TEMPO COMUM. SEGUNDA SEMANA. QUINTA-FEIRA

— Necessidade premente deste apostolado.

O EVANGELHO DIZ em várias ocasiões que as multidões se aglomeravam à volta do Senhor para que pudessem ser curadas1. Lemos hoje no Evangelho da Missa2 que uma numerosa multidão da Galiléia e da Judéia, de Jerusalém, da Iduméia, da Transjordânia e dos arredores de Tiro e de Sidon seguia Jesus. Era tanta a gente que o Senhor mandou aos seus discípulos que preparassem uma barca por causa da multidão, para que esta não o oprimisse. Pois Ele curava muitos, e quantos padeciam de algum mal lançavam-se sobre Ele para o tocarem.

São pessoas necessitadas que recorrem a Cristo. E Ele as atende porque tem um coração compassivo e misericordioso. Durante os três anos da sua vida pública, curou muitos, livrou os endemoninhados, ressuscitou mortos… Mas não curou todos os enfermos do mundo nem suprimiu todos os sofrimentos desta vida, porque a dor não é um mal absoluto — ao passo que o pecado o é —, e pode ter um valor redentor incomparável se a unirmos aos sofrimentos de Cristo.

Muitos dos milagres que Jesus realizou foram remédio para inúmeras dores e sofrimentos, mas eram antes de mais nada um sinal e uma prova da sua missão divina, da redenção universal e eterna. E os cristãos continuam no tempo a missão de Cristo: Ide, pois, e ensinai a todos os povos, batizando-os… e ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei. E eis que eu estou convosco todos os dias até à consumação do mundo3.

As multidões andam hoje tão necessitadas como naquela época. Também hoje vemos que são como ovelhas sem pastor, que estão desorientadas e não sabem para onde dirigir as suas vidas. A humanidade, apesar de todos os progressos destes vinte séculos, continua a sofrer dores físicas e morais, mas padece sobretudo de uma grande falta da doutrina de Cristo, salvaguardada sem erro pelo Magistério da Igreja. As palavras do Senhor continuam a ser palavras de vida eterna, que ensinam a fugir do pecado, a santificar a vida ordinária, o trabalho, as alegrias, as derrotas e a doença…, e abrem os caminhos da salvação. Esta é a grande necessidade do mundo.

Quando avaliamos a situação da sociedade com os olhos da fé, não precisamos de muito esforço para descobrir que as pessoas “andam desejosas de ouvir a palavra de Deus, embora o dissimulem exteriormente. Talvez alguns se tenham esquecido da doutrina de Cristo; outros — sem culpa sua — nunca a aprenderam, e vêem a religião como uma coisa estranha. Mas convencei-vos de uma realidade sempre atual: chega sempre um momento em que a alma não pode mais, em que não lhe bastam as explicações habituais, em que não a satisfazem as mentiras dos falsos profetas. E, mesmo que nem então o admitam, essas pessoas sentem fome de saciar a sua inquietação nos ensinamentos do Senhor”4.

Está nas nossas mãos este tesouro da doutrina, para que possamos dá-lo a tempo e a destempo5, oportuna e inoportunamente, através de todos os meios ao nosso alcance. E esta é a tarefa verdadeiramente urgente que incumbe a todos os cristãos.

— Formação nas verdades da fé. Estudar e ensinar o Catecismo.

PARA PODERMOS DAR a doutrina de Jesus Cristo, é preciso que a tenhamos no entendimento e no coração: que a meditemos e amemos. Todos os cristãos, cada um segundo os dons que recebeu — talento, estudos, circunstâncias… —, tem que servir-se dos meios necessários para adquiri-la. E não serão poucas as vezes em que essa formação começará por um conhecimento aprofundado do Catecismo, que são esses livros “fiéis aos conteúdos essenciais da Revelação e atualizados quanto ao método, capazes de educar numa fé robusta as gerações de cristãos dos novos tempos”6, como diz João Paulo II.

A vida de fé leva a um fluxo contínuo de aquisição e transmissão das verdades reveladas: Tradidi quod accepi… Transmito-vos aquilo que recebi7, dizia São Paulo aos cristãos de Corinto. A fé da Igreja é fé viva, porque é continuamente recebida e entregue. De Cristo aos Apóstolos, destes aos seus sucessores. Assim até hoje: é sempre idêntica a fé que ressoa no Magistério vivo da Igreja8. Que bons alto-falantes não teria o Senhor se todos os cristãos se decidissem — cada um no seu lugar — a proclamar a sua doutrina salvadora, a ser elos dessa corrente que se prolongará até o fim dos tempos! Ide e ensinai…, diz o próprio Cristo a todos nós.

Trata-se de difundir espontaneamente a doutrina, de um modo às vezes informal, mas que será extraordinariamente eficaz, tal como aconteceu com os primeiros cristãos: de família para família; entre colegas de trabalho ou de estudo, entre os pais dos alunos de uma escola; nos bairros, nos mercados, nas ruas.

O trabalho, a rua, a associação profissional, a Universidade, os estabelecimentos comerciais, a vida civil… convertem-se então em veículos de uma catequese discreta e atraente, que penetra até o fundo dos costumes da sociedade e da vida dos homens. “Acredita em mim: o apostolado, a catequese, de ordinário, tem de ser capilar: um a um. Cada homem de fé com o seu companheiro mais próximo. — Aos que somos filhos de Deus, importam-nos todas as almas, porque nos importa cada alma”9.

Como devem comover o coração de Deus essas mães que, talvez sem tempo disponível, explicam pacientemente as verdades do Catecismo aos seus filhos… e talvez aos filhos das suas vizinhas e amigas! Ou o estudante que vai a um bairro longínquo, para explicar essas verdades aos meninos da localidade, ainda que depois tenha de sacrificar o sono para preparar a prova que terá na semana seguinte!

“Perante tanta ignorância e tantos erros a respeito de Cristo, da sua Igreja…, das verdades mais elementares, os cristãos não podem ficar passivos, pois o Senhor nos constituiu como sal da terra (Mt 5, 13) e luz do mundo (Mt 5, 14). Todos os cristãos devem participar na tarefa de formação cristã, devem sentir a urgência de evangelizar, que não é para mim motivo de glória, mas uma obrigação (1 Cor 9, 16)”10.

Ninguém pode desentender-se desta urgente missão. “Tarefa do cristão: afogar o mal em abundância de bem. Não se trata de campanhas negativas, nem de ser antinada. Pelo contrário: viver de afirmação, cheios de otimismo, com juventude, alegria e paz; ver com compreensão a todos: os que seguem a Cristo e os que o abandonam ou não o conhecem. — Mas compreensão não significa abstencionismo nem indiferença, e sim atividade”11, iniciativa, anelo profundo de dar a conhecer a todos o rosto amável do Senhor.

AO PERCEBERMOS A EXTENS√ÉO da tarefa de difundir a doutrina de Jesus Cristo, devemos começar por pedir ao Senhor que nos aumente a fé: Fac me tibi semper magis credere, fazei com que eu creia mais e mais em Vós, suplicamos no Adoro te devote, o hino eucarístico de São Tomás de Aquino. E assim poderemos dizer também com palavras desse hino: “Creio em tudo o que me disse o Filho de Deus; nada mais verdadeiro que esta Palavra de verdade”. Com uma fé robustecida, estaremos preparados para ser instrumentos nas mãos do Senhor.

Só a graça de Deus pode mover a vontade a aceitar as verdades da fé. Por isso, na nossa tarefa de atrair os nossos amigos à verdade cristã, devemos renovar constantemente a nossa fé com uma oração humilde e contínua; e, juntamente com a oração, a penitência: um espírito habitual de mortificação, provavelmente em detalhes pequenos relativos à vida familiar, ao trabalho…, mas sempre sobrenatural e concreta. Lembremo-nos sempre de que a oração se valoriza com o sacrifício: “A ação nada vale sem a oração; a oração valoriza-se com o sacrifício”12.

Perante as barreiras que encontraremos por vezes em ambientes difíceis, e perante obstáculos que poderiam parecer insuperáveis, encher-nos-emos de otimismo se nos recordarmos de que a graça de Deus pode mover os corações mais duros, e de que a ajuda sobrenatural é tanto maior quanto maiores forem as dificuldades que encontremos.

Senhor, ensinai-nos a fazer com que muitos Vos conheçam! Também nos nossos dias as multidões andam perdidas e necessitadas de Vós, cheias de ignorância e tantas vezes sem luz e sem caminho. Santa Maria, ajudai-nos a não desperdiçar nenhuma ocasião de dar a conhecer o vosso Filho Jesus Cristo! Fazei com que saibamos entusiasmar muitos dos nossos amigos e animá-los a seguir-nos nesta nobre tarefa de difundir a Verdade que salva!

(1) Cfr. Lc 6, 19; 8, 45; etc.; (2) Mc 3, 7-12; (3) Mt 28, 19-20; (4) Josemaría Escrivá,Amigos de Deus, n. 260; (5) cfr. 2 Tim 4, 2; (6) João Paulo II, Exhort. Apost.Catechesi tradendae, 16-X-1979, pág. 50; (7) cfr. 1 Cor 11, 23; (8) cfr. P. Rodríguez,Fe y vida de fe, pág. 164; (9) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 943; (10) João Paulo II,Discurso em Granada, 15-XI-1982; (11) Josemaría Escrivá, Sulco, n. 864; (12) Josemaría Escrivá, Caminho, n. 81.

Fonte: livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal.