TEMPO COMUM. PRIMEIRA SEMANA. QUINTA-FEIRA

– Jesus Cristo espera-nos todos os dias.
– Presença real de Cristo no Sacrário.
– O Senhor nos sara e purifica na Sagrada Comunhão.

I. UM LEPROSO aproximou-se do lugar em que Jesus se encontrava1, pôs-se de joelhos e disse-lhe: Se quiseres, podes limpar-me. E o Senhor, que sempre deseja o nosso bem, compadeceu-se dele, tocou-o e disse-lhe: Quero, fica limpo. E imediatamente desapareceu dele a lepra e ficou limpo.

“Aquele homem ajoelha-se prostrando-se por terra – o que é sinal de humildade –, para que cada um de nós se envergonhe das manchas da sua vida. Mas a vergonha não deve impedir a confissão: o leproso mostrou a chaga e pediu o remédio. A sua oração está, além disso, repleta de piedade, isto é, reconheceu que o poder de ser curado estava nas mãos do Senhor”2. E nas mãos divinas continua a estar o remédio de que necessitamos.

Cristo espera-nos cada dia na Sagrada Eucaristia. Está ali verdadeira, real e substancialmente presente, com o seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Encontra-se ali com todo o resplendor da sua glória, pois Cristo ressuscitado já não morre3. O Corpo e a Alma permanecem inseparáveis e unidos para sempre à Pessoa do Verbo. Todo o mistério da Encarnação do Filho de Deus está contido na Hóstia Santa, em toda a riqueza profunda da sua Santíssima Humanidade e na infinita grandeza da sua Divindade, ambas veladas e ocultas. Na Sagrada Eucaristia encontramos o mesmo Jesus Cristo que disse ao leproso: Quero, fica limpo, o mesmo que é contemplado e louvado pelos anjos e santos por toda a eternidade.

Quando nos aproximamos de um Sacrário, encontramo-lo ali. Talvez tenhamos repetido muitas vezes na sua presença o hino com que São Tomás expressou a fé e a piedade da Igreja e que tantos cristãos converteram numa oração pessoal:

Adoro-vos com devoção, Deus escondido, que sob estas aparências estais presente.
A Vós se submete o meu coração por inteiro, e ao contemplar-vos se rende totalmente.

A vista, o tato, o gosto enganam-se sobre Vós, mas basta o ouvido para crer com firmeza.
Creio em tudo o que disse o Filho de Deus; nada de mais verdadeiro que esta palavra de verdade.

Na Cruz estava oculta a divindade, mas aqui se esconde também a humanidade;
creio, porém, e confesso uma e outra, e peço o que pediu o ladrão arrependido.

Não vejo as chagas, como as viu Tomé, mas confesso que sois o meu Deus.
Fazei que eu creia mais e mais em Vós, que em Vós espere, que Vos ame4.

Esta maravilhosa presença de Jesus entre nós deveria renovar a nossa vida cada dia. Quando o recebemos, quando o visitamos, podemos dizer em sentido estrito: Hoje estive com Deus. Tornamo-nos semelhantes aos Apóstolos e aos discípulos, às santas mulheres que acompanhavam o Senhor pelos caminhos da Judéia e da Galiléia. “Non alius sed aliter”, não é outro, mas está de outro modo, costumam dizer os teólogos5. Encontra-se aqui conosco; em cada cidade, em cada vilarejo. Com que fé o visitamos? Com que amor o recebemos? Como preparamos a nossa alma e o nosso corpo quando vamos comungar?

II. SÃO TOMÁS DE AQUINO6 ensina que o Corpo de Cristo está presente na Sagrada Eucaristia tal como é em si mesmo, e a Alma de Cristo está presente com a sua inteligência e vontade; excluem-se apenas aquelas relações que dizem respeito à quantidade, pois Cristo não está presente na Hóstia Santa do modo como uma quantidade está localizada no espaço7. Está presente com o seu Corpo glorioso de um modo misterioso e inexplicável.

A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade está, pois, nesse Sacrário que podemos visitar todos os dias, talvez muito perto da nossa casa ou do escritório, na capela da Universidade, do hospital em que trabalhamos ou do aeroporto; e está presente com o soberano poder da sua Divindade. Ele, o Filho Unigênito de Deus, em cuja presença tremem os Tronos e as Dominações, por quem tudo foi feito, que tem o mesmo poder, sabedoria e misericórdia que as outras Pessoas da Santíssima Trindade, permanece perpetuamente conosco, como um de nós, sem nunca deixar de ser Deus. Efetivamente, no meio de vós está quem vós não conheceis8. Será que, apesar de estarmos absortos nos nossos negócios, no trabalho, com as suas preocupações diárias, pensamos com freqüência em que, muito perto da nossa residência ou do local de trabalho, mora realmente o Deus misericordioso e onipotente?

O nosso grande fracasso, o maior erro da nossa vida, seria que em algum momento pudessem aplicar-se a nós aquelas palavras que o Espírito Santo pôs na pena de São João:Veio aos que eram seus e os seus não o receberam9, porque estavam ocupados nas suas coisas e nos seus trabalhos – podemos acrescentar –, em assuntos que sem Ele não têm a menor importância. Mas fazemos hoje o propósito firme de permanecer com um amor vigilante: alegrando-nos muito quando vemos a torre de uma igreja, fazendo durante o dia muitas comunhões espirituais, atos de fé e de amor, manifestando o nosso desejo de desagravar o Senhor por aqueles que passam ao seu lado sem lhe dirigirem um pensamento sequer.

III. SENHOR JESUS, bom pelicano, limpai-me a mim, imundo, com o vosso Sangue, com esse Sangue do qual uma só gota pode salvar do pecado o mundo inteiro10.

O Senhor dá a cada homem em particular, na Sagrada Eucaristia, a mesma vida da graça que trouxe ao mundo pela sua Encarnação11. Se tivéssemos mais fé, realizar-se-iam em nós verdadeiros milagres, como os que se operaram nas pessoas que Jesus curou: ficaríamos limpos das nossas fraquezas e imperfeições, até o mais fundo da alma. Fazei que eu creia mais e mais em Vós, é o que nos convida a clamar e a suplicar interiormente o hino eucarístico. Se tivermos fé, ouviremos as mesmas palavras que foram dirigidas ao leproso: Quero, fica limpo. Ou veremos como o Senhor se levanta perante as ondas, tal como no lago de Tiberíades, para acalmar a tempestade; e far-se-á também na nossa alma uma grande bonança.

Senhor Jesus, bom pelicano… Na Comunhão, o Senhor não só nos oferece um alimento espiritual, como Ele próprio se dá a nós como Alimento. Antigamente, pensava-se que, quando morria o filhote de um pelicano, este feria o seu próprio peito e com o seu sangue alimentava o filhote morto, que assim retornava à vida… Cristo dá-nos a vida eterna. A Comunhão, recebida com as devidas disposições, traz-nos o Mestre que vem até nós com o seu amor pessoal, eficaz, criador e redentor, como o Salvador que é das nossas vidas.

A nossa alma purifica-se ao contacto com Cristo. Obtemos então o vigor necessário para praticar a caridade, para viver exemplarmente os deveres próprios, para proteger a nossa pureza, para realizar o apostolado que Ele mesmo nos indicou…

A Sagrada Eucaristia é remédio para as fraquezas diárias, para esses pequenos desleixos e faltas de correspondência que não matam a alma, mas a debilitam e conduzem à tibieza. Faz-nos vencer as nossas covardias.

Na Sagrada Eucaristia, Jesus espera-nos para restaurar as nossas forças: Vinde a mim todos os que estais fatigados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei12. Jesus não exclui ninguém: Vinde a mim todos. Se alguém quiser aproximar-se de mim, eu não o lançarei fora13. Enquanto durar o tempo da Igreja militante, Jesus permanecerá conosco como a fonte de todas as graças que nos são necessárias. Sem Ele, não poderíamos viver. Com palavras de São Tomás em outra oração, podemos dizer a Jesus presente na Sagrada Eucaristia: “Aproximo-me de Vós como um doente do médico da vida, como um imundo da fonte de misericórdia, como um cego da luz da claridade eterna, como um pobre e necessitado do Senhor do céu e da terra. Imploro a abundância da vossa infinita generosidade para que vos digneis curar a minha enfermidade, lavar a minha impureza, iluminar a minha cegueira, remediar a minha pobreza e vestir a minha nudez, a fim de que me aproxime a receber o Pão dos Anjos, o Rei dos reis e o Senhor dos senhores, com tanta reverência e humildade, com tanta contrição e piedade, com tanta pureza e fé, e com tal propósito e intenção como convém à saúde da minha alma”14.

A Virgem Maria, nossa Mãe, anima-nos sempre a relacionar-nos cada vez mais intimamente com Jesus sacramentado: “Aproxima-te mais do Senhor…, mais! – Até que se converta em teu Amigo, teu Confidente, teu Guia”15.

(1) Mc 1, 40-45; (2) São Beda, Comentário ao Evangelho de São Marcos; (3) Rom 6, 9; (4) Hino Adoro te devote; (5) cfr. M. M. Philipon, A nossa transformação em Cristo, pág. 116; (6) cfr. São Tomás, Suma Teológica, III, q. 76, a. 5, ad. 3; (7) cfr. ib., III, q. 81, a. 4; (8) Jo 1, 26; (9) Jo 1, 11; (10) Hino Adoro te devote; (11) cfr. São Tomás, op. cit., I, q. 3, a. 79; (12) Mt 11, 28; (13) cfr. Jo 6, 37; (14) Missal Romano, Praeparatio ad Missam; (15) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 680.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal