Jesus Presente Na Eucaristia
TEMPO COMUM. DÉCIMA SÉTIMA SEMANA. QUINTA‑FEIRA
– Deus vive no meio de nós.
– Presença de Cristo no Sacrário.
– O culto e a devoção a Jesus Sacramentado. O hino Adoro te devote.
I. DEUS TINHA REVELADO ao longo do Antigo Testamento a sua intenção de habitar perenemente entre os homens. A chamada Tenda da reunião ou do encontro foi como que o primeiro templo de Deus no deserto, e sobre ela pousava uma nuvem que era o símbolo da glória de Deus e da sua presença: Então a nuvem cobriu a tenda do encontro e a glória do Senhor encheu o santuário 1. Essa nuvem era o sinal da presença divina 2.
Mais tarde, o Templo de Jerusalém viria a ser o lugar em que os israelitas encontrariam a Deus 3, o lugar pelo qual tinham suspirado no deserto: Como são desejáveis as tuas moradas, Senhor dos exércitos! A minha alma consome‑se e anela pelos átrios do Senhor 4. Estar longe do Santuário era estar privado de toda a felicidade verdadeira. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e verei o rosto de Deus? 5
Chegada a plenitude dos tempos, o Verbo fez‑se carne. No momento da Encarnação, o poder do Altíssimo cobriu Nossa Senhora com a sua sombra 6 e a Virgem veio a ser o novo Tabernáculo de Deus: o Verbo de Deus habitou entre nós 7.
A palavra grega correspondente a “habitar” que São João emprega “significa etimologicamente «erguer a tenda de campanha» e, daí, habitar num lugar. O leitor atento da Escritura devia, pois, recordar‑se espontaneamente do tabernáculo dos tempos da saída do Egito, em que Javé manifestava visivelmente a sua presença no meio do povo de Israel […].
“Aos sinais da presença de Deus na Tenda do santuário peregrinante no deserto e depois no Templo de Jerusalém, segue‑se, pois, a prodigiosa presença de Deus entre nós: Jesus, perfeito Deus e perfeito homem, em quem se cumpre a antiga promessa muito além do que os homens podiam esperar; como se cumprem também as promessas feitas por Isaías acerca do Emmanuel ou «Deus conosco» (Is 7, 14)” 8. Desde então podemos dizer com o mais absoluto respeito pela verdade que Deus vive entre nós. Não é para admirar‑nos e agradecer constantemente? Como podemos acostumar‑nos a essa realidade inaudita de um Deus que convive com os homens?
II. DESDE O MOMENTO da Encarnação, podemos dizer em sentido próprio que Deus está conosco, com uma presença pessoal, real, e de uma maneira que é exclusiva de Jesus Cristo: Jesus Cristo, verdadeiro Homem e verdadeiro Deus, está conosco numa proximidade maior do que qualquer outra que se possa imaginar. Jesus é Deus conosco. Antes, os israelitas diziam que Deus estava com eles; agora podemos dizê‑lo de modo exato, como quando afirmamos que uma coisa que apreciamos com os sentidos está mais perto ou mais longe do lugar em que nos encontramos.
Na Palestina, Cristo deslocava‑se, ia de uma cidade para outra, a fim de pregar em outros lugares… Quando acabou estas parábolas, partiu dali 9, lemos no Evangelho da Missa. Era Deus que deixava determinado lugar para ir ao encontro de outras pessoas. O sacerdote, quando consagra na Santa Missa, traz‑nos Cristo, Deus e Homem, ao altar onde antes não estava na sua Santíssima Humanidade. É uma presença especial, que só se dá na Eucaristia e que permanece no Sacrário, no Tabernáculo da Nova Aliança, enquanto durarem as espécies.
Esta presença refere‑se de modo direto ao Corpo de Cristo e indiretamente às três Pessoas da Santíssima Trindade: ao Verbo, pela união com a Humanidade de Cristo, e ao Pai e ao Espírito Santo, pela mútua imanência das Pessoas divinas 10. É, pois, literalmente adequado dizer diante do Sacrário: “Deus está aqui”, perto de mim; creio firmemente, Senhor, que estás aí, que me vês, que me ouves…
O Magistério da Igreja, esclarecendo diversos erros, recordou e tornou preciso o alcance da presença eucarística: é uma presença real, quer dizer, nem simbólica nem meramente significada ou insinuada por uma imagem; verdadeira, não fictícia nem meramente mental ou suposta pela fé ou pela boa vontade de quem contempla as sagradas espécies; e substancial, porque, pelo poder conferido por Deus às palavras do sacerdote no momento da Consagração, toda a substância do pão se converte no Corpo do Senhor, e toda a substância do vinho no seu Sangue. Assim, o Corpo e o Sangue adoráveis de Cristo Jesus estão substancialmente presentes, e “na própria realidade, independentemente do nosso espírito, o pão e o vinho deixaram de existir depois da Consagração” 11; “realizada a transubstanciação, as espécies do pão e do vinho […] contêm uma nova «realidade», que com razão chamamos ontológica, porque sob as referidas espécies já não existe o que antes havia, mas algo completamente diverso […], e isto não unicamente pelo juízo de fé da Igreja, mas pela realidade objetiva” 12.
Jesus está presente nos nossos Sacrários independentemente de que muitos ou poucos se beneficiem da sua presença inefável. Ele está ali com o seu Corpo, o seu Sangue, a sua Alma e a sua Divindade. Deus feito homem! Não é possível maior proximidade. Podemos dizer de alguma maneira que a presença eucarística de Cristo é o prolongamento sacramental da Encarnação.
Do Sacrário, Jesus convida‑nos a fazer confluir para Ele os nossos afetos e súplicas. Na visita ao Santíssimo e nos atos de culto da Sagrada Eucaristia, agradecemos este dom de que não somos totalmente conscientes. Vamos até o Sacrário para buscar forças, para dizer a Jesus como notávamos a sua falta, quanto precisamos dEle, pois “a Eucaristia é conservada nos templos e oratórios como centro espiritual da comunidade religiosa ou paroquial; mais ainda, da Igreja universal e de toda a humanidade, já que sob o véu das sagradas espécies contém Cristo, cabeça visível da Igreja, Redentor do mundo, centro de todos os corações, por quem são todas as coisas e nós com Ele (1 Cor 8, 6)” 13.
III. A PRÁTICA DA IGREJA de adorar o Senhor presente no Tabernáculo sempre foi constante. Se os israelitas tinham tanta reverência por aquela Tenda do encontrono deserto, e mais tarde pelo Templo de Jerusalém, que eram figuras antecipadoras ou imagens da realidade, como não devemos honrar Jesus Cristo, que ficou para sempre conosco no Sacrário?
Nos primeiros séculos da Igreja, a principal razão pela qual se guardavam as sagradas espécies era a de prestar assistência àqueles que se viam impedidos de assistir à Santa Missa, especialmente aos doentes e moribundos, e aos encarcerados por causa da fé. O Sacramento do Senhor era‑lhes levado com unção e fervor, para que também eles pudessem comungar. Mais tarde, a fé viva na presença de Cristo não só levou os fiéis a visitarem com freqüência o lugar em que o Senhor ficava reservado, como deu origem ao culto do Santíssimo Sacramento. A autoridade da Igreja ratificou‑o e enriqueceu‑o constantemente: “Os cristãos – declarava o Concílio de Trento – tributam a este Santíssimo Sacramento, ao adorá‑lo, o culto de latria que se deve ao Deus verdadeiro, conforme o costume sempre aceito da Igreja católica” 14.
No século XIII, São Tomás compôs um hino que, de uma maneira fiel e piedosa, contém a fé da Igreja na Sagrada Eucaristia. Nós podemos fazê‑lo nosso em muitas ocasiões para alimentarmos a nossa piedade e honrarmos Jesus Sacramentado: Adoro te devote, latens Deitas… “Eu te adoro com devoção, Deus escondido, verdadeiramente oculto sob estas aparências. A ti se submete meu coração por completo, e se rende totalmente ao contemplar‑te”; acato com humildade e agradecimento – deslumbrado ante o poder de Deus, pasmado ante a sua misericórdia – tudo o que a fé nos ensina. O próprio Deus se entrega, inerme, nas nossas mãos: que grande lição para a minha soberba! E, com a confiança que cresce ao tê‑lo aí, tão próximo, pedimos ao Senhor a sua graça para submetermos o nosso eu à sua Vontade…
Junto do Sacrário, aprendemos a amar; nele encontramos as forças necessárias para sermos fiéis. Ele espera‑nos sempre e alegra‑se quando o procuramos, nem que seja numa breve visita de poucos minutos. Espera os homens tantas vezes maltratados pelas asperezas da vida, e conforta‑os com o calor da sua compreensão e do seu amor. Junto do Sacrário, cobram outra força aquelas palavras do Senhor: Vinde a mim, todos os que estais fatigados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei 15.
(1) Ex 40, 34; Primeira leitura da Missa da quinta‑feira da décima sétima semana do TC, ano I; (2) cfr. Num 12, 5; 1 Rs 8, 10‑11; (3) cfr. Is 1, 12; Ex 23, 15‑17; (4) Sl 83, 2‑3; Salmo responsorialda Missa da quinta‑feira da décima sétima semana do TC, ano I; (5) Sl 42, 3; (6) cfr. Lc 1, 35; (7) Jo 1, 14; (8) Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, EUNSA, Pamplona, 1983, pág. 1146; (9) Mt 13, 53; (10) cfr. Conc. de Trento, Decr. De Sanctissima Eucharistia, cap. XI; (11) Paulo VI, Credo do povo de Deus, 25; (12) idem, Enc. Mysterium fidei, 3‑IX‑1965; (13) ib., 69; (14) Conc. de Trento, Secção XIII, cap. V, Dz 1643; (15) Mt 11, 28.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
01 de Agosto 2019
A SANTA MISSA

17ª Semana do Tempo Comum – Quinta-feira
Memória: Santo Afonso Maria de Ligório, bispo e doutor da Igreja
Cor: Branca
1ª Leitura: Ex 40, 16-21.34-38
“A nuvem cobriu a Tenda da Reunião
e a glória do Senhor encheu o santuário.”
Leitura do Livro do Êxodo
Naqueles dias: 16 Moisés fez tudo o que o Senhor lhe havia ordenado. 17 No primeiro mês do segundo ano, no primeiro dia do mês, o santuário foi levantado. 18 Moisés levantou o santuário, colocou as bases e as tábuas, assentou as vigas e ergueu as colunas. 19 Estendeu a tenda sobre o santuário, pondo em cima a cobertura da tenda, como o Senhor lhe havia mandado. 20 Depois, tomando o documento da aliança, depositou-o dentro da arca e colocou sobre ela o propiciatório. 21 E, introduzindo a arca no santuário, pendurou diante dela o véu de proteção, como o Senhor tinha prescrito a Moisés. 34 Então a nuvem cobriu a Tenda da Reunião e a glória do Senhor encheu o santuário. 35 Moisés não podia entrar na Tenda da Reunião, porque a nuvem permanecia sobre ela, e a glória do Senhor tomava todo o santuário. 36 Em todas as etapas da viagem, sempre que a nuvem se elevava de cima do santuário, os filhos de Israel punham-se a caminho; 37 e nunca partiam antes que a nuvem se levantasse. 38 Pois, de dia, a nuvem do Senhor repousava sobre o santuário, e de noite aparecia sobre ela um fogo, que todos os filhos de Israel viam, em todas as suas etapas.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 83 (84), 3.4.5-6a e 8a.11(R. 2)
R. Quão amável, ó Senhor, é vossa casa!
3 Minha alma desfalece de saudades *
e anseia pelos átrios do Senhor!
Meu coração e minha carne rejubilam *
e exultam de alegria no Deus vivo! R.
4 Mesmo o pardal encontra abrigo em vossa casa, +
e a andorinha ali prepara o seu ninho, *
para nele seus filhotes colocar:
vossos altares, ó Senhor Deus do universo! *
vossos altares, ó meu Rei e meu Senhor! R.
5 Felizes os que habitam vossa casa; *
para sempre haverão de vos louvar!
6a Felizes os que em vós têm sua força, *
8a Caminharão com um ardor sempre crescente. R.
11 Na verdade, um só dia em vosso templo *
vale mais do que milhares fora dele!
Prefiro estar no limiar de vossa casa, *
a hospedar-me na mansão dos pecadores! R.
Evangelho: Mt 13, 47-53
“Recolhem os peixes bons em cestos
e jogam fora os que não prestam.”
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 47 O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que apanha peixes de todo tipo. 48 Quando está cheia, os pescadores puxam a rede para a praia, sentam-se e recolhem os peixes bons em cestos e jogam fora os que não prestam. 49 Assim acontecerá no fim dos tempos: os anjos virão para separar os homens maus dos que são justos, 50 e lançarão os maus na fornalha de fogo. E aí, haverá choro e ranger de dentes. 51 Compreendestes tudo isso?’ Eles responderam: ‘Sim.’ 52 Então Jesus acrescentou: ‘Assim, pois, todo mestre da Lei, que se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.’ 53 Quando Jesus terminou de contar essas parábolas, partiu dali.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Santo Inácio de Loyola
30 de Julho
Santo Inácio de Loyola
Iñigo Lopez de Loyola — este era o seu nome de batismo — nasceu numa família cristã, nobre e muito rica, na cidade de Azpeitia, da província basca de Guipuzcoa, Espanha, em 1491. Mais novo de 13 filhos, foi educado, com todos os cuidados para tornar-se um perfeito fidalgo. Cresceu apreciando os luxos da corte, praticando esportes, principalmente os equestres, seus preferidos.
Em 1506, a família Lopez de Loyola estava a serviço de João Velásquez de Cuellar, tesoureiro do reino de Castela, do qual era aparentada. No ano seguinte, Iñigo tornou-se pagem e cortesão no castelo desse senhor. Lá, aprimorou sua cultura, fez-se um exímio cavaleiro e tomou gosto pelas aventuras militares. Era um homem que valorizava mais o orgulho do que a luxúria.
Dez anos depois, em 1517, optou pela carreira militar. Por isso foi prestar serviços a um outro parente, não menos importante, o duque de Najera e vice-rei de Navarra, o qual defendeu em várias batalhas, militares e diplomáticas.
Mas, em 20 de maio de 1521, uma bala de canhão mudou sua vida. Ferido por ela na tíbia da perna esquerda, durante a defesa da cidade de Pamplona, ficou um longo tempo em convalescença. Neste período, talvez por acaso, trocou a leitura dos romances de infantaria e guerra por livros sobre a vida dos santos e a Paixão de Cristo. E assim foi tocado pela graça. Incentivado por uma de suas irmãs, que dele cuidava, não voltou mais aos livros que antes adorava, passando a ler somente livros religiosos. Já curado, trocou a vida de militar pela dedicação a Deus. Foi, então, à capela do santuário de Nossa Senhora de Montserrat, pendurou sua espada no altar e deu as costas ao mundo da corte e das pompas.
Durante um ano, entre 1522 e 1523, viveu retirado numa caverna em Manresa, como eremita e mendigo, o tempo todo em penitência, na solidão e passando as mais duras necessidades. Lá, durante esse período, preparou a base do seu livro mais importante: 'Exercícios espirituais'. Sua vida mudou tanto que, do campo de batalhas, passou a transitar no campo das ideias, indo estudar Filosofia e Teologia em Paris e Veneza.
Em Paris, em 15 de agosto de 1534, junto com mais seis companheiros, fundaram a Companhia de Jesus. Entre eles estava Francisco Xavier, que se tornou um dos maiores missionários da Ordem e também santo da Igreja. Mas todos só se ordenaram sacerdotes em 1537, quando concluíram os estudos, ocasião em que Iñigo tomou o nome de Inácio. Três anos depois, o papa Paulo III aprovou a nova Ordem, para a qual Inácio de Loyola foi escolhido superior-geral.
Ele preparou e enviou os missionários jesuítas ao mundo todo, para espalhar o cristianismo, especialmente entre os nativos pagãos das terras do novo mundo. Entretanto, desde que esteve no cargo de geral da Ordem, Inácio nunca gozou de boa saúde. Muito debilitado, morreu no dia 31 de julho de 1556, em Roma, na Itália.
A sua contribuição para a Igreja e para a humanidade foi a sua visão do catolicismo, que veio de sua incessante busca interior e que resultou em definições e obras cada vez mais atuais e presentes nos nossos dias. Foi canonizado pelo papa Gregório XV em 1622. Na data de sua morte, sua festa é celebrada nos quatro cantos do planeta onde os jesuítas atuam. Santo Inácio de Loyola foi declarado Padroeiro de Todos os Retiros Espirituais pelo papa Pio XI em 1922.
Texto: Paulinas Internet
31 de Julho 2019
A SANTA MISSA

17ª Semana do Tempo Comum – Quarta-feira
Memória: Santo Inácio de Loiola, presbítero
Cor: Branca
1ª Leitura: Ex 34, 29-35
“Os filhos de Israel vendo o rosto de Moisés resplandecente,
tiveram medo de se aproximar.”
Leitura do Livro do Êxodo
29 Quando Moisés desceu da montanha do Sinai, trazendo nas mãos as duas tábuas da aliança, não sabia que a pele do seu rosto resplandecia por ter falado com o Senhor. 30 Aarão e os filhos de Israel, vendo o rosto de Moisés resplandecente, tiveram medo de se aproximar. 31 Então Moisés os chamou, e tanto Aarão como os chefes da comunidade foram para junto dele. E, depois que lhes falou, 32 todos os filhos de Israel também se aproximaram dele, e Moisés transmitiu-lhes todas as ordens que tinha recebido do Senhor no monte Sinai. 33 Quando Moisés acabou de lhes falar, cobriu o rosto com um véu. 34 Todas as vezes que Moisés se apresentava ao Senhor, para falar com ele, retirava o véu, até a hora de sair; depois saía e dizia aos filhos de Israel tudo o que lhe tinha sido ordenado. 35 E eles viam a pele do rosto de Moisés resplandecer; mas ele voltava a cobrir o rosto com o véu, até o momento em que entrava para falar com o Senhor.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 98(99), 5.6.7.9(R. cf. 9c)
R. Santo é o Senhor nosso Deus!
5 Exaltai o Senhor nosso Deus, +
e prostrai-vos perante seus pés, *
pois é santo o Senhor nosso Deus! R.
6 Eis Moisés e Aarão entre os seus sacerdotes. +
E também Samuel invocava seu nome, *
e ele mesmo, o Senhor, os ouvia. R.
7 Da coluna de nuvem falava com eles. +
E guardavam a lei e os preceitos divinos, *
que o Senhor nosso Deus tinha dado. R.
9 Exaltai o Senhor nosso Deus, +
e prostrai-vos perante seu monte, *
pois é santo o Senhor nosso Deus! R.
Evangelho: Mt 13,44-46
“Vende todos os seus bens e compra aquele campo”.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 44 ‘O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquele campo. 45 O Reino dos Céus também é como um comprador que procura pérolas preciosas. 46 Quando encontra uma pérola de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
O Tesouro e a Pérola Preciosa
TEMPO COMUM. DÉCIMA SÉTIMA SEMANA. QUARTA‑FEIRA
– A vocação, algo de valor imenso, uma prova muito especial do amor de Deus.
– Deus passa pela vida de cada pessoa em circunstâncias bem determinadas de idade, trabalho, etc. Passa e chama.
– Generosidade perante a chamada do Senhor.
I. O REINO DOS CÉUS é semelhante a um tesouro escondido num campo, o qual, quando um homem o acha, esconde‑o e, cheio de alegria pelo que encontrou, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo. Também é semelhante a um mercador que busca boas pérolas. E, tendo encontrado uma de grande valor, vai, vende tudo o que tem e compra‑a 1.
Com estas duas parábolas, Jesus revela no Evangelho da Missa o valor supremo do Reino de Deus e qual deve ser a atitude do homem para alcançá‑lo. O tesouro e a pérola têm sido imagens utilizadas tradicionalmente para exprimir a grandeza da vocação, o caminho pessoal para alcançar Cristo nesta vida e depois, para sempre, no Céu.
O tesouro significa a abundância de dons que se recebem juntamente com a vocação: graças para vencer os obstáculos, para crescer em fidelidade dia a dia, para o apostolado…; a pérola indica a beleza e a maravilha do chamamento divino: não é somente algo de altíssimo valor, mas também o ideal mais belo e perfeito que o homem pode descobrir.
Há uma novidade nesta segunda parábola em relação à do tesouro: a descoberta da pérola foi precedida por uma busca afanosa, ao passo que o tesouro foi encontrado de improviso 2. Ambas as situações podem dar‑se no chamamento divino. Muitos podem ter encontrado a sua vocação quase sem procurá‑la; foi um tesouro que os deslumbrou repentinamente. Outros experimentaram uma inquietação íntima, posta por Deus em seus corações, que os levou a procurar a pérola de maior valor; sentiram uma insatisfação em relação às coisas humanas que os impeliu a continuar a busca: Quid adhuc mihi deest? Que me falta? 3 Em ambos os casos – um encontro repentino ou a busca prolongada –, tratou‑se de algo de altíssimo valor: “uma honra imensa, um orgulho grande e santo, uma prova de predileção, um carinho particularíssimo, que Deus manifestou num momento concreto, mas que estava na sua mente desde toda a eternidade” 4.
II. UMA VEZ DESCOBERTA a pérola ou encontrado o tesouro, é necessário dar mais um passo. A atitude que se deve tomar é idêntica em ambas as parábolas e está descrita nos mesmos termos: vai, vende tudo o que tem e compra‑o. O desprendimento, a generosidade, é condição indispensável para se entrar na posse do achado. “Escrevias: «[…] Esta passagem do Santo Evangelho caiu na minha alma e lançou raízes. Já a tinha lido muitas vezes, sem captar a sua substância, o seu sabor divino».
“Tudo…, tudo tem que ser vendido pelo homem sensato, para conseguir o tesouro, a pérola preciosa da Glória!” 5 Não há nada de tanto valor!
Mas nem o homem que encontrou o tesouro nem aquele que descobriu a pérola sentem falta do que antes possuíam e que venderam. A riqueza do que acharam é de tal ordem que compensa de longe o que deram em troca, isto é, tudo o que tinham. A mesma coisa acontece com os que descobrem ou encontram o seu caminho pessoal para Deus: abandonam tudo e encontram tudo. O Senhor sublinha na parábola a alegria com que aqueles homens venderam o que possuíam. É razoável pensar que se tratava de coisas que apreciavam: casa, mobília, peças decorativas… Representavam o esforço de anos de trabalho. Mas vendem tudo, sem calculismos, sem pensar demasiado, com alegria.
Deus passa pela vida de cada pessoa em circunstâncias bem determinadas, numa idade concreta, em situações diferentes. Passa e chama uns na primeira hora 6, quando têm ainda poucos anos, e pede‑lhes as suas ambições, as esperanças e projetos de um futuro que, a essa idade, parece cheio de promessas; a outros, chama‑os na maturidade da vida… ou no seu declínio. E a maioria, o Senhor encontra‑os no seu trabalho de homens e mulheres correntes no meio do mundo, e deseja que continuem a ser fiéis comuns para que santifiquem esse mundo em cujo cerne se encontram, sem abandonar nenhuma das suas responsabilidades, mas vivendo através delas uma entrega plena e total a Deus.
Em qualquer idade em que se receba a chamada, o Senhor concede uma juventude interior que tudo renova, um entusiasmo de coisas por estrear e de ímpeto apostólico. Ecce nova facio omnia 7, diz o Senhor; Eu posso renovar tudo, acabar com a rotina da tua vida, ensinar‑te a olhar mais longe e mais alto. Não vale a pena? Não está aí a fonte da alegria que não passa, que já não tem altos e baixos?
Qual a melhor idade para entregar‑se a Deus? Aquela em que o Senhor chama. Tanto faz também que se seja solteiro, casado ou viúvo, porque Deus nos quer com tudo o que somos e temos, dentro das nossas circunstâncias particulares. O importante, pois, é ser generoso com Ele no momento e sempre, sem confiar em que haverá outra oportunidade; sem pensar também que já passou o tempo das decisões cheias de audácia e de valentia, que é muito tarde… ou muito cedo. Sempre é tempo para a alegria do encontro divino.
III. EM COMPARAÇÃO com a pérola de grande preço achada pelo mercador – comenta São Gregório Magno –, nada tem valor, e a alma abandona tudo o que tinha adquirido, desfaz‑se de tudo o que vinha carregando sobre as costas e considera disforme tudo o que lhe parecia belo na terra, porque somente o resplendor daquela pérola preciosa brilha aos olhos da sua alma 8.
Quem é chamado – seja qual for a sua situação pessoal – deve entregar ao Senhor tudo o que Ele lhe pede: com freqüência, tudo o que estiver em condições de dar‑lhe. As circunstâncias, no entanto, são diferentes e, portanto, dar tudo nem sempre irá significar materialmente a mesma coisa: uma pessoa casada, por exemplo, não pode nem deve abandonar o que, por vontade de Deus, pertence aos seus: o amor à mulher ou ao marido, a dedicação à família, a educação dos filhos… Para essa pessoa, dar tudo significa viver a vida de um modo novo, cumprindo melhor os seus deveres; significa viver heroicamente as suas obrigações familiares; desviver‑se no esforço por educar cristã e humanamente os filhos; preocupar‑se pelas outras famílias amigas; falar‑lhes de Deus com a conduta e com a palavra; encontrar tempo para colaborar em tarefas de apostolado…: “Na vida real de um homem ou de uma mulher casados, que depois descobrem o significado vocacional do seu matrimônio, a «descoberta» aparece sempre como uma dimensão concreta da sua vocação cristã, que é o que há de mais radical” 9.
Mas em qualquer estado ou situação, quando se deseja seguir o Senhor mais de perto, compreende‑se que ninguém pode ficar fechado no seu pequeno mundo. Compreende‑se que é necessário iluminar a vida dos outros, chegar mais longe, entrar mais a fundo no ambiente em que se vive para transformá‑lo, ampliando o círculo de amizades, empenhando‑se numa ação apostólica mais intensa e extensa. Isto diz respeito também aos casados, aos doentes, aos de idade avançada, que, dentro dos limites das suas circunstâncias de vida, devem sentir‑se responsáveis por um mundo que está às escuras.
Seguir assim os passos de Cristo, numa entrega plena, nunca é fácil. Quem se encontra instalado numa posição mais ou menos estável, quem se considera com a vida já realizada, pode ver que essa tranqüilidade conquistada – à qual considera ter pleno direito – corre perigo. E é com isso precisamente que Cristo pede que rompamos: com a rotina, com a mediocridade, com a vulgaridade cômoda.
A vocação sempre exige renúncia e uma mudança profunda na conduta. Implica a entrega a Deus daquilo que se tinha reservado para si, e deixa a descoberto os apegamentos, as fraquezas, os redutos que se supunham intocáveis e que, no entanto, é preciso destruir para adquirir o tesouro sem preço, a pérola incomparável. É o próprio Jesus quem nos procura: Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi 10. E se Ele chama, também dá as graças necessárias para segui‑lo, no começo da vida, na maturidade e na velhice.
São José, nosso Pai e Senhor, encontrou o tesouro da sua vida e a pérola preciosa na missão de cuidar de Jesus e de Maria aqui na terra. Peçamos‑lhe hoje que nos ajude sempre a viver com plenitude e alegria o que Deus quer de cada um de nós, e que entendamos em todo o momento que nada vale tanto a pena como o cumprimento fiel dos compromissos da nossa vocação.
(1) Mt 13, 44‑45; (2) cfr. F. M. Moschner, Las parábolas del Reino de los Cielos, Rialp, Madrid, 1957, pág. 11; (3) Mt 19, 20; (4) Josemaría Escrivá, Forja, n. 18; (5) ib., n. 993; (6) cfr. Mt 20, 1 e segs.; (7) Apoc 2, 2‑6; (8) cfr. São Gregório Magno, Homilias sobre os Evangelhos, 11; (9) P. Rodriguez, Vocación, trabajo, contemplación, EUNSA, Pamplona, 1986, pág. 31; (10) Jo 15, 16.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
30 de Julho 2019
A SANTA MISSA

17ª Semana do Tempo Comum – Terça-feira
Cor: Verde
1ª Leitura: Ex 33, 7-11; 34, 5b-9.28
“O Senhor falava com Moisés face a face.”
Naqueles dias: 7 Moisés levantou a tenda e armou-a longe, fora do acampamento, e deu-lhe o nome de Tenda da Reunião. Assim, todo aquele que quisesse consultar o Senhor, saía para a Tenda da Reunião, que estava fora do acampamento. 8 Quando Moisés se dirigia para lá, o povo se levantava e ficava de pé à entrada da própria tenda, seguindo Moisés com os olhos até ele entrar. 9 Logo que Moisés entrava na Tenda, a coluna de nuvem baixava e ficava parada à entrada, enquanto o Senhor falava com Moisés. 10 Ao ver a coluna de nuvem parada à entrada da Tenda, todo o povo se levantava e cada um se prostrava à entrada da própria tenda. 11 O Senhor falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo. Depois, Moisés voltava para o acampamento, mas o seu jovem ajudante, Josué, filho de Nun, não se afastava do interior da Tenda. 34,5b Moisés invocou o nome do Senhor. 6 Enquanto o Senhor passava diante dele, Moisés gritou: ‘Senhor, Senhor, Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel, 7 que conserva a misericórdia por mil gerações, e perdoa culpas, rebeldias e pecados, mas não deixa nada impune, pois castiga a culpa dos pais nos filhos e netos, até à terceira e quarta geração’! 8 Imediatamente, Moisés curvou-se até o chão 9 e, prostrado por terra, disse: ‘Senhor, se é verdade que gozo de teu favor, peço-te, caminha conosco; embora este seja um povo de cabeça dura, perdoa nossas culpas e nossos pecados e acolhe-nos como propriedade tua’. 28 Moisés esteve ali com o Senhor quarenta dias e quarenta noites, sem comer pão nem beber água, e escreveu nas tábuas as palavras da aliança, os dez mandamentos.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 102(103), 6-7. 8-9. 10-11. 12-13 (R. 8a)
R. O Senhor é indulgente, é favorável.
6 O Senhor realiza obras de justiça *
e garante o direito aos oprimidos;
7 revelou os seus caminhos a Moisés, *
e aos filhos de Israel, seus grandes feitos. R.
8 O Senhor é indulgente, é favorável, *
é paciente, é bondoso e compassivo.
9 Não fica sempre repetindo as suas queixas, *
nem guarda eternamente o seu rancor. R.
10 Não nos trata como exigem nossas faltas, *
nem nos pune em proporção às nossas culpas.
11 Quanto os céus por sobre a terra se elevam, *
tanto é grande o seu amor aos que o temem; R.
12 quanto dista o nascente do poente, *
tanto afasta para longe nossos crimes.
13 Como um pai se compadece de seus filhos, *
o Senhor tem compaixão dos que o temem. R.
Evangelho: Mt 13,36-43
“Como o joio é recolhido e queimado ao fogo,
assim também acontecerá no fim dos tempos”.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo: 36 Jesus deixou as multidões e foi para casa. Seus discípulos aproximaram-se dele e disseram: ‘Explica-nos a parábola do joio!’ 37 Jesus respondeu: Aquele que semeia a boa semente é o Filho do Homem. 38 O campo é o mundo. A boa semente são os que pertencem ao Reino. O joio são os que pertencem ao Maligno. 39 O inimigo que semeou o joio é o diabo. A colheita é o fim dos tempos. Os ceifadores são os anjos. 40 Como o joio é recolhido e queimado ao fogo, assim também acontecerá no fim dos tempos: 41 o Filho do Homem enviará os seus anjos e eles retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; 42 e depois os lançarão na fornalha de fogo. Ali haverá choro e ranger de dentes. 43 Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos, ouça.’
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Santa Maria de Jesus Sacramentado Venegas
30 de Julho
Santa Maria de Jesus Sacramentado Venegas
Natividade Venegas de La Torre nasceu em 8 de setembro de 1868, em Jalisco, no México. A última de 12 filhos, desde a adolescência cultivou uma devoção especial à Eucaristia, exercendo obras de caridade e sentindo o forte desejo de consagrar-se totalmente ao Senhor no serviço ao próximo.
Só depois da morte prematura dos seus pais, pôde unir-se ao grupo de senhoras que, com a aprovação do arcebispo local, dirigiam em Guadalajara uma obra assistencial, o Hospital do Sagrado Coração. Em 1910, ela emitiu, de forma privada, os votos de pobreza, castidade e obediência.
As companheiras escolheram-na, em seguida, como superiora e, desse modo, com o conselho de eclesiásticos autorizados, transformou a sua comunidade numa verdadeira congregação religiosa, que assumiu o nome de Instituto das Filhas do Sagrado Coração de Jesus, aprovado em 1930 pelo arcebispo de Guadalajara. Na ocasião, madre Nati, como ficou conhecida, e as companheiras fizeram os votos perpétuos, e ela trocou o seu nome para o de Maria de Jesus Sacramentado.
Exerceu o cargo de superiora-geral entre 1921 e 1954, conseguindo conservar a sua fundação nos anos difíceis da perseguição religiosa. Amou e serviu a Igreja, cuidou da formação das suas coirmãs, entregou a vida pelos pobres e sofredores, tornou-se um modelo de irmã-enfermeira. Após deixar a direção da sua Congregação, passou os últimos anos da vida, marcados pela enfermidade, em oração e recolhimento, dando mais um testemunho de sua abnegação. Morreu aos 91 anos, no dia 30 de julho de 1959.
O papa João Paulo II declarou-a bem-aventurada em 1992. Continuamente recordada e invocada pelo povo, que, pela sua intercessão, obteve diversos favores celestes, foi proclamada santa pelo mesmo sumo pontífice no ano 2000.
Santa Maria de Jesus Sacramentado Venegas, primeira mexicana canonizada, soube permanecer unida a Cristo na sua longa existência terrestre, por isso deu abundantes frutos de vida eterna, assim discursou o santo padre durante a solene cerimônia em Roma.
Texto: Paulinas Internet
Os Amigos de Deus
TEMPO COMUM. DÉCIMA SÉTIMA SEMANA. TERÇA‑FEIRA
– Amizade com Jesus.
– Jesus Cristo, exemplo de amizade verdadeira.
– Fomentar uma amizade cordial e otimista com as pessoas com quem nos relacionamos. Apostolado de amizade.
I. NA LONGA TRAVESSIA pelo deserto, o Povo de Deus instalava, fora do lugar onde acampava, a chamada Tenda da reunião ou do encontro. Tratava‑se de um lugar sagrado, santo, um lugar à parte. Quem queria visitar o Senhor saía do acampamento e dirigia‑se à Tenda do encontro. Para lá se dirigia Moisés, a fim de expor ao Senhor as necessidades do seu povo, e Deus falava a Moisés cara a cara, como fala um homem com o seu amigo 1.
Em várias ocasiões, a Sagrada Escritura mostra‑nos a Deus como um amigo dos homens. Por sua vez, Abraão é chamado o amigo de Deus 2, e o povo apelava com freqüência para essa amizade a fim de invocar o perdão e a proteção divina. Além disso, toda a Revelação tendia a formar um povo amigo de Deus, unido a Ele por uma forte Aliança que era renovada continuamente. “O Deus invisível, levado pelo seu grande amor, falou aos homens como a amigos e com eles se entreteve para os convidar à comunhão consigo e recebê‑los na sua companhia” 3.
Este desígnio divino teve o seu pleno cumprimento quando, chegada a plenitude dos tempos, o Filho de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, se fez homem. Como a amizade implica certa igualdade e comunhão de vida 4, e a distância entre Deus e o homem é infinita, Deus assumiu a natureza humana e o homem tornou‑se participante da Divindade mediante a graça santificante 5.
A essência da amizade entre Deus e os homens fundamenta‑se na natureza da caridade, que é sobrenatural e derrama‑se nos nossos corações 6 para que possamos amar a Deus com o mesmo amor com que Ele nos ama. Jesus diz‑nos: Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu amor 7. E dirigindo‑se ao Pai: O amor com que tu me amaste esteja neles, e eu neles 8. A certeza de que Deus nos ama é a raiz da alegria e da felicidade do cristão: Vós sois meus amigos... 9 Que imensa alegria podermos chamar‑nos amigos de Deus!
Ao longo da sua vida terrena, o Senhor esteve sempre aberto a uma amizade sincera com os que se aproximavam dEle; em muitas ocasiões, foi Ele próprio quem tomou a iniciativa de os atrair a si: assim sucedeu com Zaqueu, com a mulher samaritana..., com tantos outros. Era amigo dos seus discípulos, que se mostravam conscientes desse apreço de que o Senhor os rodeava. Quando não entendiam alguma coisa, aproximavam‑se dEle com confiança, como nos mostra o Evangelho da Missa de hoje 10: Explica‑nos a parábola, pedem‑lhe com toda a naturalidade. E o Senhor leva‑os a um lugar à parte e desvenda‑lhes de um modo mais íntimo o conteúdo dos seus ensinamentos. Participavam também das alegrias e das preocupações do Mestre, e recebiam dEle alento e ânimo quando precisavam.
Do mesmo modo, o Senhor oferece‑nos agora a sua amizade no Sacrário: é onde nos consola, anima e perdoa. No Sacrário, como naquela Tenda do encontro, fala com todos, cara a cara, como um homem fala com o seu amigo. Com a grande diferença de que nos nossos templos está presente Deus feito Homem: Jesus, o mesmo que nasceu de Santa Maria e que morreu por nós numa cruz.
“Jesus é teu amigo. – O Amigo. – Com coração de carne como o teu. – Com olhos de olhar amabilíssimo, que choraram por Lázaro...
“– E, tanto, como a Lázaro, te ama a ti” 11.
II. JESUS GOSTAVA de conversar com os que o procuravam ou com os que encontrava pelo caminho. Aproveitava essas ocasiões para chegar ao fundo da alma e elevar o coração a um plano mais alto, e muitas vezes – quando os seus interlocutores se mostravam bem dispostos – até à conversão e à entrega plena.
Também quer falar conosco na intimidade da oração. E para isso temos de estar abertos ao diálogo com Ele, à amizade sincera. “Ele mesmo nos converteu de servos em amigos, como disse claramente: Sereis meus amigos se cumprirdes o que vos mandei (Jo 15, 14). Deixou‑nos o modelo que devemos imitar. Portanto, temos de compartilhar o desejo do Amigo, revelar‑lhe confidencialmente o que temos na alma e não ignorar nada do que Ele tem no coração. Abramos‑lhe a nossa alma, e Ele nos abrirá a sua. Com efeito, o Senhor declara: Chamei‑vos amigos porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai (Jo 15, 14). O verdadeiro amigo, portanto, não oculta nada ao amigo; descobre‑lhe todo o seu ânimo, assim como Jesus derramava no coração dos Apóstolos os mistérios do Pai” 12.
Este é o segredo da verdadeira oração, quer quando recitamos orações vocais, quer sobretudo quando nos recolhemos numa oração mais pessoal, a oração mental. Muitos se perguntam como preencher o tempo que reservam diariamente para essa oração sem palavras. Ao longo da história da espiritualidade cristã, chegaram a formar‑se escolas que recomendavam este ou aquele método de discorrer com o pensamento na oração. Todos são bons e de todos se pode aprender muito. Mas o que verdadeiramente importa, como princípio e como resultado final, é compreender que a oração é fundamentalmente um processo de amizade com Deus, com Cristo, perfeito Deus e perfeito homem, que portanto nos ouve e nos compreende infinitamente.
O que interessa acima de tudo é, por conseguinte, estar a sós e conversar com Aquele que sabemos que nos ama, como aconselhava Santa Teresa. Para isso podemos e muitas vezes será prudente servir‑nos de um livro que suscite e encaminhe os nossos pensamentos e afetos, ou repassar as verdades de fé contidas no Credo ou tratadas em livros de doutrina; e será imprescindível determo‑nos a considerar a vida do Senhor, meditando sobre os textos evangélicos. Não esqueçamos, porém, que, seja por um meio ou por outro, devemos chegar à relação pessoal com Cristo, ao colóquio com Ele, num clima de absoluta confiança e simplicidade: “Escreveste‑me: «Orar é falar com Deus. Mas de quê?» – De quê? DEle e de ti: alegrias, tristezas, êxitos e malogros, ambições nobres, preocupações diárias..., fraquezas!; e ações de graças e pedidos; e Amor e desagravo.
“Em duas palavras: conhecê‑Lo e conhecer‑te – ganhar intimidade!” 13
III. NÓS, CRISTÃOS, podemos ser homens e mulheres com maior capacidade de amizade, porque o trato habitual com Jesus Cristo nos prepara para saírmos do nosso egoísmo, da preocupação excessiva pelos problemas pessoais, e desse modo estarmos abertos aos que freqüentam o nosso trato, ainda que sejam de outra idade ou de outros gostos, cultura ou posição.
A amizade, no entanto, não nasce de um simples encontro ocasional, nem da mútua necessidade de ajuda. Nem sequer a camaradagem, o trabalho em comum ou a própria convivência conduzem necessariamente à amizade. Não são amigas duas pessoas que se encontram todos os dias no elevador, no transporte público ou num escritório. Nem a mútua simpatia é, por si mesma, amizade.
São Tomás afirma14 que nem todo o amor indica amizade, mas apenas o amor que implica benevolência, quer dizer, que se manifesta em desejar o bem para o outro. Por isso, as possibilidades de amizade crescem quando é maior a ocasião de difundir o bem que se possui: “Só são verdadeiros amigos aqueles que têm alguma coisa a dar e, ao mesmo tempo, a humildade suficiente para receber. Por isso, a amizade é mais própria dos homens virtuosos. O vício compartilhado não produz amizade mas cumplicidade, o que não é o mesmo. Nunca se pode legitimar um mal com uma pretensa amizade” 15; o mal, o pecado, jamais une na amizade e no amor.
Nós, cristãos, podemos dar aos nossos amigos compreensão, tempo, ânimo e alento nas dificuldades, otimismo e alegria, mas, sobretudo, podemos e devemos dar‑lhes o maior bem que possuímos: o próprio Cristo, o Amigo por excelência. Por isso a amizade verdadeira conduz ao apostolado, que é o meio de comunicarmos aos outros os imensos bens da fé.
Um amigo fiel é um poderoso protetor; quem o encontra acha um tesouro. Nada vale tanto como um amigo fiel; o seu preço é incalculável16. Por isso, a amizade tem de ser protegida e defendida contra o passar do tempo, que leva ao esquecimento, ao distanciamento; contra a inveja, que freqüentemente é o que mais a corrompe 17. Oxalá possamos dizer como aquele homem que terminava assim umas anotações autobiográficas: “Há uma coisa de que posso orgulhar‑me: julgo que nunca perdi um amigo”.
A um amigo pede‑se que seja fiel, que se mantenha firme nas dificuldades, que resista à prova do tempo e das contradições, que saia em defesa do amigo em qualquer situação que se apresente: “Devemos ser fiéis à amizade verdadeira – aconselhava Santo Ambrósio –, porque não há nada mais belo nas relações humanas. Consola muito nesta vida ter um amigo a quem abrir o coração, a quem descobrir a própria intimidade e manifestar as penas da alma; alivia muito ter um amigo fiel que se alegre contigo na prosperidade, compartilhe a tua dor nas adversidades e te sustente nos momentos difíceis” 18.
Fomentemos a amizade cordial e sincera, otimista, com as pessoas com quem nos relacionamos todos os dias: com os vizinhos, com os colegas de trabalho ou de estudo, com essas pessoas de quem recebemos ou a quem prestamos diariamente um serviço exigido pelos afazeres profissionais. De modo especial, sejamos muito amigos do nosso Anjo da Guarda. “Todos precisamos de muita companhia: companhia do Céu e da terra. Sejamos devotos dos Santos Anjos! É muito humana a amizade, mas é também muito divina; tal como a nossa vida, que é divina e humana” 19. O Anjo da Guarda não se afasta devido aos nossos caprichos e defeitos; conhece as nossas fraquezas e misérias, e talvez por isso nos ame mais 20. A amizade com o Anjo da Guarda será modelo para a nossa amizade com os homens.
Mas, acima de qualquer outra amizade, devemos tornar forte e entranhada a amizade “com o Grande Amigo, que nunca atraiçoa” 21. Encontramos o Senhor com suma facilidade; Ele está sempre disposto a receber‑nos, a conversar conosco todo o tempo que desejemos. “Ide a qualquer parte do mundo que desejardes, mudai de casa quantas vezes quiserdes, que sempre encontrareis na igreja católica mais próxima o vosso Amigo que está à vossa espera dia após dia” 22. No convívio com Ele aprendemos de verdade a ser amigos, a estar sempre prontos e abertos a toda a amizade sincera com os homens, que será o caminho natural pelo qual Cristo, nosso Amigo, poderá chegar até o fundo dessas almas.
(1) Ex 33, 11; Primeira leitura da Missa da terça‑feira da décima sétima semana do TC, ano I; (2) cfr. Is 41, 8; (3) Conc. Vat. II, Const. Dei Verbum, 2; (4) cfr. São Tomás, Suma Teológica, II‑II, q. 23, a. 1; (5) ib.; (6) cfr. Rom 5, 5; (7) Jo 15, 9; (8) Jo 17, 26; (9) Jo 15, 13‑14; (10) Mt 13, 36‑43; (11) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 422; (12) Santo Ambrósio, Sobre o ofício dos ministros, 3, 135; (13) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 91; (14) São Tomás, op. cit.; (15) J. Abad, Fidelidad, Palabra, Madrid, 1987, pág. 110; (16) Ecl 6, 14‑17; (17) cfr. São Basílio, Homilia sobre a inveja; (18) Santo Ambrósio, op. cit., 3, 134; (19) Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 315; (20) cfr. A. Vasquez de Prada, Estudio sobre la amistad, Rialp, Madrid, 1956, pág. 259; (21) cfr. Josemaría Escrivá, Caminho, n. 88; (22) R. A. Knox, Sermões Pastorais, Rialp, Madrid, 1963, pág. 473.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Santa Marta
– Confiança e amor ao Mestre.
– A Santíssima Humanidade de Cristo.
– A amizade com o Senhor torna mais fácil o caminho.
Santa Marta vivia em Betânia, perto de Jerusalém, com sua irmã Maria e seu irmão Lázaro. Na última etapa da vida pública de Jesus, o Senhor hospedou-se com freqüência em sua casa. Fortes laços de amizade uniam aqueles irmãos a Jesus.
I. A FESTIVIDADE DE SANTA MARTA permite-nos entrar uma vez mais no lar de Betânia, tantas vezes abençoado pela presença de Jesus. Ali, numa família formada pelos três irmãos, Marta, Maria e Lázaro, o Senhor encontrava carinho, e também descanso para o seu corpo fatigado pelo incessante ir-e-vir entre aldeias e cidades. Jesus procurava refúgio nesse lar, sobretudo quando tropeçava mais freqüentemente com a incompreensão e o desprezo, como aconteceu na última época da sua vida na terra. Os sentimentos do Mestre para com os irmãos de Betânia foram anotados por São João no seu Evangelho: Jesus amava Marta e sua irmã Maria e Lázaro 1. Eram amigos!
O Evangelho da Missa 2 relata-nos a chegada de Jesus a casa dessa família, quatro dias após a morte de Lázaro. Pouco tempo antes, quando Lázaro já estava gravemente doente, as irmãs tinham enviado ao Mestre um recado cheio de confiança: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas 3. E Jesus, que se encontrava na Galiléia, a vários dias de caminho, tendo ouvido que Lázaro estava enfermo, ficou ainda dois dias no mesmo lugar. Depois, passados esses dias, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez à Judéia 4. Quando chegou a Betânia, havia quatro dias que Lázaro tinha sido sepultado.
Marta, sempre atenta e ativa, soube que Jesus vinha chegando e foi ao seu encontro. Aparentemente, o Senhor não tinha atendido ao seu recado, mas o seu amor e a sua confiança não diminuíram. Senhor – disse Marta –, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido... 5 Censura-o com suma delicadeza por não ter chegado antes, pois esperava que o Senhor curasse o seu irmão quando ainda estava doente. E Jesus, com um gesto amável, talvez com um sorriso nos lábios, surpreende-a: Teu irmão ressuscitará 6. Marta recebe essas palavras como um consolo, pensa na ressurreição definitiva e responde: Eu sei que há de ressuscitar no último dia 7. Estas palavras provocam uma portentosa declaração de Jesus acerca da sua divindade: Eu sou a ressurreição e a vida; o que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá eternamente 8. E pergunta-lhe: Crês nisto? Quem poderia subtrair-se à autoridade soberana dessa declaração? Eu sou a ressurreição e a vida! Eu...! Eu sou a razão de ser de tudo o que existe! Jesus é a Vida, não só a que começa no além, mas também a vida sobrenatural infundida pela graça na alma do homem ainda nesta terra. São palavras extraordinárias que nos enchem de segurança, que nos aproximam cada vez mais de Cristo e que nos levam a responder como Marta: Eu creio que tu és o Cristo, Filho do Deus vivo, que vieste a este mundo 9. O Senhor, momentos depois, ressuscita Lázaro.
Admiramos a fé de Marta e quereríamos imitá-la na sua amizade cheia de confiança com o Mestre. “Viste com que carinho, com que confiança os amigos de Cristo o tratavam? Com toda a naturalidade, as irmãs de Lázaro lançam-lhe em rosto a sua ausência: – Nós te avisamos! Se tivesses estado aqui!...
“Confia-lhe devagar: – Ensina-me a tratar-te com aquele amor de amizade de Marta, de Maria e de Lázaro; como te tratavam também os primeiros Doze, ainda que a princípio te seguissem talvez por motivos não muito sobrenaturais” 10.
II. TEMPOS DEPOIS, estando já próxima a Páscoa, Jesus visitou novamente aqueles amigos: Foi a Betânia onde vivia Lázaro, que Jesus ressuscitara dentre os mortos. E deram-lhe lá uma ceia; e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com Ele 11.
Marta servia... Com que amor agradecido o faria! Ali estava o Messias, na sua casa, ali estava Deus necessitado das suas atenções. E Ela podia servi-lo. Deus faz-se homem para estar muito perto das nossas necessidades, para que aprendamos a amá-lo através da sua Santíssima Humanidade, para que possamos servi-lo e ser seus amigos íntimos.
Não podemos deixar de considerar muitas vezes que o mesmo Jesus de Nazaré, de Cafarnaum, de Betânia, é quem nos espera no Sacrário mais próximo, “necessitado” das nossas atenções. “É verdade que ao nosso Sacrário chamo sempre Betânia... – Faz-te amigo dos amigos do Mestre: Lázaro, Maria, Marta. – E depois não me perguntarás mais por que chamo Betânia ao nosso Sacrário” 12. Ali está Ele. Não podemos deixar de visitá-lo todos os dias..., e de permanecer em sua companhia durante esses minutos de ação de graças após a Comunhão, sem pressas, sem inquietações. Não há nada mais importante.
Ensina São Tomás que não houve outro modo mais conveniente de redimir os homens que o da Encarnação 13. E aduz estas razões: quanto à fé, porque se tornava mais fácil crer, já que era o próprio Deus quem falava; quanto à esperança, porque a Encarnação era a maior prova da vontade divina de salvar os homens; quanto à caridade, porque ninguém tem maior amor que aquele que dá a vida pelos seus amigos 14; quanto às obras, porque o próprio Deus nos ia servir de exemplo: assumindo a nossa carne, mostrava-nos a importância da criatura humana; com a sua humilhação, curava a nossa soberba...
Na Santíssima Humanidade de Jesus, o amor que Deus tem por nós toma forma humana, abrindo-nos assim um plano inclinado que nos leva suavemente a Deus Pai. Por isso, a vida cristã consiste em amar a Cristo, em imitá-lo, em segui-lo de perto, atraídos pela sua vida. A santificação não tem por eixo a luta contra o pecado, não é algo negativo; está centrada em Jesus Cristo, objeto do nosso amor: não consiste apenas em evitar o mal, mas em amar e imitar o Mestre, que passou fazendo o bem... 15
A vida cristã é profundamente humana: o coração tem um lugar importante na obra da nossa santificação porque Deus se pôs ao seu alcance. E quando descuramos a vida de piedade, a amizade pessoal com o Mestre, deixando que o coração se disperse pelas criaturas, a força da vontade não basta para assegurar o progresso no caminho da santidade. Por isso, temos de esforçar-nos por ver Cristo sempre próximo da nossa vida, e servir-nos da imaginação para representá-lo vivo: uma criança que nasceu em Belém, um adolescente e homem feito que trabalhou em Nazaré, que teve amigos que amava e a quem procurou muitas vezes porque a sua companhia o confortava.
Aprendamos dos amigos de Jesus a tratá-lo com imenso respeito, porque é Deus, e com grande confiança, porque é o Amigo de sempre, que procura continuamente o nosso convívio.
III. EM OUTRA OCASIÃO, Jesus e os seus discípulos detiveram-se em casa desses amigos de Betânia antes de irem a Jerusalém. As duas irmãs começaram a preparar todas as coisas necessárias para hospedá-los. Mas Maria, talvez poucos minutos depois da chegada do Mestre, sentou-se aos seus pés e ouvia a sua palavra 16, enquanto Marta cuidava sozinha do trabalho da casa. Maria despreocupou-se das inúmeras tarefas que ainda restavam por fazer e entregou-se completamente às palavras do Mestre. “A familiaridade com que se instalou aos seus pés [...], a fome de ouvir as suas palavras, demonstram que este não era o primeiro encontro, mas que existia uma verdadeira intimidade” 17.
Marta não se mostra, com certeza, indiferente às palavras de Jesus; ela também as escuta, mas está mais ocupada nas tarefas domésticas. Sem perceber, deixou Jesus passar para um segundo plano: está absorvida nas coisas que tem de preparar para atendê-lo bem. E inquieta-se ao sentir-se sozinha, a braços com mais trabalho talvez do que aquele que podia realizar. Contempla então a sua irmã aos pés de Jesus e, presa de um certo desassossego, mas com grande confiança, posta-se diante de Jesus – como nota São Lucas – e diz-lhe: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado só com o serviço da casa? Dize-lhe, pois, que me ajude 18. Que grande confiança tem com o Mestre!: Dize-lhe que me ajude...
Jesus responde-lhe no mesmo tom familiar, como parece indicar a própria repetição do nome: Marta, Marta – diz-lhe –, tu te afadigas e andas inquieta com muitas coisas. No entanto, uma só coisa é necessária 19. Maria, que deveria sem dúvida prestar ajuda à sua irmã, não esqueceu contudo o essencial, aquilo que é verdadeiramente necessário: ter Jesus como centro das atenções. O Senhor não louva toda a sua atitude, mas o principal: o seu amor.
Nem sequer as coisas que se referem ao Senhor devem fazer-nos esquecer o Senhor das coisas. Marta nunca esqueceria a amável censura do Senhor. Se o seu trabalho era importante, mais importante ainda era estar com o Senhor.
Nem sequer nas tarefas que se referem diretamente a Deus devemos esquecer que o principal, a única coisa necessária, é a sua Pessoa. E na nossa vida ordinária devemos ter presente que os assuntos que parecem primordiais, como o trabalho, também não podem antepor-se à família e muito menos a Deus. De pouco serviriam os nossos progressos – econômicos, sociais... – se a própria vida familiar viesse a deteriorar-se por ficar em segundo plano. Se um pai ou mãe de família ganha mais dinheiro, mas descuida o relacionamento com os filhos, de que adianta? Por maioria de razão, se os nossos deveres profissionais nos levam a esquecer as nossas orações habituais – uma breve leitura do Evangelho e outras práticas de piedade, que se intercalam com facilidade no meio das ocupações mais absorventes –, que sentido têm para um cristão?
Santa Marta, que goza para sempre no Céu da presença inefável de Cristo, alcançar-nos-á a graça de valorizarmos mais a amizade com o Mestre; ensinar-nos-á a cuidar com diligência das coisas do Senhor, sem esquecer o Senhor das coisas.
(1) Jo 11, 5; (2) Jo 11, 17-27; (3) Jo 11, 3; (4) Jo 11, 67; (5) Jo 11, 21; (6) Jo 11, 23; (7) Jo 11, 24; (8) Jo 11, 25; (9) Jo 11, 27; (10) Josemaría Escrivá, Forja, n. 495; (11) Jo 12, 1-2; (12) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 322; (13) cfr. São Tomás, Suma Teológica, III, q. 1, a. 2; (14) Jo 15, 13; (15) At 10, 38; (16) Lc 10, 39; (17) M. J. Indart, Jesus en su mundo, pág. 36; (18) Lc 10, 40; (19) Lc 10, 41.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
29 de Julho 2019
A SANTA MISSA

Memória: Santa Marta
Cor: Branca
1ª Leitura: 1Jo 4, 7-16
“Foi Deus quem nos amou primeiro”.
Leitura da Primeira Carta de São João
7 Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece Deus. 8 Quem não ama, não chegou a conhecer Deus, pois Deus é amor. 9 Foi assim que o amor de Deus se manifestou entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo, para que tenhamos vida por meio dele. 10 Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados. 11 Caríssimos, se Deus nos amou assim, nós também devemos amar-nos uns aos outros. 12 Ninguém jamais viu a Deus. Se nos amamos uns aos outros, Deus permanece conosco e seu amor é plenamente realizado entre nós. 13 A prova de que permanecemos com ele, e ele conosco, é que ele nos deu o seu Espírito. 14 E nós vimos, e damos testemunho, que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo. 15 Todo aquele que proclama que Jesus é o Filho de Deus, Deus permanece com ele, e ele com Deus. 16 E nós conhecemos o amor que Deus tem para conosco, e acreditamos nele. Deus é amor: quem permanece no amor, permanece com Deus, e Deus permanece com ele.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 33(34), 2-3.4-5.6-7.8-9.10-11(R. 2 ou 9a)
R. Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo!
Ou:
R. Provai e vede quão suave é o Senhor!
2 Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, *
seu louvor estará sempre em minha boca.
3 Minha alma se gloria no Senhor; *
que ouçam os humildes e se alegrem! R.
4 Comigo engrandecei ao Senhor Deus, *
exaltemos todos juntos o seu nome!
5 Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu, *
e de todos os temores me livrou. R.
6 Contemplai a sua face e alegrai-vos, *
e vosso rosto não se cubra de vergonha!
7 Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido, *
e o Senhor o libertou de toda angústia. R.
8 O anjo do Senhor vem acampar *
ao redor dos que o temem, e os salva.
9 Provai e vede quão suave é o Senhor! *
Feliz o homem que tem nele o seu refúgio! R.
10 Respeitai o Senhor Deus, seus santos todos, *
porque nada faltará aos que o temem.
11 Os ricos empobrecem, passam fome, *
mas aos que buscam o Senhor não falta nada. R.
Evangelho: Jo 11, 19-27
“Eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus.”
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, 19 Muitos judeus tinham vindo à casa de Marta e Maria para as consolar por causa do irmão. 20 Quando Marta soube que Jesus tinha chegado, foi ao encontro dele. Maria ficou sentada em casa. 21 Então Marta disse a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. 22 Mas mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele te concederá”. 23 Respondeu-lhe Jesus: “Teu irmão ressuscitará”. 24 Disse Marta: “Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia”. 25 Então Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. 26 E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?” 27 Respondeu ela: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!