trazem no seu corpo a mortificação de Jesus 21, os que bebem o cálice da Paixão, que o Senhor bebeu e convidou São Tiago a beber.

Diz-nos a tradição que este Apóstolo pregou o Evangelho na Espanha. A sua ânsia de almas levou-o ao extremo do mundo então conhecido. A mesma tradição fala-nos das dificuldades que encontrou nessas terras nos começos da sua evangelização, e como Nossa Senhora lhe apareceu em carne mortal para animá-lo. É possível que também nós sejamos assaltados pelo desalento numa ou noutra ocasião, e que nos sintamos um pouco abatidos diante dos obstáculos que dificultam os nossos desejos de levar outras almas a Cristo. Podemos até encontrar incompreensões, zombarias, oposições. Mas Jesus não nos abandona. Recorreremos a Ele, e poderemos dizer com São Paulo: Estamos cercados de dificuldades, mas não desesperamos; somos afligidos, mas não nos sentimos desamparados; somos acossados, mas não perecemos... 22 E recorreremos a Santa Maria, e nEla, como o Apóstolo São Tiago, encontraremos sempre alento e alegria para prosseguirmos o nosso caminho.

(1) Cfr. Mt 4, 18; Antífona de entrada da Missa do dia 25 de julho; (2) C. Caffarra, Vida em Cristo, EUNSA, Pamplona, 1988, págs. 19-20; (3) Mt 17, 1 e segs.; (4) Mt 26, 37; (5) Mt 20, 17-19; (6) Mt 20, 20; (7) Mt 20, 22; (8) João Paulo II, Homilia em Santiago de Compostela, 9-XI-1982; (9) At 12, 2; (10) cfr. Col 1, 24; (11) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 887; (12) Lc 9, 53; (13) cfr. Clemente de Alexandria, Hypotyp, VII, citado por Eusébio, História eclesiástica, 11, 9; (14) Lc 22, 24-27; (15) Mt 14, 31; (16) cfr. At 12, 2; (17) Liturgia das Horas, Segunda Leitura. São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de São Mateus, 65, 3-4; (18) 2 Cor 4, 7; (19) 1 Cor 1, 27-29; (20) S. Bernal, Perfil do Fundador do Opus Dei, Quadrante, São Paulo, 1977, pág. 420; (21) 2 Cor 4, 10; cfr. Segunda leitura da Missa do dia 25 de julho; (22) 2 Cor 4, 8; Segunda leitura da Missa do dia 25 de julho.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal