29 de Dezembro 2019
A SANTA MISSA

Festa: Sagrada Família: Jesus, Maria e José – Ano A
Cor: Branca
1ª Leitura: Eclo 3,3-7.14-17a (gr.2-6.12-14)
Quem teme o Senhor, honra seus pais.
Leitura do Livro do Eclesiástico
3 Deus honra o pai nos filhos e confirma, sobre eles, a autoridade da mãe. 4 Quem honra o seu pai, alcança o perdão dos pecados; evita cometê-los e será ouvido na oração quotidiana. 5 Quem respeita a sua mãe é como alguém que ajunta tesouros. 6 Quem honra o seu pai, terá alegria com seus próprios filhos; e, no dia em que orar, será atendido. 7 Quem respeita o seu pai, terá vida longa, e quem obedece ao pai é o consolo da sua mãe. 14 Meu filho, ampara o teu pai na velhice e não lhe causes desgosto enquanto ele vive. 15 Mesmo que ele esteja perdendo a lucidez, procura ser compreensivo para com ele; não o humilhes, em nenhum dos dias de sua vida, a caridade feita a teu pai não será esquecida, 16 mas servirá para reparar os teus pecados 17a e, na justiça, será para tua edificação.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 127,1-2.3.4-5 (R. Cf 1)
R. Felizes os que temem o Senhor e trilham seus caminhos!
1 Feliz és tu se temes o Senhor*
e trilhas seus caminhos!
2 Do trabalho de tuas mãos hás de viver,*
serás feliz, tudo irá bem! R.
3 A tua esposa é uma videira bem fecunda*
no coração da tua casa;
os teus filhos são rebentos de oliveira*
ao redor de tua mesa. R.
4 Será assim abençoado todo homem*
que teme o Senhor.
5 O Senhor te abençoe de Sião,*
cada dia de tua vida. R.
2ª Leitura: Cl 3,12-21
A vida da família no Senhor.
Leitura da Carta de São Paulo aos Colossenses
Irmãos: 12 Vós sois amados por Deus, sois os seus santos eleitos. Por isso, revesti-vos de sincera misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, 13 suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também. 14 Mas, sobretudo, amai-vos uns aos outros, pois o amor é o vínculo da perfeição. 15 Que a paz de Cristo reine em vossos corações, à qual fostes chamados como membros de um só corpo. E sede agradecidos. 16 Que a palavra de Cristo, com toda a sua riqueza, habite em vós. Ensinai e admoestai-vos uns aos outros com toda a sabedoria. Do fundo dos vossos corações, cantai a Deus salmos, hinos e cânticos espirituais, em ação de graças. 17 Tudo o que fizerdes, em palavras ou obras, seja feito em nome do Senhor Jesus Cristo. Por meio dele dai graças a Deus, o Pai. 18 Esposas, sede solícitas para com vossos maridos, como convém, no Senhor. 19 Maridos, amai vossas esposas e não sejais grosseiros com elas. 20 Filhos, obedecei em tudo aos vossos pais, pois isso é bom e correto no Senhor. 21 Pais, não intimideis os vossos filhos, para que eles não desanimem.
– Palavra do Senhor.
– Graças a Deus.
Evangelho: Mt 2,13-15.19-23
Levanta-te, pega o menino e sua mãe foge para o Egito.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
13 Depois que os magos partiram, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: ‘Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise! Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo.’ 14 José levantou-se de noite, pegou o menino e sua mãe, e partiu para o Egito. 15 Ali ficou até à morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: ‘Do Egito chamei o meu Filho.’ 19 Quando Herodes morreu, o anjo do Senhor apareceu em sonho a José, no Egito, 20 e lhe disse: ‘Levanta-te, pega o menino e sua mãe, e volta para a terra de Israel; pois aqueles que procuravam matar o menino já estão mortos.’ 21 José levantou-se, pegou o menino e sua mãe, entrou na terra de Israel. 22 Mas, quando soube que Arquelau reinava na Judeia, no lugar de seu pai Herodes, teve medo de ir para lá. Por isso, depois de receber um aviso em sonho, José retirou-se para a região da Galileia, 23 e foi morar numa cidade chamada Nazaré. Isso aconteceu para se cumprir o que foi dito pelos profetas: Ele será chamado Nazareno.’
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
A Família de Nazaré
SAGRADA FAMÍLIA, JESUS, MARIA E JOSÉ. PRIMEIRO DOMINGO DEPOIS DO NATAL
– Jesus quis começar a Redenção do mundo no seio de uma família.
– A missão dos pais. Exemplo de Maria e José.
– A Sagrada Família, exemplo para todas as famílias.
I. CUMPRIDAS TODAS AS COISAS segundo a Lei do Senhor, voltaram para a Galiléia, para a sua cidade de Nazaré. O Menino crescia e fortalecia-se, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava com Ele1.
O Messias quis começar a sua tarefa redentora no seio de uma família simples, normal. O lar onde nasceu foi a primeira realidade humana que Jesus santificou com a sua presença.
Nesse lar, José era o chefe de família; como pai legal, era a ele que cabia sustentar Jesus e Maria com o seu trabalho. Foi ele quem recebeu a mensagem do nome que devia dar ao Menino – pôr-lhe-ás o nome de Jesus – e as indicações necessárias para proteger o Filho: Levanta-te, toma o Menino e foge para o Egito. Levanta-te, toma o Menino e volta para a pátria. Não vás a Belém, mas a Nazaré. Dele aprendeu Jesus o seu ofício, o meio de ganhar a vida. Jesus devia manifestar-lhe muitas vezes a sua admiração e o seu carinho.
De Maria, Jesus aprendeu maneiras de falar, ditos populares cheios de sabedoria, que mais tarde utilizaria na sua pregação. Viu com certeza como Ela guardava um pouco de massa de um dia para o outro, como lhe jogava água e a misturava com a nova massa, deixando-a fermentar bem abrigada debaixo de um pano limpo. Quando a Mãe remendava a roupa, o Menino devia observá-la; se uma peça tinha um rasgão, Maria procuraria um pedaço de pano que se ajustasse ao remendo. Jesus, com a curiosidade própria das crianças, perguntar-lhe-ia por que não se servia de um tecido novo; e a Virgem Maria explicar-lhe-ia que os retalhos novos, quando são molhados, estiram o pano anterior e o rasgam; por isso era preciso fazer os remendos com pano velho... E quanto às melhores roupas, que se reservavam para os dias de festa e costumavam ser guardadas numa arca, Maria tinha sem dúvida muito cuidado em colocar junto delas certas plantas olorosas, para evitar que a traça as destruísse.
Tudo isto aparecerá anos mais tarde na pregação de Jesus e leva-nos a pensar num ensinamento fundamental para a nossa vida diária: “A quase totalidade dos dias que Nossa Senhora passou na terra decorreram de forma muito parecida à de milhões de outras mulheres, ocupadas em cuidar da família, em educar os filhos, em levar a cabo as tarefas do lar. Maria santifica as coisas mais pequenas, aquelas que muitos consideram erroneamente como intranscendentes e sem valor: o trabalho de cada dia, os pormenores de atenção com as pessoas queridas, as conversas e visitas por motivos de parentesco ou de amizade. Bendita normalidade, que pode estar repassada de tanto amor de Deus!”2
Entre José e Maria havia carinho santo, espírito de serviço e compreensão. Assim é a família de Jesus: sagrada, santa, exemplar, modelo de virtudes humanas, disposta a cumprir com exatidão a vontade de Deus. O lar cristão deve ser imitação do de Nazaré: um lugar onde Deus caiba plenamente e possa estar no centro do amor entre todos.
É assim o nosso lar? Dedicamos-lhe o tempo e a atenção que merece? Jesus é o centro? Sacrificamo-nos pelos outros? São perguntas que podem ser oportunas na nossa oração de hoje, enquanto contemplamos Jesus, Maria e José na festa que a Igreja lhes dedica.
II. NA FAMÍLIA, “os pais devem ser para seus filhos os primeiros educadores da fé, mediante a Palavra e o exemplo”3. Isto cumpriu-se de maneira singularíssima no caso da Sagrada Família. Jesus aprendeu de seus pais o significado das coisas que o rodeavam.
A Sagrada Família devia recitar com devoção as orações tradicionais que se rezavam em todos os lares israelitas, mas naquela casa tudo o que se referia particularmente a Deus tinha um sentido e um conteúdo novos. Com que prontidão, fervor e recolhimento Jesus devia repetir os versículos da Sagrada Escritura que as crianças hebraicas tinham que aprender!4 Devia recitar muitas vezes essas orações aprendidas dos lábios de seus pais.
Ao meditarem nestas cenas, os pais devem considerar com freqüência as palavras do Papa Paulo VI recordadas por João Paulo II: “Vocês ensinam às suas crianças as orações do cristão? Preparam os seus filhos, de comum acordo com os sacerdotes, para os sacramentos da primeira idade: Confissão, Comunhão, Confirmação? Acostumam-nos, se estão doentes, a pensar em Cristo que sofre, a invocar a ajuda de Nossa Senhora e dos santos? Recitam o terço em família? Sabem rezar com os seus filhos, com toda a comunidade doméstica, ao menos de vez em quando? O exemplo que derem com a sua retidão de pensamento e de ação, apoiado em alguma oração em comum, valerá por uma lição de vida, valerá por um ato de culto de mérito singular; vocês levam desse modo a paz ao interior dos muros domésticos: Pax huic domui. Lembrem-se de que assim edificam a Igreja”5.
Os lares cristãos, se imitarem o da Sagrada Família de Nazaré, serão “lares luminosos e alegres”6, porque cada membro da família se esforçará em primeiro lugar por aprimorar o seu relacionamento pessoal com o Senhor e, com espírito de sacrifício, procurará ao mesmo tempo chegar a uma convivência cada dia mais amável com todos os da casa.
A família é escola de virtudes e o lugar habitual onde devemos encontrar a Deus. “A fé e a esperança têm que manifestar-se na serenidade com que se encaram os problemas, pequenos ou grandes, que surgem em todos os lares, no ânimo alegre com que se persevera no cumprimento do dever. Assim, a caridade inundará tudo e levará a compartilhar as alegrias e os possíveis dissabores, a saber sorrir, esquecendo as preocupações pessoais para atender os outros; a escutar o cônjuge ou os filhos, mostrando-lhes que são queridos e compreendidos de verdade; a não dar importância a pequenos atritos que o egoísmo poderia converter em montanhas; a depositar um amor grande nos pequenos serviços de que se compõe a convivência diária. Santificar o lar, dia a dia; criar, com o carinho, um autêntico ambiente de família: é disso que se trata”7.
O exercício das virtudes teologais no seio da família alicerçará a unidade que a Igreja nos ensina a pedir: Vós, que ao nascerdes numa família fortalecestes os vínculos familiares, fazei que as famílias vejam crescer a unidade8.
III. UMA FAMÍLIA UNIDA a Cristo é um membro do seu Corpo místico, e foi chamada “Igreja doméstica”9. Esta comunidade de fé e de amor tem de manifestar-se em cada circunstância como testemunho vivo de Cristo, à semelhança da própria Igreja. “A família cristã proclama em voz muito alta tanto as presentes virtudes do Reino como a esperança da vida bem-aventurada”10.
Cada lar cristão tem na Sagrada Família o seu exemplo mais cabal; nela, a família cristã pode descobrir o que deve fazer e como deve comportar-se, para a santificação e a plenitude humana de cada um dos seus membros. Cada lar cristão tem na Sagrada Família o seu exemplo mais cabal; nela, a família cristã pode descobrir o que deve fazer e como deve comportar-se, para a santificação e a plenitude humana de cada um dos seus membros. “Nazaré é a escola onde se começa a compreender a vida de Jesus: a escola do Evangelho. Aqui se aprende a olhar, a escutar, a meditar e a penetrar o significado, tão profundo e tão misterioso, dessa muito simples, muito humilde e muito bela manifestação do Filho de Deus entre os homens. Aqui se aprende até, talvez insensivelmente, a imitar essa vida”11.
A família é a forma básica e mais simples da sociedade. É a principal “escola de todas as virtudes sociais”. É a sementeira da vida social, pois é na família que se pratica a obediência, a preocupação pelos outros, o sentido de responsabilidade, a compreensão e a ajuda mútua, a coordenação amorosa entre os diversos modos de ser. Isto se realiza especialmente nas famílias numerosas, sempre louvadas pela Igreja12. Com efeito, está comprovado que a saúde de uma sociedade se mede pela saúde das famílias. Esta é a razão pela qual os ataques diretos à família (como é o caso da introdução do divórcio na legislação) são ataques diretos à própria sociedade, cujos resultados não tardam a manifestar-se.
“Desejamos que a Virgem Maria, Mãe da Igreja, seja também Mãe da «Igreja doméstica», e que, graças à sua ajuda materna, cada família cristã possa chegar a ser verdadeiramente uma pequena Igreja de Cristo. Seja Ela, Escrava do Senhor, exemplo de uma aceitação humilde e generosa da vontade de Deus; seja Ela, Mãe Dolorosa aos pés da Cruz, quem alivie os sofrimentos e enxugue as lágrimas daqueles que sofrem pelas dificuldades das suas famílias. E que Cristo Senhor, Rei do Universo, Rei das famílias, esteja presente, como em Caná, em cada lar cristão, para dar luz, alegria, serenidade e fortaleza”13.
Pedimos hoje de modo muito especial à Sagrada Família por cada um dos membros da nossa família e pelo mais necessitado dentre eles.
(1) Lc 2, 39-40; (2) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 148; (3) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 11; (4) cfr. Sl 55, 18; Dan 6, 11; Sl 119; (5) João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris consortio, 60; (6) cfr. São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 22; (7) ibid., n. 23; (8) Preces. Segundas vésperas do dia 1º de janeiro; (9) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 11; (10) ibid., 35; (11) Paulo VI, Alocução em Nazaré, 5-I-1964; (12) cfr. Concílio Vaticano II, ConstituiçãoGaudium et spes, 52; (13) João Paulo II, Exortação Apostólica Familiaris consortio, 86.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
28 de Dezembro 2019
A SANTA MISSA

Festa: Santos Inocentes, Mártires
Cor: Vermelha
1ª Leitura: 1Jo 1,5-2,2
O sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo pecado.
Leitura da Primeira Carta de São João
Caríssimos: 5 A mensagem, que ouvimos de Jesus Cristo e vos anunciamos, é esta: Deus é luz e nele não há trevas. 6 Se dissermos que estamos em comunhão com ele, mas andamos nas trevas, estamos mentindo e não nos guiamos pela verdade. 7 Mas, se andamos na luz, como ele está na luz, então estamos em comunhão uns com os outros, e o sangue de seu Filho Jesus nos purifica de todo pecado. 8 Se dissermos que não temos pecado, estamo-nos enganando a nós mesmos, e a verdade não está dentro de nós. 9 Se reconhecermos nossos pecados, então Deus se mostra fiel e justo, para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda culpa. 10 Se dissermos que nunca pecamos, fazemos dele um mentiroso e sua palavra não está dentro de nós. 2,1 Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. 2 Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 123(124),2-3.4-5.7b-8 (R. 7a)
R. Nossa alma como um pássaro escapou
do laço que lhe armara o caçador.
2 Se o Senhor não estivesse ao nosso lado, *
quando os homens investiram contra nós,
3 com certeza nos teriam devorado *
no furor de sua ira contra nós. R.
4 Então as águas nos teriam submergido, *
a correnteza nos teria arrastado,
5 e então, por sobre nós teriam passado *
essas águas sempre mais impetuosas. R.
7b O laço arrebentou-se de repente, *
e assim nós conseguimos libertar-nos.
8 O nosso auxílio está no nome do Senhor, *
do Senhor que fez o céu e fez a terra! R.
Evangelho: Mt 2,13-18
Herodes mandou matar todos os meninos de Belém.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São Mateus
13 Depois que os magos partiram, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise! Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. 14 José levantou-se de noite, pegou o menino e sua mãe, e partiu para o Egito. 15 Ali ficou até à morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: “Do Egito chamei o meu Filho”. 16 Quando Herodes percebeu que os magos o haviam enganado, ficou muito furioso. Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, exatamente conforme o tempo indicado pelos magos. 17 Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias: 18 “Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos, e não quer ser consolada, porque eles não existem mais”.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
O Martírio dos Inocentes
SANTOS INOCENTES. 28 DEDEZEMBRO
– A dor, uma realidade da nossa vida. Santificação da dor.
– A cruz de cada dia.
– Os que sofrem com sentido de corredenção serão consolados por Nosso Senhor. Devemos compadecer-nos das dificuldades e dores dos nossos irmãos e ajudá-los a superá-las.
I. HERODES, AO VER que os Magos o tinham enganado, irritou-se em extremo e mandou matar todos os meninos que havia em Belém e seus arredores, de dois anos para baixo, consoante o tempo que cuidadosamente tinha averiguado dos Magos1.
Não há uma explicação fácil para o sofrimento, e muito menos para o de um inocente. O relato de São Mateus que lemos na Missa de hoje mostra-nos o sofrimento, à primeira vista inútil e injusto, de uns meninos que dão a sua vida por uma Pessoa e por uma Verdade que ainda não conhecem.
O sofrimento é causa freqüente de escândalo e levanta-se diante de muitos como um imenso muro que os impede de ver a Deus e de compreender o seu amor infinito pelos homens. Por que Deus todo-poderoso não evita tanta dor aparentemente inútil?
A dor é um mistério e, no entanto, o cristão descobre nas trevas do sofrimento, próprio ou alheio, a mão amorosa e providente de seu Pai-Deus – que sabe mais e vê mais longe –, e entende de alguma forma as palavras de São Paulo aos primeiros cristãos de Roma: Todas as coisas contribuem para o bem dos que amam a Deus2, mesmo aquelas que nos são dolorosamente inexplicáveis ou incompreensíveis.
Não devemos esquecer-nos também de que nem sempre a nossa maior felicidade e o nosso bem mais autêntico estão naquilo que sonhamos e desejamos.
É-nos difícil contemplar os acontecimentos na sua verdadeira perspectiva: só captamos uma parte muito pequena da realidade; só vemos a realidade daqui de baixo, a imediata. Tendemos a encarar a existência terrena como se fosse a definitiva, e com certa freqüência consideramos o tempo desta vida como o período em que deveriam realizar-se e ser saciadas as ânsias de perfeita felicidade que se encerram em nosso coração. “Hoje, passados vinte séculos, continuamos a comover-nos ao pensar naquelas crianças degoladas e nos seus pais. Para as crianças, o transe foi rápido; no outro mundo, não há dúvida de que souberam imediatamente por quem tinham morrido, como o tinham salvo e a glória que os acolhia. Para os pais, a dor foi com certeza mais longa, mas, quando morreram, compreenderam também como Deus, que estava em dívida com eles, paga as dívidas com juros. Tanto estes como aquelas sofreram para salvar Deus da morte...”3
A dor apresenta-se de muitas formas, e em nenhuma delas é espontaneamente querida por ninguém. No entanto, Jesus proclama bem-aventurados4 os que choram, ou seja, os que nesta vida carregam um pouco mais de cruz: doença, invalidez, dor física, pobreza, difamação, injustiça... Porque a fé muda a dor de sinal; levando-nos para junto de Cristo, transforma-a numa “carícia de Deus”, em algo de grande valor e fecundidade.
Estes foram resgatados dentre os homens como primícias oferecidas a Deus e ao Cordeiro. Estes são os que seguem o Cordeiro aonde quer que Ele vá5.
II. A CRUZ – a dor e o sofrimento – foi o instrumento que o Senhor utilizou para nos redimir. Poderia servir-se de outros meios, mas quis redimir-nos precisamente através da Cruz. Desde então, a dor tem um novo sentido, que só se compreende quando se está junto dEle.
O Senhor não modificou as leis da criação: quis ser um homem como nós. Podia ter suprimido o sofrimento, e, no entanto, não o evitou a si próprio. Alimentou milagrosamente multidões inteiras, e, no entanto, quis passar fome. Compartilhou as nossas fadigas e as nossas penas. A alma de Jesus experimentou todas as amarguras: a indiferença, a ingratidão, a traição, a calúnia, a dor moral que o afligiu em grau supremo ao assumir os pecados da humanidade, a morte infamante na Cruz. Seus adversários estavam admirados porque a sua conduta era incompreensível: Salvou outros – diziam em tom irônico –e não pode salvar-se a si próprio6.
O Senhor quer que evitemos a dor e que lutemos contra a doença por todos os meios ao nosso alcance; mas quer, ao mesmo tempo, que demos um sentido redentor e de purificação pessoal aos nossos sofrimentos, mesmo àqueles que nos parecem injustos ou desproporcionados.
Esta doutrina cumulava de alegria o Apóstolo São Paulo, que assim o manifestava da prisão aos primeiros cristãos da Ásia Menor: Agora alegro-me com os meus padecimentos por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo pelo seu corpo, que é a Igreja7.
A dor não santifica aqueles que sofrem nesta vida por causa do seu orgulho ferido, da inveja, do amor próprio, etc. Quanto sofrimento fabricado por nós mesmos! Essa cruz não é a de Jesus, e surge precisamente por se estar longe dEle. Essa cruz é nossa, e é pesada e estéril. Examinemos hoje na nossa oração se levamos com garbo a verdadeira Cruz do Senhor.
Esta Cruz verdadeira consistirá freqüentemente em pequenas contrariedades que aparecem no trabalho, na convivência: pode ser um imprevisto com que não contávamos, o caráter de uma pessoa com quem necessariamente temos de conviver, planos que devemos mudar em cima da hora, instrumentos de trabalho que se estragam quando nos eram mais necessários, dificuldades causadas pelo frio ou pelo calor, incompreensões, uma pequena indisposição física que nos tira um pouco da nossa capacidade de trabalho...
A dor – pequena ou grande –, quando aceita e oferecida ao Senhor, produz paz e serenidade; quando repelida, deixa a alma desafinada e a braços com uma íntima rebeldia que se manifesta imediatamente em forma de tristeza ou de mau humor. Temos que tomar uma atitude decidida perante a pequena cruz de cada dia. A dor pode ser um meio que Deus nos envia para purificar tantas coisas da nossa vida passada, ou para experimentar as nossas virtudes e unir-nos aos padecimentos de Cristo Redentor, que, sendo inocente, sofreu o castigo que os nossos pecados mereciam.
Ó Deus, hoje os Santos Inocentes proclamaram a vossa glória, não com palavras, mas com a sua própria morte; concedei-nos por sua intercessão que possamos testemunhar com a nossa vida o que professamos com os nossos lábios8.
III. OS MENINOS INOCENTES foram mortos por causa de Cristo. Eles seguem assim o Cordeiro sem mancha e cantam: Glória a Vós, Senhor9.
Os que padecem com Cristo terão como prêmio a consolação de Deus nesta vida e, depois, a grande alegria da vida eterna. Muito bem, servo bom e fiel..., vem participar da alegria do teu Senhor10, dir-nos-á Jesus no fim da nossa vida, se tivermos sabido viver as alegrias e as penas unidos a Ele.
Aos bem-aventurados, o próprio Deus enxugará as lágrimas dos seus olhos, e a morte deixará de existir, e não haverá luto, nem pranto, nem fadigas, porque tudo isso terá passado11.
A esperança do Céu é uma fonte inesgotável de paciência e de energia para os momentos de sofrimento intenso. Comparado com a recompensa que Deus nos preparou, o peso das nossas aflições deve parecer-nos leve12.
Além disso, aqueles que oferecem a Deus a sua dor são corredentores com Cristo, pois Deus Pai sempre derrama sobre eles uma grande consolação, que os enche de uma paz contagiosa no meio das suas penas. Porque, assim como nos chegam em abundância os padecimentos de Cristo, assim também por Cristo é abundante a nossa consolação13. Ao dirigir-nos essas palavras, São Paulo sente-se consolado pela misericórdia divina, e isso permite-lhe consolar e animar os outros, transmitindo-lhes a certeza de que Deus Pai está sempre muito perto dos seus filhos, especialmente quando sofrem.
Pode às vezes acontecer que, perante uma situação dolorosa que atinge determinada pessoa, não saibamos como atuar. Um bom meio para termos luz abundante será recolher-nos por uns instantes em oração e perguntar-nos o que o Senhor faria nas nossas circunstâncias. Umas vezes, bastará fazer um pouco de companhia a essa pessoa, outras conversar com ela em tom positivo, animá-la a oferecer a sua dor por intenções concretas, ajudá-la a rezar alguma oração, escutá-la, etc.
Quando nestes dias tantas pessoas se esquecem do sentido cristão destas festas, nós procuraremos usar da luz e do sal das pequenas mortificações, na certeza de que assim daremos uma alegria ao Senhor e contribuiremos para aproximar da paz do Presépio muitas outras almas.
A contemplação freqüente de Maria junto à Cruz de seu Filho ensinar-nos-á a oferecer a Deus as nossas dores e sofrimentos, e a ter sentimentos de grande compaixão pelos que sofrem. Peçamos-lhe hoje que nos ensine a santificar a dor, unindo-a à do seu Filho Jesus.
(1) Mt 2, 16; (2) Rom 8, 28; (3) Frank J. Sheed, Conocer a Jesucristo, Epalsa, Madrid, 1981, pág. 73; (4) Mt 5, 5; (5) Apoc 14, 4; Antífona da comunhão da Missa do dia 28 de dezembro; (6) Mt 27, 42; (7) Col 1, 24; (8) Coleta da Missa do dia 28 de dezembro; (9) Antífona de entrada da Missa do dia 28 de dezembro; (10) cfr. Mt 25, 3; (11) Apoc 21, 3-4; (12) cfr. 2 Cor 4, 17; (13) 2 Cor 1, 5.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
Santos Inocentes
28 de Dezembro
Santos Inocentes
Os chamados Santos Inocentes são aqueles meninos com menos de dois anos nascidos no vilarejo de Belém, na mesma época do nascimento de Jesus. Eles foram mortos por ordens do rei Herodes. Este, temia que o Messias vivesse, chegasse à idade adulta e lhe roubasse o trono. Não se sabe o número desses pequeninos, mas sabe-se que eles morreram por causa de Jesus.
A história dos Santo Inocentes é contada no Capítulo 2 do Evangelho de São Mateus. Tudo começou com a chegada dos reis magos na cidade de Jerusalém. Eles chegaram lá seguindo a estrela que anunciava o nascimento do Messias. Os magos procuraram, a princípio, o rei Herodes, que vivia em Jerusalém, pensando encontrar o menino no palácio real. Mal sabiam eles, porém, que estavam se dirigindo a um grande inimigo do Messias.
Herodes acolheu os magos fingindo interesse pelo Messias recém-nascido. E mandou chamar alguns escribas e doutores da lei para que estes informassem onde nasceria o Salvador. E estes sábios de Israel dizem que, segundo uma profecia, o Messias deveria nascer no vilarejo de Belém, a seis quilômetros de Jerusalém. Herodes, então, envia os magos a Belém para descobrirem tudo sobre o Messias, mas pede que eles voltem para informá-lo e mente dizendo que ele também (Herodes) queria ir prestar homenagens ao menino.
Os magos do Oriente chegam a Belém e, guiados pela estrela, encontram o menino juntamente com Maria e José. Oferecem presentes a ele, prestam-lhe culto de adoração e se preparam para partir, passando a noite em Belém. Nessa noite, um anjo adverte-os, em sonho, dizendo para não voltarem a Herodes, pois este pretendia matar Jesus. Os magos obedecem e voltam por outro caminho.
Quando Herodes percebeu que tinha sido enganado pelos magos, ficou furioso e temeu perder o trono para o Messias. Por isso, enviou soldados a Belém com a missão expressa de matar todos os meninos com até dois anos de idade nascidos em Belém e região. E assim foi feito. A dor e o luto inundaram o vilarejo que perdeu seu bem mais precioso. Santinhos, inocentes e puros perderam suas vidas por causa de Jesus.
Eles são chamados inocentes porque não tinham ainda o uso da razão quando foram mortos. Mesmo assim, foram mortos por Jesus. Por isso, a Igreja concede a eles o título de mártires. Inocentes, sim. Mas também mártires. A festa em homenagem a eles é celebrada desde o Século IV. O culto aos Santos Inocentes foi confirmado pelo papa São Pio V. A triste morte que tiveram também confirma uma profecia de Jeremias, que diz: “Ouviu-se um choro em Ramá, grito e grande lamentação. É Raquel que chora por seus filhos, e ela não quer ser consolada, porque eles já não existem mais.” (Jeremias 31,15) Ramá é a região onde fica o vilarejo de Belém, em Israel.
Esses Santos Inocentes, de alma pura, que deram suas vidas por Jesus são, na verdade, os primeiros mártires cristãos. Por isso, receberam a glória dos mártires. A Igreja dedicou a eles o dia 28 de dezembro pelo fato de essa data ser próxima ao nascimento de Jesus, já que tudo aconteceu depois da visita dos reis magos ao Menino Jesus.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
O Discípulo que o Senhor amava
SÃO JOÃO APÓSTOLO E EVANGELISTA. 27 DEDEZEMBRO
– A vocação do Apóstolo. Sua fidelidade. A nossa própria vocação.
– Detalhes particulares de predileção por parte do Senhor. A missão de cuidar de Santa Maria. A nossa devoção à Virgem.
– A pesca no lago depois da Ressurreição. A fé e o amor fazem distinguir Cristo à distância; devemos aprender a vê-lo em nossa vida diária. Pedidos a São João.
I. O APÓSTOLO SÃO JOÃO era natural de Betsaida, cidade da Galiléia na margem norte do mar de Tiberíades. Seus pais eram Zebedeu e Salomé; e seu irmão, Tiago. Formavam uma família remediada de pescadores que, ao conhecerem o Senhor, não duvidaram em pôr-se totalmente à sua disposição. João e Tiago, em resposta à chamada de Jesus, seguiram-no, deixando seu pai Zebedeu na barca com os jornaleiros1. Salomé, a mãe, também seguiu Jesus, servindo-o com os seus bens na Galiléia e em Jerusalém, e acompanhando-o até o Calvário2.
João tinha sido discípulo do Batista quando este pregava no Jordão, até que um dia Jesus passou por ali e o Precursor o apontou: Eis o Cordeiro de Deus. Ao ouvir isso, foram atrás do Senhor e passaram com Ele aquele dia3. São João nunca esqueceu esse encontro. Não quis dizer-nos nada do que falou naquele dia com o Mestre, mas sabemos que, a partir de então, nunca mais o abandonou; quando escreve o seu Evangelho, já ancião, não deixa de mencionar a hora em que se deu o seu encontro com Jesus: Era por volta da hora décima4, das quatro da tarde.
Voltou para casa, retomando o trabalho da pesca. Pouco tempo depois, o Senhor, que o preparara desde aquele primeiro encontro, chama-o definitivamente para formar parte do grupo dos Doze. Era o mais novo dos Apóstolos; ainda não devia ter vinte anos quando correspondeu à chamada do Senhor5, e fê-lo com o coração inteiro, com um amor indiviso, exclusivo.
Em São João – e em nós – vemos como a vocação dá sentido a tudo; a vida inteira é afetada pelos planos do Senhor. “A descoberta da vocação pessoal é o momento mais importante de toda a existência. Faz com que tudo mude sem nada mudar, tal como uma paisagem que, sendo a mesma, é diferente antes e depois de o sol nascer, quando é banhada pela lua ou quando está mergulhada nas trevas da noite. Toda a descoberta comunica uma nova beleza às coisas, e, como ao lançar nova luz provoca novas sombras, é prelúdio de outras descobertas e de luzes novas, ainda mais belas”6.
Toda a vida de João esteve centrada no seu Senhor e Mestre. Na sua fidelidade a Jesus, encontrou ele o sentido da sua vida. Não opôs nenhuma resistência à chamada divina, e soube permanecer no Calvário quando todos os outros desapareceram. Assim há de ser a vida de cada um de nós, pois toda a pregação do Senhor, à parte as chamadas especiais que dirige a este ou àquele, encerra de algum modo uma vocação, um convite para segui-lo numa vida nova cujo segredo só Ele possui: Se alguém quiser vir após Mim...7
O Senhor escolheu-nos a todos8 – a alguns com uma vocação específica – para segui-lo, imitá-lo e prosseguir no mundo a obra da sua Redenção. E de todos espera uma fidelidade alegre e firme, como foi a do Apóstolo João, tanto nos momentos fáceis como nos difíceis.
II. ESTE É O APÓSTOLO que durante a ceia reclinou a cabeça no peito do Senhor. Este é o apóstolo a quem foram revelados os segredos do Reino e que difundiu por toda a terra as palavras da vida9.
Juntamente com Pedro, São João recebeu do Senhor particulares provas de amizade e de confiança. O Evangelista cita-se a si próprio, discretamente, como o discípulo que Jesus amava10. Isto indica que Jesus teve um especial afeto por ele. No momento solene da Última Ceia, quando Jesus anuncia aos Apóstolos a traição de um deles, João não duvida em perguntar ao Senhor, apoiando a cabeça no seu peito, quem seria o traidor11. A suprema expressão de confiança no discípulo amado se dá quando o Senhor, do alto da Cruz, lhe entrega o maior amor que teve na terra: a sua Santíssima Mãe. Se o momento em que Jesus o chamou para que o seguisse, deixando todas as coisas, foi transcendental na sua vida, também o foi o instante em que recebeu no Calvário a missão mais delicada e amável de todas: cuidar da Mãe de Deus.
Jesus, vendo sua mãe e o discípulo a quem amava, que estava ali, disse à sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí a tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa12. Hoje olhamos o discípulo que Jesus amava com uma santa inveja pelo imenso dom que o Senhor lhe fez ao confiar-lhe a sua Mãe, e ao mesmo tempo podemos agradecer-lhe os cuidados que teve para com Ela até o final dos seus dias aqui na terra.
Todos os cristãos, representados em João, somos filhos de Maria. Temos que aprender do Apóstolo a tratá-la com confiança. Ele, “o discípulo amado de Jesus, recebe Maria e introdu-la em sua casa, na sua vida. Os autores espirituais viram nessas palavras do Santo Evangelho um convite dirigido a todos os cristãos para que todos soubessem também introduzir Maria em suas vidas. Em certo sentido, é um esclarecimento quase supérfluo, porque Maria quer sem dúvida que a invoquemos, que nos aproximemos dEla com confiança, que recorramos à sua maternidade, pedindo-lhe que se manifeste como nossa Mãe”13.
Podemos imaginar também a enorme influência que Maria teria exercido na alma do jovem Apóstolo. E podemos imaginá-la com maior precisão se recordarmos essas épocas da nossa vida – talvez estes dias – em que nós próprios recorremos à Mãe de Deus e a tratamos com particular intimidade.
III. POUCOS DIAS depois da Ressurreição do Senhor, alguns dos seus discípulos encontravam-se junto do mar de Tiberíades, na Galiléia, cumprindo o que o Ressuscitado lhes havia indicado14. Estão novamente ocupados no seu ofício de pescadores. Entre eles encontram-se João e Pedro.
O Senhor vai ter com os seus. O relato descreve-nos uma cena tocante entre Jesus e os que, apesar de tudo, lhe permaneciam fiéis. “Passa ao lado dos seus Apóstolos, junto dessas almas que se lhe entregaram. E eles não se dão conta disso. Quantas vezes está Cristo, não perto de nós, mas dentro de nós, e temos uma vida tão humana! [...]. Volta à memória daqueles discípulos o que tantas vezes tinham ouvido dos lábios do Mestre: pescadores de homens, apóstolos. E compreendem que tudo é possível, porque é Ele quem dirige a pesca.
“Então aquele discípulo que Jesus amava disse a Pedro: É o Senhor! O amor, o amor vê de longe. O amor é o primeiro a captar essas delicadezas. O Apóstolo adolescente, com o firme carinho que sentia por Jesus, pois amava a Cristo com toda a pureza e toda a ternura de um coração que nunca se corrompera, exclamou: É o Senhor!
“Simão Pedro, mal ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a túnica e lançou-se ao mar. Pedro é a fé. E lança-se ao mar, cheio de uma audácia maravilhosa. Com o amor de João e a fé de Pedro, até onde não poderemos nós chegar!”15
É o Senhor! Este grito deve sair também dos nossos corações no meio do trabalho, quando chega a doença, no relacionamento com os familiares, com os amigos, etc. Temos que pedir a São João que nos ensine a distinguir o rosto de Jesus no meio das realidades em que nos movemos, porque Ele está muito perto de nós e é o único que pode dar sentido ao que fazemos.
Além dos escritos inspirados por Deus, conhecemos por tradição detalhes que confirmam o desvelo com que São João se empenhou em que se mantivessem entre os primeiros cristãos a pureza da fé e a fidelidade ao mandamento do amor fraterno16. São Jerônimo conta-nos que o Apóstolo, já muito velho, repetia continuamente aos discípulos que o levavam às reuniões: “Filhinhos, amai-vos uns aos outros”. E quando um dia lhe perguntaram por que insistia em repetir sempre a mesma coisa, respondeu: “Este é o mandamento do Senhor; se se cumpre, não é preciso mais nada”17.
Podemos pedir hoje a São João muitas coisas: de modo especial, que os jovens procurem a Cristo, que o encontrem e tenham a generosidade de seguir a sua chamada. E podemos ainda recorrer à sua intercessão para que nós mesmos sejamos fiéis ao Senhor como ele o foi; para que saibamos ter o amor e o respeito pelo sucessor de Pedro que ele manifestou pelo primeiro Vigário de Cristo na terra; para que nos ensine a tratar Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa, com mais carinho e mais confiança; para que aqueles que estão ao nosso lado possam saber que somos discípulos de Jesus pelo modo como os tratamos.
Ó Deus, que pelo Apóstolo São João nos revelastes os mistérios do vosso Filho, tornai-nos capazes de conhecer e amar o que ele nos ensinou de modo incomparável18.
(1) Mc 1, 20; (2) Mc 15, 40-41; (3) Jo 1, 35-39; (4) Jo 1, 39; (5) cfr. Santos Evangelhos, EUNSA, 1983, pág. 1094; (6) F. Suárez, A Virgem Nossa Senhora, pág. 80; (7) Mt 16, 24; (8) cfr. Rom 1, 7; 2 Cor 1, 1; (9) Antífona de entrada da Missa do dia 27 de dezembro; (10) cfr. Jo 13, 23; 19, 26; etc.; (11) Jo 13, 23; (12) Jo 19, 26-27; (13) São Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 140; (14) cfr. Mt 28, 7; (15) São Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, ns. 265-266; (16) cfr. Santos Evangelhos, EUNSA, 1983, pág. 1101; (17) São Jerônimo, Comentário a Gálatas, 3, 6; (18) Coleta da Missa do dia 27 de dezembro.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal
São João Apóstolo e Evangelista
27 de Dezembro
São João Apóstolo e Evangelista
São João Evangelista é o Apóstolo João. Ele é um dos doze discípulos de Jesus. João é chamado “Evangelista” porque escreveu o Quarto Evangelho. Além disso, ele escreveu três epístolas e o livro do Apocalipse. Entre os 12 discípulos de Jesus, João era o mais novo. Quando foi chamado por Jesus, deveria ter por volta de vinte anos de idade.
João era solteiro quando foi chamado por Jesus. Na época, vivia com seus pais, Zebedeu e Maria Salomé, em Cafarnaum e Betsaida. Sua profissão era pescador. Trabalhava junto com seu pai e seu irmão Tiago, também discípulo de Jesus e, mais tarde, chamado de Tiago Maior. Provavelmente era sócio de André e Pedro na pesca.
Desde cedo, João mostra uma busca de fé em sua vida. Antes de ser discípulo de Jesus, João Evangelista foi discípulo de São João Batista, juntamente com André, irmão de Pedro. Do Batista, eles receberam o batismo de arrependimento e a indicação a respeito de Jesus: “Eis o Cordeiro de Deus, Aquele que tira o pecado do mundo” (João 1, 35-37). A partir desse momento, João Evangelista e André passaram a seguir Jesus.
O Evangelho chama João de “Discípulo que Jesus amava”. Ele tinha um enorme afeto pelo Senhor e vice-versa. Jesus o chamava de Filho do Trovão por causa de algumas reações intempestivas do jovem, como querer mandar fogo do céu sobre aqueles que rejeitaram Jesus. Mas Jesus o repreendeu e ensinou. Mais tarde, João foi chamado de o “Discípulo Amado”. Numa famosa passagem dos Evangelhos, João, seu irmão, Tiago e a mãe deles, pedem para ficarem ao lado de Jesus em sua glória. Jesus, porém, os repreendeu e deu uma grande lição de humildade.
São João foi o discípulo que acompanhou Jesus quando o Mestre foi preso no Monte das Oliveiras e levado até à casa de Caifás. Além disso, João acompanhou Jesus até o momento derradeiro junto à cruz. Aliás, foi neste momento junto à cruz que Jesus entregou a João a guarda de sua mãe, Maria.
No começo da Igreja, João esteve sempre ligado a Pedro. Ele foi uma das principais colunas da comunidade cristã de Jerusalém, onde São Tiago era o líder. Após o martírio de Tiago, São João foi para a Ásia Menor. Lá, ele dirigiu a pujante comunidade cristã de Éfeso. Esta comunidade tinha sido fundada pelo apóstolo São Paulo alguns anos antes.
Obedecendo ao pedido de Jesus, São João acolheu Maria e sempre a levou consigo. Os dois moraram em Éfeso durante muitos anos e ali foram os grandes líderes da comunidade. Tanto que a casa de Nossa Senhora em Éfeso transformou-se num local de peregrinação. Ali viveram esses dois grandes pilares da Igreja. Ate hoje a Casa de Nossa Senhora em Éfeso é local de peregrinação.
Por várias vezes São João foi preso. Ele foi perseguido pelo poder romano, sofreu torturas violentas, mas não renegou a fé em Jesus Cristo. Por fim, ele foi exilado, tendo sido enviado para a Ilha de Patmos, que fica no leste do Mar Egeu. Nesta ilha ele permaneceu até a morte do imperador Domiciano.
As obras escritas de São João Evangelista revelam sua extraordinária personalidade. Ele se revela introspectivo nos seus escritos e como discípulo, falava pouco. Quando esteve no exílio em Patmos, São João escreveu o Livro do Apocalipse, palavra grega que quer dizer Revelação. Este é o último livro da Bíblia. São João dirigiu seu discípulo e colaborador, chamado Natan, no maravilhoso trabalho da redação do livro que se chamou “Evangelho Segundo São João”. Isso aconteceu na cidade de Éfeso, por volta do ano 90 D.C.. São João escreveu ainda 3 epístolas dirigidas aos cristãos das comunidades que ele coordenava. Mas seus escritos são para toda a Igreja, de todos os tempos. Por isso, eles fazem parte do Novo Testamento. Tanto o Evangelho quanto.
João era chamado de “o Discípulo Amado”. Uma grande prova de afeição de Nosso Senhor Jesus Cristo pelo jovem João aconteceu durante a Última Ceia. João estava à direita do Mestre, recostado no peito de Jesus, no Coração de Jesus. Santo Agostinho afirma: “nesse momento, estando João tão próximo da fonte de luz, ele absorveu dela os mais altos segredos e mistérios que depois derramaria sobre a Igreja”.
Pelos escritos de São João, vê-se que ele se tornou um grande teólogo, um pastor cuidadoso e cheio de amor. São João faleceu de morte natural, no ano 103 d.C., na cidade de Éfeso. Polícrates de Éfeso, bispo, afirmou no ano 190 que o Apóstolo "dormiu" (faleceu). A festa de São João Evangelista é celebrada no dia 27 de dezembro.
Fonte: https://cruzterrasanta.com.br
27 de Dezembro 2019
A SANTA MISSA

Festa: São João, Apóstolo e Evangelista
Cor: Branca
1ª Leitura: 1Jo 1,1-4
O que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos.
Início da Primeira Carta de São João
Caríssimos: 1 O que era desde o princípio, o que nós ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida, 2 – de fato, a Vida manifestou-se e nós a vimos, e somos testemunhas, e a vós anunciamos a Vida eterna, que estava junto do Pai e que se tornou visível para nós -; 3 isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos, para que estejais em comunhão conosco. E a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. 4 Nós vos escrevemos estas coisas para que a nossa alegria fique completa.
– Palavra do Senhor
– Graças a Deus.
Salmo Responsorial: Sl 96(97),1-2.5-6.11-12 (R. 12a)
R. Ó justos, alegrai-vos no Senhor!
1 Deus é Rei! Exulte a terra de alegria, *
e as ilhas numerosas rejubilem!
2 Treva e nuvem o rodeiam no seu trono, *
que se apoia na justiça e no direito. R.
5 As montanhas se derretem como cera *
ante a face do Senhor de toda a terra;
6 e assim proclama o céu sua justiça, *
todos os povos podem ver a sua glória. R.
11 Uma luz já se levanta para os justos, *
e a alegria, para os retos corações.
12 Homens justos, alegrai-vos no Senhor, *
celebrai e bendizei seu santo nome! R.
Evangelho: Jo 20,2-28
O outro discípulo correu mais depressa que Pedro,
e chegou primeiro ao túmulo.
– O Senhor esteja convosco
– Ele está no meio de nós.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo São João
No primeiro dia da semana, 2 Maria Madalena saiu correndo e foi encontrar Simão Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”. 3 Saíram, então, Pedro e o outro discípulo e foram ao túmulo. 4 Os dois corriam juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa que Pedro e chegou primeiro ao túmulo. 5 Olhando para dentro, viu as faixas de linho no chão, mas não entrou. 6 Chegou também Simão Pedro, que vinha correndo atrás, e entrou no túmulo. Viu as faixas de linho deitadas no chão 7 e o pano que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não posto com as faixas, mas enrolado num lugar à parte. 8 Então entrou também o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu, e acreditou.
– Palavra da Salvação
– Glória a vós, Senhor!
Natal do Senhor
24 de Dezembro
O Verdadeiro sentido
do Natal
Na noite em que Jesus veio ao mundo, pairava sobre Belém uma atmosfera de paz e alegria. A natureza parecia estar em júbilo enquanto, dentro de uma gruta inóspita, um santo casal contemplava seu Filho recém-nascido.
Ela é a Mãe das mães, concebida sem pecado original, criatura perfeita, na qual o Criador depositou toda a graça. Ao seu lado encontra-se São José, esposo castíssimo, varão justo cujo amor a Deus, integridade e sabedoria o tornam digno de tão augusta Esposa. E a Criança que ambos contemplam é o próprio Deus, que assume nossa natureza para dar a maior prova possível de seu amor à humanidade.
Quão sublime atmosfera envolvia aquele cenário paupérrimo! O ambiente no qual nasceu o Menino Deus devia estar tão tomado pelo sobrenatural que, se alguém tivesse a dita de entrar naquela gruta, ficaria imediatamente arrebatado por toda sorte de graças.
Foi o que ocorreu com os pastores. Após o aviso dos Anjos, correram em direção à gruta e lá encontraram o Rei do Universo deitado sobre palhas. Abismados pela grandeza dessa cena, que contemplavam também com os olhos da Fé, não tiveram outra atitude senão a da adoração. Que extraordinária dádiva receberam, sendo os primeiros a contemplar o Criador do Céu e da Terra feito homem, envolto em faixas, numa manjedoura!
Deus quis apresentar-Se de forma exemplarmente humilde
Considerando as imponentes manifestações da natureza que acompanhavam as intervenções de Deus no Antigo Testamento — o mar se abre, o monte fumega, o fogo cai do céu e reduz cidades a cinzas —, resulta surpreendente constatar a humildade e discrição com que Cristo veio ao mundo.
Não teria sido mais condizente com a grandeza divina que, na noite de Natal, sinais magníficos marcassem o acontecimento no Céu e na Terra? Não poderia, ao menos, ter nascido Jesus num magnífico palácio e convocado os maiores potentados da Terra para prestar-Lhe homenagens? Bastar-Lhe-ia um simples ato de vontade para que isso acontecesse…
Mas, não! O Verbo preferiu a gruta a um palácio; quis ser adorado por pobres pastores, ao invés de grandes senhores; aqueceu-Se com o bafo dos animais e a rudeza das palhas, em lugar de usar ricas vestes e dourados braseiros. Nem mesmo quis dar ordem ao frio para que não O atingisse. Num sublime paradoxo, desejava a Majestade infinita apresentar-Se de forma exemplarmente humilde.
Pois, apesar das pobres aparências, Aquele Menino era a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. NEle dava-se a união hipostática da natureza divina com a humana, conforme explica o renomado padre Boulenger: “União é o estado de duas coisas que se acham juntas. Ela pode realizar-se ora nas naturezas, por exemplo, quando o corpo e a alma unem-se para formar uma só natureza humana; e ora na pessoa, quando se unem duas naturezas na mesma pessoa. Esta última união chama-se hipostática, porque, em grego, os dois termos, hipóstase (suporte) e pessoa, têm igual significação teológica”.
E, depois da união, essas duas naturezas permaneceram perfeitamente íntegras e inconfundíveis na Pessoa de Cristo, que não é humana, mas divina. Por esse motivo é Ele chamado Homem-Deus.
Fonte: Revista Arautos do Evangelho, Dez/2009, n. 96
Meditação de Natal
NATAL DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. 25 DE DEZEMBRO
– Em Belém, não quiseram receber Cristo. Também hoje muitos não querem recebê-lo.
– Nascimento do Messias. A “cátedra” de Belém.
– Adoração dos pastores. Humildade e simplicidade para reconhecer Cristo em nossas vidas.
I. ACONTECEU, POIS, que naqueles dias saiu um edito de César Augusto para que todo o orbe se recenseasse1.
Hoje nós podemos ver claramente que o decreto do imperador romano foi uma providência de Deus. Maria e José foram a Belém por essa razão, e ali nasceu Jesus, segundo fora profetizado muitos séculos antes2.
Chegaram a Belém com a alegria de estarem já no lugar dos seus antepassados, e também com o cansaço de uma viagem de quatro ou cinco dias por caminhos em más condições. Maria, principalmente, deve ter chegado muito cansada devido ao seu estado. E em Belém não encontraram lugar algum onde instalar-se. Não havia lugar para eles na estalagem, diz São Lucas laconicamente3.
Talvez José tivesse julgado que a pousada repleta de gente não era lugar adequado para Nossa Senhora, especialmente naquelas circunstâncias. Seja como for, deve ter batido a muitas outras portas antes de levar Maria a um estábulo, nas redondezas. Imaginamos bem a cena: José explicando e voltando a explicar a mesma história, “que vinham de...”, e Maria, a poucos metros, vendo José e ouvindo as negativas. Ninguém deixou Cristo entrar. Fecharam-lhe as portas. Maria sente pena por causa de José, e também daquelas pessoas. Como o mundo é frio para com o seu Deus!
Talvez tivesse sido a Virgem quem propôs a José que se acomodassem provisoriamente numa daquelas covas que serviam de estábulo nas imediações da cidade. Provavelmente animou-o dizendo-lhe que não se preocupasse, que depois dariam um jeito... José sentiu-se certamente reconfortado pelas palavras e pelo sorriso de Maria, e ali se instalaram com os pertences que tinham podido trazer de Nazaré: uns panos, alguma roupa que a própria Virgem teria preparado com o carinho que só as mães sabem ter quando esperam o seu primeiro filho...
E naquele lugar, com a simplicidade mais absoluta, deu-se o maior acontecimento da humanidade: Estando eles ali – diz-nos São Lucas –, completaram-se os dias do seu parto4. Maria envolveu Jesus com imenso amor em uns panos e deitou-o numa manjedoura.
A fé da Virgem Maria era mais perfeita do que a de qualquer outra pessoa que tenha existido antes ou depois dEla. E todos os seus gestos hão de ser expressão da sua fé e da sua ternura. Beijaria sem dúvida os pés do Menino, porque era o seu Senhor; beijar-lhe-ia o rosto, porque era o seu filho; ficaria muito tempo contemplando-o quietamente. Depois, passaria o Menino para os braços de José, que sabia muito bem que se tratava do Filho do Altíssimo, de quem devia cuidar e a quem devia proteger e ensinar um ofício. Toda a vida de José estaria centrada nesta Criança indefesa.
Jesus, recém-nascido, não fala; mas é a Palavra eterna do Pai. Já se disse que o Presépio é uma cátedra. Nós deveríamos hoje “entender as lições que Jesus nos dá já desde Menino, desde recém-nascido, desde que os seus olhos se abriram para esta bendita terra dos homens” 5.
Nasce pobre e ensina-nos que a felicidade não se encontra na abundância de bens. Vem ao mundo sem ostentação alguma, e anima-nos a ser humildes e a não estar preocupados com o aplauso dos homens. “Deus humilha-se para que possamos aproximar-nos dEle, para que possamos corresponder ao seu amor com o nosso amor, para que a nossa liberdade se renda, não só ante o espetáculo do seu poder, como também ante a maravilha da sua humildade”6.
Fazemos um propósito de desprendimento e de humildade. Olhamos para Maria e a vemos cheia de alegria. Ela sabe que começou para a humanidade uma nova era: a do Messias, seu Filho. Queremos pedir-lhe que não nos deixe perder nunca a alegria de estar junto de Jesus.
II. JESUS, MARIA E JOSÉ estão sós. Mas Deus procurou gente simples para acompanhá-los: uns pastores que, por serem humildes, não se assustariam certamente ao encontrarem o Messias numa gruta, envolto em panos. São os pastores daquela região, aqueles que o Profeta Isaías mencionara: O povo que caminhava nas trevas viu uma grande luz7.
Nesta primeira noite, a profecia cumpre-se unicamente neles. A glória do Senhor envolveu-os com a sua luz8. Não temais, diz-lhes um anjo, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: nasceu-vos hoje um Salvador, que é o Cristo Senhor 9.
Nesta noite, eles são os primeiros e os únicos a sabê-lo. “No entanto, hoje sabem-no milhões de homens em todo o mundo. A luz da noite de Belém chegou a muitos corações, e, apesar disso, a escuridão permanece; às vezes, parece até mais densa [...]. Os que acolheram o Senhor naquela noite experimentaram uma grande alegria, a alegria que brota da luz. A escuridão do mundo foi dissipada pela luz do nascimento de Deus [...].
“Pouco importa que, nessa primeira noite, a noite do nascimento de Deus, a alegria do acontecimento chegue somente a estes poucos corações. Pouco importa. Está destinada a todos os corações humanos. É a alegria do gênero humano, alegria sobrehumana! Por acaso pode haver alegria maior do que esta, pode haver Nova melhor do que esta? O homem foi aceito por Deus para converter-se em filho, por meio deste Filho de Deus que se fez homem”10.
Deus quis que os pastores fossem também os seus primeiros mensageiros; eles irão contando o que viram e ouviram. E todos os que os ouviam maravilhavam-se com o que eles lhes diziam11. A nós, Jesus também se revela no meio da normalidade dos nossos dias; e também nós necessitamos das mesmas disposições de simplicidade e humildade dos pastores para chegarmos até Ele. É possível que, ao longo da nossa vida, o Senhor nos envie sinais que, vistos com olhos humanos, nada signifiquem. Devemos estar atentos para descobrir Jesus na simplicidade da vida habitual, envolto em panos e deitado numa manjedoura, sem manifestações chamativas.
É natural pensar que os pastores não se puseram a caminho sem levar presentes para o recém-nascido. No mundo oriental de então, era inconcebível que alguém se apresentasse a uma pessoa importante sem algum presente. Devem ter levado o que tinham ao seu alcance: um cordeiro, queijo, manteiga, leite, requeijão...12 Maria e José, surpreendidos e alegres, convidam os tímidos pastores a entrar e ver o Menino, e deixam que o beijem e lhe cantem, e disponham perto da manjedoura os seus presentes.
Nós também não podemos ir à gruta de Belém sem o nosso presente. E talvez aquilo que mais agrade à Virgem Maria seja uma alma mais delicada, mais limpa, mais alegre por ser mais consciente da sua filiação divina, mais bem preparada por meio de uma confissão realmente contrita, a fim de que o Senhor resida com mais plenitude em nós: essa confissão que talvez Deus esteja esperando há tanto tempo...
Maria e José estão-nos convidando a entrar. E, já dentro, dizemos a Jesus com a Igreja: Rei do universo, a quem os pastores encontraram envolto em panos, ajudai-nos a imitar sempre a vossa pobreza e a vossa simplicidade 13.
III. ALEGREMO-NOS TODOS no Senhor: hoje nasceu o Salvador do mundo; hoje desceu do céu a verdadeira paz14. “Acabamos de ouvir uma mensagem transbordante de alegria e digna de todo o apreço: Cristo Jesus, o Filho de Deus, nasceu em Belém de Judá. A notícia faz-me estremecer, o meu espírito acende-se no meu interior e apressa-se, como sempre, a comunicar-vos esta alegria e este júbilo”, anuncia São Bernardo 15. E todos nos pomos a caminho para contemplar e adorar Jesus, pois todos temos necessidade dEle; é unicamente dEle que temos verdadeira necessidade. Não há tal andar como buscar a Cristo / Não há tal andar como a Cristo buscar..., canta uma canção popular: nenhum caminho que empreendemos vale a pena se não termina no Menino-Deus.
“Hoje nasceu o nosso Salvador. Não pode haver lugar para a tristeza, quando acaba de nascer a própria vida, a mesma que põe fim ao temor da mortalidade e nos infunde a alegria da eternidade prometida. Ninguém deve sentir-se incapaz de participar de tal felicidade, a todos é comum o motivo para o júbilo; pois Nosso Senhor, destrutor do pecado e da morte, como não encontrou ninguém livre de culpa, veio libertar-nos a todos. Alegre-se o santo, já que se aproxima a vitória. Alegre-se o gentio, já que é chamado à vida. Pois o Filho, ao chegar a plenitude dos tempos [...], assumiu a natureza do gênero humano para reconciliá-la com o seu Criador” 16. Daqui nasce para todos, como um rio que não pode ser contido, a alegria destas festas.
Cantamos com júbilo nestes dias de Natal porque o amor está entre nós até o fim dos tempos. A presença do Menino é o amor no meio dos homens; e o mundo já não é um lugar escuro; os que procuram o amor sabem onde encontrá-lo. E é de amor que cada homem anda essencialmente necessitado, mesmo quando pretende estar inteiramente satisfeito.
Quando nos aproximarmos hoje do Menino para beijá-lo, quando contemplarmos o presépio ou meditarmos neste grande mistério, agradeçamos a Deus o seu desejo de descer até nós para se fazer entender e amar, e decidamo-nos nós também a tornar-nos crianças, para podermos assim entrar um dia no Reino dos céus. Terminamos a nossa oração dizendo a Deus nosso Pai: Concedei-nos, Senhor, a graça de participar da divindade dAquele que se dignou assumir a nossa humanidade 17.
Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós.
(1) Lc 2, 1; (2) Miq 5, 2 e segs.; (3) cfr. Lc 2, 7; (4) Lc 2, 6; (5) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 14; (6) ibid., n. 18; (7) Is 9, 2; (8) Lc 2, 9; (9) Lc 2, 10; (10) João Paulo II, Homilia na Missa de Natal de 1980; (11) Lc 2, 18; (12) cfr. Francis M. Willam, Maria, Mãe de Jesus; (13) Laudes de 5 de janeiro, Preces; (14) Antífona de entrada da Missa de meia-noite; (15) São Bernardo, Sermão 6. Sobre o anúncio do Natal, 1; (16) São Leão Magno, Sermão no Natal do Senhor, 1-3; (17) Coleta da Missa de Natal.
Fonte: Livro "Falar com Deus", de Francisco Fernández Carvajal