TEMPO DA QUARESMA. PRIMEIRA SEMANA. QUINTA-FEIRA

– Pedir e agradecer, duas formas de nos relacionarmos com Deus. Dois modos de oração muito gratos a Deus. Retidão de intenção ao pedir.
– Humildade e perseverança na oração.
– O Senhor sempre nos atende. Procurar também a intercessão da Virgem, nossa Mãe, e do Anjo da Guarda.

I. PEDI E DAR-SE-VOS-Á. Buscai e achareis. Batei e abrir-se-vos-á 1.

Passamos uma boa parte da nossa vida pedindo coisas a outras pessoas que possuem mais ou que têm conhecimentos superiores aos nossos. Pedimos, porque somos pessoas necessitadas. E é, em muitas ocasiões, a única possibilidade de nos relacionarmos com os outros. Se nunca pedíssemos nada a ninguém, terminaríamos numa especie de vazio e de falsa e empobrecida auto-suficiência.

Pedir e dar: nisso consiste a maior parte da nossa vida e do nosso ser. Ao pedir, reconhecemo-nos pessoas necessitadas. Ao dar, podemos tomar consciência da riqueza sem fim que Deus colocou no nosso coração.

O mesmo acontece com respeito a Deus. Grande parte das nossas relações com Ele situam-se no âmbito da petição: as restantes, no do agradecimento. Ao pedir, manifestam os a nossa radical insuficiência. Pedir torna-nos humildes; além disso, é uma oportunidade que damos a Deus de mostrar-se Pai e de conhecermos assim o amor que Ele tem por nós. Quem dentre vós, se um filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? […] Quanto mais vosso Pai celestial dará coisas boas aos que lhe pedirem 2.

Não pedimos por egoísmo, nem levados pela soberba, pela avareza ou pela inveja. Se pedimos, por exemplo, um favor material, devemos examinar na presença de Deus qual o verdadeiro motivo que nos leva a fazê-lo. Será necessário que perguntemos a Deus, na intimidade da nossa alma, se isso que lhe solicitamos nos ajudará a amá-lo mais e a realizar melhor a sua vontade. E em muitas ocasiões perceberemos imediatamente que esse assunto que nos parecia questão de vida ou morte não tinha qualquer valor, ou ao menos não era tão importante. Saberemos alinhar a nossa vontade pela de Deus e, então, a nossa petição estará muito mais bem encaminhada.

Podemos pedir ao Senhor que nos cure rapidamente de uma doença; mas devemos pedir ao mesmo tempo que, se isso não acontecer porque os seus planos são outros – planos misteriosos e desconhecidos de nós, mas que vêm de um Pai –, nos conceda então a graça necessária para enfrentar com paciência essas dores, e a sabedoria para tirar dessa doença frutos que beneficiem a nossa alma e toda a Igreja.

A primeira condição de toda a petição eficaz é, pois, conformar a nossa vontade com a de Deus, que por vezes quer ou permite coisas e acontecimentos que nós não queremos nem entendemos, mas que acabarão por ser de grande proveito para nós e para os outros. Sempre que fizermos este ato de identificação do nosso querer com o de Deus, estaremos identificando-nos com a oração de Cristo: Não se faça a minha vontade, mas a tua 3.

II. PROCUREMOS ORAR sempre com a confiança de filhos. O Evangelho apresenta-nos muitos casos desta oração filial, humilde e perseverante. São Mateus narra o pedido de uma mulher que pode servir de exemplo para todos nós 4. Jesus chegou à região de Tiro e Sidon, terra de gentios. Devia estar procurando algum lugar onde os seus Apóstolos pudessem descansar, já que não o conseguira encontrar na região desértica de Betsaida; queria passar uns dias a sós com eles.

Enquanto caminhavam, aproximou-se uma mulher, com um pedido insistente. E, apesar da sua perseverança na súplica, Jesus permaneceu calado: Jesus não lhe respondeu palavra alguma, diz o evangelista.

Os discípulos pedem-lhe que a despeça, pois a sua insistência já começava a incomodar. Mas Jesus pensa de outro modo. Passados uns momentos, quebra o seu silêncio e, enternecido pela humildade da pobre mulher, conversa com ela. Explica-lhe o plano divino da salvação: Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Era o plano divino desde a eternidade. Jesus Cristo redimiria com a sua vida e a sua morte todos os homens; mas a evangelização começaria por Israel; depois, os apóstolos de todos os tempos levá-la-iam até os confins da terra.

Mas esta mulher cananéia, que certamente não compreendeu o que o Senhor lhe dizia, não desanimou diante da sua resposta: Mas ela veio prostrar-se diante dele e disse-lhe: Senhor, ajuda-me! Sabe o que quer e sabe que pode consegui-lo de Jesus.

O Senhor explica-lhe novamente, com uma parábola, a mesma coisa que lhe acabava de dizer: Não convém jogar aos cachorrinhos o pão dos filhos. Mas a mulher não cede no seu empenho. A sua fé e a sua confiança crescem e transbordam. E ela introduz-se na parábola, com grande humildade, como um personagem mais: É verdade, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos.

Tanta fé, tanta humildade, tanta persistência fazem o Senhor exclamar: Ó mulher, grande é a tua fé! E num tom solene e ao mesmo tempo cheio de compaixão, acrescenta: Faça-se conforme desejas. O evangelista terá o cuidado de anotar: E desde aquela hora a sua filha ficou curada. Para este milagre excepcional, foram necessárias também uma fé, uma humildade e uma perseverança excepcionais.

Jesus ouve-nos sempre: mesmo quando parece calar-se. Talvez seja então que mais atentamente nos escuta. Com esse silêncio aparente, talvez queira provocar em nós as condições necessárias para que o milagre se realize: que peçamos com confiança, sem desanimar, com fé.

Quantas vezes a nossa oração perante necessidades urgentes não será a mesma: Senhor, ajuda-me! Que bonita jaculatória para tantas necessidades – sobretudo da alma – que nos são tão urgentes!

Mas não basta pedir; temos que fazê-lo com perseverança, como essa mulher, sem nos cansarmos, para que a constância alcance aquilo que os nossos méritos não conseguem. Muito vale a oração perseverante do justo 5. Deus previu todas as graças e ajudas de que necessitamos, mas previu também a nossa oração.

Pedi e dar-se-vos-á… Batei e abrir-se-vos-á. E lembramo-nos agora das nossas muitas necessidades pessoais e das daqueles que vivem junto de nós. O Senhor não nos abandona.

III. EXISTEM INÚMEROS BENS que o Senhor espera que lhe peçamos para que nos sejam concedidos: bens espirituais e materiais, todos eles orientados para a nossa salvação e para a do próximo. “Não concordais comigo em que, se não alcançamos o que pedimos a Deus, é porque não oramos com fé, com o coração suficientemente puro, com uma confiança suficientemente grande, ou porque não perseveramos na oração como deveríamos? Deus jamais negou nem negará nada aos que lhe pedem as suas graças da maneira devida” 6.

Se numa ou noutra ocasião não nos foi concedida alguma coisa que pedíamos confiadamente, era porque não nos convinha: “Vela pelo teu bem Aquele que não te concede o que lhe pedes, quando lhe pedes o que não te convém” 7. Jesus sabe perfeitamente o que nos convém. Essa oração, que talvez tivéssemos feito com tanta insistência, foi com certeza eficaz para outros bens ou para outra ocasião mais necessária. O nosso Pai-Deus encaminhou-a bem! “Ele sempre dá mais do que lhe pedimos” 8Sempre.

Para que a nossa petição seja atendida com mais rapidez, podemos solicitar as orações de outras pessoas que estejam próximas de Deus, como fez o centurião de Cafarnaum: enviou a Jesus alguns anciãos dos judeus, para suplicar-lhe que viesse curar o seu criado. Estes amigos cumpriram bem a sua tarefa: foram até o Senhor e rogaram-lhe com grande insistência que condescendesse: É uma pessoa– diziam-lhe – que merece que lhe faças este favor… 9 O Senhor atendeu o pedido.

Em momentos como esse, pode ser útil lembrarmo-nos de que “depois da oração do Sacerdote e das virgens consagradas, a oração mais grata a Deus é a das crianças e a dos doentes” 10. E pediremos também ao nosso Anjo da Guarda que interceda por nós e apresente as nossas súplicas ao Senhor, pois “o anjo particular de cada um de nós – mesmo que sejamos dos mais insignificantes dentro da Igreja –, por estar contemplando sempre o rosto de Deus que está nos Céus e vendo a divindade do nosso Criador, une a sua oração à nossa e colabora na medida do que lhe é possível em favor do que pedimos” 11.

Temos, por último, um caminho que a Igreja sempre nos ensinou, para que as nossas orações cheguem à presença de Deus. Este caminho é a intercessão de Maria, Mãe de Deus e Mãe nossa. A Ela recorremos agora e sempre: “Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria, de que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tivesse recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado. Animado eu, pois, de igual confiança, a Vós, Virgem entre todas singular, como a Mãe recorro…” 12

(1) Mt 7, 7-12; Evangelho da Missa da quinta-feira da primeira semana da Quaresma; (2) Mt 7, 9 e 11; (3) Lc 22, 42; (4) Mt 15, 21-28; (5) Ti 5, 17; (6) Cura d’Ars, Sermão sobre a oração; (7) Santo Agostinho, Sermão 126; (8) Santa Teresa, Caminho de perfeição, 37; (9) Lc 7, 3-4; (10) São Josemaría Escrivá, Caminho, n. 98; (11) Orígenes, Trat. sobre a oração, 10; (12) São Bernardo, oração Lembrai-vos.

Fonte: Livro “Falar com Deus”, de Francisco Fernández Carvajal