TEMPO DO NATAL ANTES DA EPIFANIA. 2 DE JANEIRO

– Tratar o Senhor com amizade e confiança.
– O nome de Jesus. Jaculatórias.
– O relacionamento com a Virgem Maria e com São José.

I. NA VIDA COTIDIANA, chamar uma pessoa pelo nome próprio é indício de familiaridade. “Numa amizade, mesmo casual, costuma representar um passo decisivo a circunstância de duas pessoas começarem, sem esforço e sem constrangimento, a chamar-se mutuamente pelo primeiro nome. E quando nos apaixonamos, e todas as nossas experiências se tornam mais agudas e as pequenas coisas significam tanto para nós, há um nome próprio no mundo que lança um feitiço sobre os nossos olhos e ouvidos, quando o vemos escrito na página de um livro ou o ouvimos numa conversa; o simples fato de vê-lo mencionar nos faz estremecer. Este sentido de amor pessoal foi o que homens como São Bernardo deram ao nome de Jesus”1. Também para nós o Senhor é tudo, e por isso o tratamos com toda a confiança. Em Caminho, São Josemaría Escrivá aconselha-nos: “Perde o medo de chamar o Senhor pelo seu nome – Jesus – e de lhe dizer que O amas”2.

Chamamos um amigo pelo seu nome. Como é que poderíamos deixar de chamar o nosso melhor Amigo pelo dEle? Ele se chama JESUS; assim o havia chamado o anjo antes de que fosse concebido no seio materno3.

O próprio Deus lhe deu o nome por meio do Anjo. E com o nome, ficou caracterizada a sua missão: Jesus significa Salvador. Com Ele nos chegam a salvação, a segurança e a verdadeira paz: Deus o exaltou e lhe deu um nome que está acima de todo o nome, a fim de que, ao nome de Jesus, todo o joelho se dobre nos céus, na terra e nos abismos4. Com que respeito e ao mesmo tempo com que confiança devemos repeti-lo! De modo particular quando o invocamos na nossa oração pessoal, como agora: “Jesus, preciso…”, “Jesus, eu quereria…”

O nome era de grande importância entre os judeus. Quando se dava o nome a um recém-nascido, desejava-se expressar o que ele havia de ser no futuro. Se não se conhecia o nome de uma pessoa, não se podia dizer que fosse realmente conhecida. Riscar um nome era suprimir uma vida, e mudá-lo significava alterar o destino da pessoa: o nome exprimia a realidade profunda do seu ser.

Entre todos os nomes, o de Deus era o nome por excelência5. Este devia ser bendito agora e para sempre, desde a aurora até o ocaso6, pois é digno de louvor da manhã até à noite7. Numa das petições do Pai-Nosso, suplicamos precisamente que seja santificado o nome do Senhor.

No povo judeu, o nome era imposto na circuncisão, rito instituído por Deus para identificar como que por uma marca e senha os que pertenciam ao Povo eleito. Era o sinal da Aliança que Deus fizera com Abraão e a sua descendência8. O incircunciso ficava excluído do pacto e, portanto, do Povo de Deus.

De acordo com esse preceito, Jesus foi circuncidado ao oitavo dia9, como dizia a Lei. Maria e José cumpriram o que estava legislado. “Cristo submeteu-se à circuncisão no tempo em que esse rito estava vigente – diz São Tomás –, e assim a sua obra nos é oferecida como exemplo a ser imitado, para que observemos as coisas que no nosso tempo estão preceituadas”10-11 e não procuremos situações de exceção ou privilégio quando não há motivo para isso.

II. TERMINADA A CIRCUNCISÃO de Jesus, seus pais, Maria e José, devem ter pronunciado pela primeira vez o nome de Jesus, cheios de uma imensa piedade e carinho.

Assim devemos nós também fazer com freqüência. Invocar o nome de Jesus é ser salvo12; crer nesse nome é chegar a ser filho de Deus13; orar nesse nome é ser escutado com toda a certeza: Em verdade vos digo que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, Ele vo-lo concederá14. Em nome de Jesus perdoam-se os pecados15 e as almas são purificadas e santificadas16. Anunciar esse nome constitui a essência de todo o apostolado17, pois Ele “é o fim da história humana, o ponto para o qual convergem as aspirações da história e da civilização, o centro da humanidade, a alegria de todos os corações e a plenitude de todos os seus desejos”18. Em Jesus, os homens encontram aquilo de que mais necessitam e de que estão sedentos: salvação, paz, alegria, perdão dos seus pecados, liberdade, compreensão, amizade.

“Ó Jesus…, como te compadeces dos que te invocam! Como és bom com os que te buscam! O que não serás para os que te encontram!… Só quem o experimentou pode saber o que significa amar-te, ó Jesus!” Assim exclamava São Bernardo19.

Ao invocarmos o nome do Senhor, haverá ocasiões em que estaremos na situação daqueles leprosos que, de longe, lhe suplicam: Jesus, Mestre, tem compaixão de nós. E o Senhor lhes diz que se aproximem, e os cura enviando-os aos sacerdotes20. Ou teremos que repetir-lhe, porque também nós estamos cegos em tantas coisas, as palavras do cego de Jericó: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim. “Não te dá vontade de gritar, a ti, que também estás parado à beira do caminho, desse caminho da vida que é tão curta; a ti, a quem faltam luzes; a ti, que necessitas de mais graças para te decidires a procurar a santidade? Não sentes a urgência de clamar: Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim? Que maravilhosa jaculatória, para que a repitas com freqüência!”21

Invocando o Santíssimo Nome de Jesus, desaparecerão muitos obstáculos e ficaremos curados de tantas doenças da alma que freqüentemente nos afligem. “Desejo que o vosso nome, ó Jesus, esteja sempre no fundo do meu coração e ao alcance das minhas mãos, a fim de que todos os meus afetos e todas as minhas ações se dirijam a Vós […]. No vosso nome, ó Jesus!, tenho o remédio para me corrigir das minhas más ações e para aperfeiçoar as defeituosas; um medicamento, também, para preservar da corrupção os meus afetos ou curá-los, se já estiverem corrompidos”22.

As jaculatórias tornarão mais vivo o fogo do nosso amor ao Senhor e aumentarão o sentido da presença de Deus ao longo do nosso dia. Olhando para o Senhor, para Deus feito Menino por amor de nós, dir-lhe-emos cheios de confiança: Dominus iudex noster, Dominus legifer noster, Dominus rex noster; ipse salvabit nos23. O Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o nosso legislador, o Senhor é o nosso rei; Ele nos há de salvar. Senhor, Jesus, confiamos em Ti, confio em Ti.

III. JUNTAMENTE COM O NOME de Jesus, devemos ter em nossos lábios os de Maria e de José: os nomes que mais vezes o Senhor deve ter pronunciado.

A piedade dos primeiros cristãos dá ao nome de Maria diversos significados: Muito amada, Estrela do Mar, Senhora, Princesa, Luz, Formosa… É São Jerônimo quem a chama Stella Maris, Estrela do Mar; Ela nos guia para o porto seguro no meio de todas as tempestades da vida.

Devemos ter com muita frequência esse nome salvador nos nossos lábios, mas de maneira especial nas nossas necessidades e dificuldades. Na nossa caminhada para Deus, não pode deixar de haver tempestades, que o Senhor permite para purificar a nossa intenção e para que cresçamos nas virtudes; e é possível que, por repararmos demasiado nos obstáculos, surja no nosso íntimo a falta de esperança ou o cansaço na luta. É o momento de recorrer a Maria, invocando o seu nome. “Se se levantarem os ventos das provações, se tropeçares com os obstáculos da tentação, olha para a estrela, chama por Maria. Se te agitarem as ondas da soberba, da ambição ou da inveja, olha para a estrela, chama por Maria. Se a ira, a avareza ou a impureza arrastarem violentamente a nave da tua alma, olha para Maria. Se, perturbado pela recordação dos teus pecados, desorientado com a fealdade da tua consciência, temeroso ante a ideia do Juízo, começares a afundar-te no poço sem fundo da tristeza ou no abismo do desespero, pensa em Maria. Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Não se afaste Maria da tua boca, não se afaste do teu coração; e para conseguires a sua ajuda intercessora, não te afastes tu dos exemplos da sua virtude. Não te extraviarás se a segues, não desesperarás se lhe rogas, não te perderás se nEla pensas. Se Ela te segurar a mão, não cairás; se te proteger, nada temerás; não te cansarás, se Ela for o teu guia; chegarás felizmente ao porto, se Ela te amparar”24.

Invocaremos o seu nome especialmente na Ave-Maria, e também nas demais orações e jaculatórias que a piedade cristã soube formular ao longo dos séculos, e que talvez as nossas mães nos tenham ensinado.

E além dos nomes de Jesus e Maria, o de José. “Se toda a Igreja está em dívida para com a Virgem Maria, já que por meio dEla recebeu Cristo, de maneira semelhante deve a São José uma especial reverência e gratidão”25.

Jesus, Maria e José, eu vos dou o meu coração e a minha alma. Jesus, Maria e José, assisti-me na minha última agonia. Quantos milhões de cristãos não terão aprendido dos lábios de suas mães estas jaculatórias ou outras semelhantes, repetindo-as até o fim dos seus dias! Não nos esqueçamos nós de recorrer diariamente, muitas vezes, a esta trindade da terra.

(1) Ronald Knox, Tiempos y fiestas del año litúrgico, págs. 64-65; (2) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 303; (3) cfr. Lc 2, 21; (4) Fil 2, 9-10; (5) Zac 14, 9; (6) Sl 113, 2-3; (7) Sl 9, 2; (8) cfr. Gên 17, 10-14; (9) Lc 2, 21; (10) São Tomás, Suma Teológica, 3, q. 37, a. 1; (11) cfr. At 15, 1 e segs.; (12) cfr. Rom 10, 9; (13) cfr. Jo 1, 12; (14) Jo 16, 23; (15) 1 Jo 2, 12; (16) cfr. 1 Cor 6, 11; (17) At 8, 12; (18) Concílio Vaticano II, Constituição Gaudium et spes, 45; (19) São Bernardo, Sermões sobre os cânticos, 15; (20) cfr. Lc 17, 13; (21) SãoJosemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 195; (22) São Bernardo, Sermões sobre os cânticos, 15; (23) Antífona da hora terceira, na Solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo; (24) São Bernardo, Homilia sobre a Virgem Mãe, 2; (25) São Bernardino de Sena, Sermão 2.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal