24 de Março

São Gabriel Arcanjo

Originalmente a Festa de São Gabriel Arcanjo foi, para o Rito Romano, marcada para a véspera da Anunciação de Nossa Senhora, ou seja, em 24 de março. Data esta ainda observada no Santoral antigo.

São Gabriel (confidente de Deus) é um dos anjos que assistem diante de Deus (Lc 1, 19). São João Evangelista fala diversas vezes nos sete espíritos, nos sete anjos que viu em pé diante de Deus. (Apoc 1, 4–8; 2). Com razão São Gabriel é chamado o anjo da Redenção, porque sua Missão, tanto no Antigo como no Novo Testamento, se relaciona com a vinda do Salvador.

Ao profeta Daniel foi o arcanjo Gabriel que lhe explicou a visão que teve do carneiro e do bode (Dn 8, 1). Importantes são as revelações sobre a época de o Messias aparecer, contidas ao capítulo 9 do mesmo livro. É o mesmo arcanjo Gabriel que apareceu ao sacerdote Zacarias, quando este prestava o serviço de levita no templo. Da boca do arcanjo o sacerdote ouviu a anunciação do nascimento de São João Batista, precursor do Messias. Pondo em dúvida a veracidade da mensagem celeste, e argumentando com a idade provecta sua e da sua esposa, Gabriel revelou-lhe seu nome e também lhe infligiu uma mudez que se prolongou até o nascimento de São João Batista. (cf. Lc 1, 5-23).

Sua maior e mais nobre missão, porém, foi a de levar à Bem-aventurada Virgem Maria a mensagem da Encarnação do Verbo Divino no seu castíssimo seio. São Lucas, no capítulo 2 de seu Evangelho, descreve magistralmente o modo como o excelso Príncipe do céu se desempenhou desta augustíssima tarefa.

Se o arcanjo Gabriel teve outras missões ainda relativas à vida de Nosso Senhor, nós não sabemos. Não é improvável que tenha sido ele quem aos pastores de Belém trouxe a Boa Nova do nascimento de Jesus; improvável não é que do Anjo São Gabriel os reis Magos receberam o aviso de não voltar a Jerusalém; que tenha sido o mesmo Anjo, que a São José deu a ordem de fuga para o Egito, e mais tarde, de retornar para Nazaré (Mt 2, 13-20). Não está fora de propósito supor que tenha sido Gabriel o consolador de Jesus no horto das Oliveiras (Lc 22, 43) e quem às santas mulheres anunciou a ressurreição gloriosa do Mestre (Mt 28, 2-5). Seja como for, das Sagradas Escrituras sabemos que São Gabriel é o anjo que mais íntimo contato apareceu com o mistério da Anunciação, e portanto de preferência merece o belo título de anjo da Encarnação de Cristo.

As razões porque São Gabriel foi por Deus escolhido para desempenhar tão alta missão, encontramo-las no próprio amor divino, e na predileção de Deus por esta sublime criatura celeste. Nada impede supor que São Gabriel tenha sido dono de qualidades especiais, que mais do que a qualquer outro anjo o indicaram para tão elevada incumbência. Como São Miguel se distinguiu por uma fidelidade sem par a Deus, cuja autoridade defendeu contra os anjos rebeldes, assim pode ser que, ao lado do arcanjo batalhador, fosse São Gabriel a revelar um amor extraordinário e dedicação especial a Deus Filho, futuro Salvador, em cuja Encarnação os maus espíritos encontraram o que os escandalizasse. Se assim foi, como asseveram abalizados teólogos, a missão confiada a Gabriel constitui uma recompensa bem merecida pela sua fidelidade e amor ao Salvador. Era bem digno pois de ser intermediário entre Deus e a Virgem Imaculada.

Por sua alta posição no céu e seus extraordinários merecimentos que tem em relação ao Salvador, à Santa Igreja e a todos nós, São Gabriel é credor da nossa veneração e gratidão.

Por três modos nos é dado cumprir este nosso dever junto ao grande arcanjo. Primeiro, dando graças a Deus por ter designado este seu mensageiro e o ter adornado de tantos dons e com tanta magnificência. Como todos os santos anjos, São Gabriel nos honra, nos ama, e sempre pronto está para nos beneficiar, visto que o próprio Deus tanto nos tem honrado e amado. “Os Anjos”, diz São Paulo, “são enviados para exercer o seu ministério ajudando-nos a ter parte com eles na herança da salvação”. (Hb. 1, 14).

Segundo: imitar, na medida do possível, o seu exemplo. O serviço mais nobre reservado aos santos anjos, Deus Nosso Senhor o caracteriza nestes termos: “Eu vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem”. (Jo 1, 51.) Em outras palavras: servidores que são do Salvador, com amor e dedicação se lhe oferecem, para conduzir os homens ao conhecimento da verdade e a participação da graça divina. Vimos quantas vezes desceu sobre o Filho do homem. Foi ele o primeiro a pronunciar e fazer conhecer o doce nome de Jesus. Grande e inestimáveis coisas disse ele de Cristo Nosso Senhor. Felizes de nós se, querendo imitar o seu exemplo e ter parte na sua glória, nos dispusermos a tornar conhecido e amado o nome de Jesus entre os homens, e para isto não nos negarmos a rezar, trabalhar e sofrer. As palavras do anjo ao profeta Daniel: “Eis um homem de complacência de Deus” (Dn 9, 23; 10, 11) e a Zacarias: “Tua oração foi ouvida” (Lc 1, 13) são a prova de que os anjos observam e acompanham as boas obras dos homens.

Em terceiro lugar temos no Arcanjo São Gabriel um modelo de veneração e amor a Maria Santíssima; pois foi ele que pronunciou a primeira “Ave Maria”, e com quanto respeito, com quanta devoção e amor não o fez! Em cada “Ave Maria” que rezamos, poderá o arcanjo São Gabriel servir-nos de modelo. Pronunciando suas palavras, imitemo-lo também na sua devoção, no seu amor à Mãe de Deus.

Fonte: Na luz Perpétua, 5ª. ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico – Juiz de Fora – Minas Gerais, 1959.