APRENDA A FAZER O JEJUM E ABSTINÊNCIA DA QUARTA-FEIRA DE CINZAS

A porta para a Quaresma é a celebração da Quarta-Feira de Cinzas, e quando passamos por ela recebemos um sinal da Igreja: “Lembra-te que és pó e ao pó voltarás!” (cf. Gn 3,19). O gesto é marcante. Um pouco de pó é colocado sobre nossa cabeça nos recordando do que somos e, isto deverá nos acompanhar ao longo dos próximos 40 dias. Nesta quarta-feira, diferente de todas as outras do ano, somos obrigados ao jejum. Assim afirma o Código de Direito Canônico: O jejum e a abstinência são obrigatórios em Quarta-Feira de Cinzas e em Sexta-Feira Santa (cf. can. 1249-1251).

De que modo podemos jejuar? O jejum comum a todos é o chamado jejum da Igreja. Ele consiste em uma só refeição completa no dia. O almoço ou jantar você pode fazer normalmente. E mais duas refeições pequenas, por exemplo, o café da manhã e o café da tarde, devem ser fraquinhos, tão moderados, tão pouquinho, que os dois juntos não deem uma refeição completa. Assim, o jejum da Igreja consiste em uma refeição completa e duas refeições incompletas que não deem, juntas, uma inteira. Durante o dia, não se come nada além das refeições, a não ser líquido, se precisar. Este é o modo de fazer jejum seguido por mosteiros e que também pode ser adaptado para o nosso modo de viver sem problema algum.

É claro que se você quiser passar o dia todo da Quarta de Cinzas em jejum total, apenas com pão e água, você também pode, desde que você não passe mal durante o dia. Quem deve fazer jejum? A Doutrina da Igreja diz que: “Estão obrigados ao jejum todos os maiores de idade até começarem os sessenta anos” (CIC, 1252). Então se eu tenho mais de dezoito anos e menos de sessenta devo guardar o jejum e abstinência durante esta Quarta-Feira especial. E quem passou dos sessenta? Para os idosos com mais de sessenta anos o jejum é opcional. Em caso de problema de saúde ou outro, podem substituir o jejum por algum outro tipo de penitência, e mesmo suportar os padecimentos próprios da enfermidade.

A abstinência particular que a Igreja pede neste dia é de carne, de qualquer carne: vermelha ou branca. Frango também é carne, e não deve ser comido neste dia. Quem quiser comer peixe, pode comê-lo. Quem quiser comer só arroz, feijão, ovo e saladas, pode também. Uma coisa importante que precisa ser esclarecida em relação ao jejum ainda é que, aqueles que farão uma refeição completa na hora do almoço ou jantar, não se preocupem em comprar o melhor peixe, nem em fazer um prato chique e caro que nunca tenha sido feito ao longo do ano. É dia de penitência e não de festa!

Deixe os pratos bonitos para outro dia. Quarta de Cinzas é dia de verdadeira sobriedade. O Papa Francisco nos ensina que abstinência “não significa mudar a alimentação ou preparar o peixe de um modo ou de outro, mais saboroso”. Caso contrário, só se “continua o carnaval”. Na primeira leitura da Missa da Quarta-Feira de Cinzas ouviremos: “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus” (Jl 2,12-13). Devemos sim voltar ao Senhor com jejuns e lágrimas por nossos pecados, mas, com o coração rasgado e não as vestes.

E por que o jejum é o meio principal de rasgar o coração? “Dado que todos estamos entorpecidos pelo pecado e pelas suas consequências, o jejum nos é oferecido como um meio para restabelecer a amizade com o Senhor” (Papa Bento XVI). O tom com que vivemos este dia, em especial, levaremos para todos os outros dias da Quaresma. Se deixamos que as cinzas caiam realmente sobre nós, recordaremos o quanto necessitamos crescer na amizade com Cristo e que o jejum é um bom remédio contra a lepra do pecado. Se jejuamos é porque somos pecadores! Se tiramos a carne é porque a nossa carne precisa também voltar-se para Deus, precisa ser orientada pelo Espírito do Senhor que nos quer santificar.

Aprendamos com os amigos de Deus, os santos, a sermos contritos de espírito e penitentes. “O jejum é o apoio da nossa alma: nos dá asas para ascender no alto e para desfrutar a contemplação mais alta! […] Deus, como um pai indulgente, nos oferece uma cura pelo jejum” (São João Crisóstomo). É tempo de crescermos na consciência de que todo coração que se rasga da presença de Deus, também acolherá os outros, praticando um jejum verdadeiro. “O jejum é a alma da oração e a misericórdia é a vida do jejum, portanto quem reza, jejue. Quem jejua tenha misericórdia. Quem, ao pedir, deseja ser atendido, atenda quem a ele se dirige. Quem quer encontrar aberto em seu benefício o coração de Deus não feche o seu a quem o súplica” (São Pedro Crisólogo).

Que Deus nos dê a graça de viver uma Santa Quaresma!