São Martinho de Lima 

03 de Novembro

São Martinho de Lima 

São Martinho de Lima, ou de Porres, cuja memória celebramos hoje, nasceu em 9 de dezembro de 1579, em Lima, Peru. Filho de João de Porres, nobre espanhol descendente de cruzados, e de Ana Velásquez, negra liberta, aprendeu desde cedo a humildade e a piedade que agradam a Deus e são próprias dos santos. Aos 15 anos de idade, depois de um tempo como aprendiz de um médico cirurgião, o jovem mestiço decidiu entrar num convento dominicano, o de Nossa Senhora do Rosário, mas entrou na qualidade de doado, ou seja, como se fosse um escravo — serviço este prestado de corpo e alma pelo humilde Martinho que, ao servir seus irmãos nos trabalhos mais humilhantes, amou de todo o coração a Deus. Ao seu pai de espírito altivo, porém, não agradou o serviço tão modesto e submisso do filho, o que o fez intervir na situação para que Martinho fosse admitido como irmão leigo; deixada pelos superiores da ordem a decisão ao próprio jovem Martinho, não hesitou em continuar a imitar o Senhor que se fez servo por amor a nós.

Depois disso, entretanto, enquanto um simples encarregado da enfermaria do convento e recebendo dos enfermos todo tipo humilhações, as virtudes do cachorro mulato, como foi xingado certa vez na enfermaria, manifestaram-se de forma tão patente que sua fama ultrapassou os limites do convento, fazendo com que seus superiores se vissem na obrigação de o aceitar como irmão leigo pela profissão dos votos. Sempre disposto ao trabalho e muito mais à oração, além de cuidar da enfermaria e de tantas outras atividades no convento, dedicava-se à oração de seis a oito horas por dia; ademais, as obras de caridade a que se dedicava contavam sempre com a ajuda prodigiosa de Deus, que o fazia atravessar paredes e aparecer repentinamente em diversos lugares. E da luta contra o inimigo de Deus e nosso não ficou isento, sendo perseguido sem descanso por todo tipo de batalhas, até a hora de sua morte, aos 60 anos de idade.

Um dos mais milagrosos santos do mundo, ele também foi o primeiro santo da ascendência africana na América.  Sua história e milagres tornaram este humilde frade peruano conhecido em todo o mundo. Embora ele nunca tenha deixado o Peru depois de se tornar um frade, os milagres de San Martín de Porres ocorreram em diferentes partes do mundo.

Durante o processo de sua canonização, as histórias dos milagres de São Martinho de Lima foram coletadas. Entre os milagres mencionados estão:

São Martinho de Porres tornou-se famoso pelas histórias que atribuíram o dom da bilocação, a capacidade de estar em dois lugares geográficos ao mesmo tempo.

Suas aparências foram relatadas no México, África, China e Japão. Ele foi visto vindo para consolar ou curar os pacientes moribundos enquanto ele estava trancado em sua cela. São Martinho também foi visto entrando e saindo de lugares onde as portas permaneceram fechadas.

 

Algumas histórias dos milagres de São Martinho atribuem a ele que as plantas germinem antes do tempo. Também é dito que ele sabia como se comunicar com animais e que obedecessem seus comandos. Em suas imagens também é representado com um cachorro, um gato e um rato, representando o milagre de alimentar os três animais no mesmo prato.

Um dos milagres mais populares de São Martinho é o dos camundongos.  Sendo, numa ocasião, invadido o convento por ratos que atacaram as provisões, vestuário e até os paramentos da sacristia, ordenaram ao irmão Martinho que os exterminasse. Cruelmente solicitado entre a obediência e a compaixão, serviu-se de um expediente. Tendo capturado um dos delinquentes, fez-lhe este discurso: “Irmãozinho rato, vai procurar os teus semelhantes e diz-lhes que venham cá. Eu encarregar-me-ei da vossa alimentação, se deixardes de causar estragos na casa”. Depois pôs no chão todos os cestos e cabazes que pôde juntar. Bem depressa, se viram os ratos e ratinhos que por si mesmos se metiam á. O irmão levou-os ao fundo do jardim onde os pôs em liberdade. Duma e doutra parte o contrato foi mantido: ratos e ratinhos não voltaram mais ao convento e, de tempos a tempos, o irmão ia levar-lhes de comer.

São Martinho também teve o dom da cura. Ele costumava dizer: "Eu te medico, Deus te cura". Às vezes, a cura era instantânea e outras ocasiões, bastava a sua presença para que os doentes terminais começassem a se recuperar.

Ele usou em seus remédios uma mistura de tradições européias, indígenas e africanas. Ele próprio cultivou as plantas que ele usava em seu jardim. No entanto, suas curas não eram sempre "convencionais", mas ele também usava métodos simbólicos, como quando ele aplicou uma sola de sapato no braço de um sapateiro para curá-la de uma infecção. São Martinho também curou pela imposição das mãos. Quando o bispo de La Paz sofreu uma grave doença que o estava matando, o santo colocou a mão no peito e curou-o.

De acordo com os testemunhos dos frades que viveram com ele, São Martinho levitou quando orou com grande devoção. Quando estava nesse estado, não via ou ouvia.

Enquanto ele ainda estava vivo, ele era conhecido como um homem santo. Quando Martinho morreu seu corpo foi exposto para que as pessoas pudessem vê-lo. Dizem que seu hábito foi dividido em pedaços como uma relíquia. Essas relíquias e a fé das pessoas eram veículos de milagres após a morte de San Martín.

Porque havia tantos testemunhos de milagres, seu corpo foi exumado depois de 25 anos. Eles o acharam intacto e com o cheiro de perfume que é atribuído aos santos. Mais de um século depois, São Martinho de Lima foi canonizado pela Igreja Católica.

São João XXIII, ao canoniza-lo em 1962, disse: “Que o exemplo de Martinho ensine a muitos como é feliz e maravilhoso seguir os passos e obedecer aos mandamentos divinos de Cristo!”.

Fontes: https://padrepauloricardo.org
https://www.aboutespanol.com


Todos os Santos

– Pessoas que se santificaram na vida corrente.
– Todos nós fomos chamados à santidade.
– A caridade, característica de todos os que alcançaram a bem-aventurança.

A Igreja convida-nos hoje a levantar o pensamento e a dirigir a nossa oração para essa imensa multidão de homens e mulheres que seguiram o Senhor aqui na terra e se encontram já com Ele no Céu. Esta solenidade é celebrada em toda a Igreja desde o século VIII.

I. ALEGREMO-NOS TODOS no Senhor, celebrando a festa em honra de todos os santos. Conosco alegram-se os anjos e glorificam o Filho de Deus1.

A festa de hoje recorda-nos e propõe à nossa meditação alguns elementos fundamentais da nossa fé cristã, dizia o Papa João Paulo II. O centro da Liturgia converge sobretudo para os grandes temas da Comunhão dos Santos, do destino universal da salvação, da fonte de toda a santidade que é o próprio Deus, da esperança na futura e indestrutível união com o Senhor, da relação existente entre a salvação e o sofrimento, e da bem-aventurança que caracteriza os que se encontram nas condições descritas por Jesus. Mas o ponto-chave da festa que celebramos hoje “é a alegria, como rezamos na antífona de entrada: Alegremo-nos todos no Senhor, celebrando a festa em honra de todos os santos; e trata-se de uma alegria genuína, límpida, corroborante, como a de quem se encontra numa grande família onde sabe que mergulha as suas próprias raízes...”2 Essa grande família é a dos santos: os do Céu e os da terra.

A Igreja, nossa Mãe, convida-nos hoje a pensar naqueles que, como nós, passaram por este mundo lutando com dificuldades e tentações parecidas às nossas, e venceram.

É essa grande multidão que ninguém poderia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, como nos recorda a primeira Leitura da Missa3. Todos estão marcados na fronte, revestidos de vestes brancas, lavadas no sangue do Cordeiro4. A marca e as vestes são símbolo do Batismo, que imprime no homem, para sempre, o caráter da pertença a Cristo, e a graça renovada e aumentada pelos sacramentos e pelas boas obras.

Muitos santos – de todas as idades e condições – foram reconhecidos como tais pela Igreja, e todos os anos os recordamos nalgum dia concreto e os tomamos por intercessores. Mas hoje festejamos e pedimos ajuda a essa multidão incontável que alcançou o Céu depois de ter passado por este mundo semeando amor e alegria quase sem terem consciência disso; recordamos aqueles que, enquanto estiveram entre nós, se ocuparam talvez num trabalho semelhante ao nosso: empregados de escritório, comerciantes, professores, secretárias, trabalhadores da cidade e do campo... Lutaram com dificuldades parecidas às nossas e tiveram que recomeçar muitas vezes, como nós procuramos fazer; e a Igreja não os menciona nominalmente no calendário dos Santos. À luz da fé, todos eles formam “um grandioso panorama: o de tantos e tantos fiéis leigos – freqüentemente inadvertidos ou mesmo incompreendidos; desconhecidos pelos grandes desta terra, mas olhados com amor pelo Pai –, homens e mulheres que, precisamente na vida e na atividade de cada jornada de trabalho, são os operários incansáveis que trabalham na vinha do Senhor, são os humildes e grandes artífices – pelo poder da graça, certamente – do crescimento do Reino de Deus na história”5. São, em resumo, aqueles que souberam, “com a ajuda de Deus, conservar e aperfeiçoar na sua vida a santificação que receberam”6 no Batismo.

Todos fomos chamados a alcançar a plenitude do Amor, a lutar contra as nossas paixões e tendências desordenadas, a recomeçar sempre que preciso, porque “a santidade não depende do estado – solteiro, casado, viúvo, sacerdote – mas da correspondência pessoal à graça que a todos nos é concedida”7.

A Igreja recorda-nos que o trabalhador que todas as manhãs empunha a sua ferramenta ou caneta, ou a mãe de família que se ocupa nas lides domésticas, no lugar que Deus lhes designou, devem santificar-se cumprindo fielmente os seus deveres8.

É consolador pensar que no Céu, contemplando o rosto de Deus, existem pessoas com as quais convivemos há algum tempo aqui na terra, e às quais continuamos unidos por uma profunda amizade e afeto. Prestam-nos muita ajuda do Céu, e lembramo-nos delas com muita alegria e recorremos à sua intercessão.

Hoje, fazemos nossa a oração de Santa Teresa, que ela mesma escutará: “Ó almas bem-aventuradas, que tão bem soubestes aproveitar e comprar herança tão deleitosa...! Ajudai-nos, pois estais tão perto da fonte; obtei água para os que aqui perecemos de sede”9.

II. NA SOLENIDADE DE HOJE, o Senhor concede-nos a alegria de festejarmos a cidade do céu, a Jerusalém do alto, nossa mãe, onde os nossos irmãos, os santos, Vos cercam e cantam eternamente o vosso louvor. Para essa cidade caminhamos pressurosos, peregrinando na penumbra da fé, alegres por saber que estão na vossa luz tantos membros da Igreja que nos dais ao mesmo tempo como exemplo e ajuda inestimável10.

Nós somos ainda a Igreja peregrina que se dirige para o Céu; e, enquanto caminhamos, temos de reunir esse tesouro de boas obras com que um dia nos apresentaremos a Deus. Ouvimos o convite do Senhor: Se alguém quer vir após Mim... Todos fomos chamados à plenitude da vida em Cristo. O Senhor chama-nos numa ocupação profissional, para que ali o encontremos, realizando as nossas tarefas com perfeição humana e, ao mesmo tempo, com sentido sobrenatural: oferecendo-as a Deus, vivendo a caridade com os nossos colegas, praticando a mortificação de um trabalho perfeitamente terminado, procurando já aqui na terra o rosto de Deus, a quem um dia veremos cara a cara.

Esta contemplação – trato de amizade com o nosso Pai-Deus – pode e deve ser adquirida através das coisas de todos os dias, que se repetem constantemente, numa aparente monotonia, pois “para amar a Deus e servi-lo, não é necessário fazer coisas estranhas. Cristo pede a todos os homens sem exceção que sejam perfeitos como seu Pai celestial é perfeito (Mt 5, 48). Para a grande maioria dos homens, ser santo significa santificar o seu trabalho, santificar-se no seu trabalho e santificar os outros com o seu trabalho, e assim encontrar a Deus no caminho da vida”11.

O que fizeram essas mães de família, esses intelectuais ou operários..., para estarem no Céu? Porque nós também queremos alcançá-lo; é a única coisa que, de modo absoluto, nos importa. Pois bem, procuraram santificar as pequenas realidades diárias. Isso é o que temos de fazer: ganhar o Céu todos os dias com as coisas que temos entre mãos, entre as pessoas que Deus colocou ao nosso lado.

III. MUITOS DOS QUE AGORA contemplam a face de Deus não tiveram ocasião de realizar grandes façanhas aqui na terra, mas cumpriram o melhor possível os seus deveres diários, os seus pequenos deveres diários. Tiveram erros e faltas de paciência, foram vencidos aqui e acolá pela preguiça, tiveram reações de soberba, cometeram talvez pecados graves. Mas amaram a Confissão, e arrependeram-se, e recomeçaram. Amaram muito e tiveram uma vida com frutos, porque souberam sacrificar-se por Cristo.

Nunca pensaram que eram santos, muito pelo contrário: sempre pensaram que iam precisar em grande medida da misericórdia divina. Todos conheceram, em maior ou menor grau, a doença, a tribulação, as horas difíceis em que tudo lhes custava; sofreram fracassos e tiveram êxitos. Choraram talvez, mas conheceram e levaram à prática as palavras do Senhor, que hoje a Liturgia da Missa nos recorda: Vinde a mim todos os que trabalhais e estais sobrecarregados, e eu vos aliviarei12. Apoiaram-se no Senhor, foram vê-lo e estar com Ele muitas vezes junto do Sacrário; não deixaram de ter um encontro diário com Ele.

Os bem-aventurados que já alcançaram o Céu são muito diferentes entre si, mas tiveram nesta terra um distintivo comum: viveram a caridade com os que os rodeavam. O Senhor disse: Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros13. Esta é a característica dos santos, daqueles que já estão na presença de Deus.

Encontramo-nos a caminho do Céu e muito necessitados da misericórdia do Senhor, que é grande e nos sustém dia a dia. Temos que pensar muitas vezes nisso e nas graças que recebemos continuamente, não só nos momentos de tentação ou de desânimo, mas a cada instante.

Uma multidão incontável de amigos nos espera no Céu. Eles “podem prestar-nos ajuda, não só porque a luz do seu exemplo brilha sobre nós e torna mais fácil ver o que temos de fazer, mas também porque nos socorrem com as suas orações, que são fortes e sábias, ao passo que as nossas são frágeis e cegas. Quando numa noite de novembro contemplardes o firmamento constelado de estrelas, pensai nos inumeráveis santos do Céu, que estão dispostos a ajudar-nos...”14 Ficaremos cheios de esperança nos momentos difíceis.

No Céu espera-nos a Virgem, para estender-nos a mão e levar-nos à presença do seu Filho e de tantos seres queridos que ali nos aguardam.

(1) Antífona de entrada da Missa do dia 1º de novembro; (2) João Paulo II, Homilia, 10-I-1980; (3) Apoc 7, 9; (4) cfr. Apoc 7, 3-9; (5) São João Paulo II, Exort. Apost. Christifideles laici, 30-XI-1988, 17; (6) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 40; (7) Josemaría Escrivá,Amar a Igreja, pág. 67; (8) cfr. João Paulo II, Exort. Apost. Christifideles laici; (9) Santa Teresa, Exclamações, 13, 4; (10) cfr. Missal Romano, Prefácio da Missa; (11) São Josemaría Escrivá, Questões atuais do cristianismo, n. 55; (12) Mt 11, 28; (13) Jo 13, 34-35; (14) R. A. Knox, Sermão na festa de Todos os Santos, 1-XI-1950.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Comemoração de todos os fiéis defuntos

– O Purgatório, lugar de purificação e vestíbulo do Céu.
– Podemos ajudar muito e de muitas maneiras as almas do Purgatório. Os sufrágios.
– A nossa própria purificação nesta vida. Desejar ir para o Céu sem passar pelo Purgatório.

Depois da morte, não se rompem os laços com os que foram nossos companheiros de caminho. Hoje dedicamos as nossas orações a todos aqueles que ainda se estão purificando das marcas que os seus pecados deixaram nas suas almas. Hoje os sacerdotes podem celebrar três Missas em sufrágio por aqueles que nos precederam. Os fiéis podem lucrar indulgências e aplicá-las pelos defuntos.

I. NESTE MÊS DE NOVEMBRO, a Igreja convida-nos com maior insistência a rezar e a oferecer sufrágios pelos fiéis defuntos do Purgatório. Com esses irmãos nossos, que “também participaram da fragilidade própria de todo o ser humano, sentimos o dever – que é ao mesmo tempo uma necessidade do coração – de oferecer-lhes a ajuda afetuosa da nossa oração, a fim de que qualquer eventual resíduo de debilidade humana, que ainda possa adiar o seu encontro feliz com Deus, seja definitivamente apagado”1.

No Céu, não pode entrar nada de impuro, nem quem cometa abominação ou mentira, mas somente aqueles que estão inscritos no livro da vida2. A alma desfeada pelas faltas e pecados veniais não pode entrar na morada de Deus: para chegar à eterna bem-aventurança, tem de estar limpa de toda a culpa. O Céu não tem portas – escreve Santa Catarina de Gênova –, e quem quiser entrar pode fazê-lo, porque Deus é todo misericórdia e permanece com os braços abertos para admiti-lo na sua glória. No entanto, o ser de Deus é tão puro que, se uma alma nota em si o menor vestígio de imperfeição, e ao mesmo tempo vê que o Purgatório foi estabelecido para apagar tais manchas, introduz-se nele e considera um grande favor que lhe seja permitido limpar-se dessa forma. O maior sofrimento dessas almas é o de terem pecado contra a bondade divina e o de não terem purificado a alma nesta vida3. O Purgatório não é um inferno atenuado, mas o vestíbulo do Céu, onde a alma se purifica.

E se não se expiou na terra, são muitas as realidades que a alma deve limpar ali: pecados veniais, que adiam tanto a união com Deus; faltas de amor e de delicadeza com o Senhor; a inclinação para o pecado, adquirida na primeira queda e aumentada pelos pecados pessoais... Além disso, todos os pecados e faltas já perdoados na Confissão deixam na alma uma dívida, um desequilíbrio que tem de ser reparado nesta vida ou na outra. E é possível que as disposições resultantes dos pecados já perdoados continuem enraizadas na alma à hora da morte, se não foram eliminadas por uma purificação constante e generosa nesta vida. Ao morrer, a alma percebe-as com absoluta clareza, e terá, pelo desejo de estar com Deus, um anelo imenso de livrar-se delas. O Purgatório apresenta-se então como a oportunidade única de consegui-lo.

Nesse lugar de purificação, experimentam-se uma dor e um sofrimento intensíssimos: um fogo “mais doloroso do que qualquer coisa que um homem pode sofrer nesta vida”4. Mas também se experimenta muita alegria, porque se sabe que se ganhou definitivamente a batalha e que o encontro com Deus virá mais cedo ou mais tarde.

A alma que está no Purgatório assemelha-se a um aventureiro no limiar de um deserto. O sol queima, o calor é sufocante, dispõe de pouca água; divisa ao longe, para além do grande deserto, a montanha onde se encontra o tesouro, a montanha onde sopram brisas frescas e onde poderá descansar eternamente. E põe-se a caminho, disposta a percorrer a pé aquela longa distância, ainda que o calor asfixiante a faça cair uma vez e outra. A diferença entre os dois está em que, no Purgatório, se tem a certeza de chegar à meta, por mais asfixiantes que sejam os sofrimentos5.

Nós aqui na terra podemos ajudar muito essas almas a percorrerem mais depressa esse longo deserto que as separa de Deus. E ao mesmo tempo, com a expiação das nossas faltas e pecados, abreviaremos a nossa própria passagem por esse lugar de purificação. Se, com a ajuda da graça, formos generosos na prática da penitência, no oferecimento da dor e no amor ao sacramento do perdão, poderemos ir diretamente para o Céu. Isso é o que fizeram os santos. E eles nos convidam a imitá-los.

II. PODEMOS AJUDAR MUITO e de diversas formas as almas que se preparam para entrar no Céu e ainda permanecem no Purgatório. Sabemos que “a união dos que estão na terra com os irmãos que descansam na paz de Cristo não se interrompe de nenhuma maneira, antes pelo contrário vê-se fortalecida pela comunicação de bens espirituais”6.

A segunda Leitura da Missa recorda-nos que Judas Macabeu, tendo feito uma coleta, enviou doze mil dracmas de prata a Jerusalém para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados dos que tinham morrido em combate, porque considerava que estava reservada uma grandíssima misericórdia aos que tinham falecido depois de uma vida piedosa. E acrescenta o autor sagrado: É, pois, um pensamento santo e salutar orar pelos mortos, para que se vejam livres dos seus pecados7. Desde sempre a Igreja ofereceu sufrágios e orações pelos fiéis defuntos. Santo Isidoro de Sevilha afirmava já no seu tempo que oferecer sacrifícios e orações pelo descanso dos defuntos era um costume observado em toda a Igreja. Por isso – assegura o Santo –, pensa-se que se trata de um costume ensinado pelos próprios Apóstolos8.

A Santa Missa, que possui um valor infinito, é o que temos de mais valioso para oferecer pelas almas do Purgatório9. Também podemos oferecer por elas as indulgências que lucramos na terra10: as nossas orações, de modo especial o Santo Rosário, o trabalho, a dor, as contrariedades, etc. Esses sufrágios são a melhor maneira de demonstrarmos o nosso amor pelos nossos parentes e amigos e por todos os que nos precederam e esperam o seu encontro com Deus. Os nossos pais ocuparão sempre um lugar privilegiado nessas orações. Por sua vez, as almas do Purgatório também nos ajudam muito nesse intercâmbio de bens espirituais que é a Comunhão dos Santos. “As almas benditas do purgatório. – Por caridade, por justiça e por um egoísmo desculpável – podem tanto diante de Deus! –, lembra-te delas com frequência nos teus sacrifícios e na tua oração. Oxalá que, ao falar nelas, possas dizer: «Minhas boas amigas, as almas do purgatório...»”11

III. ESFORCEMO-NOS POR FAZER penitência nesta vida, anima-nos Santa Teresa: “Quão doce será a morte daquele que de todos os seus pecados a tem feita, e não há de ir para o Purgatório!”12

As almas do Purgatório, enquanto se purificam, não adquirem mérito algum. A sua tarefa é muito mais áspera, difícil e dolorosa do que qualquer outra que exista na terra: sofrem todos os horrores do homem que morre no deserto... e, no entanto, isso não as faz crescer em caridade, como teria acontecido na terra se tivessem aceitado a dor por amor a Deus. Mas no Purgatório não há rebeldia: ainda que tivessem de permanecer nele até o fim dos tempos, submeter-se-iam de bom grado, tal o seu desejo de purificação.

Nós, além de aliviá-las e de abreviar-lhes o tempo de purificação, ainda podemos merecer e, portanto, purificar com mais rapidez e eficácia as nossas tendências desordenadas.

A dor, a doença, o sofrimento, são uma graça extraordinária do Senhor para repararmos as nossas faltas e pecados. A nossa passagem pela terra, enquanto esperamos o momento de contemplar a Deus, deveria ser um tempo de purificação. Com a penitência, a alma rejuvenesce e prepara-se para a Vida.

“Não o esqueçais nunca: depois da morte, há de receber-vos o Amor. E no amor de Deus ireis encontrar, além disso, todos os amores limpos que houverdes tido na terra. O Senhor dispôs que passássemos esta breve jornada da nossa existência trabalhando e, como o seu Unigênito, fazendo o bem (At 10, 38). Entretanto, temos que estar alerta, à escuta daquelas chamadas que Santo Inácio de Antioquia notava na sua alma, ao aproximar-se a hora do martírio: Vem para junto do Pai13, vem ter com teu Pai, que te espera ansioso”14.

Como é bom e grande o desejo de chegar ao Céu sem passar pelo Purgatório! Mas deve ser um desejo eficaz, que nos leve a purificar a nossa vida, com a ajuda da graça. A nossa Mãe, que é Refúgio dos pecadores – o nosso refúgio –, obter-nos-á as graças necessárias se nos determinarmos verdadeiramente a converter a nossa vida num spatium verae poenitentiae, num tempo de reparação por tantas coisas más e inúteis.

(1) João Paulo II, No cemitério da Almudena, Madrid, 2-XI-1982; (2) cfr. Apoc 21, 27; (3) cfr. Santa Catarina de Gênova, Tratado do Purgatório, 12; (4) Santo Agostinho, Comentário aos Salmos, 37, 3; (5) cfr. W. Macken, El purgatorio, em Palabra, n. 244; (6) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 49; (7) 2 Mac 12, 43-44; (8) cfr. Santo Isidoro de Sevilha, Sobre os ofícios eclesiásticos, 1; (9) cfr. Conc. de Trento, Sec. XXV; (10) cfr. Paulo VI, Const. Apost. Sacrarum indulgentiarum recognitio, 1-I-1967, 5; (11) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 571; (12) Santa Teresa, Caminho de perfeição, 40, 9; (13) Epístola de Santo Inácio aos Romanos, 7; (14) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 221.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


02 de Novembro 2019

A SANTA MISSA

Solenidade: Comemoração de todos os Fiéis Defuntos
Cor: Roxa

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1ª Leitura – Ap 7,2-4.9-14

Vi uma multidão imensa de gente de todas
as nações, tribos, povos e línguas.

Eu, João, 2 vi um outro anjo, que subia do lado onde nasce o sol. Ele trazia a marca do Deus vivo e gritava, em alta voz, aos quatro anjos que tinham recebido o poder de danificar a terra e o mar, dizendo-lhes: 3 “Não façais mal à terra, nem ao mar nem às arvores, até que tenhamos marcado na fronte os servos do nosso Deus”. 4 Ouvi então o número dos que tinham sido marcados: eram cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel. 9 Depois disso, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro; trajavam vestes brancas e traziam palmas na mão. 10 Todos proclamavam com voz forte: “A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro”. 11 Todos os anjos estavam de pé, em volta do trono e dos Anciãos e dos quatro Seres vivos e prostravam-se, com o rosto por terra, diante do trono. E adoravam a Deus, dizendo: 12“Amém. O louvor, a glória e a sabedoria, a ação de graças, a honra, o poder e a força pertencem ao nosso Deus para sempre. Amém” 13 E um dos Anciãos falou comigo e perguntou: “Quem são esses vestidos com roupas brancas? De onde vieram?” 14 Eu respondi: “Tu é que sabes, meu senhor”. E então ele me disse: “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro”.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo – Sl 23(24),1-2.3-4ab.5-6 (R. cf. 6)

R. É assim a geração dos que procuram o Senhor!

1 Ao Senhor pertence a terra e o que ela encerra, *
o mundo inteiro com os seres que o povoam;
2 porque ele a tornou firme sobre os mares, *
e sobre as águas a mantém inabalável.         R.

3 “Quem subirá até o monte do Senhor, *
quem ficará em sua santa habitação?”
4a“Quem tem mãos puras e inocente coração, *
4b quem não dirige sua mente para o crime.        R.

5 Sobre este desce a bênção do Senhor *
e a recompensa de seu Deus e Salvador”.
6 “É assim a geração dos que o procuram, *
e do Deus de Israel buscam a face”.        R.

2ª Leitura – 1Jo 3,1-3

Veremos Deus tal como é.

Leitura da Primeira Carta de São João 3,1-3

Caríssimos, 1 vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai. 2 Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é. 3 Todo o que espera nele, purifica-se a si mesmo, como também ele é puro.

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Evangelho – Jo 6, 51-58 

“Quem comer deste pão viverá eternamente
e Eu o ressuscitarei no último dia”

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo: disse Jesus às multidões dos judeus: 51 ‘Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo’. 52 Os judeus discutiam entre si, dizendo: ‘Como é que ele pode dar a sua carne a comer?’ 53 Então Jesus disse: ‘Em verdade, em verdade vos digo, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. 55 Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida. 56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. 57 Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por causa do Pai, assim o que me come viverá por causa de mim. 58 Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais comeram. Eles morreram. Aquele que come este pão viverá para sempre.’

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Todos os Fiéis Defuntos

02 de Novembro

Todos os Fiéis Defuntos

Celebramos hoje o dia de finados, no qual se comemoram todos os fiéis já falecidos. E o nosso dever hoje, como bons católicos, é rezar pelas almas dos nossos irmãos que se encontram no Purgatório, onde esperam o dia em que, purificados de suas culpas, poderão associar-se à assembleia dos santos que ontem celebrávamos. Como nos ensina a Igreja, todo homem logo após a morte recebe de Cristo, num juízo particular, a sentença definitiva sobre o seu destino eterno: ou a salvação no céu ou a condenação no inferno.

Acontece, porém, que muitos dos que se salvam (ou seja, que são admitidos à glória do céu) não se encontram em estado de perfeita santidade na hora da morte e, por isso, não estão ainda em condições de entrar no gozo do seu Senhor, em cuja casa, como dizem as Escrituras, não entrará nada impuro nem profano (cf. Ap 21, 27). Por causa disso, Deus institui um lugar de purgação onde os fiéis que já estão salvos podem purificar-se, mediante o sofrimento, das culpas e imperfeições que ainda lhes restam. E nós, como membros do Corpo Místico de Cristo, unidos em uma só família pela comunhão dos santos, podemos oferecer a essas almas pobres e ao mesmo tempo benditas uma série de socorros espirituais, tanto para lhes aliviar o sofrimento como para lhes encurtar o tempo de purificação.

Se sabemos o quanto padecem as almas do Purgatório, não só pela dor que lá suportam, mas pela sede do Deus a quem tanto querem ver, por que cruzamos os braços e nada fazemos, sendo-nos tão fácil ajudá-las por meio de orações e pequenas obras de caridade e pelas inúmeras indulgências que em proveito delas a Igreja nos concede? Não fiquemos indiferentes e cumpramos esse dever de justiça e caridade para com os fiéis defuntos, e peçamos ao Deus de misericórdia que as nossas humildes preces sejam úteis às almas dos seus servos falecidos, a fim de que se vejam livres o quanto antes de todos os seus pecados e possam repousar no lugar da paz e do eterno descanso.

Fonte: https://padrepauloricardo.org


1ª Sexta do mês - O Alimento dos fortes | Instituto Hesed


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Todos os Santos 

01 de Novembro

Todos os Santos

“Alegrando-se todos no Senhor nesta solenidade...”, assim reza a antífona de entrada. É a Igreja militante que honra a Igreja triunfante e presta, à incomensurável multidão de santos que povoam o Reino dos Céus, a homenagem que ela não pode prestar individualmente a cada um deles — como sucede no calendário cristão.

“Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”, promete Jesus no sermão da montanha. Quem são os pobres, segundo Jesus? São as “testemunhas de Deus”, para usar uma expressão de Isaías. Com os pobres, apoderaram-se do Reino dos Céus os mansos, os puros de coração, os misericordiosos, os pacíficos, aqueles que sofrem e que têm fome e sede de justiça, em um mundo no qual vige sempre a lei do mais forte. Os perseguidos por causa da justiça e todos quantos são vítimas inocentes da calúnia, da maledicência, da pública ofensa ou do vilipêndio dos manipuladores da opinião pública.

Esses sinais estão em todos os santos que tiveram fé na promessa do Reino dos Céus: a vergonha das violências, dos ultrajes, das torturas e humilhações de que foram alvo, e sobretudo da prova extrema do martírio, da dor física e moral, da aparente derrota do bem e do triunfo dos maus. Os fiéis são convidados a alegrar-se e a exultar com todos esses santos que “passaram à melhor vida”.

A fé nos assegura, diz são Paulo, de que somos realmente filhos de Deus e herdeiros do reino, mas esta realidade não é plenamente completa em nosso corpo de carne. Vivemos na esperança, e esta se torna certeza em razão do que cremos.

A origem dessa festa remonta ao século IV. Em Antioquia, celebrava-se no primeiro domingo depois de Pentecostes. No século VII, a data foi fixada em 13 de maio, Dia da Consagração do Panteão a santa Maria dos Mártires. Naquele dia, fazia-se descer da claraboia da grande cúpula uma chuva de rosas vermelhas. Gregório IV removeu a celebração para o dia 1 de novembro, depois da colheita de outono, quando era mais fácil encontrar alimento para os numerosos peregrinos que, depois dos trabalhos do verão, dirigiam- se em peregrinação à Cidade dos Mártires.

Fonte: "Os Santos e os Beatos da Igreja do Ocidente e do Oriente".


01 de Novembro 2019

A SANTA MISSA

30ª Semana do Tempo Comum – Sexta-feira 
Cor: Verde

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1ª Leitura: Rm 9,1-5 

“Quisera eu próprio ser anátema de Cristo
para bem dos meus irmãos” 

Leitura da Carta de São Paulo aos Romanos

Irmãos, 1 não estou mentindo, mas, em Cristo, digo a verdade, apoiado no testemunho do Espírito Santo e da minha consciência: 2 Tenho no coração uma grande tristeza e uma dor contínua, 3 a ponto de desejar ser eu mesmo segregado por Cristo em favor de meus irmãos, os de minha raça. 4 Eles são israelitas. A eles pertencem a filiação adotiva, a glória, as alianças, as leis, o culto, as promessas 5 e também os patriarcas. Deles é que descende, quanto à sua humanidade, Cristo, o qual está acima de todos – Deus bendito para sempre! – Amém!

– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.

Salmo Responsorial: Sl 147, 12-13.14-15.19-20(R. 12a)

R. Glorifica o Senhor, Jerusalém!
Ou: Aleluia, Aleluia, Aleluia.

12 Glorifica o Senhor, Jerusalém!*
Ó Sião, canta louvores ao teu Deus!
13 Pois reforçou com segurança as tuas portas,*
e os teus filhos em teu seio abençoou.      R.

14 a paz em teus limites garantiu*
e te dá como alimento a flor do trigo.
15 Ele envia suas ordens para a terra,*
e a palavra que ele diz corre veloz.      R.

19 Anuncia a Jacó sua palavra,*
seus preceitos suas leis a Israel.
20 Nenhum povo recebeu tanto carinho,*
a nenhum outro revelou os seus preceitos.         R. 

Evangelho: Lc 14,1-6 

Se algum de vós tem um filho ou um boi que caiu num poço,
não o tira logo, mesmo em dia de sábado?’ 

– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas

1 Aconteceu que, num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. E eles o observavam. 2 Diante de Jesus, havia um hidrópico. 3 Tomando a palavra, Jesus falou aos mestres da Lei e aos fariseus: ‘A Lei permite curar em dia de sábado, ou não? 4 Mas eles ficaram em silêncio. Então Jesus tomou o homem pela mão, curou-o e despediu-o. 5 Depois lhes disse: ‘Se algum de vós tem um filho ou um boi que caiu num poço, não o tira logo, mesmo em dia de sábado?’ 6 E eles não foram capazes de responder a isso.

– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor! 

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Sem Respeitos Humanos

TEMPO COMUM. TRIGÉSIMA SEMANA. SEXTA-FEIRA

– Atuação clara de Jesus.
– Os respeitos humanos não são próprios de um cristão firme na fé.
– O exemplo dos primeiros cristãos.

I. ERA COSTUME entre os judeus convidar para almoçar quem tivesse dissertado naquele dia na sinagoga. Certo sábado, Jesus foi convidado a ir a casa de um dos principais fariseus da cidade 1. E espiavam-no, para ver em que podiam surpreendê-lo. Apesar de se encontrar freqüentes vezes nessa situação tão pouco grata, o Senhor – comenta São Cirilo – “aceitava os convites que lhe faziam para ajudar os presentes com as suas palavras e milagres” 2. O Mestre não deixava de aproveitar nenhuma ocasião para redimir as almas e essas refeições eram uma boa ocasião para falar do Reino dos Céus.

Nesse dia, quando já estavam sentados à mesa, situou-se diante dele um homem hidrópico, aproveitando-se provavelmente de um costume que permitia a qualquer pessoa entrar na casa onde se recebia um hóspede. Não disse nada, não pediu nada; simplesmente situou-se diante do Médico divino. “Esta podia ser a nossa atitude interior: postar-nos assim diante de Jesus, postar-nos com a nossa hidropisia, com a nossa miséria pessoal, com os nossos pecados..., diante de Deus, diante do olhar compassivo de Deus. Podemos ter a certeza absoluta de que Ele segurará a nossa mão e nos curará” 3.

Jesus, ao ver o enfermo diante dEle, encheu-se de misericórdia e curou-o, apesar de o espiarem para ver se curava em dia de sábado. Não se deixa levar pelos respeitos humanos, pelo que pudessem murmurar as pessoas que se consideravam mestres e intérpretes da Lei.

Depois, fez-lhes ver que a misericórdia não viola o sábado, e deu-lhes um exemplo cheio de senso comum: Quem de entre vós, se o seu jumento ou o seu boi cai num poço, não o tira imediatamente, ainda que seja em dia de sábado? E eles não lhe puderam replicar a isso.

A nossa atitude, ao vivermos a fé cristã num ambiente em que existem reservas, falsos escândalos ou simples incompreensões por ignorância, deve ser a mesma de Jesus. Nunca devemos ser oportunistas; a nossa atitude deve ser clara, coerente com a fé que professamos. Quantas vezes, este modo de agir decidido, sem dissimulações nem medos, não é de uma grande eficácia apostólica! Em contrapartida, “assusta o mal que podemos causar se nos deixamos arrastar pelo medo ou pela vergonha de nos mostrarmos como cristãos na vida diária” 4. Não deixemos de manifestar a nossa fé com simplicidade e naturalidade, quando a situação o requeira. Nunca nos arrependeremos desse comportamento conseqüente com o nosso ser mais íntimo. E o Senhor se encherá de alegria ao olhar-nos.

II. TODA A VIDA de Jesus está cheia de unidade e de firmeza. Nunca o vemos vacilar. “Já o seu modo de falar, as repetidas expressões: Eu vim, Eu não vim, traduzem bem esse «sim» e esse «não», conscientes e inabaláveis, e essa submissão absoluta à vontade do Pai que constitui a sua lei de vida [...]. Durante todo o seu ministério, nunca foi visto a calcular, hesitar, voltar atrás” 5.

Ele pede aos que o seguem essa vontade firme em qualquer situação. Deixar-se levar pelos respeitos humanos é próprio de pessoas com uma formação superficial, sem critérios claros, sem convicções profundas, ou de caráter débil. Os respeitos humanos surgem quando se dá mais valor à opinião das outras pessoas do que ao juízo de Deus, sem ter em conta as palavras de Jesus: Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos 6.

Os respeitos humanos podem agravar-se pelo comodismo de não querer passar um mau bocado, pois é mais fácil seguir a corrente; ou pelo medo de pôr em perigo, por exemplo, um cargo público; ou pelo desejo de não singularizar-se, de permanecer no anonimato. Quem segue Jesus deve lembrar-se de que está comprometido com Cristo e com a sua doutrina. “Brilhe o exemplo das nossas vidas e não façamos caso algum das críticas”, aconselhava São João Crisóstomo. “Não é possível – continua – que quem de verdade se empenha em ser santo deixe de ter muitos que não o estimam. Mas isso não importa, pois até por esse motivo aumenta a coroa da sua glória. Por isso, devemos prestar atenção a uma só coisa: a ordenar com perfeição a nossa própria conduta. Se o fizermos, conduziremos a uma vida cristã os que andam em trevas”7, e seremos apoio firme para muitos que vacilam.

Uma vida coerente com as convicções mais íntimas merece o respeito de todos e não raras vezes é o caminho de que Deus se serve para atrair muitas pessoas à fé. O bom exemplo sempre deixa plantada uma boa semente que, em mais ou menos tempo, dará o seu fruto. “E isto de alguém imitar a virtude que vê resplandecer em outro – diz Santa Teresa – é coisa muito contagiosa. É útil este aviso; não o esqueçais” 8.

É verdade que todos tendemos a evitar atitudes que nos possam acarretar certo desprezo ou troça dos amigos, companheiros de trabalho, colegas..., ou simplesmente a incomodidade de ir contra a corrente. Mas também é bem verdade que o amor a Cristo – a quem tanto devemos! – nos ajuda a superar essa tendência, para recuperarmos a “liberdade dos filhos de Deus” que nos leva a comportar-nos com desenvoltura e simplicidade, como bons cristãos, nos ambientes mais adversos.

III. OS CRISTÃOS da primeira hora conduziram-se com a valentia própria de quem tem a sua vida apoiada num alicerce firme. José de Arimatéia e Nicodemos, que tinham sido dos discípulos menos conhecidos de Jesus à hora dos milagres, não se acanharam de apresentar-se diante do Procurador romano e de encarregar-se do Corpo morto do Senhor: “são valentes, declarando perante a autoridade o seu amor a Cristo – «audacter» – com audácia, na hora da covardia” 9. De modo semelhante comportaram-se os Apóstolos perante a coação do Sinédrio e as perseguições posteriores, plenamente convencidos de que a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que se salvam, isto é, para nós, é virtude de Deus 10.

Não esqueçamos que, para muitas pessoas, será uma loucura mantermos firmes os vínculos da fidelidade conjugal, não participarmos de negócios pouco honestos, sermos generosos no número de filhos, apesar das preocupações econômicas que daí possam advir, praticarmos o jejum, a abstinência, a mortificação corporal (que tanto ajuda a alma a entender-se com Deus!)... São Paulo afirma que nunca se envergonhou do Evangelho 11, e o mesmo aconselhava a Timóteo: Porque Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de caridade e de temperança. Portanto, não te envergonhes do testemunho de Nosso Senhor, nem de mim, seu prisioneiro, mas participa comigo dos trabalhos do Evangelho, segundo a virtude de Deus 12.

O Senhor, quando se encontrou com aquele homem doente na casa do fariseu que o tinha convidado, não deixou de curá-lo, apesar de ser sábado e das críticas que receberia. No meio daquele ambiente hostil, o mais cômodo teria sido adiar o milagre para outro dia da semana. Jesus ensina-nos que devemos levar a cabo as nossas tarefas independentemente “do que dirão”, dos comentários adversos que as nossas palavras ou a nossa atuação possam provocar. Uma só coisa, antes de mais nada, deve importar-nos: o juízo de Deus na situação em que nos encontramos. A opinião dos outros está, quando muito, em segundo lugar.

Se alguma vez acharmos que devemos calar-nos ou omitir uma ação, deverá ser porque assim o dita a verdadeira prudência, e não a covardia e o medo de sofrer uma contrariedade. Como podemos sofrer menos que isso por Aquele que sofreu por nós a morte, e morte de Cruz?

Que enorme bem faremos aos outros se a nossa vida for coerente com os nossos princípios cristãos! Que alegria terá o Senhor quando nos vir como verdadeiros discípulos seus, que não se escondem nem se envergonham de sê-lo!

Peçamos a Nossa Senhora a firmeza que Ela teve ao pé da Cruz, junto do seu Filho, quando as circunstâncias eram tão hostis e dolorosas.

(1) Lc 14, 1-6; (2) São Cirilo de Alexandria, em Catena Aurea, vol. VI, pág. 160; (3) I. Domínguez, El tercer Evangelio, Rialp, Madrid, 1989, pág. 205; (4) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Sulco, n. 36; (5) Karl Adam, Jesus Cristo, Quadrante, São Paulo, 1986, pág. 13; (6) Mc 8, 38; (7) São João Crisóstomo, Homilias sobre São Mateus, 15, 9; (8) Santa Teresa, Caminho de perfeição, 7, 8; (9) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Caminho, n. 841; (10) 1 Cor 1, 18-19; (11) cfr. Rom 1, 16; (12) 2 Tim 1, 7-8.

Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal


Santo Afonso Rodrigues

31 de Outubro

Santo Afonso Rodrigues

Afonso Rodrigues nasceu na cidade de Segóvia, Espanha, no dia 25 de julho de 1532. Sua família era pobre mas, também, profundamente cristã. Seu pai era um simples comerciante de tecidos e sua mãe, dona de casa, mãe de onze filhos. Afonso teve uma infância feliz, apesar da pobreza, pois sua família era unida e cheia de fé.

A primeira grande reviravolta na vida de Afonso, foi a morte de seu pai. Aconteceu quando ele tinha apenas dezesseis anos. O pai faleceu de repente. Por causa disso, sua mãe se viu em dificuldades para sustentar os onze filhos. Afonso, então, para ajudar a manter a casa, decidiu parar de estudar e começou a vender tecidos, aproveitando a carteira de clientes de seu falecido pai.

Sete anos depois, em 1555, quando a situação tinha se normalizado, sua mãe o aconselhou a se casar. Afonso acolheu o conselho e se casou. O casal teve dois filhos. Porém, mais uma vez, acontecimentos inesperados vieram bater à sua porta. Primeiramente, sua esposa ficou doente e veio a falecer. Depois, seus dois filhos, adoeceram e morreram. Profundamente abatido por tamanhas perdas, Afonso perdeu o controle dos negócios, perdeu o pouco que possuía e ficou sem crédito.

Sem rumo, Afonso tentou voltar as estudar, mas não conseguiu sair-se bem nas provas. Por isso, não foi aprovado para a Faculdade de Valência. Com mais esta perda na vida, Afonso mergulhou numa profunda depressão. Por isso, retirou-se na própria casa. Ali, fechou-se, rezou muito, meditou e jejuou. O tempo foi passando e um novo caminho começou a clarear em seu coração. Ele decidiu dedicar toda a sua vida ao serviço de Deus e dos irmãos.

Munido de uma firme decisão, Afonso pediu ingresso na Companhia de Jesus como irmão leigo. Era o ano 1571. Afonso foi aceito e começou um noviciado que transformaria toda a sua vida. Como noviço, foi designado para viver e trabalhar no colégio dos jesuítas em Palma, na ilha de Maiorca. Este colégio dedicava-se à formação dos padres. Ali, Afonso encontrou sua realização total de vida. Viveu lá por mais de quarenta anos e entregou sua alma a Deus.

No colégio, Afonso Rodrigues exerceu unicamente a função humilde e simples de porteiro. E isso durou quarenta e seis anos! Porém, se sua função não lhe trazia quase nenhum destaque, espiritualmente ele era dos mais elevados entre todos os confrades. Em sua vida terrena, recebeu vários dons extraordinários. Teve também várias manifestações como visões, profecias, milagres e o dom da cura.

Santo Afonso Rodrigues, mesmo sendo porteiro, foi procurado para ser orientador espiritual de vários religiosos e leigos. Estes, o procuravam por causa de sua sabedoria e dom do conselho. Entre estes, dois se destacavam. Primeiro, o Padre Pedro Claver, que, mais tarde, foi canonizado. Era missionário na colômbia e ficou conhecido como o grande evangelizador dos povos negros escravizados na Colômbia. O outro, também santo, foi Jerônimo Moranto, missionário jesuíta martirizado no México. Os dois sempre seguiram as preciosas orientações do porteiro Santo Afonso Rodrigues.

Após ter vivido uma vida simples, quarenta e seis anos totalmente dedicados ao serviço de Deus, da oração, da portaria do colégio e ao serviço aos irmãos por amor de Cristo, Santo Afonso Rodrigues adoeceu. Sofreu dores muito fortes pelo período de dois anos. Depois disso, faleceu. Era o dia 31 de outubro de 1617. Ele estava lá, no mesmo colégio onde dedicou sua vida a Deus.

Sua canonização aconteceu em 1888, através do Papa Leão XIII. Ele foi canonizado junto com são Pedro Claver, seu fiel discípulo, aquele que se tornara conhecido como o Apóstolo dos Escravos. Santo Afonso Rodrigues deixou um legado valioso, além de sua vida santa. Ele deixou uma obra escrita considerada pequena, com “apenas” três volumes. Porém, sua obra tem grande valor teológico. Nela, relatou detalhadamente a riqueza de sua espiritualidade.

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br