São Juan Diego
09 de Dezembro
São Juan Diego 
Pouco se sabe sobre a vida de Juan Diego antes da sua conversão, mas tradição e fontes arqueológicas e iconográficas, juntamente com o documento indígena mais importante e mais antigo sobre o evento de Guadalupe, “El Nican Mopohua” (escrito em Náhuatl com caracteres latinos, 1556 , pelo escritor indígena Antonio Valeriano), dê alguma informação sobre a vida do santo e as aparições.
Juan Diego nasceu em 1474 com o nome “Cuauhtlatoatzin” (“águia falante”) em Cuautlitlán, hoje parte da Cidade do México, no México. Ele era um membro talentoso do povo Chichimeca, um dos grupos culturalmente mais avançados que vivem no Vale Anáhuac.
Quando ele tinha 50 anos de idade, ele foi batizado por um padre franciscano, o padre Peter da Gand, um dos primeiros missionários franciscanos. Em 9 de dezembro de 1531, quando Juan Diego estava a caminho da missa matinal, a Santíssima Mãe apareceu no monte Tepeyac, nos arredores do que é agora Cidade do México. Ela pediu que ele fosse ao Bispo e que pedisse em seu nome que um santuário fosse construído em Tepeyac, onde prometeu derramar sua graça sobre aqueles que a invocavam. O bispo, que não acreditava em Juan Diego, pediu um sinal para provar que a aparição era verdadeira. Em 12 de dezembro, Juan Diego retornou a Tepeyac. Aqui, a Santíssima Mãe disse-lhe para escalar a colina e escolher as flores que encontraria em flor. Ele obedeceu e, apesar de ser o inverno, encontrou rosas florescendo. Ele reuniu as flores e as levou para Nossa Senhora, que cuidadosamente as colocou em seu manto e disse-lhe para levá-las ao Bispo como “prova”. Quando abriu o manto, as flores caíram no chão e permaneceu impressionado, em lugar das flores, uma imagem da Santíssima Mãe, a aparição em Tepeyac.
Com a permissão do Bispo, Juan Diego viveu o resto de sua vida como um eremita em uma pequena cabana perto da capela onde a imagem milagrosa foi colocada para a veneração. Aqui ele cuidou da igreja e dos primeiros peregrinos que vieram rezar pela Mãe de Jesus.
Muito mais profundo do que a “graça exterior” de ter sido “escolhido” como “mensageiro” de Nossa Senhora, Juan Diego recebeu a graça da iluminação interior e, a partir desse momento, começou uma vida dedicada à oração e à prática da virtude e do amor ilimitado de Deus e vizinho. Ele morreu em 1548 e foi enterrado na primeira capela dedicada à Virgem de Guadalupe. Ele foi beatificado em 6 de maio de 1990 pelo Papa João Paulo II na Basílica de Santa Maria de Guadalupe , Cidade do México.
A imagem milagrosa, preservada na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe, mostra uma mulher com características nativas e vestido. Ela está apoiada por um anjo cujas asas são uma reminiscência de um dos principais deuses da religião tradicional dessa área. A lua está debaixo de seus pés e seu manto azul é coberto de estrelas douradas. O cinto preto sobre a cintura significa que ela está grávida. Assim, a imagem representa graficamente o fato de que Cristo deve ser “nascido” novamente entre os povos do Novo Mundo, e é uma mensagem tão relevante para o “Novo Mundo” hoje como foi durante a vida de Juan Diego.
Fonte: http://www.vatican.va/news_services/liturgy/saints/ns_lit_doc_20020731_juan-diego_sp.html
09 de Dezembro 2019
A SANTA MISSA

2ª Semana do Advento – Segunda-feira
Cor: Roxa
1ª Leitura: Is 35,1-10
É Deus mesmo que vem para vos salvar.
Leitura do Livro do Profeta Isaías
1 Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e floresça como um lírio. 2 Germine e exulte de alegria e louvores. Foi-lhe dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e de Saron; seus habitantes verão a glória do Senhor, a majestade do nosso Deus. 3 Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. 4 Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é vosso Deus, é a vingança que vem, é a recompensa de Deus; é ele que vem para vos salvar’. 5 Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. 6 O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos, assim como brotarão águas no deserto e jorrarão torrentes no ermo. 7 A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta, em fontes d’água; nas cavernas onde viviam dragões crescerá o caniço e o junco. 8 Ali haverá uma vereda e um caminho; o caminho se chamará estrada santa: por ela não passará o impuro; mas será uma estrada reta em que até os débeis não se perderão. 9 Ali não existem leões, não andam por ela animais de predadores, nem mesmo aparecem lá; os que forem libertados, poderão percorrê-la, 10 os que o Senhor salvou, voltarão para casa. Eles virão a Sião cantando louvores, com infinita alegria brilhando em seus rostos: cheios de gozo e contentamento, não mais conhecerão a dor e o pranto.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 84 (85),9ab-10. 11-12. 13-14 (R. Is 35,4d)
R. Eis que vem o nosso Deus! Ele vem para salvar.
9a Quero ouvir o que o Senhor irá falar:*
é a paz que ele vai anunciar;
9b a paz para o seu povo e seus amigos,*
para os que voltam ao Senhor seu coração.
10 Está perto a salvação dos que o temem,*
e a glória habitará em nossa terra. R.
11 A verdade e o amor se encontrarão,*
a justiça e a paz se abraçarão;
12 da terra brotará a fidelidade,*
e a justiça olhará dos altos céus. R.
13 O Senhor nos dará tudo o que é bom,*
e a nossa terra nos dará suas colheitas;
14 a justiça andará na sua frente*
e a salvação há de seguir os passos seus. R.
Evangelho: Lc 5,17-26
Hoje vimos coisas maravilhosas!
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas
17 Um dia Jesus estava ensinando. À sua volta estavam sentados fariseus e doutores da Lei, vindos de todas as aldeias da Galileia, da Judeia e de Jerusalém. E a virtude do Senhor o levava a curar. 18 Uns homens traziam um paralítico num leito e procuravam fazê-lo entrar para apresentá-lo. 19 Mas, não achando por onde introduzi-lo, devido à multidão, subiram ao telhado e por entre as telhas o desceram com o leito no meio da assembleia diante de Jesus. 20 Vendo-lhes a fé, ele disse: Homem, teus pecados estão perdoados. 21 Os escribas e fariseus começaram a murmurar, dizendo: Quem é este que assim blasfema? Quem pode perdoar os pecados senão Deus? 22 Conhecendo-lhes os pensamentos, Jesus respondeu, dizendo: ‘Por que murmurais em vossos corações? 23 O que é mais fácil dizer: ‘teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘levanta-te e anda’? 24 Pois, para que saibais que o Filho do homem tem na terra poder de perdoar os pecados – disse ao paralítico – eu te digo: levanta-te, pega o leito e vai para casa’. 25 Imediatamente, diante deles, ele se levantou, tomou o leito e foi para casa, louvando a Deus. 26 Todos ficaram fora de si, glorificavam a Deus e cheios de temor diziam: ‘Hoje vimos coisas maravilhosas!’
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Apostolado da Confissão
TEMPO DO ADVENTO. SEGUNDA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA
– O maior bem que podemos fazer aos nossos amigos: aproximá-los do sacramento da Penitência.
– Fé e confiança no Senhor. O paralítico de Cafarnaum.
– A Confissão. O poder de perdoar os pecados. Respeito, agradecimento e veneração com que devemos aproximar-nos deste sacramento.
I. DESPERTAI, Ó DEUS, o vosso poder e socorrei-nos com a vossa força, para que a vossa misericórdia apresse a salvação que os nossos pecados retardam1. Esta oração litúrgica, com que iniciamos agora a nossa conversa com Deus, fala-nos de anunciar a vinda de Jesus pedindo perdão pelos pecados.
O Messias está muito perto de nós, e nestes dias do Advento preparamo-nos para recebê-lo de uma maneira nova, quando chegar o Natal. Jesus diz-nos especialmente nestes dias: Confortai as mãos frouxas, firmai os joelhos vacilantes. Dizei àqueles que têm o coração perturbado: coragem, não tenhais medo2. Ora, todos os dias nós nos encontramos com amigos, colegas, parentes que estão desorientados no aspecto mais essencial da sua existência. Sentem-se incapazes de ir até Deus e andam como paralíticos pelos caminhos da vida, porque perderam a esperança. Nós temos que guiá-los até à humilde gruta de Belém; ali encontrarão o sentido de suas vidas.
Para isso temos de conhecer o caminho: ter vida interior, trato com Jesus, começar nós mesmos por melhorar naquelas coisas em que os nossos amigos devem melhorar, e ter uma esperança inquebrantável nos meios sobrenaturais.
A oração, a mortificação e o exemplo estarão sempre na base de todo o apostolado cristão. A oração pelos outros é tanto mais ouvida quanto mais ancorada estiver na santidade de quem pede. O apostolado nasce de um grande amor a Cristo.
Em muitos casos, aproximar os nossos amigos de Cristo é levá-los a receber o sacramento da Penitência, um dos maiores bens que o Senhor deixou à sua Igreja. Poucas ajudas tão grandes, talvez nenhuma, podemos prestar a esses amigos como a de animá-los a aproximar-se da Confissão. Umas vezes, teremos que ajudá-los delicadamente a fazer um bom exame de consciência; outras, acompanhá-los até o lugar em que o sacerdote os espera; outras ainda, dirigir-lhes apenas uma palavra de estímulo e de afeto, juntamente com uma breve e adequada catequese sobre a natureza e os bens deste sacramento.
Que alegria de cada vez que aproximamos um parente, um colega, um amigo, do sacramento da misericórdia divina! Essa mesma alegria é compartilhada no Céu pelo nosso Pai-Deus e por todos os bem-aventurados3.
II. NO EVANGELHO DA MISSA de hoje, São Marcos diz-nos que Jesus chegou a Cafarnaum e, logo que se soube que estava em casa, reuniram-se tantos que já não havia lugar nem sequer diante da porta4.
Para lá se dirigiram também quatro amigos que carregavam um paralítico; mas não puderam chegar até Jesus por causa da multidão. Então, servindo-se talvez de uma escada dos fundos, subiram ao telhado com o enfermo; levantaram o teto no lugar em que se encontrava o Senhor e, depois de abrirem espaço, desceram o leito em que jazia o paralítico e deixaram-no no meio, diante de Jesus5. O apostolado – particularmente o da Confissão – é algo semelhante: é colocar as pessoas diante de Jesus, apesar das dificuldades que isso possa supor. Depois o Senhor fará o resto; na verdade, é Ele quem faz o mais importante.
Os quatro amigos já conheciam o Mestre, e a sua esperança era tão grande que o milagre se realizou graças à confiança que tinham em Jesus. E a fé que os animava supriu ou completou a do paralítico. O Evangelho diz que, vendo Jesus a fé deles, dos amigos, realizou o milagre. Não se menciona explicitamente a fé do doente; insiste-se na dos amigos.
Transpuseram obstáculos que pareciam insuperáveis. Devem ter começado por ter de convencer o paralítico, e, como só quem está convencido é que convence, devia ser muita a confiança que tinham em Jesus. Depois, quando chegaram ao local, a casa estava tão cheia de gente que parecia inviável tentar alguma coisa naquela ocasião. Mas não recuaram. Venceram essa barreira com a sua decisão, com o seu engenho, com o seu interesse. O importante era o encontro entre Jesus e o amigo que lhe levavam; e para que esse encontro se realizasse, lançaram mão de todos os meios ao seu alcance.
Que grande lição para a ação apostólica que, como cristãos, devemos levar a cabo! Também nós encontraremos, sem dúvida, resistências tão grandes ou maiores. Pois bem, a nossa missão consistirá fundamentalmente em pôr os nossos amigos diante de Cristo, em deixá-los junto de Jesus... e desaparecer. Quem, senão o Senhor, e somente Ele, pode transformar a interioridade de uma pessoa? O apostolado situa-se na ordem da graça.
Talvez haja casos em que sejamos nós os culpados de que os outros não se aproximem de Deus, porque se encontram como que incapacitados de ir até o Senhor. “Este paralítico – explica São Tomás – simboliza o pecador que jaz no pecado; assim como o paralítico não se pode mover, também o pecador não pode socorrer-se a si mesmo. Os que levam o paralítico representam aqueles que com os seus conselhos conduzem o pecador a Deus”6.
O Senhor sentiu-se gratamente impressionado com a audácia, fruto de uma grande esperança apostólica, daqueles quatro amigos que não desistiram ante as primeiras dificuldades nem quiseram esperar por uma ocasião mais propícia, pois não sabiam quando Jesus tornaria a passar por ali. Podemos perguntar-nos hoje na nossa meditação pessoal se fazemos assim com os nossos amigos, parentes e conhecidos: não nos teremos detido diante das primeiras dificuldades, depois de termos resolvido ajudar esses amigos a aproximar-se da Confissão? Ali os esperava Jesus.
III. O SENHOR OLHOU o enfermo com imensa piedade: Tem confiança, filho, disse-lhe. A seguir, dirigiu-lhe umas palavras que deixaram espantados a todos: Os teus pecados te são perdoados.
É muito possível que, ao ouvir essas palavras, o paralítico experimentasse com especial lucidez toda a sua indignidade; talvez compreendesse, como nunca até aquele momento, a necessidade de estar limpo diante do olhar puríssimo de Jesus, que o penetrava até o fundo da alma com profunda misericórdia. Recebeu então a graça de um grande perdão; era o prêmio por se ter deixado ajudar. E sentiu imediatamente uma alegria indescritível. Já pouco se importava com a sua paralisia. A sua alma estava limpa e ele tinha encontrado Jesus.
O Senhor, que lê os pensamentos de todos, quis deixar bem claro, aos que o ouviam e aos que meditariam esta cena ao longo dos séculos, que tem todo o poder no céu e na terra, incluído o poder de perdoar os pecados, porque é Deus.
E demonstra-o com o milagre da cura completa deste homem. Quando Davi pecou e foi prostrar-se aos pés de Natã, este lhe disse: Javé te perdoou7. Fora Deus que o perdoara; Natã limitara-se a transmitir a mensagem que devolvia a Davi a paz e o sentido da sua vida. Mas Jesus perdoa em nome próprio. Foi o que escandalizou os escribas presentes: Este blasfema. Quem pode perdoar os pecados senão só Deus?
Este poder de perdoar os pecados foi transmitido pelo Senhor à sua Igreja na pessoa dos Apóstolos, para que, por meio dos sacerdotes, pudesse exercê-lo até o fim dos tempos: Recebei o Espírito Santo; a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos8.
Os sacerdotes exercem o poder de perdoar os pecados não por virtude própria, mas em nome de Cristo – in persona Christi –, como instrumentos nas mãos do Senhor. Só Deus pode perdoar os pecados, e Ele quis fazê-lo no sacramento da Penitência através dos seus ministros, os sacerdotes. É um tema de urgente catequese entre aqueles que nos rodeiam, na certeza de que assim lhes será mais fácil aproximar-se com amor deste sacramento.
Aproveitemos a nossa oração de hoje para agradecer ao Senhor que tenha deixado à sua Igreja, nossa Mãe, um poder tão imenso: Obrigado, Senhor, por colocares tão ao nosso alcance um dom tão grande! E examinemos como vão as nossas confissões: se as preparamos com um exame de consciência atento, se fomentamos a contrição em cada uma delas, se nos confessamos com a devida freqüência, se somos radicalmente sinceros com o confessor, se nos esforçamos por pôr em prática os conselhos recebidos.
Examinemos enfim, na presença de Deus, que parentes, amigos ou colegas podemos ajudar a preparar um bom exame de consciência, quais os que estão mais necessitados de uma palavra de alento que os anime a receber este sacramento como preparação para o Natal. Eles esperam o Senhor no mais profundo da sua alma, e o Senhor também espera por eles nesta fonte de misericórdia. Não falhemos nós. É o maior presente que lhes podemos oferecer.
A nossa Mãe Santa Maria, Refugium peccatorum, terá compaixão deles e de nós.
(1) Oração da quinta-feira da primeira semana do Advento; (2) cfr. Is 35, 1-10;primeira leitura da Missa da segunda-feira da segunda semana do Advento; (3) cfr. Lc 15, 7; (4) Mc 2, 1-13; (5) Lc 5, 19; (6) São Tomás de Aquino, Comentários sobre o Evangelho de São Mateus, 9, 2; (7) 2 Sam 12, 13; (8) Jo 20, 22-23.
Fonte: Livro "Falar com Deus"de Francisco Fernández Carvajal
08 de Dezembro 2019
A SANTA MISSA

Solenidade: Imaculada Conceição de Nossa Senhora
Cor: Branca
1ª Leitura: Gn 3,9-15.20
Porei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e a dela.
Leitura do Livro do Gênesis
Depois que Adão comeu do fruto da árvore, 9 o Senhor Deus o chamou, dizendo: “Onde estás?” 10 E ele respondeu: “Ouvi tua voz no jardim, e fiquei com medo porque estava nu; e me escondi”. 11 Disse-lhe o Senhor Deus: “E quem te disse que estavas nu? Então comeste da árvore, de cujo fruto te proibi comer?” 12 Adão disse: “A mulher que tu me deste por companheira, foi ela que me deu do fruto da árvore, e eu comi”. 13 Disse o Senhor Deus à mulher: “Por que fizeste isso?” E a mulher respondeu: “A serpente enganou-me e eu comi”. 14 Então o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e todos os animais selvagens! Rastejarás sobre o ventre e comerás pó todos os dias da tua vida! 15 Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. 20 E Adão chamou à sua mulher “Eva”, porque ela é a mãe de todos os viventes.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 97(98),1.2-3ab.3cd-4 (R. 1a)
R. Cantai ao Senhor Deus um canto novo,
porque ele fez prodígios!
1 Cantai ao Senhor Deus um canto novo, *
porque ele fez prodígios!
Sua mão e o seu braço forte e santo *
alcançaram-lhe a vitória. R.
2 O Senhor fez conhecer a salvação, *
e às nações, sua justiça;
3a recordou o seu amor sempre fiel *
3b pela casa de Israel. R.
3c Os confins do universo contemplaram *
3d a salvação do nosso Deus.
4 Aclamai o Senhor Deus, ó terra inteira, *
alegrai-vos e exultai! R.
2ª Leitura: Ef 1,3-6.11-12
Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo.
Leitura da Carta de São Paulo aos Efésios
3 Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Ele nos abençoou com toda a bênção do seu Espírito em virtude de nossa união com Cristo, no céu. 4 Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob o seu olhar, no amor. 5 Ele nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão da sua vontade, 6 para o louvor da sua glória e da graça com que ele nos cumulou no seu Bem-amado. 11 Nele também nós recebemos a nossa parte. Segundo o projeto daquele que conduz tudo conforme a decisão de sua vontade, nós fomos predestinados 12 a sermos, para o louvor de sua glória, os que de antemão colocaram a sua esperança em Cristo.
– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.
Evangelho: Lc 1,26-38
Eis que conceberás e darás à luz um filho.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele tempo: 26 O anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27 a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da virgem era Maria 28 O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’ 29 Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. 30 O anjo, então, disse-lhe: ‘Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. 32 Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. 33 Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim’. 34 Maria perguntou ao anjo: ‘Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?’ 35 O anjo respondeu: ‘O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. 36 Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37 porque para Deus nada é impossível’. 38 Maria, então, disse: ‘Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!’ E o anjo retirou-se.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Imaculada Conceição da Virgem Maria
08 de Dezembro
Imaculada Conceição da Virgem Maria
Em 2 de fevereiro de 1849, Pio IX, desterrado em Gaeta, escreveu a todos os Patriarcas Primazes, Arcebispos e Bispos do orbe a Encíclica Ubi primum, questionando-lhes acerca da devoção de seu clero e de seus povos ao mistério da Imaculada Conceição, e seu desejo de vê-lo definido.
De um total de 750 Cardeais, Bispos e vigários apostólicos que em seu seio contava então a Igreja, mais de 600 responderam ao Sumo Pontífice. Levando-se em conta as dioceses que estariam vacantes, os prelados enfermos e as respostas perdidas, pode-se dizer que todos atenderam à solicitação do Papa, manifestando unanimemente que a fé de seu povo era completamente favorável à Imaculada Conceição, e apenas cinco se diziam duvidosos quanto à oportunidade de uma declaração dogmática.
Afirmara-se a crença universal da Igreja. Roma iria falar, a causa estava julgada.
Agora – são palavras de uma testemunha da bela festa de 8 de dezembro de 1854 – transportemo-nos ao augusto templo do Chefe dos Apóstolos (Basílica de São Pedro de Roma). Nas suas amplas naves se comprime e se confunde uma imensa multidão impaciente, porém recolhida. É hoje em Roma, como outrora em Éfeso: as celebrações de Maria são em toda a parte populares. Os romanos se aprestam a receber a definição da Imaculada Conceição, como os efesianos acolheram a da maternidade divina de Maria: com cânticos de júbilo e manifestações do mais vivo entusiasmo.
Eis no limiar da Basílica o Soberano Pontífice. Circundam-no 54 Cardeais, 42 Arcebispos e 98 Bispos dos quatro cantos do orbe cristão, duas vezes mais vasto que o antifo mundo romano. Os Anjos da Igreja estão presentes como testemunhas de fé de seus povos na Imaculada Conceição. Subitamente, irrompem as vozes em tocantes e reiteradas aclamações. O cortejo dos Bispos atravessa lentamente o longo corredor do Altar da Confissão. Sobre a cátedra de São Pedro está sentado seu 258º sucessor.
Iniciam-se os santos mistérios. Logo o Evangelho é anunciado e cantado nas diversas línguas do Oriente e do Ocidente. Eis o solene momento marcado para o decreto pontifício. Um Cardeal carregado de anos e de méritos, aproxima-se do trono: é o decano do Sacro Colégio; feliz está ele, como outrora o velho Simeão, por ver o dia da glória de Maria … Em nome de toda a Igreja, dirige ele ao Vigário de Cristo uma derradeira postulação.
O Papa, os Bispos e toda a grande assembléia caem de joelhos; a invocação ao Espírito Santo se faz ouvir; o sublime hino é repetido por cinquenta mil vozes ao mesmo tempo, subindo aos Céus como imenso concerto.
Cessado o cântico, ergue-se o Pontífice sobre a cátedra de São Pedro; sua face é iluminada por celeste raio, visível efusão do Espírito de Deus; e de uma voz profundamente emocionada, em meio às lágrimas de alegria, pronuncia ele as solenes palavras que colocam a Imaculada Conceição de Maria no número dos artigos de nossa fé:
“Declaramos – disse ele -, pronunciamos e definimos que a doutrina de que a Bem-aventurada Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus Onipotente, em atenção aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de culpa original, essa doutrina foi revelada por Deus, e deve ser, portanto, firme e constantemente crida por todos os fiéis”.
O Cardeal decano, prostrado segunda vez aos pés do Pontífice, suplicou-lhe então que a publicasse as cartas apostólicas contendo a definição. E como promotor da fé, acompanhado dos protonotários apostólicos, pediu também que se lavrasse um processo verbal desse grande ato. Ao mesmo tempo, o canhão do Castelo de Santo Angelo e todos os sinos da Cidade Eterna anunciavam a glorificação da Virgem Imaculada.
À noite, Roma, cheia de ruidosas e alegres orquestraz embandeirada, iluminada, coroada de inscrições e de emblemas, foi imitada por milhares de vilas e cidades em toda a superfície do globo.
O ano seguinte pode ser chamado o Ano da Imaculada Conceição: quase todos os dias foram assinalados por festas em honra da Santíssima Virgem.
Em 1904, São Pio X celebrou, juntamente com toda a Igreja Universal, com grande solenidade e regozijo, o cinqüentenário da definição do dogma da Imaculada Conceição.
O Papa Pio XII, por sua vez, em 1954 comemorou o primeiro centenário dessa gloriosa verdade de fé, decretanto o Ano Santo Mariano. Celebração esta coroada pela Encíclica Ad Coeli Reginam, na qual o mesmo Pontífice proclama a soberania da Santíssima Virgem, e estabelece a festa anual de Nossa Senhora Rainha.
Fonte: João Clá Dias. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição Comentado. Artpress. São Paulo, 1997, pp. 494 à 502
Imaculada Conceição de Maria Santíssima
– A Virgem no mistério de Cristo.
– A plenitude de graça que recebeu no instante da sua concepção.
– Para imitar a Virgem, é necessário relacionar-se intimamente com Ela. Devoções.
Esta festa, instituída por Pio IX, teve por motivo a proclamação do dogma, no dia 8 de dezembro de 1854. A definição dogmática tornou mais preciso o sentido desta verdade de fé e afirmou de modo solene a fé constante da Igreja. A festividade começou a ser celebrada no Oriente no século VIII e, um século depois, em muitos lugares do Ocidente.
I. TRANSBORDO DE ALEGRIA no Senhor e a minha alma exulta no meu Deus, pois Ele revestiu-me de justiça e envolveu-me no manto da salvação, como uma noiva ornada com as suas jóias1. São palavras que a liturgia coloca nos lábios de Nossa Senhora nesta Solenidade, e que expressam o cumprimento da antiga profecia de Isaías.
Tudo o que de formoso e belo se pode dizer de uma criatura, cantamo-lo hoje à nossa Mãe do Céu. “Exulte hoje toda a criação e estremeça de júbilo a natureza. Alegre-se o céu na alturas e as nuvens espalhem a justiça. Destilem os montes doçuras de mel e júbilo as colinas, porque o Senhor teve misericórdia do seu povo e suscitou-nos um poderoso salvador na casa de David, seu servo, quer dizer, nesta imaculadíssima e puríssima Virgem, por quem chegam a saúde e a esperança dos povos”2, canta um antigo Padre da Igreja.
No seu propósito de salvar a humanidade, a Santíssima Trindade determinou que Maria seria escolhida como Mãe do Filho de Deus feito homem. Mais ainda: Deus quis que Maria se unisse por um só vínculo indissolúvel, não só ao nascimento humano e terreno do Verbo, mas também a toda a obra da Redenção que Ele levaria a cabo. No plano salvífico de Deus, Maria está sempre unida a Jesus, perfeito Deus e homem perfeito, único Mediador e Redentor do gênero humano. “Foi predestinada desde a eternidade, juntamente com a Encarnação do Verbo divino, como Mãe de Deus, por desígnio da Providência divina”3.
Na Virgem puríssima, resplandecente, fixamos os nossos olhos, “como a Estrela que nos guia pelo céu escuro das expectativas e incertezas humanas, especialmente neste dia em que, sobre o fundo da liturgia do Advento, brilha esta solenidade anual da tua Imaculada Conceição e te contemplamos na eterna economia divina como a Porta aberta através da qual deve vir o Redentor do mundo”9.
II. AVE, CHEIA DE GRAÇA, o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres10. Por uma graça singular, e em atenção aos méritos de Cristo, Santa Maria foi preservada imune de toda a mancha de pecado original, desde o primeiro instante da sua concepção. Deus
“amou-a com um amor tão grande, tão acima do amor a toda a criatura, que se comprazeu nEla com singularíssima benevolência. Por isso, cumulou-a tão maravilhosamente da abundância de todos os seus dons celestiais, tirados dos tesouros da sua divindade, muito acima de todos os anjos e santos, que Ela, absolutamente sempre livre de toda a mancha de pecado, e toda formosa e perfeita, manifestou tal plenitude de inocência e santidade que não se concebe de modo algum outra maior depois de Deus nem ninguém a pode imaginar fora de Deus”11.
Esta preservação do pecado em Nossa Senhora é, em primeiro lugar, plenitude de graça totalmente singular e qualificada; a graça em Maria – ensinam os teólogos – suplantou a natureza. NEla tudo voltou a ter o seu sentido primogênio e a perfeita harmonia querida por Deus. O dom pelo qual esteve isenta de toda a mancha foi-lhe concedido como preservação de algo que não se contrai. Livre de todo o pecado atual, não teve nenhuma imperfeição – nem moral nem natural –, não teve nenhuma inclinação desordenada nem pôde ser assaltada por verdadeiras tentações internas; não teve paixões descontroladas; não sofreu os efeitos da concupiscência. Jamais esteve sujeita ao demônio em coisa alguma.
A Redenção também alcançou Maria, pois Ela recebeu todas as graças em previsão dos méritos de Cristo. Deus preparou Aquela que ia ser a Mãe do seu Filho com todo o seu Amor infinito. “Como nos teríamos comportado se tivéssemos podido escolher a nossa mãe? Penso que teríamos escolhido a que temos, cumulando-a de todas as graças. Foi o que Cristo fez, pois, sendo Onipotente, Sapientíssimo e o próprio Amor (1 Jo 4, 8), o seu poder realizou todo o seu querer”12.
No dia de hoje, podemos já divisar a proximidade do Natal. A Igreja quis que as duas festas estivessem próximas uma da outra. “Do mesmo modo que o primeiro rebento indica a chegada da primavera num mundo gelado e que parece morto, assim num mundo manchado pelo pecado e quase sem esperança, essa Conceição sem mancha anuncia a restauração da inocência do homem. Assim como o rebento nos dá uma promessa certa da flor que dele brotará, a Imaculada Conceição nos dá a promessa infalível do nascimento virginal [...]. Ainda era inverno em todo o mundo que rodeava a Virgem, exceto no lar tranqüilo onde Santa Ana deu à luz uma menina. Ali tinha começado já a primavera”13. A nova Vida iniciou-se em Nossa Senhora no mesmo instante em que foi concebida sem mancha e cheia de graça.
III. TOTA PULCHRA ES,
Maria, és toda formosa, Maria, e não há mancha alguma de pecado em Ti.
A Virgem Imaculada será sempre o ideal que devemos imitar, pois é modelo de santidade na vida ordinária, nas coisas correntes que compõem também a nossa vida. Mas, para imitá-la, temos de relacionar-nos mais assídua e intimamente com Ela. Não podemos deixá-la após estes dias da Novena, sobretudo porque Ela não nos deixa.
Temos de continuar a cumprir a profecia que a Virgem fez um dia – todas as gerações me chamarão bem-aventurada14 – e que se cumpriu ao pé da letra através de todos os séculos. No campo e na cidade, nos cumes das montanhas, nas fábricas e nos caminhos, em situações de dor e de alegria, em momentos transcendentais (quantos milhões de cristãos não morreram com o doce nome de Maria nos seus lábios ou nos seus pensamentos!), sempre se invocou e se invoca a nossa Mãe. Em tantas e tão diversas ocasiões, milhares de vozes, em diversas línguas, têm cantado louvores à Mãe de Deus ou têm-lhe pedido que olhe com misericórdia para os seus filhos necessitados. É um clamor imenso que brota desta humanidade dorida, em direção à Mãe de Deus, um clamor que atrai a misericórdia do Senhor. A nossa oração nestes dias de preparação para a grande solenidade de hoje uniu-se a tantas vozes que louvam e pedem a Nossa Senhora.
Sem dúvida, foi o Espírito Santo quem ensinou, em todas as épocas, que é mais fácil chegar ao Coração do Senhor por meio de Maria. Por isso, temos de fazer o propósito de buscar sempre um trato muito íntimo com a Virgem, de caminhar por esse atalho para chegarmos antes a Cristo: “Conservai zelosamente esse terno e confiado amor à Virgem – anima-nos o Sumo Pontífice –. Não o deixeis esfriar nunca [...]. Sede fiéis aos exercícios de piedade mariana tradicionais na Igreja: a oração do Angelus, o mês de Maria e, de modo muito especial, o Rosário”15.
Maria, cheia de graça e de esplendor, bendita entre as mulheres, é também nossa Mãe. Uma manifestação de amor a Nossa Senhora é trazer uma imagem sua na carteira ou no bolso; é multiplicar discretamente os seus retratos ao nosso redor, nos quartos da casa, no carro, no escritório ou lugar de trabalho. Parecer-nos-á natural invocá-la, ainda que seja sem palavras.
Se cumprirmos o nosso propósito de recorrer com mais freqüência à Virgem, desde o dia de hoje, verificaremos que “Nossa Senhora é descanso para os que trabalham, consolo dos que choram, remédio para os enfermos, porto para os que encontram no meio da tempestade, perdão para os pecadores, doce alívio dos tristes, socorro para os que rezam”16.
(1) Is 61, 10; Antífona de entrada da Missa do dia 8 de dezembro; (2) Santo André de Creta, Homilia I na Natividade da Santíssima Mãe de Deus; (3) Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 61; (4) Gên 3, 9-15; 20; (5) cfr. Conc. Vat. II, Const. Lumen gentium, 54; (6) ib., 63; (7) ib., 65; (8) ib., 65; (9) João Paulo II, Alocução, 8-XII-1982; (10) Lc 1, 28; Evangelho da Missa do dia 8 de dezembro; (11) Pio IX, Bula Ineffabilis Deus, 8-XII-1854; (12) Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 171; (13) R. A. Knox, Tiempos y fiestas del año litúrgico, pág. 298; (14) cfr. Lc 2, 48; (15) João Paulo II, Homilia, 12-X-1980; (16) São João Damasceno, Homilia na Dormição da B. Virgem Maria.
Fonte: Livro "Falar com Deus"de Francisco Fernández Carvajal
O Bom Pastor anunciado pelos profetas
TEMPO DO ADVENTO. PRIMEIRA SEMANA. SÁBADO
– Jesus Cristo é o Bom Pastor prometido pelos Profetas. Conhece-nos a cada um pelo nosso nome.
– O Senhor deixou bons pastores na sua Igreja.
– Encontramos o Bom Pastor na direção espiritual.
I. SE ACONTECER que te desvias para a direita ou para a esquerda, ressoarão atrás de ti, aos teus ouvidos, estas palavras: “Este é o caminho; segui por ele” 1. Uma das maiores graças que o Senhor nos pode conceder nesta vida é a de sabermos claramente a senda que nos conduz a Ele e contarmos com uma pessoa que nos ajude a sair dos nossos desvios e erros para retornarmos ao bom caminho.
Em muitos momentos da sua história, o Povo de Deus achou-se sem rumo e sem caminho, num grande desconcerto e abatimento, por falta de verdadeiros guias. Jesus Cristo encontrou assim o seu povo: como ovelhas sem pastor, segundo nos narra o Evangelho da Missa de hoje 2. Ao ver as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam extenuadas e abatidas como ovelhas sem pastor. Os seus guias tinham-se comportado mais como lobos do que como verdadeiros pastores do rebanho.
Na longa espera do Antigo Testamento, os Profetas tinham anunciado com séculos de antecedência a chegada do Bom Pastor, o Messias, que guiaria e cuidaria amorosamente do seu rebanho. Seria um pastor único 3, que iria à busca da ovelha perdida, vendaria a que estivesse ferida e curaria a doente 4. Com Ele, as ovelhas estariam seguras e teriam, em seu nome, outros bons pastores que velariam por elas e as guiariam: Dar-lhes-ei pastores que de verdade as apascentem, e já não haverão de temer mais nem angustiar-se nem afligir-se 5.
Eu sou o bom pastor 6, diz Jesus. Veio ao mundo para congregar o rebanho de Deus 7: Éreis, diz-nos São Pedro, como ovelhas desgarradas, mas agora vos convertestes ao pastor e guarda de vossas almas 8; vem o Bom Pastor para recolher o seu rebanho do seu extravio 9, para guiá-lo 10, para defendê-lo 11, para alimentá-lo 12, para julgá-lo 13, para conduzi-lo por fim aos prados definitivos, junto às águas da vida 14.
Jesus é o Bom Pastor anunciado pelos Profetas. NEle se cumprem ao pé da letra todas as profecias. Ele conhece e chama cada uma das ovelhas pelo seu nome 15. Jesus conhece-nos pessoalmente, chama-nos, busca-nos, cura-nos! Não nos sentimos perdidos e sem nome no meio de uma humanidade imensa. Somos únicos para Ele. Podemos dizer com toda a exatidão: Ele me amou e se entregou por mim 16, Ele distingue a minha voz entre muitas outras. Nenhum cristão tem o direito de dizer que está só. Jesus Cristo está com ele; e se se perdeu pelos caminhos do mal, o Bom Pastor já saiu à sua busca. Só a má vontade da ovelha, o não querer regressar ao aprisco, pode fazer fracassar a solicitude do Pastor. Só isso.
II. ALÉM DO TÍTULO de Bom Pastor, Cristo aplica a si mesmo a imagem da porta pela qual se entra no aprisco das ovelhas que é a Igreja. A Igreja “é um redil cuja porta única e necessária é Cristo. É também uma grei da qual o próprio Deus profetizou ser Pastor, e cujas ovelhas, ainda que conduzidas certamente por pastores humanos, são, não obstante, guiadas e alimentadas continuamente pelo próprio Cristo, Bom Pastor e Príncipe dos pastores, que deu a vida pelas suas ovelhas” 17.
Jesus estabeleceu que houvesse na sua Igreja bons pastores para que guardassem e guiassem as suas ovelhas 18. Estabeleceu acima de todos e como seu Vigário na terra Pedro e seus sucessores 19, e por isso devemos nutrir uma especial veneração, amor e obediência pelo Papa e, em comunhão com o Papa, pelos bispos, como sucessores dos Apóstolos. Cabe-nos rezar insistentemente por eles, para que nunca faltem na Igreja os bons pastores.
Os sacerdotes são bons pastores, especialmente na administração do sacramento da Penitência, por meio do qual nos curam de todas as nossas feridas e enfermidades. “Lembrai-vos – dizia João Paulo II – de que o vosso ministério sacerdotal [...] está orientado de maneira particular para a grande solicitude do Bom Pastor, que é solicitude pela salvação de todos os homens [...]; que os homens tenham vida e a tenham em abundância, para que nenhum se perca, mas tenham a vida eterna” 20.
Cada cristão deve também ser bom pastor dos seus irmãos, especialmente por meio da correção fraterna, do exemplo e da oração. Pensemos com freqüência que, de alguma forma, todos nós somos bons pastores das pessoas que Deus pôs ao nosso lado. Temos obrigação de ajudá-las a percorrer o caminho da santidade e a perseverar na correspondência aos dons e chamadas do Bom Pastor que nos conduz aos pastos da vida eterna.
O ofício de bom pastor é extremamente delicado; exige muito amor e muita paciência 21, valentia 22, competência23, bem como prontidão de ânimo 24 e um grande sentido de responsabilidade 25. O descuido no fiel cumprimento desta missão ocasionaria gravíssimos danos ao povo de Deus 26: “O mau pastor leva à morte até as ovelhas robustas” 27.
“Quatro são as condições que deve preencher o bom pastor. Em primeiro lugar, o amor; a caridade foi precisamente a única virtude que o Senhor exigiu de Pedro para lhe entregar o cuidado do seu rebanho. Depois, a vigilância, para estar atento às necessidades das ovelhas. Em terceiro lugar, a doutrina, para que possa alimentar os homens até levá-los à salvação. E finalmente a santidade e integridade de vida; esta é a principal de todas as qualidades” 28.
III. CADA UM DE NÓS necessita de um bom pastor que guie a sua alma, pois ninguém pode orientar-se a si próprio, a menos que tenha uma ajuda especial de Deus. A falta de objetividade, a preguiça e a paixão com que nos vemos a nós mesmos vão obscurecendo o nosso caminho para o Senhor. E sobrevêm então o estancamento espiritual, a tibieza e o desânimo. Pelo contrário, “assim como uma nau que tem um bom timoneiro chega sem perigo ao porto, assim também a alma que tem um bom pastor alcança-o facilmente, ainda que tenha cometido muitos erros” 29.
A direção espiritual é necessária para que não tenhamos que dizer no fim da nossa vida o mesmo que diziam os judeus depois de vagarem a esmo pelo deserto: Durante quarenta anos demos voltas em torno da montanha 30. Fomos vivendo sem saber para onde íamos, sem que o trabalho ou o estudo nos aproximassem de Deus, sem que a amizade, a família, a saúde e a doença, os êxitos e os fracassos nos ajudassem a dar um passo em frente naquilo que é verdadeiramente importante: a santidade, a salvação. Fomos vivendo sem rumo, entretidos com meia dúzia de coisas passageiras. E tudo isso porque nos faltaram umas metas sobrenaturais pelas quais lutar, um caminho claro e um guia.
Pode, pois, ser necessário confiar a alguém a direção da nossa alma, porque todos carecemos de uma palavra de alento, sobretudo quando desanimamos pelas derrotas no nosso caminhar para Deus. Necessitamos então de uma voz amiga que nos diga: “Vamos lá!, não deves parar, porque tens a graça de Deus para vencer qualquer dificuldade!” Diz-nos o Espírito Santo: Se alguém cai, outro o levanta; mas ai daquele que está só, porque, quando cai, não tem quem o levante 31. E com essa ajuda nos recompomos por dentro e conseguimos forças quando já nos parecia que não nos restava nenhuma.
É uma graça especial de Deus podermos contar com essa pessoa amiga a quem podemos abrir a alma numa confidência cheia de sentido humano e sobrenatural. Que alegria podermos comunicar o mais íntimo dos nossos sentimentos – a fim de orientá-los para Deus – a alguém que nos compreende, nos estima, nos abre horizontes novos, nos estimula, reza por nós e tem uma graça especial de Deus para nos ajudar!
Mas é importante recorrer a quem é realmente bom pastor para nós, àquele a quem o Senhor quer verdadeiramente que recorramos. São Lucas conta-nos como o filho pródigo sentiu a necessidade de descarregar o peso que esmagava a sua alma. Também Judas se sentiu esmagado pelo peso da sua traição. O primeiro, porém, dirigiu-se àquele a quem devia dirigir-se e alcançou uma paz que nem sequer podia imaginar; reconstituiu a sua vida. Ao passo que Judas não. Judas devia ter voltado para Jesus, e, apesar do seu pecado, teria sido acolhido e confortado, tal como Pedro. Mas procurou aqueles que não devia, aqueles que eram incapazes de compreendê-lo e, sobretudo, de lhe dar aquilo de que necessitava. A nós que nos importa? Resolvê-lo-ás tu próprio, foi o que lhe disseram.
Na direção espiritual, encontramos o bom pastor que nos dá as ajudas necessárias para não nos perdermos e para recuperarmos o rumo, caso nos tenhamos desorientado no nosso caminhar para Cristo.
Santa Maria, que é a nossa Mãe, mostra-nos sempre a via segura que nos conduz a Cristo.
(1) Is 30, 21; Primeira leitura da Missa do sábado da primeira semana do Advento; (2) Mt 9, 35 a 10, 1 e 6-8 (3) Ez 34, 23; (4) cfr. Ez 34, 16; (5) Jer 23, 4; (6) Jo 10, 11; (7) Mt 15, 24; (8) 1 Pe 2, 25; (9) Lc 15, 3-7; (10) Jo 10, 4; (11) Lc 12, 32; (12) Mc 6, 34; (13) Mt 25, 32; (14) 1 Pe 5, 4; Apoc 7, 17; (15) Jo 10, 3; (16) Gál 2, 20; (17) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 6; (18) Ef 4, 11; (19) Jo 21, 15-17; (20) João Paulo II, Carta a todos os sacerdotes, 8-IV-1979, 7; (21) Is 40, 11; Ez 34, 4; (22) 1 Sam 25, 7; Is 31, 4; Am 3, 12; (23) Prov 27, 23; (24) 1 Pe 5, 2; (25) Mt 18, 12; (26) Is 13, 14-15; Jer 50, 6-8; (27) Santo Agostinho, Sermão 46 sobre os pastores; (28) São Tomás de Vilanova, Sermão sobre o Evangelho do Bom Pastor, em Opera omnia, Manila, 1922, págs. 324-325; (29) São João Clímaco, Escada do Paraíso; (30) Deut 2, 1; (31) Ecl 4, 10.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Santo Ambrósio de Milão
07 de Dezembro
Santo Ambrósio de Milão
Aurélio Ambrósio nasceu na cidade de Trèves, que fica na atual Alemanha, perto do ano 339. Sua família era católica, embora a liberdade da Igreja era, ainda, muito recente no império romano. Seu pai era um nobre e exercia a função de governador de uma província que ficava no norte da Itália. Quando seu pai faleceu, a família de Ambrósio mudou-se para Roma. Lá, Ambrósio formou-se em Direito e retórica. Lá também deu início à sua carreira jurídica.
Estando Ambrósio na cidade de Milão, aconteceu que o bispo desta grande diocese faleceu. Ambrósio era, então, catecúmeno, ou seja, estava se preparando para ser batizado. Por causa disso, e por ser um bom advogado e funcionário do império, fez um papel de mediador, procurando evitar conflitos na eleição do novo bispo. Por isso, fez um discurso forte, firme e, ao mesmo tempo, bastante sensato. Sua serenidade e equilíbrio foram tais que, ao terminar de falar, o povo, emocionado, o aclamou como o novo bispo da diocese de Milão.
Bastante surpreso com a reação dos cristãos de Milão, Ambrósio recusou, afirmando que essa não tinha sido sua intenção. Reconheceu-se pecador, muito indigno de assumir tal missão e alegou o fato de ainda não ser nem batizado. Porém, não teve como escapar. Tão logo foi batizado, recebeu a ordenação sacerdotal e, logo depois, foi sagrado bispo. Por aí, vemos quão séria e profunda era a formação dos candidatos ao batismo.
A partir de sua sagração episcopal, Santo Ambrósio dedicou-se com grande afinco a estudar as Sagradas Escrituras, base de toda sua fé. Por isso, escreveu bastante. Suas obras sobre liturgia, seus comentários escritos sobre as Sagradas Escrituras e seus tratados sobre a moral e a espiritualidade fizeram dele um grande especialista na doutrina cristã. Santo Ambrósio também se destacou como administrador da comunidade cristã que foi confiada a seus cuidados.
Santo Ambrósio recebeu o título de Doutor da Igreja por causa de sua obra e seu legado para a gerações futuras. Valorizou grandemente a virgindade de Nossa Senhora e a coragem extraordinária dos mártires que deram suas vidas por Cristo. Ele passou a ser chamado de o criador da liturgia ambrosiana, que transformou vidas.
Santo Ambrósio atuou também como conselheiro espiritual e orientador de três imperadores romanos. São eles Graciano, Valentiniano II e Teodósio I. Santo Ambrósio passou a ser também o símbolo da Igreja renascente, depois dos terríveis anos de perseguições e vida na clandestinidade. Foi graças à atuação de Santo Ambrósio que a Igreja começou a tratar com o Estado romano e o poder público sem o servilismo de antes. E isso aconteceu de tal maneira que Santo Ambrósio chegou a fazer uma repreensão severa ao imperador Teodósio I, por ele ter ordenado um massacre contra o povo da Tessalônica para conter uma revolta. Na ocasião, o santo obrigou o imperador a fazer um ato de penitência pública. E foi obedecido.
Santo Ambrósio é o grande responsável, humanamente falando, pela conversão de Santo Agostinho. Este santo, com efeito, se converteu ouvindo os sermões e o canto litúrgico criado por Santo Ambrósio. Os livros que Santo Ambrósio deixou, que estão preservados, são, na sua maioria, transcrições literais de seus sermões. Santo Agostinho conta que a fama dos sermões de Santo Ambrósio era enorme. Dizia que seu tom de voz era marcante e sua eloquência tocava os corações. Por isso, Santo Ambrósio foi apelidado de "o apóstolo da amizade".
A volta de Santo Ambrósio à pátria celestial aconteceu em Milão. Foi no dia 4 de abril de 397. Caiu numa Sexta-Feira Santa. Contudo, ele passou a ser venerado em 7 de dezembro, dia em que ele foi aclamado bispo pelos cristãos de Milão, no ano 374.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
07 de Dezembro 2019
A SANTA MISSA

1ª Semana do Advento – Sábado
Memória: Santo Ambrósio, bispo e doutor da Igreja
Cor: Branca
1ª Leitura: Is 30,19-21.23-26
O Senhor se comoverá à voz do teu clamor.
Leitura do Livro do Profeta Isaías
Assim fala o Senhor, o Santo de Israel: 19 Povo de Sião, que habitas em Jerusalém, não terás motivo algum para chorar: ele se comoverá à voz do teu clamor; logo que te ouvir, ele atenderá. 20 O Senhor de certo dará a todos o pão da angústia e a água da aflição, não se apartará mais de ti o teu mestre; teus olhos poderão vê-lo 21 e teus ouvidos poderão ouvir a palavra de aviso atrás de ti: ‘O caminho é este para todos, segui por ele’, sem desviar-vos à direita ou à esquerda. 23 Ele te dará chuva para a semente que tiveres semeado na terra, e o fruto da terra será abundante e rico; nesse dia, o teu rebanho pastará em vastas pastagens, 24 teus bois e os animais que lavram a terra comerão forragem salgada, limpa com pá e peneira. 25 Haverá em toda montanha alta e em toda colina elevada arroios de água corrente, num dia em que muitos serão mortos com o desabamento de seus torreões. 26 A lua brilhará como a luz do sol e o sol brilhará sete vezes mais, como a luz de sete dias, no dia em que o Senhor curar a ferida de seu povo e fizer sarar a lesão de sua chaga.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 146 (147) 1-2. 3-4. 5-6 (R. Is 30,18)
R. Felizes são aqueles, que esperam no Senhor!
1 Louvai o Senhor Deus, porque ele é bom, +
cantai ao nosso Deus, porque é suave:*
ele é digno de louvor, ele o merece!
2 O Senhor reconstruiu Jerusalém,*
e os dispersos de Israel juntou de novo. R.
3 ele conforta os corações despedaçados,*
ele enfaixa suas feridas e as cura;
4 fixa o número de todas as estrelas*
e chama a cada uma por seu nome. R.
5 É grande e onipotente o nosso Deus,*
seu saber não tem medida nem limites.
6 O Senhor Deus é o amparo dos humildes,*
mas dobra até o chão os que são ímpios. R.
Evangelho: Mt 9,35_10,1.6-8
Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
Naquele tempo: 35 Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, e curando todo tipo de doença e enfermidade. 36 Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse a seus discípulos: 37 ‘A Messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38 Pedi pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!’ 10,1 E, chamando os seus doze discípulos deu-lhes poder para expulsarem os espíritos maus e para curarem todo tipo de doença e enfermidade. Enviou-os com as seguintes recomendações: 6 Ide, antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel! 7 Em vosso caminho, anunciai: ‘O Reino dos Céus está próximo’. 8 Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar!
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Aumentar a nossa fé
TEMPO DO ADVENTO. PRIMEIRA SEMANA. SEXTA-FEIRA
– Necessidade da fé. Pedi-la.
– A fé, o maior tesouro que temos. Guardá-la. Comunicá-la.
– A fé de Maria.
I. NAQUELE DIA, os surdos ouvirão as palavras do livro e os olhos do cego verão por entre as trevas e a escuridão. E os mansos se alegrarão mais e mais no Senhor, e os pobres se regozijarão no Santo de Israel1.
A nova era do Messias é anunciada pelos Profetas como uma era cheia de alegria e de prodígios. Mas há uma coisa, uma só, que o Redentor nos pedirá: fé. Sem essa virtude, o Reino de Deus não chegará a nós.
O Evangelho da Missa 2 apresenta-nos dois cegos que seguiam o Senhor pedindo-lhe em altos brados que os sarasse: Tem misericórdia de nós, Filho de Davi, dizem-lhe. O Senhor pergunta-lhes:Credes que eu posso fazer isso? Quando lhe responderam que sim, Ele os despediu curados, dizendo-lhes: Faça-se em vós segundo a vossa fé 3. Em Jericó, devolveu igualmente a vista a outro cego e disse-lhe: Vai, a tua fé te salvou. E no mesmo instante recobrou a vista e seguia-o pelo caminho 4. Ao pai de uma menina morta, assegura-lhe: Não temas, basta que creias e viverá 5. Poucos momentos antes, tinha curado uma mulher, enferma há muito tempo, que manifestara a sua fé simplesmente tocando a orla da sua veste; e Ele dissera-lhe: Filha, a tua fé te salvou, vai em paz 6. Ó mulher, grande é a tua fé!, dirá a uma mulher cananéia. E a seguir: Faça-se como tu queres 7. Não há obstáculos para aquele que crê. Tudo é possível àquele que crê 8, diz Jesus ao pai do rapaz que estava possuído por um espírito mudo.
Tudo é possível àquele que crê
Os Apóstolos comportam-se diante do Senhor com toda a simplicidade. Sabem da sua fé insuficiente em face de muitas das coisas que vêem e ouvem, e um dia pedem a Jesus: Aumenta-nos a fé! O Senhor responde-lhes: Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a este sicômoro: arranca-te daí e muda-te para o mar, e ele vos obedeceria 9.
Também nós estamos na situação dos Apóstolos; falta-nos fé para vencer a carência de meios, as dificuldades na ação apostólica, os acontecimentos que nos custa interpretar de um ponto de vista espiritual. Se vivermos com o olhar posto em Deus, não precisaremos temer nada: “A fé, se for forte, defende toda a casa” 10; defende toda a nossa vida. Com ela podemos alcançar frutos que estão acima das nossas poucas forças; não haverá impossíveis. “Jesus Cristo estabelece esta condição: que vivamos da fé, porque depois seremos capazes de remover montanhas. E há tantas coisas a remover... no mundo, e primeiro no nosso coração!” 11
Imitemos os Apóstolos e, com ânimo humilde – porque conhecemos as nossas poucas forças e as nossas covardias –, peçamos ao Senhor que tenha piedade de nós. “Senhor, aumenta-nos a fé!”, dizemos-lhe na nossa oração. Santa Maria, pedi ao vosso Filho que nos aumente a fé, tão fraca e débil em tantas ocasiões!
É com esta confiança que aguardamos o Natal e por isso rezamos com a Igreja: Bem vedes, Senhor, como o vosso povo espera com fé o nascimento do vosso Filho; concedei-nos que cheguemos ao Natal – festa de júbilo e salvação – e que possamos celebrá-lo com alegria transbordante 12.
II. A FÉ é o maior tesouro que temos e, por isso, devemos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para conservá-la e aumentá-la. Também devemos, como é natural, defendê-la de tudo o que a possa prejudicar: leituras (especialmente em épocas em que os erros estejam mais difundidos), espetáculos que sujem o coração, provocações da sociedade de consumo, programas de televisão que possam danificar este tesouro que recebemos. Procuremos adquirir uma formação adequada, tanto mais sólida quanto mais difíceis forem os ambientes e situações em que se desenvolver a nossa vida; procuremos rezar com atenção o Credo na Missa dos domingos e festas, fazendo uma verdadeira profissão de fé.
Numa época de confusão doutrinal como a nossa, é preciso vigiar com especial cuidado para não ceder em matérias que, mesmo de longe, digam respeito ao conteúdo da nossa fé, porque “se se cede num ponto qualquer do dogma católico, depois será necessário ceder em outro, e depois em mais outro, e assim por diante, até que tais abdicações acabarão por converter-se em coisa normal e lícita. E uma vez metida a mão para rejeitar o dogma pedaço a pedaço, que acontecerá no fim senão que o repudiaremos na sua totalidade?” 13
Se guardarmos a fé e a refletirmos na nossa vida diária, saberemos comunicá-la aos outros. Daremos ao mundo o mesmo testemunho que deram os primeiros cristãos: foram fortes como rocha perante dificuldades inimagináveis. Muitos dos nossos amigos, ao perceberem que a nossa conduta é coerente com a fé que professamos, ver-se-ão movidos a aproximar-se do Senhor pelo nosso testemunho sereno e firme.
Todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai que está nos céus 14. Que grande promessa para que nos animemos a uma vida apostólica! Confessar Deus diante dos homens é ser testemunha viva da sua vida e da sua palavra. Nós queremos cumprir as nossas tarefas cotidianas segundo a doutrina de Jesus Cristo, e devemos estar dispostos a deixar transparecer a nossa fé em todas as nossas obrigações familiares, profissionais e sociais. Pensemos um pouco no nosso trabalho, nos nossos colegas, nas nossas amizades: reconhecem-nos como pessoas cuja conduta é coerente com a sua fé? Não nos falta audácia para falar de Deus aos nossos amigos? Não nos sobram respeitos humanos? Velamos pela fé daqueles que o Senhor, de uma forma ou de outra, confiou aos nossos cuidados?
III. EM QUALQUER TEMPO devemos ter os olhos postos em Nossa Senhora, que viveu toda a sua existência movida pela fé, mas devemos fazê-lo especialmente neste tempo do Advento, que foi para Ela tempo de espera, de esperança segura, antes de que o Messias nascesse do seu seio virginal. Bem-aventurada tu que creste 15, diz-lhe a sua prima Santa Isabel.
Confiança e serenidade da Virgem Maria ante a descoberta da sua vocação. Ela é a Mãe de Deus! É aquela criatura de quem os Livros Sagrados vinham falando desde o começo do Gênesis, aquela que esmagaria a cabeça dos inimigos de Deus e dos homens 16, a mulher tantas vezes anunciada pelos Profetas 17. Javé olhou para a humildade, para a simplicidade, da sua escrava 18.
Serenidade confiante da Virgem ante o silêncio que tem que manter diante de São José. Maria amava a José, e vê-o sofrer 19. Mas confia em Deus. É possível que, ao seguirmos a nossa vocação, ou ao atuarmos em cumprimento da vontade divina, temamos fazer sofrer as pessoas queridas. Deus sabe arrumar bem as coisas.
“Deus sabe mais!” 20, vê mais longe. O cumprimento da vontade de Deus, que sempre exige fé, é o maior bem para nós mesmos e para aqueles com quem convivemos.
Fé da Virgem nos momentos difíceis que precedem o nascimento de Jesus: São José bateu a muitas portas naquela noite santa e a Virgem ouviu muitas negativas. Fé quando têm que fugir precipitadamente para o Egito: Deus que foge para um país estranho...!
Confiança de Maria ao longo de cada um dos dias que perfizeram os trinta anos vividos ocultamente por Jesus em Nazaré, quando não havia sinais prodigiosos da divindade do seu Filho, mas somente um trabalho simples e corrente.
Fé de Maria no Calvário. “A Santíssima Virgem avançou na peregrinação da fé e manteve fielmente a sua união com o Filho até à Cruz, junto à qual, por desígnio divino, permaneceu de pé, sofrendo profundamente com o seu Unigênito e associando-se com entranhas de mãe ao seu Sacrifício, consentindo amorosamente na imolação da Vítima que Ela mesma havia gerado” 21.
Maria vive com o olhar fixado em Deus. Pôs toda a sua confiança no Altíssimo e entregou-se a Ele por completo. É o que Ela nos pede: que vivamos com uma confiança inquebrantável em Jesus. E isto porque deseja ver-nos serenos no meio de todas as tempestades, e porque devemos infundir serenidade nos que estão à nossa volta. Maria quer, sobretudo, ver-nos um dia no Céu, junto do seu Filho.
Rezamos com a liturgia da Igreja: Ó Deus, que revelastes ao mundo o esplendor da vossa glória pelo parto virginal de Maria, concedei-nos que veneremos com fé pura e celebremos com amor sincero o mistério tão profundo da encarnação do vosso Filho 22.
(1) Is 29, 17-24; Primeira leitura da Missa da sexta-feira da primeira semana do Advento; (2) Mt 9, 27-31; (3) Mt 9, 28-29; (4) Mc 10, 52; (5) Lc 8, 50; (6) Lc 8, 48; (7) Mt 15, 28; (8) Mc 9, 23; (9) Lc 17, 5-10; (10) Santo Ambrósio, Comentário sobre o Salmo 18, 12, 13; (11) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 203; (12) Oração da Missa do terceiro domingo do Advento; (13) São Vicente de Lerins, Commonitorium, n. 23; (14) Mt 10, 32; (15) Lc 1, 45; (16) Gên 3, 15; (17) cfr. Is 7, 14; Miq 5, 2; (18) cfr. Lc 1, 48; (19) cfr. Mt 1, 18-19; (20) Álvaro del Portillo, na Apresentação de Amigos de Deus; (21) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 58; (22) Oração da Missa do dia 19 de dezembro.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal