O mérito das boas obras

TEMPO COMUM. VIGÉSIMA TERCEIRA SEMANA. QUINTA‑FEIRA

– A recompensa sobrenatural das boas obras.
– Os méritos de Cristo e de Maria.
– Oferecer a Deus a nossa vida corrente. Merecer em bem dos demais.

I. O SENHOR FALA‑NOS muitas vezes do mérito que tem até a menor das nossas obras, se as realizamos por Ele: nem sequer um copo de água oferecido por Ele ficará sem recompensa1. Se formos fiéis a Cristo, encontraremos um tesouro acumulado no Céu por uma vida oferecida dia a dia ao Senhor. A vida é o tempo para merecer, pois no Céu já não se merece, mas usufrui‑se da recompensa. Também não se adquirem méritos no Purgatório, onde as almas se purificam das seqüelas deixadas pelos seus pecados. Este é o único tempo para merecer: os dias que nos restam aqui na terra.

No Evangelho da Missa de hoje2, o Senhor ensina‑nos que, para obter essa recompensa sobrenatural, as obras do cristão devem ser superiores às dos pagãos. Se amardes os que vos amam, que recompensa tereis? Porque os pecadores também amam os que os amam. E, se fizerdes bem aos que vo‑lo fazem, que recompensa tereis? Também os pecadores fazem o mesmo... A caridade deve abarcar todos os homens, sem limite algum; não deve restringir‑se aos que nos fazem bem, aos que nos ajudam ou se comportam corretamente conosco, porque para isso não seria necessária a ajuda da graça: também os pagãos amam aqueles que os amam. O mesmo acontece com as boas obras do cristão; não devem ser apenas “humanamente” boas e exemplares, mas generosas na sua raiz por amor de Deus e, portanto, sobrenaturalmente meritórias.

Deus assegurou‑nos por meio do profeta Isaías: Electi mei non laborabunt frustra3, os meus escolhidos não trabalharão nunca em vão, pois nem a mais pequena obra feita por Deus ficará sem fruto. Veremos muitos desses frutos já aqui na terra; outros, talvez a maior parte, quando nos encontrarmos na presença de Deus no Céu. São Paulo recorda aos primeiros cristãos que cada um receberá a sua recompensa conforme o seu trabalho4. E insiste: Cada um receberá a recompensa devida às boas ou más ações que tiver praticado enquanto estava revestido do seu corpo5. Este é o tempo de merecer. “As vossas boas obras devem ser os vossos investimentos, dos quais um dia recebereis lucros consideráveis”6, ensina Santo Inácio de Antioquia.

II. ELECTI MEI non laborabunt frustra... As obras de cada dia – o trabalho, os pequenos serviços que prestamos aos outros, as alegrias, o descanso, a dor e a fadiga aceitos com garbo e oferecidos a Deus – podem ser meritórias pelos infinitos méritos que Cristo nos alcançou na sua vida terrena, pois da sua plenitude recebemos graça sobre graça7. A uns dons acrescentam‑se outros, numa progressão sem fim, pois todos brotam da única fonte que é Cristo, cuja plenitude de graça não se esgota nunca. “Ele não tem o dom recebido por participação, mas é a própria fonte, a própria raiz de todos os bens: a Vida, a Luz, a Verdade. E não retém em si mesmo as riquezas dos seus bens, antes os entrega a todos os outros; e, tendo‑os dispensado, permanece pleno; não diminui em nada por havê‑los distribuído aos outros, mas, cumulando e fazendo participar a todos desses bens, permanece na mesma perfeição”8.

Adoro te devotePie pellicane, Iesu Domine, me immundum munda tuo sanguine... “Bom pelicano, Senhor Jesus! / Limpai‑me a mim, imundo, com o vosso Sangue, / com esse Sangue do qual uma só gota / pode salvar do pecado o mundo inteiro”. O menor ato de amor de Jesus, na sua infância, na sua vida de trabalho em Nazaré, tinha um valor infinito para obter para todos os homens – os passados, os presentes e os que haviam de vir – a graça santificante, a vida eterna e as ajudas necessárias para se chegar a ela9.

Ninguém como a Virgem, Mãe de Deus e nossa Mãe, participou com tanta plenitude dos méritos do seu Filho. Pela sua impecabilidade, os seus méritos foram maiores – até mais estritamente “meritórios” – que os de todas as demais criaturas, porque, estando imune das concupiscências e de outros entraves, a sua liberdade era maior, e a liberdade é o princípio radical do mérito. Foram meritórios todos os sacrifícios e pesares que teve de enfrentar por ser a Mãe de Deus: desde a pobreza de Belém e a aflição da fuga para o Egito até a espada que atravessou o seu coração ao contemplar os sofrimentos de Jesus na Cruz. E foram meritórias todas as alegrias e satisfações que lhe causaram a sua imensa fé e o seu amor que tudo penetrava, pois o que torna meritória uma ação não é a sua dificuldade, mas o amor com que é feita.

“Não é a dificuldade que há em amar o inimigo o que conta para o seu valor meritório, mas o modo como se manifesta nela a perfeição do amor, que triunfa sobre essa dificuldade. Assim, pois, se a caridade fosse tão completa que suprimisse completamente a dificuldade, seria então mais meritória”10, ensina São Tomás de Aquino. Assim foi a caridade de Maria.

Deve dar‑nos uma grande alegria considerar com freqüência os méritos infinitos de Cristo, que são a fonte da nossa vida espiritual. Do mesmo modo, deve fortalecer‑nos a esperança e reanimar‑nos nos momentos de desânimo ou de cansaço a contemplação das graças que Santa Maria nos alcançou.

“Dizias‑me: «Vejo‑me, não somente incapaz de andar para a frente no caminho, mas incapaz de salvar‑me – pobre da minha alma! – sem um milagre da graça. Estou frio e – o que é pior – como que indiferente: exatamente como se fosse um espectador do 'meu caso', que não se importasse nada com o que contempla. Serão estéreis estes dias? «E, no entanto, a minha Mãe é minha Mãe, e Jesus é – atrevo‑me? – o meu Jesus! E há almas santas, agora mesmo, pedindo por mim». – Continua a andar pela mão da tua Mãe – repliquei‑te –, e «atreve‑te» a dizer a Jesus que é teu. Pela sua bondade, Ele porá luzes claras na tua alma”11.

III. ELECTI MEI non laborabunt frustra. O mérito é o direito à recompensa pelas obras que realizamos, e todas as nossas obras podem ser meritórias, de tal modo que convertamos a vida num tempo de merecimento. A teologia ensina12 que é mérito propriamente dito (de condigno) aquele em que se deve uma retribuição em justiça ou, pelo menos, em virtude de uma promessa; assim, na ordem natural, o trabalhador merece o seu salário. Existe também outro mérito, que costuma ser chamado de conveniência (de congruo), em que se deve uma recompensa, não por estrita justiça nem como conseqüência de uma promessa, mas por uma razão de amizade, de estima, de liberalidade; assim, na ordem natural, o soldado que se distinguiu numa batalha pelo seu valor merece (de congruo) ser condecorado: a sua condição militar pede‑lhe essa valentia, mas, se podia recuar e não recuou, se podia limitar‑se a cumprir a sua missão e esmerou‑se nela, o general magnânimo vê‑se impelido a recompensá‑lo superabundantemente – ultrapassando o estipulado – por aquela ação.

Na ordem sobrenatural, os nossos atos merecem, por querer de Deus, uma recompensa que supera todas as honras e toda a glória que o mundo nos pode oferecer. O cristão em estado de graça consegue com a sua vida corrente, cumprindo o seu dever, um aumento de graça na sua alma e a vida eterna: pela momentânea e leve tribulação, Ele prepara‑nos um peso eterno de glória incalculável13.

Cada dia, as obras são meritórias se as realizamos bem e com retidão de intenção: se as oferecemos a Deus ao começar a jornada, na Santa Missa, ao iniciarmos uma tarefa ou ao terminá‑la. Serão meritórias especialmente se as unirmos aos méritos de Cristo e aos da Virgem Maria. Apropriamo‑nos assim das graças de valor infinito que o Senhor nos alcançou, principalmente na Cruz, e dos da sua Santíssima Mãe, que corredimiu tão singularmente com Ele. O nosso Pai‑Deus vê então essas ações revestidas de um caráter infinito, inteiramente novo. Tornamo‑nos solidários com os méritos de Cristo.

Conscientes desta realidade sobrenatural, procuramos oferecer tudo ao Senhor?, tanto as ações corriqueiras de cada dia como as circunstâncias que saem da normalidade: uma doença grave, a perseguição, a calúnia? Nestes casos, devemos recordar‑nos especialmente do que líamos ontem no Evangelho da Missa14Alegrai‑vos naquele dia e regozijai‑vos, pois será grande a vossa recompensa no céu. São ocasiões para amar mais a Deus, para nos unirmos mais a Ele.

Ajudar‑nos‑á também a realizar com perfeição as nossas tarefas o sabermos que – por mérito de conveniência, baseado na amizade com o Senhor –, com essas obras feitas em graça de Deus, por amor, com perfeição, podemos merecer a conversão de um filho, de um irmão, de um amigo: assim fizeram os santos. Não são motivos que nos incitam a procurar o rosto de Deus, a glória de Deus, em cada uma das nossas ações?

“Dedicaremos todos os afãs da nossa vida – grandes e pequenos – à honra de Deus Pai, de Deus Filho, de Deus Espírito Santo. – Lembro‑me com emoção do trabalho daqueles universitários brilhantes – dois engenheiros e dois arquitetos –, ocupados com muito gosto na instalação material de uma residência de estudantes. Mal acabaram de colocar o quadro‑negro numa sala de aula, a primeira coisa que os quatro artistas escreveram foi: «Deo omnis gloria!» – toda a glória para Deus. – Sei que te encantou, Jesus”15.

(1) Cfr. Mt 10, 42; (2) Lc 6, 27‑38; (3) Is 65, 23; (4) 1 Cor 3, 8; (5) 2 Cor 5, 10; cfr. Rom 2, 5‑6; (6) Santo Inácio de Antioquia, Epístola a São Policarpo; (7) Jo 1, 16; (8) São João Crisóstomo, Homilias sobre o Evangelho de São João, 14, 1; (9) cfr. R. Garrigou‑Lagrange, El Salvador, pág. 365; (10) São Tomás, Questões disputadas sobre a caridade, q. 8, ad. 17; (11) Josemaría Escrivá, Forja, n. 251; (12) cfr. R. Garrigou‑Lagrange, op. cit., pág. 366; (13) 2 Cor 4, 17; (14) cfr. Lc 6, 20‑26; (15) Josemaría Escrivá, Forja, n. 611.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Paz na contradição

TEMPO COMUM. VIGÉSIMA TERCEIRA SEMANA. QUARTA‑FEIRA

– As incompreensões e adversidades que podem surgir por seguirmos Cristo não nos devem surpreender.
Junto dEle, a dor torna‑se júbilo.
– A “contradição dos bons”.
– Frutos das incompreensões.

I. O SENHOR ANUNCIA em diversas ocasiões que quem deseja segui‑lo verdadeiramente e de perto terá que enfrentar as investidas dos que se comportam como inimigos de Deus e até dos que, sendo cristãos, não vivem com coerência a sua fé.

O cristão, no seu caminho de santidade, encontrará por vezes um clima de hostilidade, que o Senhor não duvidou em chamar com uma palavra dura: perseguição1. Na última das bem‑aventuranças referidas por São Lucas no Evangelho da Missa2, Jesus diz: Bem‑aventurados sereis quando os homens vos odiarem, quando vos expulsarem e injuriarem, e proscreverem o vosso nome como maldito, por causa do Filho do homem. E não devemos pensar que esta perseguição, nas diversas formas em que pode apresentar‑se, é algo excepcional, que se dará numas épocas especiais ou em lugares determinados: Não é o discípulo mais do que o mestre – anunciou Jesus –, nem o servo mais do que o seu senhor. Se ao amo da casa o chamaram Belzebu, quanto mais aos seus domésticos3. E São Paulo prevenia assim o seu discípulo Timóteo: Todos os que quiserem viver piedosamente em Cristo Jesus sofrerão perseguição4.

A perseguição, porém, não quer dizer desgraça, mas bem‑aventurança, alegria e felicidade, porque é o cunho da autenticidade no seguimento de Cristo; significa que as pessoas e as obras vão por bom caminho, e por isso não devem tirar‑nos a paz nem surpreender‑nos. Se alguma vez o Senhor permite que sintamos a dor da perseguição aberta – a calúnia, a difamação... –, ou essa outra mais disfarçada – que emprega como armas a ironia empenhada em ridicularizar os valores cristãos, ou a pressão ambiental concentrada em amedrontar os que se atrevem a defender uma visão cristã da vida e em desprestigiá‑los perante a opinião pública –, devemos saber que é uma ocasião permitida por Deus para que nos cumulemos de frutos, como dizia um mártir enquanto se dirigia para a morte: “Onde maior é o trabalho, maior é o lucro”5.

Deveremos nesses casos agradecer ao Senhor a confiança que depositou em nós ao considerar‑nos capazes de sofrer um pouco por Ele. E imitaremos os Apóstolos, ainda que em ponto muito pequeno, quando, depois de terem sido açoitados por pregarem publicamente a Boa Nova, saíram alegres do Sinédrio por terem sido dignos de padecer ultrajes pelo nome de Jesus6. Não se calaram no seu apostolado, antes anunciavam Jesus com mais fervor e alegria, lembrando‑se certamente das palavras do Senhor: Alegrai‑vos naquele dia e regozijai‑vos, pois será grande a vossa recompensa no céu.

Junto de Jesus Cristo, a dor torna‑se contentamento: “É melhor para mim, Senhor, sofrer a tribulação, contanto que estejas comigo, do que reinar sem Ti, passar bem sem Ti, gloriar‑me sem Ti. Junto de Jesus Cristo, a dor torna‑se contentamento: “É melhor para mim, Senhor, sofrer a tribulação, contanto que estejas comigo, do que reinar sem Ti, passar bem sem Ti, gloriar‑me sem Ti. É melhor para mim, Senhor, abraçar‑me a Ti na tribulação, ter‑Te comigo no forno ardente, do que estar sem Ti, ainda que fosse no próprio Céu. Que me importa o Céu sem Ti? E, contigo, que me importa a terra?”7

II. O SENHOR TAMBÉM nos previne no Evangelho da Missa: Ai quando os homens falarem bem de vós, porque assim fizeram os pais deles com os falsos profetas. A fé, quando é autêntica, “derruba demasiados interesses egoístas para não causar escândalo”8. É difícil, talvez impossível, ser bom cristão e não entrar em choque com um ambiente aburguesado, comodista e paganizado. Temos que pedir continuamente a paz para a Igreja e para os cristãos de todos os países, mas não nos devemos assustar nem surpreender se, pela doutrina de Cristo que queremos dar a conhecer, deparamos com a resistência do ambiente, as críticas ou as calúnias. O Senhor ajudar‑nos‑á a tirar frutos abundantes dessas situações.

Quando São Paulo chegou a Roma, os judeus que ali viviam diziam da Igreja nascente: Sabemos que sofre perseguição por toda a parte9. Depois de vinte séculos, vemos que a situação não mudou, ainda que tenham cessado as perseguições abertas. São cada vez mais os ambientes em que se qualificam de “fanáticos”, “ultrapassados”, “integristas” os que simplesmente querem viver a fé e seguir os princípios morais tal como a Igreja os define por meio do seu Magistério. Descobrem‑se falsos conflitos entre a ciência e a fé, entre o progresso da civilização e a doutrina imutável da Igreja. Faz‑se finca‑pé em erros históricos dos homens, muitas vezes falseando‑os e certamente aumentando‑os, para atacar a Igreja, a sua instituição divina, os seus fins sobrenaturais e de salvaguarda dos valores humanos inerentes à condição dos filhos de Deus.

Custa entender a calúnia ou a perseguição – aberta ou escondida – numa época em que se fala tanto de tolerância, de compreensão, de convivência e de paz. Mas são mais difíceis de entender as contradições quando procedem dos homens “bons”, quando, de um modo ou de outro, o cristão persegue o cristão, e o irmão ataca o irmão. O Senhor aludiu claramente a essa situação, em que as difamações, as calúnias e os entraves à ação apostólica não provêm dos pagãos nem dos inimigos de Cristo, mas dos irmãos na fé que desse modo julgam prestar um serviço a Deus10.

“A contradição dos «bons» – expressão cunhada pelo Fundador do Opus Dei, que a experimentou dolorosamente na sua vida – é uma prova que Deus permite às vezes, e que é particularmente penosa para o cristão que a sofre. O motivo costumam ser exaltações demasiado humanas que podem distorcer o bom juízo e a intenção limpa de homens que professam a mesma fé e formam o mesmo Povo de Deus. Às vezes, há zelos ao invés de zelo pelas almas, emulação imprudente que olha com inveja e considera como um mal o bem feito pelos outros. Pode haver também dogmatismo estreito que se recusa a reconhecer aos outros o direito de pensar de maneira diferente em matérias deixadas por Deus à livre apreciação dos homens [...]. A contradição dos «bons» [...] costuma manifestar‑se em desamor para com alguns irmãos na fé, em oposição disfarçada e crítica destrutiva”11.

Em qualquer caso, a atitude do cristão que antes de mais nada quer ser fiel a Cristo deve ser a de perdoar, desagravar e agir com retidão de intenção, com o olhar posto em Cristo.

“Não esperes o aplauso dos outros pelo teu trabalho. – Mais ainda! Não esperes sequer, às vezes, que te compreendam outras pessoas e instituições que também trabalham por Cristo. – Procura somente a glória de Deus e, amando a todos, não te preocupes se alguns não te entendem”12.

III. DEVEMOS TIRAR MUITO FRUTO das contradições. “Tinha‑se desencadeado a perseguição violenta. E aquele sacerdote rezava: – Jesus, que cada incêndio sacrílego aumente o meu incêndio de Amor e Reparação”13. Essas oposições não só não nos devem fazer perder a paz ou ser causa de desalento e pessimismo, como devem servir‑nos para enriquecer a alma, para crescer em maturidade interior, em fortaleza, em espírito de reparação e desagravo, em compreensão e caridade.

Tanto agora como nesses momentos difíceis que, sem serem habituais, podem, no entanto, apresentar‑se na nossa vida, far‑nos‑á muito bem meditar aquelas palavras pacientes e serenas de São Pedro dirigidas aos cristãos da primeira hora, quando padeciam calúnias e perseguição: É preferível, caso Deus assim o queira, padecer fazendo o bem a padecer fazendo o mal14.

Deus servir‑se‑á dessas horas de dor para fazer o bem a outras pessoas: “Algumas vezes, Ele chama‑nos por meio dos milagres, outras pelos castigos, outras pelas prosperidades deste mundo e, por último, em outras ocasiões, chama‑nos por meio das adversidades”15.

Não há situação em que não tenhamos motivos para estar alegres e otimistas, com o otimismo que nasce da fé e da oração confiante. “O cristianismo já esteve demasiadas vezes em situações que pareciam acarretar‑lhe um perigo fatal, para que nos deixemos atemorizar agora por uma nova prova [...]. Os caminhos pelos quais a Providência resgata e salva os seus escolhidos são imprevisíveis. Umas vezes, o nosso inimigo converte‑se em amigo; outras, vê‑se despojado da capacidade de fazer o mal que o tornava temível; outras, destrói‑se a si próprio; ou, sem o querer, produz efeitos benéficos, para desaparecer a seguir sem deixar rasto. Geralmente, a Igreja não faz outra coisa senão perseverar, com paz e confiança, no cumprimento das suas tarefas, permanecer serena e esperar a salvação de Deus”16.

Os momentos de dificuldades e contradições – que não devemos exagerar – são particularmente propícios para praticarmos uma série de virtudes: devemos pedir por aqueles que nos fazem mal – talvez sem o saberem –, para que deixem de ofender a Deus; desagravar o Senhor, sendo mais fiéis nos nossos deveres cotidianos; dedicar‑nos a uma ação apostólica mais intensa; proteger com caridade os irmãos “fracos” na fé que, pela sua idade, pela sua pouca formação ou pela sua situação particular, poderiam sofrer um dano maior na sua alma.

A Virgem nossa Mãe, que nos ajuda a todo o momento, ouvir‑nos‑á particularmente nas ocasiões mais difíceis. “Dirige‑te à Virgem Maria – Mãe, Filha, Esposa de Deus, Mãe nossa –, e pede‑lhe que te obtenha da Trindade Santíssima mais graças: a graça da fé, da esperança, do amor, da contrição, para que, quando na vida parecer que sopra um vento forte, seco, capaz de estiolar essas flores da alma, não estiole as tuas..., nem as dos teus irmãos”17.

(1) Cfr. J. Orlandis, Oito bem‑aventuranças, pág. 141; (2) Lc 6, 20‑26; (3) Mt 10, 24‑25; (4) 2 Tim 3, 12; (5) Santo Inácio de Antioquia, Carta a São Policarpo de Esmirna, 1; (6) At 5, 41; (7) São Bernardo, Sermão 17; (8) G. Chevrot, O Sermão da Montanha, Quadrante, pág. 234; (9) At 28, 22; (10) cfr. Jo 16, 2; (11) J. Orlandis, op. cit., pág. 150; (12) Josemaría Escrivá, Forja, n. 255; (13) ib., n. 1026; (14) 1 Pe 3, 17; (15) São Gregório Magno, Homilia 36 sobre os Evangelhos; (16) J. H. Newman, Biglietto Speech, 12‑V‑1879; (17) Josemaría Escrivá, op. cit., n. 227.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


São João Gabriel Perboyre

11 de Setembro

São João Gabriel Perboyre

João Gabriel Perboyre era o filho primogênito de Pedro Perboyre e Maria Rigal; nascido no dia 6 de janeiro de 1802, em Puech – uma aldeia pertencente à diocese de Cahors, na região da Ocitânia, na França – ele viveu sua infância no difícil período do Império de Napoleão, momento em que muitos conspiravam contra a Igreja. Apesar das dificuldades, recebeu uma esmerada educação cristã em sua família. Durante o ensino fundamental, se revelou um aluno brilhante e com notável capacidade intelectual. Desde pequenino ele sentia uma devoção e um amor por Jesus Crucificado. Em casa procura sempre ajudar o pai nos trabalhos nos campos.

Seu irmão, Luís, entra em 1816 no seminário de Montauban, dirigido pelos padres Lazaristas. João Gabriel, então com 15 anos, o acompanha para fazer-lhe companhia durante algum tempo. Contudo, o contato com a vida religiosa, a inspiração da vida do fundador dos Lazaristas – São Vicente de Paula – exerceram nele uma atração da qual não podia furtar-se: pediu e lhe foi concedido ser admitido na Congregação dos Padres Lazaristas. Com 18 anos começa a estudar teologia em Paris. Sua inteligência e seu caráter afável começam a chamar a atenção e, aos poucos, foi se tornando um verdadeiro modelo para seus colegas de seminário. Os superiores notam que tem facilidade de lidar com outros jovens e por esse motivo é enviado para ajudar na formação de outros jovens no colégio de São Vicente de Mont-Didier.

Em 1826 será ordenado sacerdote em Paris: tem apenas 24 anos e uma paixão à toda prova pelo Cristo Senhor. Apesar de começar uma carreira na vida acadêmica – os superiores o colocam primeiro como professor de teologia dogmática e depois como vice mestre dos noviços em Paris – ele deseja ser missionário: pede com insistência para ser enviado para a China, para “levar Jesus Cristo e converter almas para ele”. Seu desejo se inflama ainda mais quando, no dia 2 de maio de 1831, seu irmão, o Padre Luís Perboyre, falece na região dos Países Baixos, quando se dirigia para a China.

Após insistentes pedidos, os superiores concordam que ele deverá substituir o irmão e poderá ser missionário na China. É assim, que no dia 21 de março de 1835, ele parte do porto de Le Havre, tendo como destino as terras chinesas. Após cinco meses de viagem, ele chega em Macau, onde permanecerá alguns meses aprendendo o chinês. Enviado para o interior da China continental, ele começa seus trabalhos apostólicos com grande zelo. São muitos os trabalhos, as dificuldades e as perseguições, mas Padre João Gabriel não se deixa esmorecer.

Entrementes, explode uma revolta na China contra os cristãos católicos e contra os europeus. Padre João Gabriel se vê na necessidade de buscar esconderijos para escapar da perseguição. Apesar de tomar várias precauções, um cristão, tentado pelo valor da recompensa que as autoridades pagariam por quem denunciasse um cristão, acabou fazendo com que Padre João Gabriel fosse preso. Capturado no dia 26 de setembro de 1839, ele é interrogado e sofre várias torturas ao longo do processo. Após oito meses de cárcere e de sofrimentos atrozes, chega a confirmação da sentença de morte. No dia 11 de setembro de 1840, ele é crucificado e morto a golpes de espada. Tinha apenas 38 anos de idade. Seus restos mortais foram transladados para a França em 1860 e colocados na Casa mãe da Congregação. O Papa Leão XIII o beatificou no dia 10 de novembro de 1889 e São João Paulo II o canonizou.

Fonte: https://pt.aleteia.org


11 de Setembro 2019

A SANTA MISSA

23ª Semana do Tempo Comum – Quarta-feira 
Cor: Verde

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1ª Leitura: Cl 3,1-11

“Morrestes com Cristo; mortificai também vossos membro”

Leitura da Carta de São Paulo aos Colossenses

Irmãos, 1 se ressuscitastes com Cristo, esforçai-vos por alcançar as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita de Deus; 2 aspirai às coisas celestes e não às coisas terrestres. 3 Pois vós morrestes, e a vossa vida está escondida, com Cristo, em Deus. 4 Quando Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com ele, revestidos de glória. 5 Portanto, fazei morrer o que em vós pertence à terra: imoralidade, impureza, paixão, maus desejos e a cobiça, que é idolatria. 6 Tais coisas provocam a ira de Deus contra os que lhe resistem. 7 Antigamente vós estáveis enredados por essas coisas e vos deixastes dominar por elas. 8 Agora, porém, abandonai tudo isso: ira, irritação, maldade, blasfêmia, palavras indecentes, que saem dos vossos lábios. 9 Não mintais uns aos outros. Já vos despojastes do homem velho e da sua maneira de agir 10 e vos revestistes do homem novo, que se renova segundo a imagem do seu Criador, em ordem ao conhecimento. 11 Aí não se faz distinção entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, inculto, selvagem, escravo e livre, mas Cristo é tudo em todos.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 144(145), 2-3.10-11.12-13ab(R. cf. 9a)

R. O Senhor é muito bom para com todos.

Todos os dias haverei de bendizer-vos, *
hei de louvar o vosso nome para sempre.
Grande é o Senhor e muito digno de louvores, *
e ninguém pode medir sua grandeza.      R.

10 Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem,*
e os vossos santos com louvores vos bendigam!
11 Narrem a glória e o esplendor do vosso reino*
e saibam proclamar vosso poder!       R.

12 Para espalhar vossos prodígios entre os homens*
e o fulgor de vosso reino esplendoroso.
13a O vosso reino é um reino para sempre,*
13b vosso poder, de geração em geração.      R. 

Evangelho: Lc 6, 20-26 

“Bem-aventurados vós, os pobres. Mas, ai de vós, ricos.” 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naquele tempo: 20 Jesus levantando os olhos para os seus discípulos, disse: ‘Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus! 21 Bem-aventurados, vós que agora tendes fome, porque sereis saciados! Bem-aventurados vós, que agora chorais, porque havereis de rir! 22 Bem-aventurados, sereis quando os homens vos odiarem, vos expulsarem, vos insultarem e amaldiçoarem o vosso nome, por causa do Filho do Homem! 23 Alegrai-vos, nesse dia, e exultai pois será grande a vossa recompensa no céu; porque era assim que os antepassados deles tratavam os profetas. 24 Mas, ai de vós, ricos, porque já tendes vossa consolação! 25 Ai de vós, que agora tendes fartura, porque passareis fome! Ai de vós, que agora rides, porque tereis luto e lágrimas! 26 Ai de vós quando todos vos elogiam! Era assim que os antepassados deles tratavam os falsos profetas.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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São Nicolau de Tolentino

10 de Setembro

São Nicolau de Tolentino

São Nicolau de Tolentino nasceu em Sant'Angelo (Itália), em 1245; diz-se que sua mãe, já de idade avançada, não tinha podido conceber e, junto com seu esposo, fez uma peregrinação ao Santuário de São Nicolau de Bari, onde ela rogou a Deus por um filho que entregaria ao serviço divino, depois ficou grávida.

Enquanto crescei, o pequeno Nicolau passava horas em oração, escutava com entusiasmo a Palavra de Deus, levava os pobres para sua casa para compartilhar com eles o que tinha e gostava de ler bons livros como estudante.

Depois de escutar o sermão de um frade ou eremita da Ordem de Santo Agostinho, decidiu renunciar ao mundo e ingressou na Ordem no convento do pequeno povoado de Tolentino. Fez sua profissão religiosa antes de ter completado 18 anos e, em 1271, foi ordenado sacerdote no convento de Cingole.

Quando, pela graça de Deus, realizava algum milagre, pedia aos presentes: “Não digam nada sobre isto. Deem graças a Deus, não a mim”.

Os fiéis, impressionados por ver as conversões que obtinha e sua profunda espiritualidade, pediam-lhe que intercedesse pelas almas do purgatório e isso o levou, muitos anos depois de sua morte, a ser nomeado “padroeiro das santas almas”.

O santo padeceu por muito tempo de dores de estômago e, aos poucos, sua saúde foi piorando.

Um dia, a Virgem Maria apareceu a ele e instruiu-o a pedir um pedaço de pão, molhá-lo em água e comê-lo com a promessa de que se curaria por sua obediência. Assim aconteceu e, por gratidão, São Nicolau abençoava pedaços de pão semelhantes e os dava aos enfermos, obtendo numerosas curas.

Partiu para a Casa do Pai em 10 de setembro de 1305 e foi enterrado na igreja de seu convento em Tolentino. Muitas décadas depois, seu corpo incorrupto foi exposto e diz-se que um homem estrangeiro cortou o braço para leva-lo ao seu país natal, mas foi capturado por um fluxo de sangue que brotou das extremidades do santo.

Um século depois, foi feito o reconhecimento dos ossos e viu-se que os braços amputados estavam intactos e ensopados de sangue. Séculos depois, repetiu-se o derramamento de sangue fresco dos braços de São Nicolau de Tolentino.

Fonte: https://www.acidigital.com


A oração de Cristo. A nossa oração

TEMPO COMUM. VIGÉSIMA TERCEIRA SEMANA. TERÇA‑FEIRA

– O Senhor, do Céu, continua a interceder por nós. A sua oração é sempre eficaz.
– Frutos da oração.
– As orações vocais.

I. LÊ‑SE NO SANTO EVANGELHO1 que Cristo retirou‑se a um monte para orar e passou toda a noite em oração. No dia seguinte, escolheu os Doze Apóstolos. É a oração de Cristo pela Igreja nascente.

Em muitas passagens evangélicas, Cristo mostra‑se unido ao seu Pai Celestial numa oração íntima e confiante. Convinha que Jesus, perfeito Deus e perfeito Homem, também orasse para nos dar exemplo de oração humilde, confiante, perseverante, já que Ele nos mandou orar sempre, sem desfalecer2, sem nos deixarmos vencer pelo cansaço, da mesma forma que respiramos incessantemente.

Jesus dirigiu súplicas ao Pai e a sua oração sempre foi escutada3. Os seus discípulos conheciam bem este poder da oração do Senhor. Depois da morte de Lázaro, a sua irmã, Marta, disse a Jesus: Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido; mas eu sei que tudo quanto pedires a Deus, Ele te concederá4. No momento em que ia ressuscitar Lázaro, Jesus, elevando os olhos ao céu, disse: Pai, dou‑te graças porque me tens escutado. Eu sei que me escutas sempre5. Pedirá por Pedro antes da Paixão: Simão, Simão, eis que Satanás vos procurou para vos joeirar como trigo; mas eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça, e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos. E Pedro converteu‑se depois da sua queda. Jesus rogou igualmente ao Pai pelos Apóstolos: Não peço que os tires do mundo, mas que os preserves do mal... Santifica‑os na verdade...7 Jesus sabe do abatimento em que os seus discípulos mergulharão poucas horas mais tarde, mas a sua oração os sustentará; obter‑lhes‑á forças para serem fiéis até darem a vida por Ele.

Nessa oração sacerdotal da Última Ceia, o Senhor pediu ao Pai por todos os que haviam de crer nEle ao longo dos séculos. Pediu por nós, e a sua graça não nos falta. “Cristo vivo continua a amar‑nos ainda hoje, agora, e apresenta‑nos o seu coração como a fonte da nossa redenção: Semper vivens ad interpellandum pro nobis – Ele vive sempre para interceder por nós (Hebr 7, 25). Esse coração que tanto amou os homens e que é tão pouco correspondido por eles, envolve‑nos a nós e envolve o mundo inteiro a cada momento”8.

Do Céu, Jesus Cristo, “sentado à direita do Pai”9, intercede por todos os que somos membros da sua Igreja, e “permanece sempre como nosso advogado e nosso mediador”10. Santo Ambrósio recorda‑nos que Jesus defende sempre a nossa causa diante do Pai e que a sua oração não pode deixar de ser atendida11; pede ao Pai que os méritos que adquiriu durante a sua vida terrena nos sejam aplicados continuamente.

Que alegria dá pensar que Cristo vive sempre para interceder por nós!12, que podemos unir as nossas orações e o nosso trabalho à sua oração. Por vezes, faltam à nossa oração a humildade, a confiança, a perseverança que lhe seriam necessárias; apoiemo‑la na oração de Cristo; peçamos‑lhe que nos inspire o modo conveniente de orar, de acordo com as intenções divinas; que apresente as nossas preces ao seu Pai, para que sejamos um com Ele por toda a eternidade13. Mais ainda, façamos de toda a nossa vida uma oferenda intimamente unida à de Jesus, por intermédio de Santa Maria: “Pai Santo! Pelo Coração Imaculado de Maria, eu Vos ofereço Jesus, vosso Filho muito amado, e me ofereço a mim mesmo nEle, com Ele e por Ele, por todas as suas intenções e em nome de todas as criaturas” 14. Assim, a nossa oração e todos os nossos atos, intimamente unidos aos de Jesus, adquirem um valor infinito.

II. O MESTRE ENSINOU‑NOS com o seu exemplo a entrar por caminhos de oração. Repetiu‑nos muitas vezes que devemos orar e não desfalecer.

Quando nos recolhemos para orar, aproximamo‑nos sedentos da fonte de águas vivas15. Ali encontramos a paz e as forças de que necessitamos para perseverar com alegria e otimismo no esforço por fazer da nossa vida uma imitação de Jesus Cristo.

Quanto bem fazemos à Igreja e ao mundo com a nossa oração! Já se disse que os que fazem verdadeira oração são como “as colunas do mundo”, sem as quais tudo desabaria. São João da Cruz ensinava com palavras muito bonitas que “é mais precioso diante de Deus e da alma, e traz mais proveito à Igreja, um pouquinho desse amor puro, ainda que pareça que não faz nada, do que todas essas outras obras juntas”16, que pouco ou nada valeriam à margem de Cristo. E é assim porque a oração nos torna fortes perante as dificuldades, nos ajuda a santificar o trabalho, a ser exemplares nos nossos afazeres, a tratar com cordialidade e apreço os que convivem ou trabalham conosco. Na oração descobrimos a urgência de levar Cristo aos ambientes em que estamos, urgência tanto mais premente quanto mais longe de Deus se encontram os que nos rodeiam.

Santa Teresa faz‑se eco das palavras de um “grande letrado”, para quem “as almas que não têm oração são como um corpo paralítico ou tolhido, que, embora tenha pés e mãos, não os pode mexer”17.

A oração é necessária para amarmos mais e mais o Senhor, para nunca nos separarmos dEle; sem ela, a alma cai na tibieza, perde a alegria e as energias necessárias para fazer o bem.

O diálogo íntimo de Jesus com Deus Pai foi contínuo: para pedir, para louvar, para agradecer; em todas as circunstâncias, Jesus dirige‑se ao Pai. Nós devemos aspirar ao mesmo: a procurar sempre o colóquio com Deus, especialmente nos momentos que dedicamos exclusivamente a falar com Ele, como na Missa e agora, nestes minutos de oração. Mas devemos procurá‑lo também ao longo do dia, nas situações que entretecem o nosso dia: ao começarmos e terminarmos o nosso trabalho ou estudo, enquanto esperamos o elevador, ao encontrarmos na rua uma pessoa conhecida. Aquela invocação cheia de ternura do Senhor – Abba, Pai! – estava constantemente nos seus lábios, com ela começava muitas vezes as suas ações de graças, os seus pedidos ou o seu louvor. Quanto bem fará à nossa alma chamar Deus assim: Pai!, com ternura e confiança, com amor!

Todos os momentos solenes da vida do Senhor foram precedidos pela oração. “O Evangelista sublinha que foi precisamente durante a oração de Jesus que se manifestou o mistério do amor do Pai e se revelou a comunhão das Três Pessoas Divinas. É na oração que aprendemos o mistério de Cristo e a sabedoria da Cruz. É na oração que nos apercebemos, em todas as suas dimensões, das necessidades reais dos nossos irmãos e das nossas irmãs de todo o mundo [...]; é na oração que ganhamos forças para a missão que Cristo compartilha conosco”18.

O Cura d’Ars costumava dizer que todos os males que muitas vezes nos preocupam na terra vêm precisamente de não orarmos ou de o fazermos mal19. Formulemos o propósito de dirigir‑nos com amor e confiança a Deus através da oração mental, das orações vocais e dessas breves fórmulas que são as jaculatórias, e teremos a alegria de viver junto do nosso Pai‑Deus, que é o único lugar onde vale a pena viver.

III. O ESPÍRITO SANTO ensina‑nos a procurar o trato íntimo com Jesus não só na oração mental como também na oração vocal, e até por meio dessas orações que aprendemos, quando pequenos, das nossas mães. Mesmo sendo onisciente enquanto Deus, Jesus, enquanto homem, deve ter aprendido dos lábios de sua Mãe a fórmula de muitas orações transmitidas de geração em geração no seio do povo hebreu, e deu‑nos exemplo de apreço pela oração vocal. Na sua última oração ao Pai, utilizou as palavras de um Salmo. E ensinou‑nos a oração por excelência, o Pai‑Nosso, em que se contém tudo o que devemos pedir.

oração vocal é uma manifestação da piedade do coração e ajuda‑nos a manter viva a presença de Deus durante o dia, e mesmo nesses momentos da oração mental em que estamos secos e não conseguimos pensar em nada: “[...] Quando não souberes ir mais longe, quando sentires que te apagas, se não puderes lançar ao fogo troncos olorosos, lança os ramos e a folhagem de pequenas orações vocais, de jaculatórias, que continuem alimentando a fogueira. – E terás aproveitado o tempo”20.

O texto das orações vocais – muitas de origem bíblica, outras litúrgicas ou compostas pelos santos – tem servido a inúmeros cristãos para louvar, para agradecer, para pedir ajuda e desagravar o Senhor. Quando recorremos a elas, vivemos de modo íntimo a Comunhão dos Santos e apoiamos a nossa fé na fé da Igreja21.

Para as rezarmos melhor e evitarmos a rotina, pode ajudar‑nos este conselho: “Procura recitá‑las com o mesmo amor com que o apaixonado fala pela primeira vez..., e como se fosse a última ocasião em que pudesses dirigir‑te ao Senhor”22.

(1) Lc 6, 12‑19; (2) cfr. Lc 16, 1; (3) cfr. São Tomás, Suma Teológica, III, q. 21, a. 4; (4) Jo 11, 21; (5) Jo 11, 42; (6) Lc 22, 32; (7) cfr. Jo 17, 15 e segs.; (8) João Paulo II, Homilia na Basílica do Sagrado Coração de Montmartre, Paris, 1‑VI‑1980; (9) Missal Romano, Símbolo niceno‑constantinopolitano; (10) São Gregório Magno, Comentário ao Salmo 5; (11) cfr. Santo Ambrósio, Comentário à Epístola aos Romanos, 8, 34; (12) Hebr 7, 25; (13) cfr. R. Garrigou‑Lagrange, O Salvador, pág. 351; (14) P. M. Sulamitis, Oferenda ao Amor misericordioso; (15) cfr. Sl 41, 2; (16) São João da Cruz, Cântico espiritual, Canção 29, 2 b; (17) Santa Teresa de Jesus, Castelo interior, Morada primeira, I, 6; (18) João Paulo II, Homilia, 13‑I‑1981; (19) Cura d’Ars, Sermão sobre a oração; (20) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 92; (21) cfr. G. Chevrot, En lo secreto, Rialp, Madrid, 1960, págs. 100‑101; (22) Josemaría Escrivá, Forja, n. 432.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


10 de Setembro 2019

A SANTA MISSA

23ª Semana do Tempo Comum – Terça-feira 
Cor: Verde

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1ª Leitura: Cl 2, 6-15

“Deus vos trouxe para a vida, junto com Cristo,
e a todos nós perdoou os pecados”
 

Leitura da Carta de São Paulo apóstolo aos Colossenses

Irmãos: 6 Assim como aceitastes a Cristo Jesus como Senhor, assim continuai a guiar-vos por ele: 7 enraizados nele e edificados sobre ele, apoiados na fé que vos foi ensinada, dando-lhe muitas ações de graças. 8 Estai alerta, para que ninguém vos enrede com sua filosofia e com doutrina falsa, baseando-se em tradição humana e remontando às forças elementares do mundo, sem se fundamentar em Cristo. 9 Pois nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. 10 Dele também vós estais repletos, pois ele é a Cabeça de todas as forças e de todos os poderes. 11 Nele, vós também recebestes uma circuncisão, não feita por mão humana, mas uma circuncisão que é de Cristo, pela qual renunciais ao corpo perecível. 12 Com Cristo fostes sepultados no batismo; com ele também fostes ressuscitados por meio da fé no poder de Deus, que ressuscitou a Cristo dentre os mortos. 13 Ora, vós estáveis mortos por causa dos vossos pecados, e vossos corpos não tinham recebido a circuncisão, até que Deus vos trouxe para a vida, junto com Cristo, e a todos nós perdoou os pecados. 14 Existia contra nós uma conta a ser paga, mas ele a cancelou, apesar das obrigações legais, e a eliminou, pregando-a na cruz; 15 Ele despojou as autoridades e os poderes sobre-humanos e os expôs publicamente em espetáculo, levando-os em cortejo triunfal.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 144(145), 1-2.8-9.10-11(R. cf. 9a)

R. O Senhor é muito bom para com todos.

Ó meu Deus, quero exaltar-vos, ó meu Rei, *
e bendizer o vosso nome pelos séculos.
Todos os dias haverei de bendizer-vos, *
hei de louvar o vosso nome para sempre.      R.

8 Misericórdia e piedade é o Senhor, *
ele é amor, é paciência, é compaixão.
9 O Senhor é muito bom para com todos, *
sua ternura abraça toda criatura.       R.

10 Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem, *
e os vossos santos com louvores vos bendigam!
11 Narrem a glória e o esplendor do vosso reino *
e saibam proclamar vosso poder!       R. 

Evangelho: Lc 6,12-19 

 “Passou a noite toda em oração.
Escolheu doze dentre os discípulos, aos quais deu o nome de apóstolos”. 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

12 Naqueles dias, Jesus foi à montanha para rezar. E passou a noite toda em oração a Deus. 13 Ao amanhecer, chamou seus discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de apóstolos: 14 Simão, a quem impôs o nome de Pedro, e seu irmão André; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; 15 Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelota; 16 Judas, filho de Tiago, e Judas Iscariotes, aquele que se tornou traidor. 17 Jesus desceu da montanha com eles e parou num lugar plano. Ali estavam muitos dos seus discípulos e grande multidão de gente de toda a Judeia e de Jerusalém, do litoral de Tiro e Sidônia. 18 Vieram para ouvir Jesus e serem curados de suas doenças. E aqueles que estavam atormentados por espíritos maus também foram curados. 19 A multidão toda procurava tocar em Jesus, porque uma força saía dele, e curava a todos.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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09 de Setembro 2019

A SANTA MISSA

23ª Semana do Tempo Comum – Segunda-feira 
Cor: Verde

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1ª Leitura: Cl 1,24_2,3

“Tornei-me ministro da Igreja para vos transmitir
o mistério escondido por séculos e gerações”

Leitura da Carta de São Paulo aos Colossenses

Irmãos, 1,24 alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar na minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é a Igreja. 25 A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude:  26 o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos. 27 A estes Deus quis manifestar como é rico e glorioso entre as nações este mistério: a presença de Cristo em vós, a esperança da glória. 28 Nós o anunciamos, admoestando a todos e ensinando a todos, com toda sabedoria, para a todos tornar perfeitos em sua união com Cristo. 29 Para isso eu me esforço com todo o empenho, sustentado pela sua força que em mim opera. 2,1 Quero pois que saibais que luta difícil sustento por vós, pelos fiéis de Laodiceia e por tantos outros, que não me conhecem pessoalmente, 2 para que sejam consolados e se mantenham unidos na caridade, para que eles cheguem a entender profunda e plenamente o mistério de Deus Pai e de Cristo Jesus, 3 no qual estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 61(62), 6-7.9(R. 8a)

R. A minha glória e salvação estão em Deus.

Só em Deus a minha alma tem repouso, *
porque dele é que me vem a salvação!
Só ele é meu rochedo e salvação, *
a fortaleza, onde encontro segurança! R.

9 Povo todo, esperai sempre no Senhor, +
e abri diante dele o coração: *
nosso Deus é um refúgio para nós! R. 

Evangelho: Lc 6,6-11 

 “Observavam, para ver se Jesus curaria em dia de sábado”.  

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

Aconteceu num dia de sábado que, 6 Jesus entrou na sinagoga, e começou a ensinar. Aí havia um homem cuja mão direita era seca. 7 Os mestres da Lei e os fariseus o observavam, para ver se Jesus iria curá-lo em dia de sábado, e assim encontrarem motivo para acusá-lo. 8 Jesus, porém, conhecendo seus pensamentos, disse ao homem da mão seca: ‘Levanta-te, e fica aqui no meio.’ Ele se levantou, e ficou de pé. 9 Disse-lhes Jesus: ‘Eu vos pergunto: O que é permitido fazer no sábado: o bem ou o mal, salvar uma vida ou deixar que se perca?’ 10 Então Jesus olhou para todos os que estavam ao seu redor, e disse ao homem: ‘Estende a tua mão.’ O homem assim o fez e sua mão ficou curada. 11 Eles ficaram com muita raiva, e começaram a discutir entre si
sobre o que poderiam fazer contra Jesus.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Estende a tua mão

TEMPO COMUM. VIGÉSIMA TERCEIRA SEMANA. SEGUNDA‑FEIRA

– O Senhor não pede coisas impossíveis. Dá‑nos a graça para sermos santos.
– Lutar no pouco, naquilo que está ao nosso alcance, no que nos aconselham na direção espiritual.
– Docilidade ao que o Senhor nos pede cada dia.

I. JESUS ENTROU NUM SÁBADO na sinagoga, onde havia um homem que tinha a mão seca. São Lucas especifica que era a direita 1. E os escribas e os fariseus tinham os olhos postos nEle para ver se curava em dia de sábado. A interpretação farisaica da Lei só permitia aplicar remédios médicos nesse dia dedicado ao Senhor se houvesse perigo de morte; e não era esse o caso daquele homem, que fora à sinagoga com a esperança posta em Jesus.

O Senhor, que conhecia bem os pensamentos e as intrigas daqueles que amavam mais a letra da Lei do que o Senhor da Lei, disse ao homem da mão seca: Levanta‑te e põe‑te no meio. Ele, levantando‑se, pôs‑se no meio. E Jesus, percorrendo com o olhar todos os que estavam à sua volta, disse ao homem: Estende a tua mão. E esse homem, apesar das suas experiências anteriores, esforçou‑se por fazer o que o Senhor lhe dizia, a sua mão ficou sã. Curou‑se graças à força divina das palavras de Cristo, mas também pela sua docilidade em levar a cabo o esforço que lhe era pedido.

Assim são os milagres da graça: perante defeitos que nos parecem insuperáveis ou perante objetivos apostólicos que se nos afiguram excessivamente ambiciosos ou difíceis, o Senhor pede essa mesma atitude: confiança nEle, manifestada em fazer o que está ao nosso alcance e o que o Mestre nos insinua na intimidade da oração ou por meio dos conselhos recebidos na direção espiritual.

Alguns Padres da Igreja viram nas palavras do Senhor: “Estende a tua mão”, uma chamada à prática das virtudes. “Estende‑a muitas vezes – comenta Santo Ambrósio –, favorecendo o teu próximo; defende de qualquer injúria os que vejas sofrer sob o peso da calúnia, estende também a tua mão ao pobre que te pede; estende‑a ao Senhor, pedindo‑lhe o perdão dos teus pecados: é assim que se deve estender a mão, e é assim que ela fica curada”2, isto é, realizando pequenos atos daquelas virtudes que desejamos adquirir, dando pequenos passos em direção às metas que queremos atingir. Se não nos faltar empenho, a graça realizará maravilhas com esses esforços que parecem valer pouco.

As virtudes forjam‑se nas situações do dia‑a‑dia, a santidade lavra‑se pela fidelidade em ações que de per si seriam irrelevantes, se não estivessem continuamente vivificadas pela graça.

“Cada dia um pouco mais – como se se tratasse de talhar uma pedra ou uma madeira –, é preciso ir limando asperezas, tirando defeitos da nossa vida pessoal, com espírito de penitência, com pequenas mortificações [...]. Depois, Jesus Cristo vai completando o que falta”3. É Ele quem realmente realiza a obra da santidade e quem move as almas, mas quer contar com a nossa colaboração, pela obediência ao que nos indica, ainda que pareça insignificante, como estender a mão. O nosso poder está no que é pequeno.

II. A TIBIEZA faz com que pareçam irrealizáveis os menores esforços: de um grão de areia faz uma montanha. O tíbio pensa que, ainda que seja o Senhor quem lhe pede para estender a mão, ele não pode fazê‑lo. E, conseqüentemente, não a estende... e não se cura. Acostuma‑se à sua mediania, convivendo com ela como se não houvesse outros horizontes que o da sua mão seca.

Pelo contrário, o amor não se conforma com as limitações pessoais, e, apoiado na graça, vai limando os defeitos e forjando as virtudes. Uma gota de água permeia pouco a pouco a pedra e acaba por perfurá‑la, a chuva miúda fecunda a terra sedenta, e assim também as boas obras repetidas criam o bom hábito, a virtude sólida, conservam‑na e aumentam‑na4. A caridade em ação impele a traduzi‑la no esforço constante por mexer a mão, numa “fisioterapia” talvez demorada, mas em que se persevera porque continua a ecoar nos ouvidos a ordem do Senhor: Estende a tua mão.

Há uma condição indispensável para essa perseverança no exercício a longo prazo: querer. Lutar por vencer os defeitos, por adquirir virtudes que nos são muito necessárias, é querer lutar, ao menos ter desejos de querer lutar, em movimentos mínimos da vontade que pouco a pouco darão lugar a outros de maior amplitude. Por isso as personalidades fracas definham não só humanamente, mas também no terreno da luta espiritual, que aliás comanda o resto da vida.

“Vontade. É uma característica muito importante. Não desprezes as pequenas coisas, porque, através do contínuo exercício de negar e te negares a ti próprio nessas coisas – que nunca são futilidades nem ninharias –, fortalecerás, virilizarás, com a graça de Deus, a tua vontade, para seres, em primeiro lugar, inteiro senhor de ti mesmo. E depois, guia, chefe, líder! – que prendas, que empurres, que arrastes, com o teu exemplo e com a tua palavra e com a tua ciência e com o teu império”5.

“Dizes que sim, que queres. – Está bem. – Mas... queres como um avaro quer o seu ouro, como uma mãe quer ao seu filho, como um ambicioso quer as honras, ou como um pobre sensual quer o seu prazer? – Não? Então não queres”6.

III. AQUELE HOMEM da mão tolhida foi dócil às palavras de Jesus: pôs‑se no meio de todos e depois estendeu a mão, tal como o Senhor lhe havia pedido. A ação do Espírito Santo na intimidade da alma sugere continuamente esses pequenos esforços que nos ajudam eficazmente a preparar‑nos para novas graças, numa cadeia ininterrupta. Quando um cristão se esforça por todos os meios por secundar essas sugestões para que as virtudes se desenvolvam na sua vida – afastando‑se das ocasiões de pecar, tirando os obstáculos, abafando decididamente uma tentação ainda nos começos –, Deus envia‑lhe novas ajudas para fortalecer essas virtudes incipientes e oferece‑lhe os dons do Espírito Santo, que aperfeiçoam esses hábitos formados pela graça.

O Senhor quer ver‑nos sempre animados de desejos eficazes e concretos de ser santos; na vida interior, não bastam as idéias gerais e os propósitos vagos. A docilidade à voz do Senhor não é simples boa vontade sentimental e fugaz, mas um tecido maravilhoso de pequenas obras de correspondência.

“Viste como levantaram aquele edifício de grandeza imponente? – Um tijolo, e outro. Milhares. Mas, um a um. – E sacos de cimento, um a um. E blocos de pedra, que são bem pouco ante a mole do conjunto. – E pedaços de ferro. – E operários trabalhando, dia a dia, as mesmas horas...Viste como levantaram aquele edifício de grandeza imponente?... À força de pequenas coisas!”7

Quando se fala ou se escreve sobre santidade, é freqüente sublinhar alguns aspectos chamativos: as grandes provas, as circunstâncias extraordinárias, o martírio; como se a vida cristã vivida com todas as suas conseqüências consistisse forçosamente nesses momentos episódicos e fosse tarefa destinada apenas a personalidades de envergadura excepcional; e como se o Senhor se conformasse, no caso da maioria das pessoas, com uma vida cristã de segunda classe. Nós, pelo contrário, temos de meditar profundamente que o Senhor nos chama a todos à santidade: a todos os que não teremos o nosso nome inscrito no livro de ouro da história8: chama a mãe de família aflita porque mal tem tempo para arrumar a casa, chama o empresário, o estudante, o carteiro, o funcionário público de uma repartição de bairro, o homem que cuida de uma banca de verduras. O Espírito Santo diz‑nos a todos: Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação9. E trata‑se de uma vontade eficaz, porque Deus conta com todas as circunstâncias pelas quais vai passar uma vida, por mais modesta que seja, e dá a todos as graças necessárias para se comportarem santamente.

“Exemplo sublime para todos nós desta docilidade é a Santíssima Virgem, Maria de Nazaré, que pronunciou o “faça‑se” da sua disponibilidade total aos desígnios de Deus, de modo que o Espírito Santo pôde começar nEla a realização concreta do plano de salvação”10. Pedimos hoje à nossa Mãe Santa Maria que nos ajude a ser cada vez mais dóceis ao Espírito Santo, crescendo nas virtudes pela luta enérgica nas pequenas metas de cada dia.

(1) Lc 6, 6‑11; (2) Santo Ambrósio, Comentário ao Evangelho de São Lucas; (3) Josemaría Escrivá, Forja, n. 403; (4) cfr. R. Garrigou‑Lagrange, Las tres edades de la vida interior, vol. I, pág. 532; (5) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 19; (6) ib., n. 316; (7) ib., n. 823; (8) cfr. Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 174; (9) 1 Tess 4, 3; (10) João Paulo II, Alocução, 30‑V‑1981.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


São Pedro Claver

09 de Setembro

São Pedro Claver

Este santo, nascido em Verdú, no principado da Catalunha, no dia 26 de junho de 1580, uns dizem que seus pais eram da mais alta nobreza, outros que não passavam de camponeses. Mas todos concordam em que eram muito virtuosos e receberam aquele filho como resposta às suas insistentes preces, prometendo consagrá-lo ao serviço de Deus. Também se diz que o pequeno Pedro “amava a virtude antes ainda de conhecê-la”.

Alma predestinada, quando chegou à época de continuar seus estudos em Barcelona, no colégio dos jesuítas, Pedro entrou para a Congregação Mariana, a fim de obter a proteção de sua amada Senhora. Encontrando entre os filhos de Santo Inácio aquilo que sua alma procurava, pediu sua admissão na Companhia, sendo enviado a Tarragona para o noviciado.

Desde o primeiro dia mostrou determinação de ser Santo e de fazer-se missionário, escrevendo em seu diário: “Quero passar toda minha vida trabalhando pelas almas, para salvá-las e morrer por elas”.

Foi então que, enviado a Palma de Maiorca para estudar filosofia, encontrou Santo Afonso Rodrigues. Diz um hagiógrafo que, “apenas cruzou o umbral do convento, o porteiro caiu de joelhos diante dele, beijou-lhe os pés e os cobriu de lágrimas. Turbado e confuso, o estudante ajoelhou-se também e, estreitando nos braços o leigo, o abraçou ternamente”. Interiormente esclarecidos sobre os méritos um do outro, eles se olharam com mútuo respeito, com a mesma confiança, o mesmo amor”. Isso porque o santo porteiro tinha visto em êxtase as muitas almas que seu discípulo deveria ganhar para o céu na América.

Em Santa Fé de Bogotá, São Pedro concluiu seus estudos e foi ordenado sacerdote, sendo designado para o colégio de Cartagena, onde deveria ficar por mais de quarenta anos.

Cartagena de las Índias, na atual Colômbia, era então um dos mais importantes centros comerciais espanhóis no Novo Mundo e principal porto negreiro. Nele chegavam mais de 10 mil escravos por ano, que eram confinados em verdadeiros pardieiros até serem adquiridos por algum senhor. Sua miséria material só encontrava símile na miséria moral.

Aí São Pedro Claver começou seu apostolado com os inúmeros escravos vindos das costas da África.O santo, ao pronunciar seus votos de profissão, acrescentou um quarto, heróico, de se tornar o escravo dos escravos.

Por isso, foi a eles que Pedro Claver dedicou-se desde o início de seu apostolado, auxiliando o Pe. Sandoval, que já fazia esse trabalho. Aos poucos tornou-se pai, consolador, enfermeiro e evangelizador desse povo sofredor. Para ele mendigava nas ruas de Cartagena sem o menor respeito humano, distribuindo depois, de acordo com as necessidades de cada um, o que tinha angariado.

Depois visitava-os nas casas de seus donos, para cuidar da salvação de suas almas e do cuidado com seus corpos. Cerca de dez a doze mil escravos entravam cada ano em Cartagena, e Pedro Claver os instruía na santa religião, batizando-os, e velando para que conservassem as práticas religiosas.

Apesar de sua imensa atividade em prol do próximo, sua regularidade na vida conventual não sofria detrimento. Era dos mais observantes e modelo para os outros.

Nos últimos quatro anos de sua vida o santo foi atacado pelo mal de Parkinson, ficando com pés e mãos semi-paralisados. Mesmo assim pedia que o carregassem até o confessionário.

São Pedro Claver faleceu em 8 de setembro de 1654, aos 74 anos, sendo declarado por São Pio X especial patrono de todas as missões entre os negros.

Fonte: https://ipco.org.br