TEMPO DO ADVENTO. SEGUNDA SEMANA. SEGUNDA-FEIRA

– O maior bem que podemos fazer aos nossos amigos: aproximá-los do sacramento da Penitência.
– Fé e confiança no Senhor. O paralítico de Cafarnaum.
– A Confissão. O poder de perdoar os pecados. Respeito, agradecimento e veneração com que devemos aproximar-nos deste sacramento.

I. DESPERTAI, Ó DEUS, o vosso poder e socorrei-nos com a vossa força, para que a vossa misericórdia apresse a salvação que os nossos pecados retardam1. Esta oração litúrgica, com que iniciamos agora a nossa conversa com Deus, fala-nos de anunciar a vinda de Jesus pedindo perdão pelos pecados.

O Messias está muito perto de nós, e nestes dias do Advento preparamo-nos para recebê-lo de uma maneira nova, quando chegar o Natal. Jesus diz-nos especialmente nestes dias: Confortai as mãos frouxas, firmai os joelhos vacilantes. Dizei àqueles que têm o coração perturbado: coragem, não tenhais medo2. Ora, todos os dias nós nos encontramos com amigos, colegas, parentes que estão desorientados no aspecto mais essencial da sua existência. Sentem-se incapazes de ir até Deus e andam como paralíticos pelos caminhos da vida, porque perderam a esperança. Nós temos que guiá-los até à humilde gruta de Belém; ali encontrarão o sentido de suas vidas.

Para isso temos de conhecer o caminho: ter vida interior, trato com Jesus, começar nós mesmos por melhorar naquelas coisas em que os nossos amigos devem melhorar, e ter uma esperança inquebrantável nos meios sobrenaturais.

A oração, a mortificação e o exemplo estarão sempre na base de todo o apostolado cristão. A oração pelos outros é tanto mais ouvida quanto mais ancorada estiver na santidade de quem pede. O apostolado nasce de um grande amor a Cristo.

Em muitos casos, aproximar os nossos amigos de Cristo é levá-los a receber o sacramento da Penitência, um dos maiores bens que o Senhor deixou à sua Igreja. Poucas ajudas tão grandes, talvez nenhuma, podemos prestar a esses amigos como a de animá-los a aproximar-se da Confissão. Umas vezes, teremos que ajudá-los delicadamente a fazer um bom exame de consciência; outras, acompanhá-los até o lugar em que o sacerdote os espera; outras ainda, dirigir-lhes apenas uma palavra de estímulo e de afeto, juntamente com uma breve e adequada catequese sobre a natureza e os bens deste sacramento.

Que alegria de cada vez que aproximamos um parente, um colega, um amigo, do sacramento da misericórdia divina! Essa mesma alegria é compartilhada no Céu pelo nosso Pai-Deus e por todos os bem-aventurados3.

II. NO EVANGELHO DA MISSA de hoje, São Marcos diz-nos que Jesus chegou a Cafarnaum e, logo que se soube que estava em casa, reuniram-se tantos que já não havia lugar nem sequer diante da porta4.

Para lá se dirigiram também quatro amigos que carregavam um paralítico; mas não puderam chegar até Jesus por causa da multidão. Então, servindo-se talvez de uma escada dos fundos, subiram ao telhado com o enfermo; levantaram o teto no lugar em que se encontrava o Senhor e, depois de abrirem espaço, desceram o leito em que jazia o paralítico e deixaram-no no meio, diante de Jesus5. O apostolado – particularmente o da Confissão – é algo semelhante: é colocar as pessoas diante de Jesus, apesar das dificuldades que isso possa supor. Depois o Senhor fará o resto; na verdade, é Ele quem faz o mais importante.

Os quatro amigos já conheciam o Mestre, e a sua esperança era tão grande que o milagre se realizou graças à confiança que tinham em Jesus. E a fé que os animava supriu ou completou a do paralítico. O Evangelho diz que, vendo Jesus a fé deles, dos amigos, realizou o milagre. Não se menciona explicitamente a fé do doente; insiste-se na dos amigos.

Transpuseram obstáculos que pareciam insuperáveis. Devem ter começado por ter de convencer o paralítico, e, como só quem está convencido é que convence, devia ser muita a confiança que tinham em Jesus. Depois, quando chegaram ao local, a casa estava tão cheia de gente que parecia inviável tentar alguma coisa naquela ocasião. Mas não recuaram. Venceram essa barreira com a sua decisão, com o seu engenho, com o seu interesse. O importante era o encontro entre Jesus e o amigo que lhe levavam; e para que esse encontro se realizasse, lançaram mão de todos os meios ao seu alcance.

Que grande lição para a ação apostólica que, como cristãos, devemos levar a cabo! Também nós encontraremos, sem dúvida, resistências tão grandes ou maiores. Pois bem, a nossa missão consistirá fundamentalmente em pôr os nossos amigos diante de Cristo, em deixá-los junto de Jesus… e desaparecer. Quem, senão o Senhor, e somente Ele, pode transformar a interioridade de uma pessoa? O apostolado situa-se na ordem da graça.

Talvez haja casos em que sejamos nós os culpados de que os outros não se aproximem de Deus, porque se encontram como que incapacitados de ir até o Senhor. “Este paralítico – explica São Tomás – simboliza o pecador que jaz no pecado; assim como o paralítico não se pode mover, também o pecador não pode socorrer-se a si mesmo. Os que levam o paralítico representam aqueles que com os seus conselhos conduzem o pecador a Deus”6.

O Senhor sentiu-se gratamente impressionado com a audácia, fruto de uma grande esperança apostólica, daqueles quatro amigos que não desistiram ante as primeiras dificuldades nem quiseram esperar por uma ocasião mais propícia, pois não sabiam quando Jesus tornaria a passar por ali. Podemos perguntar-nos hoje na nossa meditação pessoal se fazemos assim com os nossos amigos, parentes e conhecidos: não nos teremos detido diante das primeiras dificuldades, depois de termos resolvido ajudar esses amigos a aproximar-se da Confissão? Ali os esperava Jesus.

III. O SENHOR OLHOU o enfermo com imensa piedade: Tem confiança, filho, disse-lhe. A seguir, dirigiu-lhe umas palavras que deixaram espantados a todos: Os teus pecados te são perdoados.

É muito possível que, ao ouvir essas palavras, o paralítico experimentasse com especial lucidez toda a sua indignidade; talvez compreendesse, como nunca até aquele momento, a necessidade de estar limpo diante do olhar puríssimo de Jesus, que o penetrava até o fundo da alma com profunda misericórdia. Recebeu então a graça de um grande perdão; era o prêmio por se ter deixado ajudar. E sentiu imediatamente uma alegria indescritível. Já pouco se importava com a sua paralisia. A sua alma estava limpa e ele tinha encontrado Jesus.

O Senhor, que lê os pensamentos de todos, quis deixar bem claro, aos que o ouviam e aos que meditariam esta cena ao longo dos séculos, que tem todo o poder no céu e na terra, incluído o poder de perdoar os pecados, porque é Deus.

E demonstra-o com o milagre da cura completa deste homem. Quando Davi pecou e foi prostrar-se aos pés de Natã, este lhe disse: Javé te perdoou7. Fora Deus que o perdoara; Natã limitara-se a transmitir a mensagem que devolvia a Davi a paz e o sentido da sua vida. Mas Jesus perdoa em nome próprio. Foi o que escandalizou os escribas presentes: Este blasfema. Quem pode perdoar os pecados senão só Deus?

Este poder de perdoar os pecados foi transmitido pelo Senhor à sua Igreja na pessoa dos Apóstolos, para que, por meio dos sacerdotes, pudesse exercê-lo até o fim dos tempos: Recebei o Espírito Santo; a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos8.

Os sacerdotes exercem o poder de perdoar os pecados não por virtude própria, mas em nome de Cristo – in persona Christi –, como instrumentos nas mãos do Senhor. Só Deus pode perdoar os pecados, e Ele quis fazê-lo no sacramento da Penitência através dos seus ministros, os sacerdotes. É um tema de urgente catequese entre aqueles que nos rodeiam, na certeza de que assim lhes será mais fácil aproximar-se com amor deste sacramento.

Aproveitemos a nossa oração de hoje para agradecer ao Senhor que tenha deixado à sua Igreja, nossa Mãe, um poder tão imenso: Obrigado, Senhor, por colocares tão ao nosso alcance um dom tão grande! E examinemos como vão as nossas confissões: se as preparamos com um exame de consciência atento, se fomentamos a contrição em cada uma delas, se nos confessamos com a devida freqüência, se somos radicalmente sinceros com o confessor, se nos esforçamos por pôr em prática os conselhos recebidos.

Examinemos enfim, na presença de Deus, que parentes, amigos ou colegas podemos ajudar a preparar um bom exame de consciência, quais os que estão mais necessitados de uma palavra de alento que os anime a receber este sacramento como preparação para o Natal. Eles esperam o Senhor no mais profundo da sua alma, e o Senhor também espera por eles nesta fonte de misericórdia. Não falhemos nós. É o maior presente que lhes podemos oferecer.

A nossa Mãe Santa Maria, Refugium peccatorum, terá compaixão deles e de nós.

(1) Oração da quinta-feira da primeira semana do Advento; (2) cfr. Is 35, 1-10;primeira leitura da Missa da segunda-feira da segunda semana do Advento; (3) cfr. Lc 15, 7; (4) Mc 2, 1-13; (5) Lc 5, 19; (6) São Tomás de Aquino, Comentários sobre o Evangelho de São Mateus, 9, 2; (7) 2 Sam 12, 13; (8) Jo 20, 22-23.

Fonte: Livro “Falar com Deus”de Francisco Fernández Carvajal