– Maria oferece Jesus ao Pai.
– Iluminar com a luz de Cristo.
– Jesus Cristo, sinal de contradição.

Quarenta dias após o nascimento do seu Filho, Nossa Senhora dirigiu-se ao Templo para oferecê-lo ao Senhor e pagar o resgate simbólico estabelecido na Lei de Moisés. Com toda a piedade e amor, Maria ofereceu o Menino a Deus Pai e deu-nos exemplo de como deve ser o oferecimento das nossas obras a Deus. A Apresentação do Filho está unida à Purificação da Mãe. A Santíssima Virgem quis cumprir o que estava prescrito na Lei, ainda que nunca houvesse entrado naquele Templo criatura alguma tão pura e cheia de graça. Ambos os mistérios estão englobados na liturgia da Missa. Ao longo dos séculos, foi considerada ora festa do Senhor, ora festa mariana. Já era celebrada em Jerusalém em fins do século IV. A partir de então, estendeu-se pelo Oriente e pelo Ocidente, e para a sua celebração fixou-se o dia 2 de fevereiro. A procissão com os círios significa a luz de Cristo anunciada por Simeão no Templo – Luz para iluminar as nações – e propagada através da atuação de cada cristão.

I. E DE REPENTE VIRÁ ao seu Templo o Senhor a quem buscais, o mensageiro da Aliança que desejais: vede-o entrar…1

Quarenta dias após o seu nascimento, Jesus chega ao Templo nos braços de Maria para ser apresentado ao Senhor, como mandava a lei judaica. Só Simeão e Ana, movidos pelo Espírito Santo, reconhecem o Messias naquele Menino. A liturgia recolhe no Salmo responsorial as aclamações que, de modo simbólico, se cantavam muito provavelmente à entrada da Arca da Aliança. Agora atingem a sua mais plena realidade: Portões, abri os vossos dintéis, levantai-vos portas eternas: eis que vem o Rei da glória!2

Depois da circuncisão, era necessário cumprir duas cerimônias, conforme prescrevia a Lei: o filho primogênito devia ser apresentado ao Senhor e depois resgatado; e a mãe devia purificar-se da impureza legal contraída3. Lia-se no Êxodo: … E o Senhor disse a Moisés: Declara que todo o primogênito me será consagrado. Todo o primogênito dos filhos de Israel, seja homem ou animal, pertence-me sempre. Esta oferenda recordava a libertação milagrosa do povo de Israel do seu cativeiro do Egito. Todos os primogênitos eram apresentados ao Senhor, e depois restituídos ao povo.

Nossa Senhora preparou o seu coração, como só Ela o podia fazer, para apresentar o seu Filho a Deus Pai e oferecer-se Ela mesma com Ele. Ao fazê-lo, renovava o seu faça-se e punha uma vez mais a sua vida nas mãos de Deus. Jesus foi apresentado ao seu Pai pelas mãos de Maria. Nunca se fez nem se tornaria a fazer uma oblação semelhante naquele Templo.

A festa de hoje convida-nos a entregar ao Senhor, uma vez mais, a nossa vida, pensamentos, obras…, todo o nosso ser. E podemos fazê-lo de muitas maneiras. Hoje, nestes minutos de oração, podemos servir-nos das palavras de Santo Afonso Maria de Ligório, invocando Santa Maria como intercessora: “Minha Rainha, seguindo o vosso exemplo, também eu quereria oferecer hoje a Deus o meu pobre coração […]. Oferecei-me como coisa vossa ao Pai Eterno, em união com Jesus, e pedi-lhe que, pelos méritos do seu Filho, e em vossa graça, me aceite e me tome por seu”4. Por meio de Santa Maria, o Senhor acolherá uma vez mais a entrega que lhe fizermos de tudo o que somos e temos.

II. MARIA E JOSÉ chegaram ao Templo dispostos a cumprir fielmente o que estava estabelecido na Lei. Apresentaram como resgate simbólico a oferenda dos pobres: duas pombas5. E saiu-lhes ao encontro o ancião Simeão, homem justo, que esperava a consolação de Israel. O Espírito Santo manifestou-lhe o que estava oculto aos outros. Simeão tomou o Menino em seus braços e, louvando a Deus, disse: Agora, Senhor, já podes deixar partir o teu servo em paz, segundo a tua palavra; porque os meus olhos viram a tua salvação, que preparaste ante a face de todos os povos, luz para iluminar as nações e glória do teu povo, Israel. É um cântico de alegria. Toda a sua existência consistira numa ardente espera do Messias.

São Bernardo, num sermão dedicado a esta festa, fala-nos de um costume de antiquíssima tradição, de que temos muitos outros testemunhos6: a procissão dos círios. “Hoje – diz-nos o Santo –, a Virgem Maria leva ao templo do Senhor o Senhor do templo. José apresenta a Deus não o seu filho, mas o Filho amado e predileto de Deus; e Ana, a viúva, também o proclama. Estes quatro celebraram a primeira procissão, que depois teria a sua continuação em todos os cantos da terra e por todas as nações”7.

A liturgia desta festa quer manifestar, com efeito, que a vida do cristão é como uma oferenda ao Senhor, traduzida na procissão dos círios acesos que se consomem pouco a pouco, enquanto iluminam. Cristo é profetizado como a Luz que tira da escuridão o mundo sumido em trevas. A luz, na linguagem corrente, é símbolo devida (“dar à luz”, “ver a luz pela primeira vez” são expressões intimamente ligadas ao nascimento), de verdade (“caminhar às escuras” é sinônimo de ignorância e de confusão), de amor (diz-se que o amor “se acende” quando duas pessoas aprendem a querer-se profundamente…). As trevas, pelo contrário, indicam solidão, desorientação, erro… Cristo é aVida do mundo e dos homens, Luz que ilumina, Verdade que salva,Amor que conduz à plenitude… Levar uma vela acesa – na procissão que hoje se realiza onde é possível, antes da Missa – é sinal de se estar desperto, em vigília, de se participar da luz de Cristo, da vibração apostólica que devemos transmitir aos outros.

Seus pais maravilharam-se do que se dizia dEle. Maria, que guardava no seu coração a mensagem do Anjo e dos pastores, escuta novamente admirada a profecia de Simeão sobre a missão universal do seu Filho: a criança que sustenta nos seus braços é a Luz enviada por Deus Pai para iluminar todas as nações: é a glória do seu povo.

É um mistério ligado à oferenda feita no Templo e que nos recorda que a nossa participação na missão de Cristo, que nos foi conferida no batismo, está estritamente ligada à nossa entrega pessoal. A festa de hoje é um convite a darmo-nos sem medida, a “arder diante de Deus, como essa luz que se coloca sobre o candelabro para iluminar os homens que andam em trevas; como essas lamparinas que se queimam junto do altar, e se consomem alumiando até se gastarem”8. Meu Deus, dizemos hoje ao Senhor, a minha vida é para Ti; não a quero se não for para gastá-la junto de Ti. Para que outra coisa haveria de querê-la?

O mesmo São Bernardo recorda-nos que “está proibido apresentar-se ao Senhor de mãos vazias”9. E como nos vemos somente com coisas pequenas para oferecer (o trabalho do dia, um sorriso no meio da fadiga…), devemos considerar na nossa oração “como a Virgem faz acompanhar esta oferenda de tão alto preço com outra de tão pouco valor como eram aquelas pombas que a Lei mandava oferecer, a fim de que tu aprendas a juntar os teus pobres serviços aos de Cristo e, com o valor e preço dos dEle, sejam recebidos e apreciados os teus […].

“Junta, pois, as tuas orações às dEle, as tuas lágrimas às dEle, as tuas penitências e vigílias às dEle, e oferece-as ao Senhor, para que o que de per si é de pouco preço, por Ele seja de muito valor.

“Uma gota de água, em si mesma, não é senão água; mas lançada numa grande jarra de vinho, ganha outro ser mais nobre e torna-se vinho; e assim as nossas obras, que por serem nossas são de pouco valor, acrescentadas às de Cristo adquirem um preço inestimável, em virtude da graça que nEle nos é dada”10.

III. SIMEÃO ABENÇOOU os pais do Menino e disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino está posto para ruína e ressurreição de muitos em Israel, e para sinal de contradição. E uma espada atravessará a tua alma, a fim de que se descubram os pensamentos escondidos nos corações de muitos11.

Jesus traz a salvação a todos os homens; no entanto, para alguns será sinal de contradição, porque se obstinam em rejeitá-lo. “Os tempos em que vivemos confirmam com particular veemência a verdade contida nas palavras de Simeão. Jesus é luz que ilumina os homens e, ao mesmo tempo, sinal de contradição. E se agora […] Jesus Cristo se revela novamente aos homens como luz do mundo, porventura não se transformou ao mesmo tempo naquele sinal a que, hoje mais do que nunca, os homens se opõem?”12 Ele não passa nunca indiferente pelo caminho dos homens, não passa indiferente agora, neste tempo, pela nossa vida. Por isso queremos pedir-lhe que seja a nossa luz e a nossa Esperança.

O Evangelista narra também que Simeão, depois de se referir ao Menino, se dirigiu inesperadamente a Maria, vinculando de certo modo a profecia relativa ao Filho com outra que se relacionava com a mãe: Uma espada atravessará a tua alma13. “Com estas palavras do ancião, o nosso olhar desloca-se do Filho para a Mãe, de Jesus para Maria. É admirável o mistério deste vínculo pelo qual Ela se uniu a Cristo, àquele Cristo que é sinal de contradição14.

Estas palavras dirigidas à Virgem anunciavam que Ela estaria intimamente unida à obra redentora do seu Filho. A espada a que Simeão se refere expressa a participação de Maria nos sofrimentos do Filho; é uma dor indescritível, que atravessa a sua alma. O Senhor sofreu na Cruz pelos nossos pecados; e esses mesmos pecados de cada um de nós forjaram a espada de dor da nossa Mãe. Portanto, temos um dever de reparação e desagravo não só em relação a Jesus, mas também à sua Mãe, que é também Mãe nossa 15.

(1) Mal 3, 1; Primeira leitura da Missa do dia 2 de fevereiro; (2) Sl 23, 7; Salmo responsorialib.; (3) cfr. Ex 13, 2; 12-13; Lev 12, 2-8; (4) Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria Santíssima, II, 6; (5) cfr. Lc 2, 24; (6) cfr. Itinerário da Virgem Eteria, BAC, Madrid, 1986, pág. 271; A. G. Martimort, La Iglesia en oración, Herder, Barcelona, 1986, pág. 978; (7) São Bernardo, Sermão na purificação de Santa Maria, I, 1; (8) Josemaría Escrivá, Forja, n. 44; (9) São Bernardo, Sermão, II, 2; (10) Frei Luís de Granada, Vida de Jesus Cristo, VII; (11) Lc 2, 34-35; (12) K. Wojtyla, Sinal de contradição, Ed. Paulinas, São Paulo, 1979, pág. 228; (13) Lc 2, 35; (14) K. Wojtyla,ib., pág. 232; (15) cfr. Sagrada Bíblia, Santos Evangelhos, nota a Lc 2, 34-35.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal